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E…?

“Somente os tolos não têm dúvidas.”
“Tens a certeza?”
“Não tenho dúvida!”
Luciano De Crescenzo
Hoje abrir um qualquer diário significa ler as revelações de Wikileaks. Não há maneira de fugir, pois ocupam todos os títulos.
E já alguém fala de 11 de Setembro da diplomacia.
Impressionante.
Eu não quero ser “do contra”, não quero dizer o contrário só porque é chic e faz muito intelectual. Esta é uma atitude particularmente estúpida. Mas quero duvidar, sempre e acerca de tudo.
Então vamos ver estas clamorosas revelações de Whiskyleaks.

Os principais financiadores da rede terrorista Al-Qaeda continuam a ser doadores sauditas
Ohhhh. Afinal não é Israel que financia Al-Qaeda, afinal são os Árabes.

A China desenvolveu uma acção de sabotagem de computadores tendo por alvo os Estados Unidos e os seus aliados
Ohhhh, Eu pensava que a cyberguerra fosse só ficção científica. Mas não, Whiskylik explica que é mesmo realidade.

Norte-americanos e sul-coreanos discutiram a perspectiva de uma Coreia unificada em caso de implosão do regime de Pyongyang, devido à transição de liderança, ou a problemas económicos.
Ohhhh. Quem diria? Americanos e Sul-Coreanos discutiram duma possível guerra na Coreia?

Os EUA pediram aos seus diplomatas para intensificarem a recolha de informações sobre dirigentes estrangeiros. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e os representantes dos outros membros permanentes no Conselho de Segurança – França, Reino Unido, China e Rússia – foram também vigiados mais de perto.
Ohhhh. Como se chama este? Deixem ver…”espronagem”? “estrionagem”? Não, “espionagem”, isso mesmo.

O Guardian refere que o rei Abdullah, da Arábia Saudita, “apelou frequentemente” aos EUA para atacarem o Irão, a fim de travar o seu programa nuclear, segundo o embaixador saudita em Washington. O rei aconselhou os norte-americanos a “cortarem a cabeça da serpente”
Ohhhh. Assim, a Arábia Saudita, aliado dos Estados Unidos, está contra o Irão. Revolucionário.

O embaixador norte-americano em Riade refere num relatório enviado à secretária de Estado Clinton, preparatório da sua visita de Fevereiro deste ano, que Abdullah afirmou que “se o Irão conseguir desenvolver armas nucleares, todos na região farão o mesmo, incluindo a Arábia Saudita”. 
Ohhhh. Não, sério? Mas quem poderia imaginar…

Os documentos revelados confirmam, segundo El País, a intensa actividade diplomática norte-americana para bloquear o Irão, que o predomínio da China na Ásia é visto como um dado adquirido, bem como os esforços desenvolvidos junto dos países da América Latina para isolar o líder venezuelano, Hugo Chávez.
Ohhhh. Fico se palavras.

Mas vamos em frente, pois há uma parte dedicada aos vários leader mundiais.

Diplomatas norte-americanos citam fontes que o descreviam [Kim Jong-il, NDT] como “um tipo flácido” ou como alguém com “traumas físicos e psicológicos”, em resultado da trombose que sofreu recentemente.

Da embaixada norte-americana em Paris vinham comunicações que descreviam o “estilo pessoal autoritário e muito sensível” do Presidente francês Nicholas Sarkozy, num relatório em que era notada a sua tendência para criticar a acção do primeiro-ministro François Fillon e dos membros do seu próprio gabinete.

Sílvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, é descrito como “irresponsável, vaidoso e ineficaz como um líder europeu moderno” por Elizabeth Dibble, a encarregada de negócios dos EUA em Roma. Outro relatório proveniente da embaixada norte-americana em Itália fala de Berlusconi como um líder “física e politicamente fraco”, cujas “noitadas frequentes e gosto pelas festas fazem com que não descanse o suficiente.”

Hamid Karzai, o Presidente afegão, é tido como “um homem muito fraco que não liga aos factos, é facilmente influenciado por quem lhe vier comunicar as histórias mais bizarras que falem de conspirações contra ele.”

Nicolas Sarkozy? Autoritário e sensível, muito disposto a queixar-se com os membros da própria equipa e o primeiro-ministro François Fillon. 

Kadhafi? Uso de Botox, tem medo de voar sobre a água e uma paixão por corridas de cavalos e flamenco, o hábito de ser acompanhado por toda a parte por uma assistente/enfermeira ucraniana Galyna Kolotnytska

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe? “um velho louco”

Angela Merkel? “Evita os riscos e raramente é criativa.”

Fofocas? Não, grandes revelações.

Então?

Resumindo: Wishkyliks revela o que todos já sabiam. Este é o grande scoop contido nos 250.000 documentos que agora podemos ler.

Podemos?
Não, podem. 

O que estamos a ler, por enquanto, são resumos feitos pelas redacções dos grandes diários internacionais, como The Guardian ou Der Spiegel. E os jornais mais pequenos “relatam os relatórios”. É normal, ninguém lê 251,287 documentos.

Resultado: zero.
Os files de Whiskyliks falam de coisas conhecidas há muito.

Pergunta: cui prodest? Quem ganha com isso?
Por enquanto não há resposta.

Mas podemos realçar um facto: acerca de Israel não há notícias.
Curioso, não é?

Aliás, há uma, a seguinte: 

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, é classificado como um homem “elegante e encantador”

Ohhhh…

Fontes: Público, Corriere della Sera. Wikileaks