Temos em cima da mesa algumas peças soltas, mas ainda não é possível observar o desenho completo: é como um puzzle, um jigsaw como dizem os Ingleses.
Até agora temos algumas peças e outras aparecem nos lugares mais estranhos e chamam a nossa atenção.
É preciso cuidado: algumas peças são boas, algumas não. Algumas encaixam, outras forma construídas para ser encaixadas mas não fazem parte do desenho original.
Há informação e contra-informação. Há contra-informação criada para nós, cidadãos, há contra-informação criada para outras pessoas.
Por exemplo: algumas peças falam de Illuminati, de Maçonaria, de tradições milenárias, de estranhos rituais, duma estirpe real que conserva terríveis secretos. Contra-informação? Não necessariamente.
Pode ser tudo verdadeiro, mas não é este o problema. O que não podemos perder de vista é o objectivo final, que sempre foi, ainda é e sempre será apenas um: o dinheiro. Porque o dinheiro é poder, quem deter a maior riqueza, detém o maior poder.
Neste aspecto, e para ter uma ideia do desenho, precisamos de pelos menos outras duas peças.
Vamos vê-las.
Uma vez, como vimos, no final do mês cada trabalhador recebia uma pequena percentagem da riqueza do próprio País. Era uma percentagem muito pequena, claro. Mas cada nota significava o seguinte: eu, cidadão, detenho esta pequena quantia de riqueza, parte da riqueza total do meu País.
Tecnicamente o termo “deter” não está correcto, pois as notas não podem “pertencer” a ninguém, a não ser ao Estado; não acaso, nas notas falava-se de “portador”, não de “dono”. Para tornar o discurso mais simples, podemos dizer que ter uma nota na carteira significava deter apenas “temporariamente” a mesma nota, justo o tempo de utiliza-la.
Mas este facto tem implicações em nada secundárias.
Se o Estado detiver as notas, isso significa que só o Estado detém a riqueza. Mas quem é o Estado? Nós, os cidadãos. Então, as notas significavam isso: eu, cidadão, utilizo uma nota, que pertence ao Estado, para representar uma riqueza (o ouro) que efectivamente me pertence.
De facto, o trabalho permitia entrar na posse duma percentagem real da riqueza do País (a nossa República), representada pelas notas por uma questão de comodidade.
A riqueza dum Estado estava realmente nas mãos dos cidadãos.
Desde 1971, este “problema” foi resolvido: a riqueza foi retirada das mãos dos cidadãos e substituída por papel.
“Tá bom”, pode pensar o leitor, “é uma questão secundária: antes de 1971 com uma nota comprava uma sandes, após 1971 com a mesma nota compro uma sandes na mesma, para mim pouco mudou”.
Certeza? Mudou e mudou muito.
Imaginemos um caso limite e absurdo.
Uma guerra está a aproximar-se, o cidadão, cheio de medo, desconfia que após o conflito as notas terão perdido valor. Então que faz? Entra num banco e pede para que a mesma nota seja trocada com ouro.
Já sabemos:
– antes de 1971 o banco teria sido obrigado, por lei, a efectuar a troca.
– após 1971 o banco começa às gargalhadas.
Eis a diferença. Desde a decisão de revogar a convertibilidade, nas carteiras dos cidadãos há só papel: papel que pode ter um valor (e tem) agora, nas actuais condições, pois a nossa sociedade reconhece a este papel um determinado valor. Uma nota = uma sandes, é uma convenção.
Mas se as condições mudarem?
Uma nota de 1938 tem um valor histórico, mas não prático: ninguém pode comprar uma sandes com uma nota de 1938.
Mas com o ouro a situação é bem diferente: o ouro tem um valor intrínseco pois 1 quilo de ouro tinha um enorme valor em 1938 e o mesmo acontece agora (aliás, com as actuais avaliações do metal amarelo, agora vale ainda mais) .
Com a decisão de anular a convertibilidade, a verdadeira riqueza foi definitivamente retirada das mãos dos cidadãos: riqueza presente e também riqueza futura. Acham isso irrelevante?
Antes de proceder, um breve intervalo.
