Diário de guerra

Bom, queridos leitores: a verdade é que temos uma guerra aqui, mesmo no quintal. Não podemos ignora-la, seria um desperdício. Então vamos ver algumas notícias.

A Cruzada Democrática: actualização  

Domingo era um lindo dia de sol, altura ideal para começar a nova época dos bombardeamentos. Eu teria esperado até o dia 21: começa a Primavera, voltam as andorinhas e os misseis inteligentes.

Mas a ONU tinha pressa e podemos entender: um inteiro povo vive fechado num Estado-prisão, com bens de primeira necessidade racionados, com as próprias terras ocupadas por estrangeiros arrogantes?
A ONU não podia ficar calada.

“Ehi, mas esta é a Palestina!”

O quê? Ah, pois é, peço desculpa…então tentamos outra vez: um inteiro povo vive num Estado soberano, onde está em curso uma revolta armada ajudada pelas potências estrangeiras, revolta que está à beira de ser resolvida?
A ONU não podia ficar calada.

Um dos primeiros objectivos foi a capital, Tripoli. Porquê atacar a capital? Explica o diário Público:

O objectivo é impor a zona de exclusão aérea decidida pelas Nações Unidas.

A No Fly Zone. Uma No Fly Zone que vai desde Tripoli até Bengasi? Não teria sido melhor chama-la No Fly Country?
Bah, pormenores.

Sempre o Público:

Depois de uma terceira noite de explosões em Trípoli e de relatos entre combates entre as forças pró-Khadafi e os opositores armados, um general norte-americano afirmou que os ataques devem agora abrandar – e o facto de os combatentes anti-Khadafi não terem aproveitado a campanha aérea para avançar está a ser visto como um sinal de que se aproxima um impasse.

Dito de outra forma: não parecem ser muitos os Líbios interessados em combater o regime. Curiosos estes Líbios: estamos a bombardea-los para livra-los do mal e eles nem aproveitam.

Os principais espalhadores de democracia, os Estados Unidos, querem deixar o comando das operações: não que o bom Obama tenha problemas em atacar um País soberano (não acaso é Nobel da Paz), só que deseja partilhar as responsabilidades.  E aqui começam as dúvidas: quem?

Entretanto o Papa está preocupado. Vai condenar a intervenção? Nem por isso. Ratzinger está preocupado com as crianças da Líbia. E o leitor, por favor, pare já de pensar em piadas de mau gosto.

Voltamos ao teatro de guerra. Escudos humanos. Onde é que já ouvimos isso? Deixem ver, sim, acho que foi contra outro Senhor do Mal, tal Saddam Hussein. Também Khadafi vai utilizar escudos humanos, voluntários e não. Esta, pelo menos, é versão dos media.

Medias que relatam também uma manifestação pró-Khadafi na Praça Verde de Tripoli. Obviamente organizada pelo regime, pois as manifestações pró-Khadafi são sempre organizadas pelo regime.
E as manifestações pró-revoltosos? Espontâneas, sempre espontâneas.

Também os bombardeamentos têm efeitos diferentes: na cidade de Misurata, a acção do exército regular contra os rebeldes causou 8.000 mortos (!!!), enquanto as intervenções da Nato parecem não ter causado vítimas.

Nenhuma? Nenhuma.
Mesmo após ter alvejado portos e aeroportos? Exacto. Mesmo após ter atingido a capital? Isso mesmo. Nunca ouviram falar de “bombas inteligentes”? Uma vez lançadas, caem até poucos metros de altitude e aí param: se não houver ninguém nas redondezas então rebentam, caso contrário utilizam uma almofada para suavizar o impacto.

Porque nós somos o Bem, eles são o Mal.
Sempre.

A seguir, um interessante mapa do óptimo site TNEPD, traduzida em bom Português:

Somos ou não somos uma espécie divertida?

Ipse dixit.

Fonte: Público, TNEPD

2 Replies to “Diário de guerra”

  1. Tão divertida que chega a ser triste esta espécie…

    Mas ao que parece é assim, sai um Senhor do Mal, aparece outro…

    Tenho uma teoria que quando Senhores do Mal surgem, os EUA (Guardiões do Bem Máximo) apresentam sinais, talvez uma espécie de sexto sentido ou percepção sensorial, que indicam a presença do Mal absoluto.

    Que consegui identificar até o momento:

    Crise econômica.
    Recursos energéticos em escassez.

    Como ultimamente vêm apresentando estes sinais de maneira acentuada, concluo que uma Legião de Senhores do Mal está entre nós ou 'Irão' estar.

  2. Olá Vitor!

    De facto, temos grande sorte. Somos aliados dum País que, por natureza, consegue identificar e combater todos os Senhores do Mal do planeta.

    Bom, talvez "todos" não, mas muitos sim. Nomeadamente os que interferem com as obras dos Bons, isso é, nós.

    Porque nunca podemos esquecer isso: nós somos o Bem, sempre. O que pensamos, o que fazemos, o que iremos pensar e fazer, tudo isso será sempre fruto do Bem.

    Isso implica uma grande vantagem: todas as nossas acções, mesmo que horríveis, serão sempre justificadas pelo conseguimento do Bem e, por isso, não questionáveis.

    Pelo contrário, os outros erram, sempre, porque a única aspiração deles é o Mal. Deve ser genético.

    Como reconhecer o Bem e o Mal?
    Simples: o Bem está do nosso lado, o Mal do lado de quem pensa de forma diferente.

    Afinal é um Mundo muito mais simples do que podemos pensar.

    Abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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