Japão: Cronologia duma catástrofe

A nuvem de radioactividade lançada pela central nuclear de Fukushima já está sobre Portugal, mas em quantidades mínimas, sem riscos para a saúde.

Afirma o diário Público:

Este é o resultado indicado por um modelo de dispersão atmosférica aplicado por investigadores portugueses, com base em dados disponíveis no Japão e noutros Países.

O arquipélago dos Açores é o primeiro a ser atingido pela nuvem, mas apenas em altitudes elevadas. O modelo sugere a presença dos elementos radioactivos xénon 133 e césio 137 a mais de 2000 metros de altitude. “Na pior das hipóteses, o que estará a chegar aos Açores é milhões de vezes inferior ao que se observa no Japão”, afirma o investigador Félix Rodrigues, acrescentando que não há quaisquer riscos para a saúde humana ou para os ecossistemas.

Um exercício semelhante realizado na semana passada pela agência francesa de meteorologia mostra a expectável dispersão da radiação de Fukushima por praticamente todo o hemisfério Norte. Em França, o resultado dos modelos foi confirmado por análises a partículas atmosféricas, que revelaram a presença de vestígios de iodo radioactivo em Paris, mas igualmente sem riscos para a saúde.

No Diário de Notícias mais algusn pormenores acerca das partículas radioactivas:

“A modelação baseou-se nos dados disponibilizados pelos EUA e Europa do Norte”, que indicam ter sido o ‘Xenon 131’ o primeiro a chegar, mas sem consequências para a saúde, porque “as quantidades são mínimas e desfazem-se em meia dúzia de dias”.

Mais perigosos são o ‘Césio 137’ e o ‘Estrôncio 90’, que se “depositam no solo e cuja radioactividade só se reduz a metade passados trinta anos”. O investigador frisou, no entanto, que “a modelação efectuada a uma altitude de 2.500 metros indica que está a chegar (o Césio 137) em pequenas quantidades e não aponta para que venha a descer para o solo”.

Félix Rodrigues adiantou que, “quando se analisam os dados a uma altitude de 5000 metros percebemos que, neste momento, esses elementos estão a atingir a Península Ibérica e, de uma forma geral, a Europa”.

Ainda bem. Pelo vistos estamos perante uma partícula que costuma depositar-se no chão mas que neste caso não vai descer ao solo. De facto, hoje em dia há escolha melhores de que Portugal.
A partícula será pequena, mas não é estúpida. 

Pena, pois um pouco de Césio 137 na cadeia alimentar só poderia fazer bem, sobretudo à saúde de dentes e gengivas, mas enfim.

Vamos, pelo contrário, fazer uma cronologia dos acontecimentos. Comprida, mas importante para tentar perceber o que se passou e ainda se passa nas centrais nucleares do Japão. 

Cronologia duma catástrofe

11 de Março, Sexta-Feira

As primeiras notícias surgem no mesmo dia da catástrofe, 11 de Março: as autoridades japonesas declaram o estado de emergência na central nuclear de Fukushima ((nordeste do Japão)) após uma avaria no sistema de arrefecimento da unidade. Um porta-voz do Governo garante não existir fuga de radiações.

No mesmo dia as autoridades japonesas apelam para que 6 mil habitantes dos arredores da central nuclear abandonem a zona
A água do sistema de arrefecimento da instalação nuclear desce para um nível preocupante, mas um camião com o material adequado para restabelecer a situação chega rapidamente ao local.
O governo japonês afirma que a situação está “sob controlo”, mas tropas com fatos de protecção nuclear são destacadas para o local para verificar a situação.  

A empresa Tohoku Electric Power, que explora as centrais de Onagawa e de Fukushima, também não detecta problemas radioactivos.

Mais tarde, as autoridades japonesas afirmam que uma pequena fuga radioactiva poderá acontecer na central nuclear e apressam-se a libertar o vapor radioactivo para fazer diminuir a pressão que aumentou depois do reactor da central nuclear n.º 1.  


