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Outro País, outra crise, sempre a Dupla Maravilha

Já falámos da Dupla Maravilha e do fantástico desempenho na Grécia.

Atenas estava mal antes da chegada da “ajuda”: as taxas de juro dos Títulos de Estado atingiam 4-5%.
Mas isso antes. Agora os interesses subiram, acompanhados por protestos, manifestações, greves em todo o País.
A Dupla Maravilha no seu melhor.

E em Portugal até há pessoas que vêem com agrado a chegada do Fundo Monetário Internacional: isso ultrapassa o simples masoquismo e atinge o campo da idiotice integral.

Por isso, se eu fosse Irlandês, agora estaria preocupado, pois os problemas já começaram. E isso ainda antes da Dupla Maravilha ter tido o tempo suficiente para implementar os próprios estragos.

Em direcção da forca

Brian Cowen, o premier, está vez mais sozinho.

Num discurso na imprensa, o Ministro das Relações Exteriores, Michael Martin, anunciou o voto contrário às consultações secretas entre os membros do Fianna Fail (o partido do governo); o que constitui um verdadeiro voto de confiança tendo em vista as eleições antecipadas, cada vez mais prováveis, para o mês de Março.

Muitos membros do FF gostariam de ver os próprios destinos afastados daquele do primeiro-ministro mais impopular da história recente da Irlanda.

Difícil, no entanto, evitar as pesadas consequências (fala-se em reduzir para metade a representação parlamentar) devidas aos efeitos draconianos da manobra (cerca de 15 mil milhões em cortes e novos impostos) necessárias para obter a ajuda internacional (a Dupla Maravilha!).

E para alimentar a impopularidade do Cowen tem contribuído também as relações opacas, no limite da cumplicidade, com o presidente do Anglo-Irish Bank, uma instituição entre as principais causas da catástrofe iniciada em 2009.

Dinheiro? É só imprimir

Mas há mais.

No sábado passado, o diário on-line irlandês Independent publicou a notícia segundo a qual o Banco Central da Irlanda, para apoiar o próprio sistema bancário, tem impresso e emprestado 51.000.000.000 Euros, isso é, cerca de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.

A palavra “impresso” não faz justiça ao mecanismo utilizado. O ICB (Banco Central da Irlanda) literalmente criou 51 mil milhões de Euro do zero, permitindo que os bancos irlandeses cumprissem os compromissos sem ter que ir no mercado para angariar o capital necessário.
 
A verdadeira notícia é que tudo isso aconteceu sob os olhos do BCE (Banco Central Europeu que, lembramos, faz parte da Dupla Maravilha), que declarou:

Um porta-voz do BCE disse O banco Central Irlandês está a criar moeda por sua conta, dinheiro emprestado aos bancos, sem pedir empréstimos do BCE para financiar os pagamentos.

O porta-voz do BCE disse que o Banco Central Irlandês pode criar os seus próprios fundos, se julgar isso conveniente, enquanto o BCE é notificado.

A notícia de que o dinheiro está a ser criado na Irlanda alimenta já o receio manifestado esta semana pelo presidente do BCE Jean-Claude Trichet,segundo o qual a inflação é um potencial problema para a Zona Euro.

E esta história já dura há pelo menos 6 meses.

O medo de Weimar

A notícia está a explodir nestes dias na imprensa alemã e cria um (justificado) descontentamento acompanhado de críticas ao governo Merkel que, evidentemente, sabia da operação.
 

Os alemães (e todos os outros Europeus) vêm a própria riqueza diluída para salvar os bancos irlandeses.

Não é um detalhe, a Alemanha é culturalmente o País do mundo mais sensíveis às questões da moeda, são ainda vivas pessoas que viveram na própria pele o horror da hiperinflação relacionadas com a República de Weimar.

Esta história também abre uma “janela” sobre a política dos líderes não-eleitos deste continente, uma política feita às costas dos cidadãos europeus e que muitas vezes é o oposto exacto de quando indicado em ambientes institucionais.
 
Ontem a Alemanha contrariou a ideia dum aumento do fundo europeu de resgate: e agora podemos ver como isso não passe duma fachada política, pois a mesma Alemanha permitiu que a Irlanda imprimisse milhares de milhões de Euro a partir do nada para salvar os bancos.

Tudo o resto é teatro.

Ipse dixit.

Fontes: The Independent, The Telegraph, Global Economic Analises