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Portugal para estrangeiros: Provas Técnicas de Crise

É hoje? Amanhã?
seja como for, parecer uma questão de horas.

Portugal, um dos muitos Países tecnicamente falidos, está preste a perder o governo e entrar numa espiral de…nada. Pois sem um governo tudo pára.

Tudo? Não é bem assim.
Os mercados, por exemplo, não param. Aliás, observam e compram. Comprar a dívida dum País tecnicamente falido e sem um governo? Possível, mas tem riscos.
E riscos significa juros mais altos.
E juros demasiado altos significam ajuda da Dupla Maravilha: Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

José Sócrates

Assim, as probabilidades de Portugal juntar-se ao grupo dos PIGS imolados no altar do Euro são maiores agora do que nunca.

Após a Grécia e a Irlanda, eis (talvez) Portugal. É só consultar os velhos post deste blog, por exemplo, para perceber que tudo está a correr conforme as previsões.

Breve resumo dos últimos episódios.

O Primeiro Ministro, José Sócrates (Partido Socialista), após o PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento, um conjunto de medidas económicas para tentar melhorar a situação do País), voa até Bruxelas.

E ai, entre abraços e apertos de mão, eis a má notícia: o PEC não chega, é preciso outro PEC.
E desta vez é directamente Bruxelas que passa as ordens (o novo PEC foi pensado com a “ajuda” dos técnicos europeus), e o Primeiro Ministro pode só aceitar.

É aqui que a situação fica mais complicada: Sócrates poderia simplesmente voltar para Portugal e anunciar as novas medidas, coisa que efectivamente faz, mas com algumas “particularidades”: não avisa previamente o Presidente da República ou outras figuras institucionais.
Avisa apenas (telefonicamente) o leader do principal partido da oposição, Pedro Passa O Coelho (ou algo de parecido).

A razão? Entre as várias explicações, eu prefiro esta: o actual Primeiro Ministro quis acelerar a crise. Porquê? Porque não quer tornar o seu partido, o Partido Socialista, o único responsável pelas pesadas medidas que serão introduzidas e não quer estar no poder quando a “ajuda” do BCE e FMI chegar.

O plano resulta. O principal partido da oposição, Partidos Social Democrata, começa a gritar como um possuído, este PEC não passará. Isto porque o PSD está convencido de poder ganhar as próximas eleições e formar assim um governo de maioria (o actual é um governo de minoria), provavelmente com a ajuda do partido de Direita, o CDS-PP.

Parece simples, mas não é.
O problema que é esta pode ser uma crise nada fácil.
Esta é a última sondagem publicada (Março de 2011) acerca das intenções de voto dos Portugueses.

Ficha Técnica:
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem, S.A. para o Expresso, SIC e Rádio Renascença, de 23 a 28 de fevereiro de 2011. Entrevistas telefónicas, realizadas por entrevistadores selecionados e supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em Portugal Continental e habitando em lares com telefone da rede fixa. A amostra foi estratificada por Região (Norte – 20,6%; A.M. do Porto – 14,5%; Centro – 29,4%; A.M. de Lisboa – 25,8%; Sul – 9,7%), num total de 1021 entrevistas validadas. Foram efetuadas 1336 tentativas de entrevistas e, destas, 315 (23,6%) não aceitaram colaborar Estudo de Opinião. Foram validadas 1021 entrevistas, correspondendo a 76,4% das tentativas realizadas. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo. Desta forma aleatória resultou, em termos de sexo (feminino – 53,0%; masculino – 47,0%) e, no que concerne à faixa etária (dos 18 aos 30 anos – 19,6%; dos 31 aos 59 – 47,6%; com 60 anos ou mais – 32,8%). O erro máximo da amostra é de 3,07%, para um grau de probabilidade de 95,0%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

O que falta? Uma maioria. A confirmar este resultados, PSD e CDS-PP juntos não obtêm a maioria dos votos. O que significa um novo governo de minoria. O que significa instabilidade. Muita instabilidade.

Para concluir, o comentário de Xenofonte (que agradeço), enviado há poucos dias, que bem fotografa a actual situação deste cantinho de terra à beira do Oceano.

Penso que atravessamos um momento crucial no que toca ao destino de Portugal.

E de certa forma penso que o cenário mais provável, ou seja a subida do Passos Coelho(PSD) ao poder, vai ter uma pitada de ironia malvada, pois a grande maioria daqueles que estão a manifestar para pedir a demissão do governo (com razão em muitos pontos) são aqueles que mais vão ser afectados pela mais que provável entrada do FMI (consequência muito provável após a subida do PSD).

O pedido de ajuda ao FMI vai de encontro com a ideologia do Passos Coelho, a discutida privatização de serviços públicos, despedimentos de sectores ineficientes e ajuste mais sério das contas publicas (que implica a queda de subsídios, muito provavelmente o 13º mês, entre outras medidas).

Pedro Passos Coelho

Apesar de concordar com a obrigatoriedade de certos cortes e da necessidade de afinar sectores da máquina do estado (dois exemplos :acabar com certos departamentos que são buracos gigantes e que em termos de serviço publico real pouco contribuem para o bem estar do cidadão; acabar/reduzir vagas em cursos universitários que não tem empregabilidade), penso que a outra via para combater o deficit, a de aumentar as receitas, é a via correcta.

Este aumento de receitas não pode ser feito através de aumentos desproporcionados de impostos mas sim estimulando as pequenas e medias empresas a aumentarem o seu volume de negócios para assim colectar-se mais impostos e empregar mais gente. Um aumento de incentivos ao empreendedorismo é obrigatório.

Também seria bom vermos o governo a tomar medidas exemplares, que afectassem as classes com maiores vencimentos, tal como a política, jurídica, entre varias outras. O povo precisa de ver esse tipo de medidas para ter alguma fé no sistema.

Outro problema GRAVE de que as pessoas não têm noção é a falta de liquidez do estado para estes investimentos, o que requer a ajuda dos tão falados mercados, ajuda esta, que acarreta juros.

Neste momento estamos presos na espiral da divida e o governo tem poucos instrumentos para sair deste limbo. Gostaria de saber se chegamos ao estado em que todo o dinheiro que andamos a pedir aos mercados é utilizado somente para pagar dividas antigas ou se sobra algum para investimentos. O que sobrar tem de ser investido obrigatoriamente.

Assino por baixo. Podemos não concordar com a nossa sociedade, podemos desejar algo melhor. Mas até quando as regras serão seguidas, até quando decidirmos fazer parte deste jogo, o de cima parece ser o caminho mais certo.

Ipse dixit.

Fonte: Eurosondagem