12 de Março, Sábado

Uma forte explosão é ouvida perto do reactor número 1 da central nuclear de Fukushima, onde o nível de radioactividade aumenta de forma alarmante.
Segundo a televisão pública NHK, que cita a Agência de Segurança Nuclear do Japão, a explosão ocorre às 16:00 locais (07:00 em Lisboa) e há pelo menos 20 empregados da central que estão feridos.
A televisão afirma que as causas da explosão são ainda desconhecidas. No entanto, um especialista nuclear afirma, em declarações à NHK, que a explosão pode ter sido “intencional”.
A televisão nipónica mostra imagens duma nuvem de fumo branco por cima da central nuclear e anuncia que o nível de radioactividade está 20 vezes superior ao normal.
Entretanto, o tecto e as paredes do edifício do reactor de Fukushima desmoronam-se, refere ainda a NHK.
Na sequência da explosão, a televisão pública NHK aconselha os Japoneses a manterem-se em casa e a fecharem as janelas num perímetro “mais amplo que os 10 quilómetros da zona evacuada”.
Peritos e jornalistas da cadeia de televisão também aconselham as pessoas que estão no exterior a proteger as vias respiratórias com um pano molhado e a taparem-se ao máximo para evitar o contacto directo da pele com o ar.
As autoridades aumentam para 20 quilómetros o raio da zona evacuada em torno da central nuclear

As autoridades estão a adoptar “todas as medidas para assegurar a segurança dos habitantes”, afirma o porta-voz do governo, Yukio Edano, durante uma conferência de imprensa.

Segundo a agência Kyodo, a dose de radioactividade recebida por um indivíduo no local do sinistro corresponde à que uma pessoa pode absorver no máximo num ano para evitar pôr em perigo a sua saúde.

Ao longo do mesmo dia, o operador da central nuclear revela que um segundo reactor está a dar sinais de problemas, havendo risco de explosão.

A companhia Tokyo Eletric Power (Tepco) informa tratar-se do reactor número três.

“Todas as funções para manter o nível do líquido de refrigeração estão a falhar”, declara um porta-voz da empresa.

13 de Março, Domingo

O Ministério japonês dos Negócios Estrangeiros reúne-se em Tóquio com os diplomatas acreditados no Japão e garante que a situação na central nuclear de Fukushima está estabilizada.
Os responsáveis do ministério salientam que o Japão conseguiu neutralizar uma situação que era complicada devido aos estragos provocados pelo tsunami no complexo.

O reactor número 3 da central fica inutilizado e outros dois reactores não registam problemas tão graves, mas o Governo japonês garante que o núcleo do reactor continua protegido, designadamente por uma cápsula de segurança, que está feita para poder aguentar o embate de um avião.

Na reunião, o Governo japonês informa também que a temperatura no reactor está a baixar e os níveis de radiação no local também estão a diminuir.
A situação actual é definida como “tranquilizadora” e o Governo está empenhado em tranquilizar a comunidade internacional porque os dados de que dispõe mostram que a situação está controlada.

“Estes reactores são de uma geração muito mais avançada do que os de Chernobyl, com uma série de sistemas de protecção”.

O estado de emergência é declarado na central nuclear de Onagawa, onde é registado um elevado nível de radioactividade, afirma a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

Entretanto, o Governo alerta para um novo risco de explosão na central nuclear de Fukushima Nº 1 devido à acumulação de hidrogénio no reactor 3.

O porta-voz do governo, Yukio Edano, adianta, no entanto, que em caso de explosão “não haverá problema para o reactor“.

14 de Março, Segunda-feira

O sistema de refrigeração do reactor 2 da central nuclear de Fukushima 1 está inoperacional, anuncia a operadora do complexo citada pela agência Jiji Press.
As unidades 1 e 3 da central já registam a mesma falha que acabaria por resultar numa explosão nos edifícios de cada um dos reactores. 
Um funcionário da agência de segurança nuclear, em declarações à estação NHK, afirma que o reactor 2 perdeu todas as funções de refrigeração.
A agência de segurança nuclear japonesa excluiu um acidente do tipo Tchernobyl (Ucrânia) na central de Fukushima, diz o ministro da Estratégia nipónico, citado pela agência noticiosa japonesa Jiji.
Não há absolutamente qualquer possibilidade de um Tchernobyl“, declara o ministro Koichiro Ganba aos membros do Partido no poder, com base num relatório da agência.
A companhia Tokyo Electric Power (Tepco) não exclui a possibilidade de o núcleo do reactor 2 da central estar em fusão devido a uma avaria do sistema de refrigeração.
A estação de bombagem que permite manter imersas as barras de combustível deixou de funcionar, o nível de água baixa no reactor, e é possível que as barras estejam fora de água, explica a TEPCO durante uma conferência de imprensa realizada.
Contudo, como tinha feito para os reactores 1 e 3, a companhia injecta directamente à volta do reactor água do mar para submergir de novo as barras, para tentar deter o processo de fusão.
A baixa intensidade da radiação libertada nas centrais nucleares japonesas e as medidas de prevenção tomadas pelas autoridades permitem afastar, de momento, qualquer efeito na saúde pública, afirma o comité científico da ONU sobre o assunto.
“De momento, do ponto de vista da saúde pública, não estamos preocupados”, assegura à agência noticiosa espanhola EFE Malcolm Crick, do secretariado do Comité Científico da ONU sobre os Efeitos da Radiação Atómica (UNSCEAR) em Viena.
De acordo com este especialista, a informação de que se dispõe até agora indica que “todas as emissões (radioativas) que ocorreram foram de um nível muito baixo“.

