União Europeia: provas técnicas de neolíngua

Povo! Boas notícias: a União Europeia pensa em nós e trabalha arduamente para melhorar a nossa condição.

Mais dinheiro? Não. Mais trabalho? Não. Mais direitos? Nem por isso: uma nova língua, a neolíngua do bom cidadão. Infelizmente, algumas mentes tacanhas obrigam a uma paragem neste percurso de modernidade. Mas temos a certeza de que será uma paragem apenas temporária. Ninguém trava o futuro!

Como referido pelo diário La Repubblica, “a Comissária Europeia para a Igualdade, Helena Dalli, retirou as directrizes sobre comunicação inclusiva que tinham suscitado controvérsia sobre a utilização da palavra Natal.”

Natal? Pois, meu querido povo, pois: temos que evoluir e Bruxelas pensa no assunto. Eis a iluminada Helena que fala, tomem nota:

A minha iniciativa de desenvolver directrizes como documento interno para a comunicação do pessoal da Comissão nas suas funções destinava-se a alcançar um objectivo importante: ilustrar a diversidade da cultura europeia e mostrar a natureza inclusiva da Comissão Europeia em relação a todos os estilos de vida e crenças dos cidadãos europeus.

Qual nobre objectivo! Que espíritos sensíveis que lideram as nossas terras!

No entanto, a versão publicada das directrizes não serve adequadamente este propósito. Não é um documento maduro e não cumpre todos os padrões de qualidade da Comissão. As directrizes precisam claramente de mais trabalho. Por conseguinte, retiro as directrizes e continuarei a trabalhar neste documento.

Afortunado o Continente que pode ser conduzido por estas almas puras! Mas o que previam as directrizes agora retiradas? La Repubblica explica:

Todas as pessoas na UE “têm o direito de ser tratadas em pé de igualdade”, era a premissa do documento. O objectivo é limitar as referências a “género, etnia, raça, religião, deficiência e orientação sexual”. As sugestões incluíam evitar referências ao Natal nas comunicações internas. Os funcionários de Bruxelas não deveriam, foi sugerido, “tomar como certo que todos são cristãos porque todos celebram os feriados cristãos, e nem todos os cristãos os celebram nas mesmas datas”. O convite era portanto para mostrar “sensibilidade ao facto de que as pessoas têm diferentes tradições religiosas e calendários”.

Seguiu-se um exemplo de como formular uma frase tal como: “A época natalícia pode ser stressante”. Melhor, a Comissão recomendou, escrever “A época festiva pode ser stressante”.

Só isso? ….eh não propriamente: esta é a versão suavizada, aquela apresentada pelo diário de regime pró-Europa. Outro diário de regime (mas da oposição) é mais preciso: e tinha sido mesmo este diário, Il Giornale, a apresentar ontem a incontornável obra Union Of Equality – European Commission Guidelines for Inclusive Communication (“União de Igualdade. Directrizes da Comissão Europeia para uma Comunicação Inclusiva”, que pode ser visionada em língua original neste link). E o problema vai muito, mas mesmo muito além do simples Natal…

As directrizes iam desde a proibição do pronome masculino por defeito até à proibição do uso de termos como “trabalhadores” ou “polícias” (em inglês workmen e policemen, literalmente “homens das obras” e “homens da polícia”: estão a ver a discriminação sexual, não estão?), para não falar da proibição de Miss e Mr (“Sr.a” e “Sr.”), substituídos por Mx.

O documento incidia também sobre áreas específicas como “género” (o famigerado gender), “Lgbtiq”, “racial e étnico” ou “culturas, estilos de vida e crenças” com uma tabela que indicava o que podia ou não podia ser dito e feito. Por exemplo, numa passagem o documento contra a “discriminação” assim rezava:

Tenha cuidado para não mencionar sempre primeiro o mesmo sexo na ordem das palavras, ou para se dirigir de forma diferente a homens e mulheres (por exemplo, um homem pelo apelido, uma mulher pelo nome). Ao escolher imagens para acompanhar a sua comunicação, certifique-se de que mulheres e raparigas não sejam representadas em ambientes domésticos ou em papéis passivos enquanto os homens são activos e aventureiros.

Mais: “Evite considerar qualquer pessoa como cristã”, por isso pare de falar de “férias de Natal, devemos ser sensíveis ao facto das pessoas terem tradições religiosas diferentes.

O bom cidadão inclusivo nunca dirá “o fogo é a maior invenção do Homem” mas “o fogo é a maior invenção da Humanidade”.

E para entrar triunfalmente no Reino do Ridículo: nada de “colonização de Marte” ou “colonização humana em Marte”, melhor dizer “enviar humanos para Marte”.