Aproveitamos para comprar as pipocas, responder ao telemóvel, e entreter-nos com uma breve divagação.
Tentamos responder a esta simples pergunta: se o dinheiro representa a riqueza, se a riqueza dum Estado é a riqueza de todos, se o Estado for o conjunto dos cidadãos, então isso significa que o dinheiro é de todos, correcto?
Então porque ao pedir um empréstimo o banco cobre juros?
O banco, privado, utiliza o dinheiro (teoricamente de nossa propriedade) para ganhar dinheiro (os juros) que ficam exclusivamente com ele.
Acham isso normal?
Em primeiro lugar, nem deveriam existir bancos privados; que, de facto, são uma invenção relativamente recente. Se o dinheiro pertence ao Estado, isso é, a todos nós, porque um privado tem que geri-lo e ganhar com isso?
A seguir. Se o dinheiro for de todos (e, em teoria, assim é) o cidadão deveria poder entrar no banco (do Estado) e dizer:
Querido Estado, preciso de 10.000 Euros para começar a minha nova actividade; assino o recibo, claro, não sou um ladrão, ora essa. Mas lembra duma coisa: quando a minha actividade começar a funcionar, tu, Estado (que depois sou eu também) ganhas com isso, pois a minha empresa vai criar emprego, mercadorias exportadas, consumo, riqueza.
Por isso não começar com a treta dos juros, pois vou devolver abundantemente este miserável empréstimo.
Claro, o mundo não poderia funcionar desta forma. Seria um absurdo, não seria?
Mas não é também absurdo que bancos privados enriqueçam com o dinheiro de todos?
Ops, o intervalo está a acabar!
Falta ainda uma peça, muito importante.
Como vimos, em 1971 os Estados criaram uma situação muito particular: revogada a convertibilidade dinheiro = ouro, era possível criar dinheiro a partir do nada.
Foi, e ainda hoje é, uma medida controversa. Faz sentido “desligar” o dinheiro da riqueza? Faz sentido tornar o dinheiro a verdadeira (mas muito temporária e volátil) riqueza?
Não vamos discutir isso agora, pois o que conta neste discurso é um outro princípio: em 1971 foram rasgados os acordos de Bretton Woods, os mesmos estabelecidos em 1944, e que desde então tinham governado a nossa sociedade.
O que conta, como vimos, é que para os Estados abriam-se novos percursos, novas possibilidades.
E aqui aconteceu algo de espantoso: os Estados disseram: “Não, obrigado”.
Criadas as condições para decisivos investimentos (como já dissemos: instrução, saúde, transportes, infra-estruturas…), as resposta foi: “Sim, engraçado. Mas, se não se importarem, vamos entregar tudo isso aos privados, pode ser?”.
Pode ser sim, é suficiente não dizer nada aos cidadãos.
E foi isso que aconteceu: a possibilidade de criar e gerir dinheiro foi delegada definitivamente aos privados. Não “todos” os privados, só alguns: nomeadamente os que fazem-se chamar “bancos”. Privados, óbvio.
E a coisa mais divertida é que nada foi dito aos cidadãos: em que dia o Presidente Nixon rasgou a convertibilidade dinheiro = ouro? No dia 15 de Agosto, no meio das férias.
Tu, cidadãos, fica na praia, pensa em divertir-te; eu trato do resto.
E, de facto, trataram.
Bom, em verdade havia um pequeno problema.
As duas principais economias, a americana e a europeia, encontravam-se em situações diferentes: nos Estados Unidos o Banco Central era já privado (a Federal Reserve sempre foi privada), mas na Europa cada Estado continuava teimosamente a gerir a própria riqueza com o Banco Central Nacional. Uma situação incomodativa, sem dúvida.
Era preciso uniformizar, entregar toda a riqueza aos privados. Não era uma questão secundária: uma vez controladas as duas principais economias, com outras instituições teria sido possível estender o controle até as outras economias. É por isso que existe o Fundo Monetário Internacional, por exemplo, que reúne 184 Países.
Por isso, era preciso ultrapassar o obstáculo “Europa”. Mas isso não era tão simples: não era possível enviar todos os cidadãos para a praia, era preciso algo de mais refinado.