Assinala que uma pessoa teria que estar 12 a 15 horas na zona afectada, no momento de maior emissão, para receber a radiação equivalente a um exame radiológico do tipo de uma TAC (tomografia axial computadorizada).
“São níveis acima do normal, mas que em nenhum caso representam uma ameaça para a vida“, explica.
Não prevemos qualquer impacto na saúde pública“, conclui Crick, embora reconhecendo que “a situação ainda é muito grave” e que é preciso seguir o caso cuidadosamente até que a situação nas centrais volte a estar sob controlo.

O Japão pede oficialmente à Agência Internacional de Energia Atómica o envio de uma equipa de peritos após as explosões registadas, declara o director-geral da agência, Yukiya Amano.

15 de Março, Terça-feira

O incêndio no reactor 4 da central nuclear Fukushima 1 libertou substâncias radioactivas para a atmosfera, anuncia em Viena a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), segundo a AFP.

“As autoridades japonesas informaram hoje a AIEA às 04:50 (03:50 em Lisboa) que o tanque do combustível usado no reactor nuclear 4 da Fukushima Daiichi estava a arder libertando radioactividade directamente para a atmosfera”.
 Noticia a agência Jiji:”O incêndio registado no quarto andar do reactor 4 está aparentemente extinto”.
As autoridades japonesas também informam a AIEA que se tinha registado uma explosão pelas 06:20 (05:20 em Lisboa) no reactor 2 da mesma central nuclear, que terá talvez sido provocado por hidrogénio, segundo a agência. “Taxas (de radioactividade) que chegaram a 400 millisieverts por hora foram registadas no local, adianta a AIEA. Exposto a partir 100 millisieverts o corpo humano regista um aumento do número de cancros, de acordo com observações médicas. 
A AIEA “procura obter informações suplementares sobre a situação, continua em contacto com as autoridades japonesas e acompanha” o desenrolar dos acontecimentos. O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, anuncia que o nível de radiações tinha “aumentado consideravelmente” na central nuclear de Fukushima n°1.
Kan apela às pessoas que vivem num raio de 30 quilómetros em redor da central para ficarem fechadas em casa. 
Os níveis de radioactividade em Tóquio, capital japonesa, estão ligeiramente acima do normal, revelam fontes oficiais citadas pela agência France Presse.
Apesar dos níveis de radioactividade estarem acima do normal, o município da capital garante que são muito baixos para afectar a saúde dos seres humanos.
“Registamos um nível de radiação acima do normal durante a manhã em Tóquio”, afirma Sairi Koga, da câmara de Tóquio, que conta com 12 milhões de habitantes na cidade e 35 milhões na grande área urbana.
O mesmo responsável garante, no entanto, que o nível de radioactividade “não é suficiente” para afectar o corpo humano.
As autoridades japonesas decretam zona de exclusão aérea toda a zona da central nuclear de Fukushima.
De acordo com a agência Kyodo, a radiação está a um nível 33 vezes superior ao permitido em Utsunomiya, capital da província de Tochigi, zona a norte de Tóquio.
Os níveis de radiação em Kanagawa, a sul de Utsunomiya, são, por sua vez, nove vezes superior ao recomendado.

Yukio Edano, porta-voz governamental, assinala que o nível da radiação chegou a ser 100 vezes superior ao limite no reactor 4, enquanto que no reactor 3 os níveis eram 400 vezes superiores.
O mesmo responsável acrescenta que a manterem-se os níveis de radiação estes podem ser prejudiciais à saúde humana.
Apenas 50 dos 800 funcionários da central de Fukushima permanecem no complexo depois da administração da central ter decidido evacuar os restantes elementos por receio de contaminação.
A Tepco, que gere a central, não exclui fusões dos núcleos dos reactores 1,2 e 3, mas garante que o reator 4 não estava em funcionamento aquando do incêndio que afectou o edifício, durante a manhã (hora local).
A Agência Internacional de Energia Atómica considera que o revestimento de contenção do reactor 2 da central nuclear de Fukushima nº 1 pode ter sido “afectado” por uma explosão.
As autoridades japonesas tinham anunciado que a explosão hoje registada entre as 06h00 e as 06h15 ao nível do reactor 2, tinha danificado revestimento de contenção, mas sem o fracturar.
Por seu turno, a Autoridade francesa de segurança nuclear (ASN) considera que o revestimento da central nipónica “deixou de estar impermeável”
16 de Março, Quarta-feira 
O Japão está disposto a pedir a cooperação do exército norte-americano para prevenir uma catástrofe nuclear, anuncia o porta-voz do governo.  
A forte radioactividade junto da central de Fukushima impede um helicóptero de se aproximar do reactor 4 e de derramar água para arrefecer o combustível que ameaça entrar em fusão, segundo a NHK.  
O porta-voz do Governo, Yukio Edano, declara que as radiações fora da zona de exclusão de 20 quilómetros em volta da central nuclear “não representam perigo imediato para a saúde“.

