Mas vamos ver.
Como os aficionados leitores sabem, o grande problemas dos Países Ocidentais é a dívida.
Brevíssimo resumo: os Estados não têm dinheiro, sempre com os cofres vazios. No entanto, o Estado tem que continuar a funcionar. Solução? Pedir dinheiro. Como? Com a emissão de Títulos de Estado.
Um Título de Estado funciona assim: eu, Estado, entrego este papel e tu, investidor, guardas o papel em troca do teu dinheiro.
Desta forma eu, Estado, tenho dinheiro para gastar.
Após um prazo pré-estabelecido (há vários: 1, 3, 5, 10 anos…), tu, investidor, chegas com o papel e perguntas: “onde está o meu dinheiro?”
Eu, Estado, reembolso o dinheiro que me deste mais algumas coisitas, os juros, pois é justo que tu, investidor, possa ganhar algo com esta operação.
Fácil perceber que o problema surge quando chega a altura de reembolsar, pois entretanto o Estado ficou ainda uma vez sem dinheiro. Então, como reembolsar o investidor?
Simples: pegamos num outro investidor e repetimos: tu, investidor, pega neste papel, etc. etc., assim o Estado tem dinheiro para pagar ao primeiro investidor.
Na prática. trata-se de repetir o jogo infinitas vezes: pede-se o dinheiro dum investidor para pagar a dívida contraída com outro investidor.
Dito desta forma é simples, mas há um problema: os juros crescem, sempre.
Ao pedir o dinheiro ao segundo investidor, o Estado terá que pedir o dinheiro emprestado pelo primeiro investidor (que agora tem que ser reembolsado) mais os juros.
Assim, reembolsar o dinheiro do segundo investidor significará reembolsar o capital emprestado e os juros do primeiro investidor (ambos já reembolsados), mais os juros do segundo investidor, pois ninguém empresta dinheiro sem juros (só os bancos islâmicos, mas este é outro discurso…).
Imaginem o que significa isso uma vez chegados ao nono, décimo, centésimo investidor…
Como se diz em Portugal: é uma bola de neve, que continua a crescer enquanto avança (esquisita esta coisa da bola de neve em Portugal, um País que tem 3 átomos de neve por cada inverno, mas enfim…).
A actual crise dos Países PIGS, na Europa, deriva da dívida excessiva contraída ao longo dos anos.Países como Grécia, Irlanda, Portugal e outros, já pediram tanto dinheiro emprestado que agora os investidores desconfiam. A dúvida deles é: “Mas será que estes Países ainda têm a capacidade para reembolsar todo o dinheiro pedido?”.
Dúvida legítima, seja dito.
Agora é só esperar… |
Mas não é o caso de desesperar, pois na grande bola de cristal da Alta Finança apareceu de repente a solução: os Títulos Centenários.
O problema é a altura em que é preciso reembolsar? Então o prazo fica daqui a cem anos.
Tão simples.
É uma piada? Não, não é. É uma notícia da Agência Reuters que relata como o debate seja quente nos Estados Unidos acerca deste assunto.
Segundo esta ideia, o Estado ficaria com o dinheiro e o investidor com um papel que poderá ser reembolsado após um século.
Pode perguntar o leitor: “Mas o que ganha com isso o investidor?”
Justo, afinal, após cem anos, é provável que o mesmo esteja defunto…
Em verdade, a Alta Finança encarou o problema: não é assim fácil convencer as pessoas a investir dinheiro numa coisa que dá frutos só após um século…
Então eis a solução: reembolso do capital a partir do 50º ano, em prestações.
Isso é: eu compro o Título e o Estado, passados 50 anos (!!!) começa a devolver-me o investimento em cómodas prestações que acabam após outros 50 anos.
Limitado o sucesso entre os idosos |
Entretanto os Títulos de Estado são negociáveis. Isso é: podem ser vendidos.
Eu, por exemplo, tenho um Título do Estado Português cujo prazo acaba em 2111 (lolololol). Em vez de esperar 100 anos, o que é bastante chato, posso vender este crédito. A quem? A outro deficiente que como eu quer comprar um Titulo destes, claro.
Pois, não sei porquê, mas não estou a prever um grande sucesso por estes novos produtos “seculares”…
Única dúvida: e uma vez chegada a altura de reembolsar os Títulos Centenários?
Que tal um Título Milenário?
Ipse dixit.
Fontes: Il Grande Bluff, Reuters, Zero Hedge