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O Brasil refúgio dos terroristas?

A decisão do ex-Presidente Lula de não extraditar Cesare Battisti começa a trazer as primeiras consequências.

O Parlamento italiano é intencionado a congelar os acordos assinados com o Brasil no passado Abril, acordos que prevêem o fornecimento de armas italianas ao País Sul Americano.

O facto do Presidente do Supremo Tribunal Federal (Stf), Cezar Peluso, ter ordenado a reabertura do dossier Battisti não é suficiente para que as relações possam voltar à normalidade. E, embora o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Frattini, realce como o contrato permaneça em vigor, no Parlamento maioria e oposição alcançaram um acordo para travar a venda.

De facto, a Italia encontra-se agora numa situação delicada: dum lado oficialmente recusa o terrorismo, doutro lado está a manter acordos económicos em matéria de armas com um País que constitui um refúgio para terroristas.

Mas porque Lula decidiu proteger um homem culpado de matar durante a vaga terrorista que atingiu a Italia nas décadas ´70 e ’80?

A razão é que Lula, óptimo no plano internacional até hoje, permanece um homem de Esquerda. Aliás: da Esquerda Comunista. E como Battisti também pertence à mesma área, é claro como a escolha do presidente nada teve a ver com motivações humanitárias mas com razões políticas: ao que parece, um Comunista não condena um outro Comunista, assim como um Fascista tenderá sempre a proteger um “dos seus”.

É triste observar que em nome dum ideal político seja possível cometer os crimes mais violentos.
É triste observar blogues e comentadores brasileiros que agarram-se aos aspectos jurídicos da questão e ignoram os morais.
É triste observar como estes comentadores tenham que recorrer a lugares comuns, frases feitas, ofensas gratuitas para denegrir um País que pede que um terrorista pague pelos seus crimes.
É triste observar como sempre estes comentadores tentem rescrever a história dum País que desconhecem ou que conhecem só com recortes dos jornais para justificar o sucedido.

É triste observar como a fé política possa obcecar a razão.

Mas, doutro lado, se assim não fosse não seria fé, seria lógica e raciocínio.

No plano geopolítico é claro que o Brasil escolheu um rumo, sobretudo se será confirmado pela actual Presidente, Dilma Rousseff. Um rumo esquisito, sem dúvida.

Numa altura em que ex-potências comunistas procuram sair do constrangedor dualismo Comunismo-Capitalismo, abrindo ao livre mercado mas mantendo características muito próprias, tanto de constituir uma futura alternativa ao predomínio dos Estados Unidos, o Brasil escolhe engrenar a marcha atrás: Comunismo afinal é bom.

Claro, ninguém está a espera de ver surgir um novo regime cubano. Mas a direcção é pintada da mesma cor.

Acho ser esta uma escolha com um grande senão: ao abraçar a causa Comunista, o Brasil arrisca ver diminuída a própria credibilidade no plano internacional. Aquela credibilidade que o mesmo Lula conseguiu não sem fadiga e muito empenho.

Um Brasil equiparado à Venezuela ou à mesma Cuba não pode desenvolver um papel significativo na diplomacia internacional por causa das próprias bases ideológicas, auto-limitativas.

Isso traz também consequências na política da área Sul-Americana.
Ao conotar-se como força neo-comunista, o Brasil perde poder de agregação em relação aos outros Países do continente. Mas este poder seria fundamental na constituição duma real alternativa ao domínio norte-americano, bem exemplificado pela situação da Colômbia.

Nada de novo debaixo do sol.
Aliás, algo de novo há: pela primeira vez após anos, governo e oposição italianos estão em sintonia, pois também os partidos de Esquerda condenam a decisão do ex-presidente. É obra.

Quanto a mim, repito o que já disse: lamento que um pluri-assassino não pague pelos seus crimes, mas se o Brasil gosta tanto de Battisti, afinal que fique com ele. Já temos muitos problemas aqui na Europa, ninguém vai sentir falta dum terrorista.

E com isso fecho o meu pessoal dossier Battisti: acabe como acabe o novo processo decidido pelo STF, no mundo há coisas bem mais importantes do que ideologias políticas mortas e terroristas derrotados pela democracia.
Que, por quantos defeitos possa ter (e tem muitos, de facto), será sempre melhor de qualquer regime comunista.

 

Ipse dixit.

 

Fonte: La Repubblica