Edano precisa que o nível de radiação registado “perto da central” foi de 1.500 microsieverts (unidade que mede os efeitos biológicos da radiação) por hora. O nível de radiação normal é de cerca de 0,35 microsievert por hora. 
Em paralelo, o comissário europeu para a Energia, Gunther Oettinger, define como uma atitude “pouco profissional” dos japoneses.
A forma como a crise está a ser gerida “e os meios improvisados com que trabalham os japoneses implicaram que corrigisse a grande opinião que tinha até ao momento sobre a competência dos engenheiros, da competência da técnica, da competência industrial, da perfeição e precisão” dos nipónicos.
Perante uma comissão do Parlamento Europeu, Oettinger também refere a “divergências” entre a companhia de electricidade japonesa Tokyo Electric Power, que explora os reactores danificados pelo terramoto de sexta-feira, e o governo de Tóquio sobre a resposta que deve ser fornecida à crise.
O chefe da comissão de regulação nuclear (NRC) dos Estados Unidos afirma que toda a água que estava no tanque do combustível no reactor 4 evaporou. Isto significa que não há nada que impeça as cargas de combustível de aquecerem e, por fim, de entrarem em fusão. Adianta ainda que os peritos acreditam que os níveis de radiação são extremamente elevados, o que pode afectar a capacidade dos trabalhadores de impedirem as temperaturas de aumentarem.  
O invólucro externo das cargas também se pode inflamar e ganhar força suficiente para lançar o combustível radioactivo dentro de uma área extensa.
Declara Gregory Jaczko:   
Para além dos três reactores que estavam a funcionar no momento do incidente, um quarto reactor passa também a constituir motivo de preocupação. Esse reactor não estava em serviço quando ocorreu o sismo. Pensamos que se registou uma explosão de hidrogénio neste reator. Também pensamos que o revestimento de contenção secundário foi destruído, que já não existe água nos tanques de combustível usado e que os níveis de radiação são extremamente elevados, podendo pôr em causa as operações no local destinadas a evitar uma catástrofe.
A embaixada dos EUA em Tóquio recomenda aos cidadãos norte-americanos a evacuação num perímetro de 80 quilómetros em redor da central afectada ou que procurem um abrigo “caso a evacuação não seja possível com toda a segurança”.
A embaixada sublinha ainda que “numerosos factores”, incluindo a meteorologia, podem influenciar a disseminação das partículas radioactivas e menciona a possibilidade de percorrerem distâncias superiores a 80 quilómetros.

A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) tinha confirmado horas antes que os núcleos dos reactores 1, 2 e 3 da central nuclear japonesa de Fukushima estão danificados, mas assegura não poder dizer que a situação esteja “fora de controlo”.

O director-geral Yukiya Amano descreva a situação em Fukushima como “muito séria”, apesar de todos os esforços que continuam a ser efectuados “para restaurar a segurança dos reactores” e destaca que precisa de mais informações das autoridades nipónicas.
Itália, França, Reino Unido e Austrália pedem aos seus cidadãos para deixarem Tóquio devido ao medo que uma nuvem radioactiva se possa espalhar pela capital japonesa, avança o The Guardian .

Segundo o jornal inglês, os níveis radioativos em Tóquio já chegaram a estar dez vezes acima dos níveis normais. No entanto, as autoridades japonesas dizem que não há perigo para a saúde pública. 

17 de Março, Quinta-feira

Helicópteros das forças de Proteção Civil do Japão sobrevoam a central nuclear de Fukushima e lançam água sobre o reactor 3 para tentar refrigerar as barras de combustível expostas perto do núcleo.

A operação, que começa pelas 9H48 locais (0H48 em Lisboa), é repetida várias vezes e instantes depois colunas de fumo branco começam a sair da estrutura.

A agência Kyodo teme que o fumo seja vapor de água radioactivo procedente da piscina que armazena as barras, o que indicaria que o recipiente de segurança que protege o núcleo está danificado.

