No próximo dia 20 de Novembro, em Lisboa, haverá um encontro crucial para a Aliança Atlântica: 28 chefes de Estado irão reunir-se para aprovar o novo Strategic Concept, o terceiro desde o fim da Guerra Fria.
Na capital Português a tentativa será a duma redefinição da identidade duma aliança que tem sido capaz de navegar na fase geopolítica marcada por tensões entre o Oriente e o Ocidente, mas que agora parece ter dificuldades.
Um sério “renascimento” da Nato não é uma opção tão realista.
A síntese da reunião em Lisboa, provavelmente, irá realçar as incompatibilidades entre as diferentes posições: dum lado as dos EUA e daqueles que afirmar que Washington tem de ditar os rumos da Aliança (Reino Unido, Holanda e Dinamarca), do outro as defendidas pelas principais potências da “velha Europa” (França e Alemanha) e, finalmente, a linha seguida pelo clube dos Países da “nova Europa”, com posições decididamente anti-Rússia.
Claro, já houve divisões entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental durante a Guerra Fria. No entanto, nunca até hoje tinha sido posta em causa a identidade da Aliança, tal como concebida em 1949.
O espírito de aliança político-militar sobrevivida ao inimigo soviético poderia ser radicalmente alterada pelas dinâmicas exógenas, quais as tendências demográficas dos EUA e da Europa, capazes de afetar a médio e longo prazo as orientações estratégicas dos Países membros da Nato.
De fato, a população dos EUA até atingir quase 400 milhões em 2050 (em 2000 ultrapassou 283 milhões), com média de idade de 36,2 anos, enquanto a Europa vai viver uma tendência contrária, dado o gradual envelhecimento da população.
A população europeia, que hoje é de cerca de 728 milhões de pessoas, segundo estimativas da ONU em 2050 ficará abaixo dos 650 milhões, com uma idade média de 47,0 anos.
Isto só pode levar a uma redução na disponibilidade dos Países europeus para modernizar os próprios exércitos: com os custos crescentes do welfare necessário para atender às necessidades duma população envelhecida, não será possível dedicar recursos suficientes para as forças armadas. Uma tendência que deverá consolidar-se, dada também a baixa prioridade dada à defesa pelos governos do continente no que diz respeito à segurança interna.
Enquanto Washington decidiu aumentos substanciais nos gastos de defesa, criando o Departamento de Segurança Nacional após o 11 de setembro, o governo de Madrid, por exemplo, na sequência dos atentados de 2004 não só não quis envolver a Nato mas também aumentou o orçamento do Ministério do Interior, deixando inalterados os gastos militares (1,2% do Produto Interno Bruto).
Não é por acaso que, durante a preparação do novo Strategic Concept, há um óbvio interesse dos Europeus para preservar a liberdade de cortar os recursos para a defesa e, por outro lado, os EUA afirmam um compromisso mais firme na frente dos gastos na defesa.
Ao contrário do que se poderia esperar, a pressão migratória sobre a Europa, que poderia compensar o declínio da população, só vai agravar o fosso com os EUA, com graves conseqüências para a manutenção da relação transatlântica: a entrar no Velho Continente são em maioria imigrantes do Oriente Médio, Norte da África e da Turquia e a imigração muçulmana na Europa pode alterar a composição demográfica da sociedade, considerada as taxas de fecundidade de três vezes superiores dos não-muçulmanos.
A Nato na Europa |
Por outro lado, os Estados Unidos irão absorver predominantemente imigrantes hispânicos e asiáticos, que em 2050 podem constituir 38% da população dos EUA (o que é impressionante quando comparado com o 4,1% da década dos anos ’60).
Fácil, portanto, imaginar a diferente percepção das questões islâmicas e as consequências na coesão estratégica e política da comunidade euro-atlântica: a “velha Europa” tenderá a tratar cada vez mais da própria segurança interna e das ramificações do fenómeno do terrorismo, enquanto os Estados Unidos apostarão nos cenários da Ásia e da América Latina. A China representa já agora um temível adversário que desafia a supremacia americana no Pacífico Ocidental.
Isso explica porque a posição dos EUA é de orientar a Aliança cada vez mais em não-europeus teatros de operação não europeus de fontes não tradicionais de ameaça (como a cybersecurity).
A percepção do risco dos novos membros da NATO, neste contexto, complicar ainda mais o quadro, definindo os contornos duma Europa que fica longe de estar unida.
O alargamento da NATO para os Países bálticos e as revoluções “coloridas” na Geórgia e na Ucrânia levaram a um reposicionamento geopolítico da Rússia e, por isso, a uma radical alteração estratégica dos Países da Europeia Central.
A intervenção de tropas de Moscovo na Geórgia, em Agosto de 2008, só aumentaram os temores e a desconfiança acerca das intenções russas para a região. Por isso muitos dos novos membros querem um compromisso concreto no teatro europeu, desenhado para colocá-los longe das ameaças mais convencional.
Uma posição em contraste com as aspirações de Washington, como vimos, e com as de alguns Países europeus, como Alemanha e Italia, que reforçaram os relacionamento com a Rússia.
Em substância: as tendências demográficas e a divisão política da Europa são susceptíveis de acelerar a marginalização da Aliança Atlântica. E o próximo encontro em Lisboa não parece estinado a solucionar estes problemas.
Fonte: Limes
Tradução e adaptação: Informação Incorrecta