Chega? Não. Porque depois há o problema dos nomes. Basta com os nomes de pessoas que possam relembrar uma qualquer tradição cristã, como Maria ou João: em vez de “Maria e João são um casal internacional”, deve dizer-se “Malika e Júlio são um casal internacional”.

De acordo com a neolíngua, já não será possível dizer e escrever “casamento gay”, pois a expressão deverá ser substituída por “casamento igualitário”; “direitos gay e homossexuais”? Nem pensar: deverá ser dito “igualdade de tratamento”. Obviamente, nada de “sexo biológico” (muito melhor: “sexo atribuído à nascença”) ou “mudança de sexo”, pois é melhor o mais correcto “transição de género”.

Também nada de “idosos”, que pode ser ofensivo: melhor usar “população mais adulta”. E em vez de escrever ou dizer que uma pessoa “é deficiente”, é preferível dizer que uma pessoa “tem uma deficiência”.

Outros precioso aconselhamentos: nada de “O Ministro e a esposa dele” (página 10 do documento), porque isso pressupõe que o Ministro seja homem (horror!), heterossexual (duplo horror!!) e casado. Deve-se falar em “partner”.

Esqueçam a palavra “homossexual”: é ofensiva (pág. 14). “Pessoa gay”? Isso é fixe. “Pessoa transexual”? Ótimo. “Intersexual”? Excelente.

E há coisas de psicologia fina: proibido perguntar a uma pessoa “qual pronome prefere”, mas “qual é o pronome dela”. Isso porque “preferir” subentende uma escolha: mas um homem que se sente mulher não é um homem que se sente mulher, é uma mulher.

Outra coisa que temos de evitar: “retratar grupos específicos como indefesos, passivos ou privados de independência” (pág. 17). Não fica bem, mas nada mesmo. Por exemplo: evitar “exemplos e histórias unilaterais em que migrantes, ciganos ou outras minorias étnicas, estão desesperados para assistência”. Pelo contrário: “fornecer exemplos ou histórias em que pessoas das minorias são retratadas de uma forma digna”.

Da mesma forma, “evitar descrever as pessoas como casadas ou solteiras” (pág. 19): basta com “as famílias como o unidade nuclear estereotipada”. Melhor: “retratar uma variedade de estruturas domésticas, incluindo jovens numa casa partilhada, famílias com crianças, casais sem filhos, pais solteiros, famílias compostas, famílias alargadas, famílias adoptivas, etc.”.

Particular atenção às pessoas com deficiência. Não podemos dizer a um surdo “tu és surdo”, em primeiro lugar porque não consegue ouvir-nos, depois porque o surdo fica ofendido. O conselho é: “pessoas com deficiência de audição” (desta forma chamamos o surdo “deficiente” também e o surdo fica feliz, evidentemente)
ou “pessoa com perda auditiva”. Isso melhora grandemente a condição do surdo.

Também esqueçam a “pessoa que sofre de doenças mentais”: melhor “pessoa com uma condição de saúde mental” ou “pessoa neuro-diversa”.

E sempre acerca das deficiências: o clássico sinal que, por exemplo, indica os lugares de estacionamento dedicados às pessoas desfavorecidas agora muda porque, é explicado, “a Comissão Europeia favorece o pictograma da direita, que exibe uma pessoa activa, empenhada” (pág. 22):

A mim a nova imagem provoca uma certa ansiedade: enquanto na versão de esquerda está descansado, naquela de direita o homem parece ter problemas, provavelmente está a perder o autocarro ou está a ser perseguido por um grupo de violentos assaltantes.

Conclui a Comissão:

Devemos sempre oferecer uma comunicação inclusiva, assegurando que todos são valorizados e reconhecidos independentemente do sexo, origem racial ou étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual.

Isso diz Helen Dalli, Comissária Europeia para a Igualdade. Obviamente “progressista”, membro do Grupo da Aliança Progressista Socialista e Democrata em Bruxelas; obviamente membro do Partido Trabalhista em Malta, seu País de origem; obviamente lésbica; obviamente já colaboradora das Nações Unidas.

Esta é a comunicação “inclusiva” do bom cidadão: uma forma de expressão que visa renegar as tradições e pretende modificar até a forma como costumamos falar. Assim, a neolíngua “inclusiva”, em nome da inclusão das minorias, parece ter como objectivo excluir e ofender a maioria dos europeus, aqueles que se sentem pelo menos culturalmente cristãos e a maioria das pessoas que se identificam como homens ou mulheres. Em nome do respeito pelas tradições e identidades do outro e dos “diferentes”, de acordo com os clérigos do politicamente correcto, a grande maioria dos europeus deve renunciar às suas próprias tradições e identidades e negá-las, negando-se a si próprios. Porque, como sabemos, se é verdade que nós escolhemos as palavras, também é verdade que as palavras influenciam o nosso modo de pensar. E é nesta direcção que vai o documento da União Europeia: mudar o nosso modo de pensar.