Além dos helicópteros, um camião-cisterna com um canhão de água também tenta refrigerar à distância o reactor número 4, onde já ocorreram dois incêndios. 
18 de Março, Sexta-feira 
O director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Yukiya Amano afirma:.
A refrigeração é extremamente importante, penso que se trata de uma corrida contra-relógio.
Amano declara que a AIEA irá medir o nível de radioactividade em Tóquio a partir de hoje para acalmar a população, inquieta com os problemas da central de Fukushima.
A agência japonesa de segurança nuclear sobe de 4 para 5 o nível do acidente nuclear de Fukushima na escala dos incidentes nucleares e radiológicos (INES), que vai até 7. 
A importância de um problema que ocorre numa central nuclear é avaliado pelo meio desta escala, correspondendo o nível 0 à ausência de qualquer anomalia e o nível 7, o mais elevado, a um acidente muito grave, como o que ocorreu em Tchernobyl, na Ucrânia, em 1986.
O aumento da gravidade pela agência nipónica coloca o acidente de Fukushima ao mesmo nível do que ocorreu em Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979.
Por sua vez, a autoridade de segurança nuclear francesa considera que o acidente de Fukushima é de nível 6 na escala do INES. 
19 de Março, Sábado
Confirmados os prognósticos  feitos por meteorologistas e médicos de que os primeiros isótopos radioactivos provenientes do Japão deveriam chegar à costa oeste dos EUA. Pequenas quantidades de material radioactivo da central nuclear de Fukushima são detectados pela estação norte-americana de pesquisa de radiação localizada em Sacramento, na Califórnia.
Segundo o secretário-executivo do Tratado para a Proibição Completa dos Testes Nucleares, Tibor Toth, as quantidades ainda não representam risco para a saúde humana.
A mesma opinião tem o funcionário da Agência Internacional de Energia Atómica, também citado pela CNN:
Por enquanto, não há nenhuma preocupação no Japão ou em nenhum outro lugar quanto à saúde humana

O anúncio provoca na Califórnia uma grande procura por pílulas de iodeto de potássio, usadas para prevenir a absorção de iodo radioactivo, o que reduz a ameaça de sofrer de cancro de tiróide por causa da radioactividade.
O porta-voz do governo japonês, Yukio Edano:
Um nível de radioactividade superior ao limite legal no Japão foi detectado numa amostra de leite colhida na prefeitura de Fukushima e em seis amostras de espinafre, na prefeitura de Ibaraki 
Embora estes níveis não sejam perigosos para a saúde, o porta-voz do Governo apela à população para manter a calma. 

Vestígios de iodo radioactivo foram encontrados na água da torneira em Tóquio e noutros locais, noticia a agência de notícias Kyodo, citando fontes governamentais.

Os tectos dos edifícios dos reactores 5 e 6 da central nuclear acidentada de Fukushima são furados para evitar explosões de hidrogénio, anuncia o operador Tepco.
Os reactores 5 e 6 são menos danificados da central porque, contrariamente aos reactores 1 a 4, os seus sistemas de arrefecimento continuaram a funcionar após o sismo e tsunami de 11 de Março, graças a um gerador a diesel.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) publica um relatório que apresenta um ponto de situação dos seis reactores da central nuclear japonesa de Fukushima.

Reactor 1

A elevada pressão dentro do edifício de contenção levou os trabalhadores a libertarem o gás do mesmo. A 12 de Março, uma explosão destruiu parte do edifício do reactor. Não há indícios de problemas e continuam os esforços para bombear a água do mar para o reactor.

Reactor 2
Depois da explosão de 15 de Março, oficiais japoneses expressaram preocupação de que o sistema de contenção do reactor poderia não estar intacto. A 18 de Março, funcionários da Agência Japonesa de Segurança Nuclear e Industrial informaram que um fumo branco continuar a sair do edifício. Continuam os esforços para bombear água do mar para o reactor.

Reactor 3

Devido à crescente pressão dentro do reactor, os trabalhadores libertaram o gás.
A 14 de Março, uma explosão destruiu parte do edifício e alguns funcionários japoneses expressaram receios de que o sistema de contenção do reactor poderia não estar intacto.
Responsáveis da Agência Japonesa de Segurança Nuclear e Industrial informaram a 18 de Março que fumo branco continuava a emergir do edifício. Prosseguem os esforços para bombear água para o núcleo do reactor. Neste reactor, que contém plutónio, causa especial preocupação a situação do depósito de combustível, pois “há muitos indícios de que o nível de água não seja o adequado”. As autoridades japonesas estão a combater este problema vazando água a partir de helicópteros.