Desde 1950, no Velho Continente era activo um movimento que mirava a criação dum grande mercado comum, uma federação de Estados, começada com a CECA, Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Poderia ter existido ocasião melhor para aportar algumas “leves” modificações?
Por exemplo: que tal pegar nesta boa ideia e convencer os cidadãos em adoptar uma única moeda privada? O nome? “Euro”, de Europa, perfeito.
Depois é pintar retratos fantástico, de paz, bem estar comum, de cooperação infinita: os ricos que ajudam os pobres, os pobres que ficam ricos, eis a promessa do Euro.
Os Europeus são aborrecidos, querem votar acerca de tudo a mais alguma coisa, sempre com esta história da democracia e bla, bla, bla.
Então eis o golpe de génio: convence-los em votar num projecto aparentemente bom (a União Europeia) para depois poder actuar um plano muito mau.
Quem poderá queixar-se? Os cidadãos? Mas não foram eles que escolheram de livre vontade?
Assim foi criado o Euro.
Uma moeda nascida ainda antes do Estado, caso único na História. Mas não havia tempo a perder: era preciso que todos, Americanos e Europeus, usassem dinheiro privado. Os outros teriam seguido o exemplo ou poderiam ser controlados, sem problema.
Dinheiro privado…será possível?
Não “será”, mas “é” possível.
Observem uma nota de Euro: conseguem individuar as palavras “União Europeia”? Não, não conseguem, porque não aparecem: aparece apenas BCE, Banco Central Europeu.
Observem uma nota de Dólar: porque não aparece o Ministério do Tesouro? Aparece apenas Federal Reserve.
Em ambos os casos a resposta é simples: este não é dinheiro público, é privado.
As antigas notas nacionais deixavam bem claro que a nota pertencia a um determinado Estado: não era vaidade, era uma segurança, pois estava a significar que atrás da nota havia um Estado que garantia o valor dela, com as próprias reservas auríferas.
Quem está atrás do Euro e do Dólar?
O Banco Central Europeu é formado pelos Bancos Centrais Nacionais, os quais são detidos por bancos privados.
A Federal Reserve é privada. Oficialmente os nomes dos accionistas da Fed são mantidos secretos (manter secretos os nomes dos donos da instituição que cria e gera o dinheiro dum País? E porquê?), na verdade há muito mais do que suspeitas: os donos da instituição são bancos privados e famílias de banqueiros.
O BCE produz dinheiro privado, tal como a Federal Reserve. Não é dinheiro criado a partir de riqueza, não é criado a partir de ouro: é papel, nada mais do que simples papel a cores, atrás do qual não há nada.
É difícil acreditar nisso.
O esquema foi bem estudado e nada foi deixado ao acaso. Quando nos anos ’90 houve a passagem para o Euro, ninguém explicou o que teria significado abandonar o dinheiro nacional, perder a soberania monetária.
Repito: ninguém explicou isso, nem os governos, nem as oposições. Europeiastas e anti-europeistas, todos empenhados em Grandes Discursos acerca dos Grandes Valores, a Democracia, o Futuro, a Unidade, o Homem, a Cooperação.
Poucos, muito poucos e não ouvidos os que perguntaram uma coisa muito simples: o que acontecerá ao meu País uma vez perdida a capacidade de gerir o próprio dinheiro?
Nos Estados Unidos a passagem aconteceu numa época ainda mais remota, no principio do XX século com o Presidente Wilson o qual, mais tarde afirmou:
Eu sou um dos homens mais infelizes. Tacitamente arruinei o meu País. Uma grande Nação industrial está agora controlada pelo seu sistema de crédito, já não somos regidos por a livre opinião e o voto da maioria, mas pela opinião e coação de um pequeno grupo de homens dominantes.
E bravo Wilson. Pena ter lá chegado demasiado tarde.
Olhem, encontrei uma última peça! Mas não faltavam apenas duas? Pois, mas agora surgiu esta, olhem só: chama-se dívida.
Melhor observa-la bem, pois não parece uma peça segundaria. Eh não, não é nada secundária. A bem ver, o mecanismo da dívida é muito importante embora o seu funcionamento seja bastante simples.
