A leitora Brigida escreve para apresentar um artigo encontrado no site Inacreditável acerca da origem do petróleo.
O que diz este artigo (que podem consultar nesse link)?
Diz que o petróleo não é de origem fóssil mas sim química, que é continuamente produzido de forma natural e que, portanto, a questão do Peak Oil (o fim das reservas) é um falso problema.
Em primeiro lugar: muito obrigado Brigida, as intervenções como esta são sempre particularmente bem-vindas!
Quanto ao petróleo.
Nós de Informação Incorrecta não somos geólogos, mas continuamos a acreditar na teoria clássica, a segundo a qual o petróleo é presente em quantidades limitadas.
Porquê?
Porque o artigo de Inacreditável, assim como no geral toda a teoria apresentada, mostra falhas. E não poucas.
A teoria é bastante antiga, tendo sido formulada no ‘800 por dois cientistas, um francês e um russo; e é conhecida como origem abiótica (que não deriva da vida), em contraste com a teoria segundo a qual o petróleo é formado pela decomposição de restos animais ou vegetais. Pode ser encontrada também na Wikipedia.
O facto do petróleo formar-se a partir de matéria orgânica já foi demonstrado com experiências de laboratório no longínquo 1972, como reza o seguinte artigo de Web Ticino (Suíça):
Já foi demonstrado experimentalmente que o material celulósico (de plantas), bem como o lixo e o estrume, pode ser convertido em um petróleo de boa qualidade em 20 minutos. Os experimentos dos cientistas do Bureau of Mines, que levaram à conversão de estrume de vacas em petróleo, foram descritos em Chemical and Engineering News, 29 de Maio de 1972, pág. 14. O mesmo processo pode ser aplicado aos materiais de celulose, tais como a casca das árvores. O estrume é aquecido a 716 graus F, com uma pressão de 2000-5000 libras por polegada quadrada, ao longo de 20 minutos, em presença de monóxido de carbono e vapor. O resultado é um petróleo pesado com excelentes propriedades de aquecimento. O rendimento foi de aproximadamente três barris de petróleo por tonelada de estrume.
O facto de ter conseguido petróleo a partir de matéria orgânica não exclui a teoria abiótica. Até os dois processos poderiam coexistir.
Mas quais são os dados a favor da teoria abiótica? Podemos encontra-los no artigo de Inacreditável:
O petróleo é extraído de grandes profundidades, chegando até 13 km. Isso contradiz totalmente a origem dos fósseis, pois os seres vivos do mar nunca conseguiram ir até lá e a temperatura nestas profundidades teria destruído todo material orgânico. Somente um aparecimento abiótico do petróleo pode esclarecer isso.
Quem faz uma afirmação como esta demonstra de não conhecer como evoluiu o nosso planeta ao longo dos bilhões de anos. É claro que nenhum ser vivo pode chegar até os 13 km de profundidade: o material orgânico chegado a estas profundidades transportados pelos movimentos causados da tectónica terrestre, isso é, o movimento de grandes massas de terra que modifica o “rosto” do planeta.
E as temperaturas? Sabemos que o calor aumenta de 1º C por cada 33 metros de profundidade. Mas este aumento não é constante: há minas de ouro que atingem os 3.000 metros abaixo da superfície, e onde a temperatura deveria atingir os 90º. Mas assim não é e há homens que trabalham nestes lugares.
As reservas de petróleo, que desde os anos 70 deveriam estar vazias, se completam novamente por si mesmas. O aparecimento do petróleo fóssil que aconteceu somente uma vez há 500 anos não pode explicar este fenómeno. Já o aparecimento abiótico pode, pois aqui o petróleo é produzido incessantemente.
Quem diz que as reservas deveriam estar vazias desde os anos ’70?
E que significa que o petróleo fóssil apareceu somente uma vez há 500 anos?
Isso não faz sentido nenhum.
A quantidade de petróleo extraída nos últimos 100 anos supera a quantidade de petróleo que poderia ter sido formado através da biomassa. Tanto material vegetal e animal nunca existiu num único momento, para serem transformados em petróleo. Somente um processo para fabricação de hidrocarbonetos no interior da Terra pode suprir esta gigantesca quantidade.
