Nestas condições, seria lógico observar o que aconteceu no primeiro dos Países que foi “ajudado”, a Grécia.
Mas esta comparação não é feita.
Pelo contrário, ignora-se totalmente o que se passa, como se os problemas de Atenas não fossem os próximos problemas de Lisboa.
Fala-se em “ajuda” como se esta fosse uma medida dolorosa mas resolutiva: sim, verdade, custa, mas depois, uuuhhh!!!…
Há cerca de um ano, a Grécia enfrentava uma situação extremamente delicada: parecia destinada ao colapso, ao ponto de ser necessária uma intervenção do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu para “salva-la”.
Na altura, a recém-nascida Informação Incorrecta avisava: vender a Grécia não teria ajudado sem uma resolução do problema de fundo.
Após quase 12 meses, a situação é a mesma. Aliás, um pouco pior.
De facto, o resgate da Grécia faliu e os mercados vêem uma reestruturação da dívida grega como cada vez mais provável nos próximos 5 anos.
Reacções na Europa? Nenhuma, a não ser uma nova discussão acerca dum mecanismo de resgate com um valor de 500 mil milhões de Euros.
Isso, claro, além duma serie de medidas para “apertar o cinto” dos cidadão, como aumentar a idade da reforma, abandono dos automatismos para a adequação dos salários ao custo da vida, menos serviços.
Mais: a proibição inserida nas Constituições de criar deficit públicos e um mecanismo automático de sanções para quem não normaliza a própria situação em matéria de dívida pública excessivas.
Tudo para evitar a reestruturação.
Porque isso afectaria os bancos em primeiro lugar, a seguir as multinacionais. Isso é, os que mais ganharam com as “vacas gordas” e que não tencionam perder um cêntimo, mesmo em tempos difíceis.
Ainda mais importante: porque reestruturar constituiria um perigoso precedente, significaria que a dívida não é um valor absoluto, pode ser negociada, pode ser reduzida, pode ser abatida.
Neste sentido não são admitidas dúvidas: o sistema funciona lindamente assim como está, o que aconteceu foi só um acidente de percurso.
Uma analise séria deveria sublinhar como os PIGS, mas também a maioria dos outros Países da União, tem algumas características negativas que não podem ser tratada com uma lei constitucional: poucas indústrias, a maioria das quais inúteis para exportar produtos, tal como a construção, a venda ao retalho ou varejo, os transportes, os serviços.
Esta situação não é o fruto do acaso, mas a lógica consequência das políticas da União ao longo das últimas décadas.
Quem conseguiu destruir a agricultura de inteiros Países?
Quem facilitou a Diáspora das empresas produtoras?
Os Países gastam mais do que a riqueza que conseguem produzir, simplesmente porque deixaram de produzir; a única forma de sobreviver é a dívida. E sem a possibilidade de reestruturar, o destino é a sobrevivência até o inevitável default.
A Europa parece não ter um plano de longo prazo: porque não pode haver.
Um plano construído com base em quê? Na construção civil? Nos transportes públicos?
A palavra de ordem das Mentes Pensantes de Bruxelas parece ser “aguentar” esta altura complicada, esperando que o vento mude.
A expectativa, nem muito escondida, é que o gigante americano possa despertar, de forma que o Velho Continente possa desfrutar do brilho reflectido.
Como possa despertar o gigante americano fica bem demonstrado pelas últimas notícias.
Ontem a mudança: o governo local alterou a lei que previa o número mínimo de representantes necessários para aprovar as leis.
Os Democratas desapareceram (literalmente) e o governo, livre da questão do quórum, aprovou os cortes.
Um golpe de Estado. E o cidadãos não parecem ter apreciado, pelo que voltaram a ocupar o Senado.
Ohio, Indiana, Florida, Illinois e Texas têm situações de tensão também.
E o Utah, o Estado dos Mormons, acabou de aprovar uma lei para tornar legal a criação duma própria moeda.
Dólar, adeus.
Esta é a situação do gigante americano…
Ipse dixit.