De facto, funciona assim:
Um banco privado emite dinheiro.
O dinheiro é emprestado a um Estado.
O Estado para juros por este empréstimo.
O Estado gasta mais do que ganha, o que é bastante normal.
Por isso o Estado não consegue devolver o empréstimo e pede outro empréstimo para poder funcionar e pagar ao menos os juros.
A partir de agora, o Estado continuará a pedir cada vez mais dinheiro ao banco privado: para poder continuar a funcionar e para poder pagar os juros acumulados.
É uma espiral da qual o Estado nunca poderá sair. O banco privado conseguiu um refém: o Estado.
A espiral chama-se “dívida pública”.
E o Estado somos nós.
Agora temos as peças necessárias para construir o nosso jigsaw.
- Tudo começa em 1919, com o Federal Reserve Act assinado pelo Presidente dos Estados Unidos T.W. Wilson: a moeda dos EUA é emitida agora pelos privados.
- Continua em 1971, dia 15 de Agosto, com a revogação da convertibilidade da moeda e ouro por o Presidente R. Nixon. Com esta medida o dinheiro já não representa a riqueza dum País, o seu ouro, mas torna-se uma riqueza volátil.
- Com esta medida, a riqueza do País é retirada das mãos dos cidadãos.
- A seguir, temos a supressão dos bancos centrais nacionais da Europa em favor dum só banco central, o BCE, privado, que emite moeda própria.
- Como resultado, os cidadãos perderam definitivamente qualquer contacto com o ouro do Estado e são obrigados a utilizar exclusivamente um meio de pagamento privado, sem valor intrínseco.
- Entretanto, os bancos (nesta altura todos privados ou controlados pelos privados) capturam os Estados no mecanismo da dívida pública e conseguem enriquecer cada vez mais.
Uma revolução? Uma guerra? Uma mega-reestruturação da dívida? Qual o problema? Os Estados ficarão apenas com um monte de papel. Os bancos com o ouro.
E o leitor terá que concordar: as duas coisas são bem, diferentes, não acha?
Eis a Grande Mentira, que tem um nome: dinheiro.
O dinheiro que utilizamos já não é público, é privado; já não é riqueza, é papel.
Os Estados abdicaram do papel deles de forma progressiva mas inexorável. Pior: traíram os próprios cidadãos. Entregaram o ouro e o poder à poucos privados. Porque ouro e poder vão juntos.
Porque um Estado que não pode controlar a própria economia já não é um Estado: é uma ilusão de Estado.
Pensem um segundo nisso: o que pode fazer um Estado sem a capacidade de gerir o próprio dinheiro (que depois é o dinheiro de todos os cidadãos, é bom não esquecer isso)?
Pode gerir o sistema de instrução? E com quais recursos?
Pode gerir o sistema de saúde? E como?
Pode gerir um exército, uma política energética, o mundo do trabalho, a justiça, as próprias finanças, os transportes? Pode fazer planeamentos?
Uma vez perdida a posse da própria riqueza, um Estado deixa de existir. Continua a existir a Nação (por enquanto: ainda não perceberam o porque da globalização?), mas o Estado morreu, porque palavras como “república” ou “democracia” são ocas quando não há poder.
Os Estados morreram porque foram vendidos. Mas nós somos os Estados: então nós cidadãos fomos vendidos, com as nossas riquezas e os nosso direitos.
Os partidos, os representantes, aquelas mesmas instituições criadas e eleitas para tratar dos interesses de todos, traíram a confiança dos próprios eleitores e venderam as vidas dos cidadãos aos bancos privados.
Hoje continuam a utilizar termos que perderam sentido, como Estado, República, Democracia; continuam a organizar rituais vazios como as “livres” eleições: tudo para criar uma aparência de legalidade, para que o cidadão não perceba a realidade, para preservar a Grande Mentira.
Pois é, querido leitor: fomos vendidos. Em troca de papel.
E temos que admitir: como negócio não foi grande coisa.
Ipse dixit.
said the unifaun to his true love’s eyes.
“It lies with me!” cried the Queen of Maybe
– for her merchandise, he traded in his prize.