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10 Perguntas para Cesare Battisti

Lula da Silva teve a oportunidade de acabar a própria presidência com um gesto simbólico: entregar um procurado terrorista à justiça do respectivo País.
Felizmente, Lula lembrou-se das próprias raízes Comunistas e do facto do terrorista ser Comunista também: por isso o Radioso Sol do Proletariado continua a brilhar.

Paralelamente, os Camaradas Intelectuais do Brasil (os Camaradas que Pensam) começaram a vomitar opiniões delirantes para justificar a decisão do Presidente: tem que ser, não podemos permitir que a lógica e os factos tomem posse das ideias do Povo. É preciso avançar, utilizar qualquer meio, até a mentira, para que a única razão admissível, a Razão Comunista, possa triunfar.

Assim, os terroristas tornam-se “resistentes”.
Um estado democrático é transformado num conglomerado mafioso-fascista-maçónico.
Uma acção judiciária começada há 30 anos torna-se a propaganda de Berlusconi (que, na altura, nem era politico).

É verdade: arrisca-se a cair no ridículo. Aliás, o ridículo é ultrapassado amplamente na altura em que os Camaradas Brasileiros pretendem ensinar aos Italianos o que é o terrorismo.
Mas é um ridículo que honra, é um ridículo na óptica do Radiante Sol do Proletariado.

Vamos tratar, portanto, do Bom Camarada e Amigo de velha data do Povo Brasileiro, Cesare Battisti.

O Bom Camarada

O bom camarada nasceu em 1954 em Sermoneta, não longe de Latina, perto de Roma.

Em 1968 frequenta o liceu clássico, mas cedo abandona a escola pois a chama da “revolución” já brilha. Assim, em 1971 é preso uma primeira vez por causa dum assalto. Um assalto revolucionário, claro, e por isso plenamente justificado.

Entre 1974 e 1976 é preso várias vezes por roubo e rapto. Roubos e raptos revolucionários, claro, por isso sempre justificados. Até é condenado por juízes que, graças aos comentadores brasileiros, agora sabemos terem sido ou mafiosos ou pagos por Berlusconi.

Em 1976 viaja até o Norte do País e participa na fundação dos PAC, Proletários Armados para o Comunismo no bairro Barona, em Milão.

Em 1977 é preso outra vez, por assalto. Uma outra acção revolucionária contra o Estado mafioso, fascista e liderado por Berlusconi, embora este na altura nem tratasse de política.

Na prisão de Udine conhece Arrigo Cavallina. Camarada pacifista, este torna-se logo o ideólogo do grupo (o “Camarada que pensa”). um dos dirigentes. E, graças ao Camarada que pensa, os PAC entram de direito no círculo dos intelectuais da vanguarda Comunista: na seguinte fotografia, Giuseppe Memeo que, com o cano da pistola, aponta para o radioso Sol do Proletariado em pleno centro de Milão, em 1977.

Outras acções revolucionárias: no dia 8 de Maio de 1978 é ferido Diego Fava, médico do Serviço Sanitário Nacional. Que, como todos os Italianos sabem, é mafioso e fascista.

Depois o ferimento de outro médico, Giorgio Rossanigo, do polícia Arturo Nigro, e o assassinato do marechal Antonio Santoro, chefe dos agentes no penitenciário de Udine. O mesmo onde foram presos Battisti e Cavallina. Vingança? Claro que não, simples casualidade.

Até aqui, pelos vistos, nada de grave: roubos, assaltos, raptos, ferimentos, um assassinato. Nada que não possa existir no curriculum dum qualquer bom Camarada revolucionário. E não podemos esquecer que a Ideia justifica os meios: o que é a vida dum homem, seja ele médico ou polícia, perante a grandiosidade do Proletariado?

No dia 16 de Fevereiro de 1979, os PAC decidem avançar com uma operação mediática: dois homicídios em contemporâneo, para que o Radioso Sol do Proletariado possa brilhar ainda mais nos medias nacionais.

Objectivos: um joelheiro em Milão e um homem dum talho perto de Veneza. Dois objectivos no coração das instituições, sem dúvidas, um verdadeiro ataque ao centro do Poder mafioso, fascista e pro-Belusconi (que ainda continuava longe da politica, mas enfim).

