É Natal: tempo de prendas, de passar o nosso tempo com a família, no calor das nossas casas.
É tempo de ser melhores e generosos.
Vamos falar de morte.
Escreve Mescar num comentário acerca do artigo O regresso do Armageddon:
Hoje ninguém mais pode morrer
Verdade. Acho isso uma profunda verdade.
A morte faz parte da nossa vida: todos, cedo ou tarde, teremos que morrer. Pelo menos, do ponto de vista estatístico até hoje sempre foi assim.
E sem morte, que seria da vida? Imaginem de viver num planeta onde ninguém morre: passadas algumas centenas de anos nem haveria lugar para ficar em pé.
Mesmo assim, nada na nossa sociedade fala da morte.
Que fique claro: ninguém aqui quer implementar uma “cultura da morte”.
Eu também irei morrer (acho) e a ideia não me agrada, nada mesmo.
Além disso, enquanto estivermos vivos, acho muito bem dedicar o nosso tempo às coisas terrenas.
Logo após o terramoto de Lisboa de 1755, o Marques de Pombal disse Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos.
Justo.
Mas não há possibilidade de escolha: cedo ou tarde acontecerá. Por isso porque ignorar o assunto?
Porque não preparar-se para que a altura não seja uma tragédia mas um facto natural?
No Hinduísmo e no Skhismo a morte não é vista como o fim, mas como uma passagem: a alma abandona um corpo já velho para habitar um corpo novo. Por isso a morte representa um momento menos dramático.
Estou a fazer filosofia de treta? Pode ser.
Mas olhamos para a nossa sociedade.
As ruas, os média, estão repletos de publicidade para que cada um de nós possa ficar fisicamente melhor: até para adiar o passo final.
Alguma vez viram uma publicidade que convidasse a enfrentar a morte com serenidade? Não, não existe.
E porquê? Porque os mortos não consomem. Eis o grande problemas deles.
A morte não dá lucros. Sim, há o negócio dos caixões, dos enredos fúnebres, dos seguros, como vimos no artigo anterior. Mas reparem: todos tratam a pessoa como objecto, nunca como sujeito. Até estes aspectos finais desfrutam o corpo, não tratam da maneira como a pessoa encarou a morte.
Mescar:
Querem nos convencer que sem medicamentos tomados diariamente não podemos viver.
Eis o ponto. Uma pessoa pode representar um lucro só antes de morrer, e nesta altura pode ser explorado enquanto consumidor. Depois, já não pode consumir nada, então para que tratar do assunto?
Resultado: ninguém está preparado para a morte.
A nossa convicção é que temos de fazer tudo para evitar abandonar este mundo.
Ideia correcta, claro, mas que pode esconder atitudes perversas: como embutir-se de medicamentos que afinal pioram o nosso nível de vida.
O que preferem?
Viver até 80 anos com uma vida saudável, relativamente autónoma, podendo desfrutar das coisas boas da vida; ou chegar aos 120, totalmente incapazes de pensar?
Ou até viver para sempre?