O próximo colapso sistémico global e as suas razões

Carnegie Cyber Policy Initiative (“Iniciativa Carnagie de Ciber-Política”), fez uma simulação acerca dum ataque informático de dimensões globais com alvo o sistema financeiro internacional. Poucos meses depois, WEF e Carnagie publicaram um estudo que, partindo dos resultados da simulação, apela para que sejam tomadas medidas por parte dos bancos de Wall Street, dos reguladores e das agências de inteligência. Objectivo oficial: lidar com um ataque cibernético, alegadamente iminente, que irá derrubar o sistema financeiro existente.

Em Novembro de 2020, WEF e Carnegie advertiram que o sistema financeiro mundial estava cada vez mais vulnerável aos ataques cibernéticos. Consultores do grupo que elaborou o relatório? Federal Reserve, Banco de Inglaterra, Fundo Monetário Internacional, gigantes de Wall Street como JP Morgan Chase, e gigantes do Vale do Silício como a Amazon. Um pouco suspeitos, não acham?

Mais recentemente, a maior organização de partilha de informação da indústria financeira, cujos membros incluem Bank of America, Wells Fargo e CitiGroup, advertiu que os cibercriminosos estavam prontos para atacar o sistema financeiro global a curto prazo. O CEO desta organização, conhecida como FS-ISAC (acrónimo de “Centro de Partilha e Análise de Informação dos Serviços Financeiros”), tinha anteriormente aconselhado o relatório WEF-Carnegie que alertava para este perigo.

Temos que ficar preocupados perante estes avisos? Bom, podemos ver as coisas desta maneira: se um grupo de ladrões ficar reunido debaixo da janela do Leitor a gritar que algo mau vai acontecer, o Leitor fica preocupado? É mesmo isso que está a acontecer: simulações e avisos coordenados por parte daqueles que dominam o actual sistema financeiro são motivos de preocupação. Considerado também o que aconteceu no recente passado (WEF, Event 201 e Covid-19).

E nem podemos esquecer que a crise de Covid foi utilizada como uma das razões para acelerar a “transformação digital” do sector financeiro e de outros sectores que o WEF e os seus parceiros têm vindo a promover nos últimos anos. Portanto, se dum lado WEF e sócios puxaram para uma finança cada vez mais digital, agora os mesmos actores alertam para as ameaças digitais, apresentando um cenário apocalíptico: um ataque cibernético capaz de provocar o colapso sistémico, especialmente numa altura em que o sistema é mais frágil devido às consequenciais da “pandemia”. Problema: WEF e sócios oferecem uma solução também. É um problema porque a solução proposta vai exactamente na direcção apontada pelo The Great Reset, com uma mudança generalizada para o dinheiro digital e uma cada vez maior governação global.

Pelo que: não é difícil ver o enredo geral. Um ataque cibernético proporcionaria o cenário perfeito para desmantelar o actual sistema, absolvendo os bancos centrais e as corruptas instituições financeiras de qualquer responsabilidade; uma maior fusão de agências de inteligência e bancos para melhor “proteger” as infra-estruturas financeiras são outros dos objectivos propostos.

Funcionará? Podem crer.

Não “se” mas “quando”

O relatório da WEF-Carnagie de Novembro de 2020 intitula-se oficialmente International Strategy to Better Protect the Financial System (“Estratégia Internacional para uma Melhor Protecção do Sistema Financeiro”) e começa por notar que o sistema financeiro global, como muitos outros sistemas, está “a sofrer uma transformação digital sem precedentes, que está a ser acelerada pela pandemia de coronavírus”.

E a seguir avisa:

Os actores maliciosos estão a tirar partido desta transformação digital e representam uma ameaça crescente ao sistema financeiro mundial, à estabilidade financeira e à confiança na integridade do sistema financeiro. Os actores maliciosos estão a utilizar capacidades cibernéticas para roubar, perturbar ou ameaçar as instituições financeiras, os investidores e o público. Estes actores incluem não só criminosos cada vez mais ousados, mas também estados e atacantes patrocinados pelo estado.

Quem são estes “actores maliciosos”? Não é especificado (com uma única excepção, como veremos) mas não é preciso um grande esforço de imaginação. O relatório continua observando que “vozes-chave cada vez mais preocupadas estão a fazer soar o alarme”: Christine Lagarde do Banco Central Europeu (e ex-FMI) advertiu em Fevereiro de 2020 que “um ataque cibernético poderia desencadear uma grande crise financeira”. Um ano antes, o chefe do Banco Central do Japão previu que “a ciber-segurança poderia tornar-se o risco mais grave do sistema financeiro num futuro próximo”. Já em 2019, Jamie Dimon do banco JP Morgan Chase tinha rotulado os ataques cibernéticos como “a maior ameaça para o sistema financeiro dos EUA”.