As decisões ocorrem dois dias antes, numa reunião no centro de Milão.
Battisti antes nega, depois admite ter participado mas para obstaculizar os assassinatos, depois nega outra vez. E não é difícil imaginar a cena: perante os Camaradas armados e encapuçados,  Battisti de joelhos que gritava “Não, Camaradas revolucionários, pensem nas famílias deles, são simples cidadãos!”.

De facto, um momento de fraqueza do qual, para boa sorte, Battisti recupera depressa.

Assim, participa no assassinato do homem do talho, Luca Sabbadin.
Agora, qualquer pessoa não Comunista perguntaria: mas como pode a justiça italiana (mafiosa e fascista) condenar um homem (o pobre Battisti) por causa de dois homicídios, sensivelmente na mesma hora, em localidades que distam centenas de quilómetros uma da outra?

De facto a justiça italiana (mafiosa e fascista) condena o Camarada Battisti só por causa dum homicídio, o do talhante Sabbadin, perto de Veneza. Mas acusa Battisti de ter participado na reunião onde foram decididas as duas acções.

10 perguntas para Cesare Battisti

Mas estes são pormenores que não devem e podem interessar o Proletariado: fica muito melhor dizer que a justiça italiana (mafiosa e fascista) condena o pobre Battisti pelos dois. Assim fica ainda mais evidente a conjura mafiosa-maçónica-fascista-berlusconiana que tenta culpar o Bom Camarada.

Agora, a conjura mafiosa-maçónica-fascista-berlusconiana é composta por pessoas espertas. A esperteza típica da maldade, óbvio, mas que deve ser combatida, sempre e em qualquer lugar. Por isso vamos analisar as perguntas perniciosas e respondemos de forma apropriada e revolucionária.

Pergunta 1

Battisti afirma ter abandonado os PAC em 1978, antes dos homicídios. 5 dos seus ex-Camaradas afirmam o contrário, chegando até a insinuar que o pobre Battisti participou na já citada reunião. Como é possível? 

Resposta A) Os 5 Ex-Camaradas estão em estado de confusão
Resposta B) É uma conspiração

Pergunta 2

Mesmo tendo abandonado os PAC em 1978, em 1979 é preso numa casa onde foram encontrados documentos dos PAC que reivindicavam os assassinatos e onde passaram armas para as acções. Como é possível?

Resposta A) Não foi Battisti, foi a mulher da limpeza, conhecida revolucionária
Resposta B) É uma conspiração.

Pergunta 3

Battisti indicou os nomes dos executores dos dois assassinatos. Mas como podia conhecer estes nomes após ter supostamente abandonado os PAC e sem ter participado na última reunião? 

Resposta A) Desde tenra idade Battisti sofre de visões, numa destas viu os ex-Camaradas em acção.
Resposta B) Foi uma astróloga de Milão que indicou os nomes a Battisti.
Resposta C) É uma conspiração.

Pergunta 4

As autoridades judiciárias (mafiosas e fascistas) verificaram todos os possíveis álibis. Mas no caso de Battisti não existe um álibi, ninguém pode testemunhar a presença dele num outro lugar na altura dos homicídios. Porquê? 

Resposta A) Battisti, após ter abandonado os PAC, retirou-se a viver em cima duma árvore, onde passava o tempo em reflexões acerca do Sol do Proletariado. Como na altura começavam a florescer as primeiras folhas, ninguém era capaz de vê-lo.
Resposta B) Battisti, nas mesmas horas, tinha ficado preso no WC do metropolitano de Roma, do qual conseguiu fugir só no dia a seguir graças à ajuda dum cego-surdo-mudo.
Resposta C) É uma conspiração.

Pergunta 5

As declarações do ex-Camarada Mutti (que acusa Battisti) foram confirmadas por outros Camaradas dos PAC. Porque deveria ter mentido só em relação a Battisti?

Resposta A) Mutti é um ex-Camarada em confusão.
Resposta B) Mutti sempre teve inveja do carro de Battisti, um Fiat 127 Sport preto de 75 HP e caixa de 5 velocidades, e agora está a vingar-se.
Resposta C) É uma conspiração.

Pergunta 6

Mutti fez 8 anos de prisão e agora conduz uma vida simples. Porque os defensores de Battisti afirmam que Mutti vive sob falsas generalidades com o muito dinheiro do Estado?