Reactor 4

Todo o combustível havia sido retirado do reactor antes do terramoto para proceder a trabalhos de manutenção. Parte do edifício foi destruída pela explosão no reactor 3, a 14 de Março, e dois incêndios foram registados, possivelmente um deles no depósito, que foi extinto de forma espontânea. “As autoridades estão preocupadas com a situação do depósito”, disse a AIEA.

Reactores 5 e 6

Parados antes do terramoto, não há preocupações com possíveis riscos imediatos. No entanto, os instrumentos de medição de combustível de ambos os reactores mostraram um aumento gradual das temperaturas. Os trabalhadores activaram dois motores de diesel no reactor 6 para activar a circulação de água nos depósitos de combustível e nos reactores 5 e 6.

20 de Março, Domingo

Níveis anormais de radioactividade são detectados, pela primeira vez, em Taiwan, em feijões importados do Japão, avança um responsável das autoridades sanitárias de Taiwan.
As radiações são encontradas em 14 quilos de feijões provenientes de Kagoshima, no sul do arquipélago.
A central nuclear japonesa de Fukushima não deverá voltar a ser utilizada, na sequência dos incidentes provocados pelo sismo e tsunami de 11 de Março, afirma o porta-voz do Governo, Yukio Edano, em conferência de imprensa:
Considerando com objetividade a situação da central, penso que é evidente que a central de Fukushima Daiichi (número 1) não está em condições de voltar a funcionar
O responsável salienta que esta decisão não depende apenas do Estado, uma vez que a central é gerida pela Tokyo Electric Power (Tepco), uma das principais empresas de electricidade privadas do Japão.
O governo do Japão aconselha a população da cidade de Fukushima para não beber água da torneira por causa do iodo radioactivo.

As autoridades japonesas relatam alguns progressos na batalha para o controlo da fuga na central nuclear, provocada pelo maremoto, mas a crise está longe de terminar, com a descoberta também de mais vegetais contaminados por radiação.

O anúncio feito pelo Ministério da Saúde do Japão de que os testes detectaram quantidades excessivas de elementos radioactivos em crisântemo e outros vegetais marca um momento baixo num dia que tinha sido temperado com notícias positivas.

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA): disse que nas últimas horas houve uma evolução positiva na Fukushima central.

Houve uma evolução positiva nas últimas 24 horas, mas a situação continua muito grave. Os níveis de radiação não mudaram muito desde sábado e estão abaixo dos níveis prejudiciais à saúde humana

  
21 de Março, Segunda-feira

Os funcionários da central nuclear de Fukushima, nordeste do Japão, recebem ordem para abandonar as instalações depois de ter começado a sair fumo do reactor número 3, anuncia a companhia Tokyo Electric Power (Tepco), segundo a AFP.

As autoridades japonesas proíbem a venda de leite e de dois tipos de hortaliças produzidas perto da central nuclear de Fukushima, devido a níveis anormalmente elevados de radioactividade.
A agência de segurança nuclear japonesa anuncia que o reactor 2 da central nuclear de Fukushima, começou a largar fumo, enquanto do reactor 3 da mesma central deixou de sair fumo.
Duas horas mais cedo, outro fumo, que passou de cinzento para negro, começou a sair do reactor 3, mas este não foi duradouro. A Tepco informa de que o fumo negro provinha do reactor 3, mas este cessou às 18h02 e o nível de radiação manteve-se estável.

A agência não fornece explicações sobre a origem deste incidente; segundo os especialistas, não se trata de vapor mas de um fumo proveniente de algum material que ardeu. 
Níveis anormalmente elevados de substâncias radioactivas são detectados na água do mar perto de Fukushima, anuncia a empresa Tepco.
A taxa de iodo 131 e de césio 134 estão respectivamente 126,7 vezes e 24,8 vezes mais elevadas que as normas fixadas pelo Governo japonês.
A taxa de césio 137 encontra-se ainda 16,5 vezes mais elevada que o normal, enquanto o cobalto 58 é inferior à norma.  
22 de Março, Terça-feira 
Um fumo acinzentado sai de manhã (hora local) dos reactores 2 e 3 da central nuclear de Fukushima, noticia a agência Kyodo, citada pela AFP.