A vida na Terra apareceu bastante cedo: no mínimo 2,7 biliões de anos atrás.
Um ser humano vive em média 75 anos (mais ou menos): nem um século. No entanto a vida é presente neste planeta há 27.000.000 (vinte e sete milhões) séculos.
Considerem as formas de vidas animal e vegetal que existem hoje e multipliquem isso por alguns milhões de séculos…Conseguem imaginar toda a vida que nasceu, viveu e morreu neste enorme espaço de tempo?
Quando observamos as grandes reservas de petróleo no mundo, então é notório que elas aparecem onde as placas tectónicas estão em contrato uma com as outras ou se deslocam. Nestas regiões existem suficientes fendas, um indício, que o petróleo provém do interior da Terra e migra vagarosamente através das aberturas para a superfície.
Quem fala de origem abiótica muitas vezes cita as “enormes quantidades de petróleo” (alguns até falam de “mar de petróleo”) nas entranhas do planeta. Mas não há o menor indício desses oceanos e há o problema não negligenciável que, sendo o petróleo menos denso da pedra, por razões de hidráulica tenderia a subir para a superfície. Em bilhões de anos da história do planeta, os oceanos do petróleo não seriam capazes de permanecer em profundidade por uma aplicação directa do princípio de Arquimedes, conhecido há mais de 2.000 anos.
Suponhamos que seja verdade que existem grandes quantidades de petróleo enterradas debaixo da terra no manto. Umas partes desses hidrocarbonetos são, necessariamente, filtrada através da superfície da rocha porosa de forma gradual ou pela acção de vulcões. Uma vez na superfície, vai ser decompostas por bactérias. Na presença de oxigénio, as bactérias oxidam o petróleo, transformando-o em CO2 e metano.
Se houvesse de verdade estas enormes quantidades de petróleo no subsolo, e se de facto estas filtrassem na superfície ao longo de milhões de anos (no máximo), esta reacção teria já consumido todo o oxigénio da atmosfera.
Na verdade, não teria sido possível para o oxigénio acumular-se na atmosfera. A atmosfera hoje seria composta apenas de CO2 e a Terra seria mais parecida com o planeta Vênus, que nós sabemos. O facto da atmosfera da Terra ser oxidante (isso é, contém um excesso de oxigénio) é suficiente para provar que não pode haver grandes quantidades de petróleo no subsolo em comunicação com a superfície.
Nos laboratórios foram criadas condições semelhantes àquelas que predominam nas profundezas do planeta. Com isso foi possível produzir metano, etano e propano. Estas experiências provam que os hidrocarbonetos podem se formar dentro da Terra através de simples reacções inorgânicas – e não pela decomposição de organismos mortos, como é aceito geralmente.
É sabido que o petróleo pode formar-se sem matéria orgânica. O problema é a quantidade: escassa.
Petróleo não pode ter 500 milhões de anos e permanecer tão “fresco” no solo, até que nós o extraímos à luz do dia. As longas moléculas de carbono teriam se decomposto. O petróleo que nós utilizamos é jovem, caso contrário ele já teria se volatilizado há muito tempo. O facto é uma total contradição ao aparecimento fóssil do petróleo, mas que comprova a teoria do petróleo abiótico.
Este é um autêntico disparate. Não existe um tanque de petróleo nas profundezas da Terra: estamos a falar de condições extremas, desconhecidas na superfície. Em particular o valor da pressão é absolutamente elevado, o que impede qualquer gaseificação dos líquidos.
Seria possível continuar mas há uma dúvida de fundo: admitimos que, de facto, haja enormes quantidades de petróleo que fica “misteriosamente” regenerado; o que interessa?
Só uma consideração: nos últimos 120 anos o nosso mundo mudou e forma radical. Radio, televisão, telefones, computadores, aviões, viagens espaciais…
Mas os nosso carros não: ainda funcionam com um motor brevetado em 1886 pelo engenheiro Nikolaus August Otto. E alimentado sempre com os derivados do petróleo. Não é um anacronismo?
Ipse dixit.
Fonte: Inacreditável, Wikipedia, Web Ticino