Resposta A) Se os Camaradas defensores de Battisti afirmam que Mutti vive rico sob falsas generalidades é porque assim é. E ponto final.
Resposta B) É uma conspiração.

Pergunta 7 

O seu amigo Arrigo Cavallina é um defensor de Battisti, contrário à extradição, mas afirma que o mesmo Battisti nunca abandonou os PAC e que, pelo contrário, partilhou “toda a história do grupo”. Porquê?

Resposta A) Arrigo Cavallina é um Camarada com uma péssima memória.
Resposta B) Também Cavallini era invejoso do carro de Battisti.
Resposta C) É uma conspiração.

Pergunta 8

Após ter sido preso, Battisti recusou um face-a-face com as testemunhas oculares do homicídio do policia Andrea Campagna, que tinham descrito um killer como uma pessoa muito parecida com Battisti. Porque recusou?

Resposta A) Battisti é uma pessoa muito tímida.
Resposta B) Battisti não quer ter nada a ver com estas histórias de violência.
Resposta C) É uma conspiração.

Pergunta 9

Battisti afirma ter sido julgado enquanto nada sabia dos processos em curso e sem ter tido, por isso, a possibilidade de defender-se. Mas a Corte de Strasburgo (mafiosa e fascista) afirma que a correspondência entre Battisti e os advogados dele demonstram o contrário. Como é possível justificar isso? 

Resposta A) Isso não se justifica. Qualquer Bom Camarada sabe que isso é falso e ponto final.
Resposta B) Os juízes de Strasburgo tiveram inveja do carro de Battisti.
Resposta C) É uma conspiração que envolve não só a Italia, mas boa parte da Europa, mafiosa, fascista e maçónica.

Pergunta 10

Os defensores de Battisti afirmam que este foi condenado exclusivamente com base nas confissões dos ex-Camaradas. Mas isso é falso: existem testemunhas oculares, por exemplo. Porquê esta mentira?

Resposta A) As testemunhas oculares, como explica o termo, são testemunhas que utilizam óculos e portanto não são capazes de distinguir uma pessoa de outra. A falta de álibi foi brilhantemente explicada no anterior ponto 4.
Resposta B) É uma conspiração que envolve Italia, Europa, ex-Camaradas do PAC, testemunhas oculares, Vaticano, Maçonaria, Calendário Maya e Nostradamus.

Para boa sorte, Cesare Battisti nunca pagou pelos seus crimes. E porque deveria? Afinal agiu em nome do Comunismo.
É possível cometer erros enquanto se age em nome do Comunismo? Sim, claro: mas neste caso não é correcto falar de terroristas ou assassinos. Fala-se de “Camaradas que erraram”.
E como errar é humano, o perdão é um dever. Isso sempre admitindo que Cesare Battisti possa ter errado, o que é tudo para demonstrar, como vimos.

Vale a pena estragar os relacionamentos com a Italia para defender um Camarada? Sim, sem dúvida.

A Italia, uma País onde manda um regime democrático, é na verdade um conglomerado de mafiosos-fascistas-maçonicos. Todos os Italianos são mafiosos, fascistas e maçonicos, não é preciso fazer inúteis distinções. Por isso, melhor cortar os relacionamentos desde já. E mostrar quem manda no Brasil: os Brasileiros.

E depois o Comunismo é assim, solidário: ninguém é deixado para trás. Só as vitimas e os familiares delas, mas estes são os normais custos da guerra e, afinal, não se tinham juntado ao nosso Ideal. A bem ver, foram os artífices das próprias desgraças.

Camaradas!

A dúvida é o inimigo do Sol do Proletariado: porque gastar recursos e energias na inútil procura duma Nova Esquerda? Porque quando já temos estas ideias que demonstraram fracassar tão bem ao longo das últimas décadas? Porque um ulterior e provavelmente doloroso esforço cerebral?

Para acabar, um pessoal agradecimento para todos os blogues que omitiram publicar os meus comentários contra Cesare Battisti. Confesso, era apenas um teste: “Conseguirão este Camaradas resistir à tentação democrática?” era a minha dúvida.
Os meus comentárioso não foram publicados: parabéns, resistiram.

Onde está escrito que Comunismo e Democracia devem respeitar-se?

 

Ipse dixit, no Radiante Sol do Proletariado.