Os trabalhos de reparação, que decorrem na central para voltar a colocar ao serviço parte dos equipamentos, foram interrompidos por causa do fumo, o mesmo acontecendo com o arrefecimento dos reactores por meio de canhões de água.
As estações de medição da Comissão do Tratado de Proibição Total dos Testes Nucleares (CTPTTN) registam vestígios de radiação na costa leste dos Estados Unidos, supostamente proveniente da central nuclear de Fukushima, no Japão.
A informação, proveniente da central de meteorologia da Áustria (ZAMG), baseia-se em dados fornecidos pelo CTPTTN.
23 de Março, Quarta-feira
Um fumo negro sai do edifício onde está o reactor 3 na central nuclear de Fukushima, obrigando a retirar todo o pessoal, noticia a AFP, citando a operadora Tepco. 
Não sabemos se o fumo vem do edifício onde está a turbina ou do recinto de delimitação do reactor. Os funcionários estão a ser retirados da sala de controlo do reactor 3

Uma taxa de iodo radioactivo que ultrapassa o limite legal estabelecido para os bebés é medida na água da torneira em Tóquio. Uma concentração de iodo de 210 becquerels por quilograma é detectada na água corrente, quando o limite fixado pelas autoridades nipónicas é de 100 becquerels para os bebés. 

24 de Março, Quinta-feira

Dois trabalhadores que laboravam no reactor 3 da central nuclear de Fukushima são hospitalizados depois de terem sido expostos a níveis elevados de radioactividade: os dois trabalhadores estiveram expostos a “níveis de radioactividade entre os 170 e 180 millisieverts”, disse Hidekuki Nishiyama, porta-voz da agência. 
Os trabalhadores laboravam num edifício onde está instalada a turbina, um local distinto do edifício do reactor. Uma exposição a 100 millisieverts num período de um ano é considerado o limite a partir do qual aumenta o risco de uma pessoa vir a contrair cancro.

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) afirma que equipas de emergência continuam a tentar arrefecer os depósitos de combustível da central. Foram lançadas 58 toneladas de água sobre a unidade 2 do reactor entre os dias 20 e 22 de Março, o que reduziu a temperatura.
Na unidade 3, danificada por uma forte explosão no passado dia 14, foram lançadas entre 4 e 5 toneladas de água do mar num depósito de combustível usado, mas a AIEA não fornece detalhes nem sobre a temperatura nem sobre os níveis de radiação.

Mais grave é a situação na unidade 4, onde todas as barras de combustível usado se encontram desde Novembro passado num tanque, o que faz com que a radiação e o calor sejam mais fortes do que no resto da central. A situação foi combatida com 280 toneladas de água nos últimos dois dias.
Na unidade 5 da central, apagada e com temperaturas mais moderadas, o calor volta a aumentar devido a uma anomalia nas bombas de água.
A unidade 6 está também apagada e numa situação de estabilidade desde há vários dias. A AIEA não tem informações sobre a situação no tanque de combustível da unidade 1 do reactor, o que preocupa os peritos da agência da ONU.
25 de Março, Sexta-feira 
Dois japoneses são hospitalizados após a chegada à China, provenientes de Tóquio, por apresentarem uma taxa elevada de radioactividade, anuncia o Serviço Sanitário e de Quarentena chinês.

Os dois japoneses, que viajaram num voo comercial de Tóquio para Wuxi, na província oriental chinesa de Jiangsu, apresentam um nível de radioactividade “ultrapassando gravemente os limites” autorizados, segundo a Administração Geral da Supervisão da Qualidade, Inspecção e Quarentena.
Anteriormente, só tinham sido detectados casos de japoneses com taxas anormais de radioactividade em Taiwan, a 17 de Março.
Os dois japoneses vivem num raio de 200 a 350 quilómetros da referida central nuclear.
Um navio mercante japonês com nível de radioactividade “anormal” também é detectado no porto de Xiamen, costa leste da China, no segundo caso do género anunciado pela Administração Chinesa de Inspeção Sanitária e Quarentena (AQSIQ).
O navio, que zarpou de Tóquio há uma semana, está ancorado desde Segunda-feira em Xiamen. Trata-se do navio “Mol Presence”, da companhia japonesa Mitsui O.S.K. Lines, que presta serviço à volta do mundo.
As operações para arrefecer os reactores da central nuclear japonesa de Fukushima poderão levar ainda pelo menos um mês, afirma um porta-voz da Tepco.
Estamos a avaliar os estragos na central e não podemos fixar a data em que os equipamentos de arrefecimento estarão a funcionar. Isso poderá levar ainda mais de um mês
Por seu turno, a Agência de Segurança Nuclear japonesa admite poder elevar o nível do acidente de Fukushima, actualmente fixado em 05 numa escala de 0 a 7.

A cuba do reactor 3 pode estar danificada, uma vez que foi detectada na zona água com elevados níveis de radioactividade, informa a Agência de Segurança Nuclear do Japão.