Pequeno pormenor: se for justo eliminar as discriminações (e acerca disso não acho possível haver dúvidas), isso não pode ser feito à custa da maioria.

 

Ipse dixit.

6 Replies to “União Europeia: provas técnicas de neolíngua”

  1. Li algures uma noticia que afirmava que uma universidade em Inglaterra ia começar a permitir erros de ortografia sem os assinalar como tal, ou seja, erros e não iria descontar na nota do teste de forma a permitir uma escrita mais inclusiva.
    Dessa forma, dizia o representante da universidade, não discriminavam os que tinham mais dificuldades…

    Isto parece um manual de como destruir uma sociedade/civilização.

    E poucos, muito poucos reagem, até nas coisas mais simples, elementares.

  2. Esta conversa da linguagem inclusiva, faz parte da dita ‘Guerra à Realidade’ que está em curso, e que tem por objectivo criar uma nova espécie de humanos, a casta inferior, desprovida de valores e referências, cuja única função será servir uma casta superior, que terá características melhoradas através da engenharia genética (já andam por aí uns rumores neste sentido).
    A casta inferior, será o produto de uma miscigenação racial, cujas características intelectuais e físicas a diferenciará da casta superior.
    Dados os acontecimentos em curso, será talvez o momento para uma reflexão sobre o Plano Kalergi.

  3. Olá Max e todos:
    A Sra. Helen estava aborrecida frente a sua escrivaninha de alta burocrata e resolveu brincar com a linguagem.
    Só pode ser isso, porque os burocratas da comissão europeia pensam que mudando a linguagem, muda-se a condição do sujeito, e convencemos insensatos que tais mudanças de linguagem eliminam ou diminuem os problemas.
    Estupidez absoluta, que inclui coisa alguma, que muita gente vai achar maravilhosa, sem se dar conta que alguma coisa muito séria já se passou com a linguagem:
    As pessoas restringem cada vez mais o vocabulário utilizado para comunicar-se Sem leitura, o número de vocábulos utilizados vai diminuindo, bem como o entendimento do sentido das palavras nos textos, as figuras de linguagem como metáforas, metonímias etc. Isso na linguagem comum e corriqueira. Imagine-se interpretar um texto antigo, mesmo no mesmo idioma.
    Imagino um adulto bem escolarizado até, distribuindo “opiniões” a cerca de cartas entre jesuítas, ao tempo do Brazil colônia…
    O conhecimento de diversos idiomas pode ser muito útil, mas não prepara para entender o que um texto fala, e o que ele oculta. Os adultos em geral só sabem atribuir um sentido ao texto ou à fala…e veja lá
    Crianças e jovens pouco se expressam por sentenças faladas ou escritas de próprio punho. Elas digitam figurinhas que recebem diversos nomes, conjuntos de figurinhas, palavras pela metade, abreviações, um conjunto de elementos para expressar sentimentos e “opiniões”.
    Nas escolas os professores aceitam recorte e colagem como sinônimo de pesquisa. A ideia é que tudo se encontra no computador, inclusive o pensamento que atribui-se como próprio, ou seja, plágio.
    Quando o celular não está presente (raríssimas vezes) a comunicação entre jovens permanece a mesma :expressões faciais e corporais, palavras pela metade, e não raro expressões do mundo digital em inglês. Muitas vezes tais expressões corporais são travestidas em dança.
    A resultante desta “linguagem contemporânea” é que um tipo de comunicação que não pode ser chamada de troca de informações pessoais ocorre Nada novo. Todos em direção ao chamado pensamento único.
    Será que a Sra. Helen sabe disso?

    Olá Krowler: o que é plano Kalergi ?

  4. Nunca foi pela inclusão, toda essa ladainha tem um objetivo bem definido: Lavagem cerebral, a intenção é provocar dissonância cognitiva, coisa que se consegue através do desconforto cognitivo, daí vemos essas bizarrices tipo, o super homem beijando outro homem, filmes com os ladrões virando os mocinhos, vacina salva vida (principalmente da gripe), a China é o paraíso na terra, e outras mais, tudo para impor as pessoas uma nova realidade que será de bom agrado aceita pela maioria, aqui no Brasil o governo tem perdido tempo e recursos para lutar contra essa palhaçada, mas . . . o leão que ganha a briga é sempre o que come melhor, tem mais recursos.

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