O Primeiro Ministro japonês, Naoto Kan, declara:

A situação continua muito imprevisível. Trabalhamos para que a situação não piore. Devemos ser extremamente vigilantes

Hideyuki Nishiyama, responsável da Tepco:

É possível que a piscina que contém as barras de combustível no reactor esteja danificada” Substâncias radioactivas foram libertadas longe do reactor.
Segundo o que parecem mostrar as análises, pensamos que ainda existe um certo nível de contenção, mas existe um forte risco de que o reactor esteja danificado

26 de Março, Sábado

Uma nova quantidade de água fortemente radioactiva é descoberta na central nuclear de Fukushima, fazendo temer um novo atraso no relançamento do arrefecimento dos reactores danificados, anuncia a Tepco.
Um charco de água fortemente contaminado foi descoberto no subsolo do edifício da turbina do reactor número 1. Ainda que as razões exactas (sobre a presença desta água radioactiva) permaneçam por esclarecer, a água do tanque do reactor pode ter saído por tubos ou válvulas danificados que ligam (o reactor) ao edifício da turbina.
É ainda descoberta água no subsolo dos edifícios da turbina dos reactores 2 e 4, e análises são efectuadas para verificar se está poluída.
27 de Março, Domingo 
Responsáveis japoneses anunciam que a medida que mostra um grande aumento nos níveis de radioactividade no complexo nuclear japonês de Fukushima estava errada.

O teste, que mostrou valores dez milhões de vezes maior do que o normal no nível de radioactividade existente no sistema de refrigeração dos reactores, obrigou à retirada dos trabalhadores que estavam no local.

Tepco:

O número não é credível. Lamentamos muito.
O porta-voz afirma que foi retirada uma segunda amostra para repetir o teste, mas não sabe quando os resultados serão divulgados.
28 de Março, Segunda-feira 
Água com elevado índice de radioactividade verteu dos reactores em Fukushima, admite a empresa Tepco. Uma taxa de iodo radioactivo a um nível 1.150 vezes superior ao limite legal é detectada numa amostra de água do mar retirada a 30 metros dos reactores 5 e 6 da central nuclear. 
A empresa de electricidade que realizou os testes e a Agência de Segurança Nuclear asseguram, porém, que a radioactividade libertada no mar dilui-se com as marés e o risco sobre as algas e os animais marinhos não é significativo.

Testes realizados em cinco locais na central nuclear acidentada de Fukushima Daiichi detectaram a presença de plutónio, informa a empresa que gere a central japonesa, citada pela agência Kyodo. A descoberta aumenta o temor de uma grande contaminação ao redor da instalação. 
A Tepco afirma que o plutónio deve ser proveniente de combustível de um dos reactores danificados pelo sismo seguido de tsunami de 11 de Março.
O bombeamento da água será complicado, uma vez que os técnicos devem encontrar uma forma de transferir o líquido aos depósitos sem se exporem à doses fatais de radiação.
A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) assegura, que ainda não foi informada pelas autoridades japonesas sobre uma possível fuga de plutónio.
Questionado sobre o assunto, durante uma conferência de imprensa em Viena, o director-adjunto da AIEA para a segurança nuclear, Denis Flory, refere que o incidente “deve envolver plutónio puro”.
A fuga “significa que existe uma degradação do combustível, o que não é uma novidade. Temos afirmado isto, de forma consistente, durante dias. Isto é o que podemos dizer neste momento. Quando tivermos mais informações, iremos partilhar essas informações.

Ipse dixit.

Fontes: PúblicoDiário de Notícias, Expresso

5 Replies to “Japão: Cronologia duma catástrofe”

  1. Bem formulado teu post da cronologia dos desastres de Fukushima…
    acrescento este link (29/3)sobre novidades sobre identificação de iodo radioativo na Rússia a 600km de Fukushima: http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=255030

    Acrescento também que por várias vezes foi identificado raios de nêutrons, ou neutrões como os portugueses dizem… isso dito pela agencia KIODO (Neutron beam observed 13 times at crippled Fukushima nuke plant
    TOKYO, March 23, Kyodo: http://english.kyodonews.jp/news/2011/03/80539.html )

  2. Olá para todo!
    E, como sempre, obrigado por participar.
    Acho esta cronologia não completa: algo mais aconteceu, nomeadamente no assunto "radiação". Mas é difícil encontrar informações fiáveis.

    O governo de Tokio tenta limitar o pânico, o que é compreensível mas até um certo ponto.
    Além disso, é sabido o governo japonês ser corrupto: quais as reais ligações com a Tepco?
    Quanto políticos são envolvidos com a principal empresa produtora de energia no País?

    Pelo menos em duas ocasiões o governo ocultou dados importantes, nem a Agência Internacional da Energia Atómica foi informada. O que é muito preocupante.

    O Japão não pode gerir a crise como se fosse uma situação interna: as repercussões podem ir muito além do Japão.

    Por isso, obrigado pelos links: é importante tentar perceber o que se passa.

    Abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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