O relatório WEF-Carnegie acrescenta a estas preocupações que “a exploração de vulnerabilidades cibernéticas pode causar prejuízos aos investidores e ao público em geral” e levar a danos significativos na confiança do público no actual sistema financeiro. Observa também que, para além de afectar significativamente o público em geral, esta ameaça teria impacto tanto nos Países de rendimento elevado como nos Países de rendimento médio inferior, o que significa que o seu impacto sobre as massas seria global.

O relatório conclui:

Uma coisa é clara: não se trata de saber se vai acontecer um incidente grave, mas sim quando.

Faz sentido? Absolutamente sim: num mundo cada vez mais digital é óbvio que as ameaças informáticas representem um risco em continuo crescimento. O que não faz sentido é a resposta sugerida.

O controlo da narrativa

Uma vez estabelecida a ameaça, chega a vez das contra-medidas. E aqui começa a parte mais interessante.

O relatório recomenda especificamente que “as autoridades financeiras e a indústria devem assegurar que estão adequadamente preparadas para operações de influência e ataques híbridos que combinem operações de influência com actividades maliciosas de hacking” e que “apliquem as lições aprendidas com operações de influência destinadas a processos eleitorais a potenciais ataques a instituições financeiras”.

Como é óbvio, fala-se aqui das alegadas (e nunca demonstradas) influências da Rússia no processo eleitoral dos EUA em ocasião da eleição do Presidente Donald Trump. Queria aqui realçar, mais uma vez, o processo de manipulação e o alcance conseguido pelas mensagens utilizadas: enquanto a mensagem racional demonstra como a investigação neste caso tenha conseguido o zero absoluto, a mensagem emocional (“A Rússia influenciou o resultado das eleições americanas”) ficou e é agora utilizada como base para justificar novas medidas de “protecção”.

Em frente: as recomendações continuam com “as principais empresas de serviços financeiros, bancos centrais, e outros reguladores financeiros” cujos representantes devem identificar “um único ponto de contacto dentro de cada organização para envolver plataformas de meios de comunicação social para a gestão de crises”. O relatório argumenta que, “em caso de crise”, “as empresas de comunicação social devem amplificar rapidamente as comunicações dos bancos centrais” para que estes possam “desmascarar informações falsas” e “acalmar os mercados”. Afirma também que “as autoridades financeiras, empresas de serviços financeiros e empresas tecnológicas devem desenvolver um claro plano de comunicação e resposta centrado na capacidade de responder rapidamente”: Facebook e Twitter estão listados no apêndice do relatório como “actores da indústria” que “se envolveram” com a iniciativa WEF-Carnegie.

O relatório afirma também que a coordenação entre bancos e empresas de comunicação social deve ocorrer para que ambas as partes possam “determinar que gravidade da crise exigiria uma comunicação ampliada”. O relatório apela igualmente às empresas de comunicação social a trabalharem com os bancos centrais para “desenvolverem caminhos de escalation semelhantes aos desenvolvidos na sequência das anteriores interferências eleitorais, como se viu nos Estados Unidos e na Europa”. E acrescenta:

É necessária uma coordenação rápida com as plataformas dos meios de comunicação social para organizar a retirada de conteúdos.

Numa palavra: censura. Aqui podemos observar como a experiência da “pandemia” tenha sido bem sucedida e funcione agora como modelo padrão na gestão dos próximos eventos. Enquanto continuemos a tentar esconder-nos atrás dum fio (“Facebook e Twitter são empresas privadas”), a realidade fala de sociedades que alcançaram um papel social que ultrapassa aquele dos órgãos de comunicação tradicionais: e são estas mesmas empresas que agora são chamadas (e que propõem-se) para colaborar com as principais instituições financeiras globais num plano que permita o controle da narrativa oficial dos acontecimentos. Bancos centrais e plataformas de meios de comunicação social juntas para planearem esforços de censura implementados caso ocorresse uma crise suficientemente grave nos mercados financeiros.

Quanto às “operações de influência”, o risco principal é individuado em actores politicamente motivados, como um grupo terrorista ou mesmo um Estado-nação, cujas actuações “podem visar directamente o sistema financeiro para manipular os mercados, por exemplo, espalhando rumores sobre as decisões dos bancos centrais que movem o mercado”; ou que divulgam “falsa informação que não está directamente relacionada com os mercados financeiros, mas que provoca a reacção dos mercados financeiros”.

E é aqui que encontramos o nome dum dos “actores maliciosos” que, segundo o relatório, querem destruir os sistema financeiro: a Coreia do Norte. Que depois é uma maneira “elegante” para acusar a China: sabemos dos estreitos relacionamentos entre os norte-coreanos e Pequim, com esta última que suporta activamente o regime de Kim Jong-un, tanto no plano político quanto naquele económico. Pensar numa iniciativa da Coreia que possa destruir o sistema que alimenta a China não faz sentido, a não ser que Pequim tenha um papel activo num eventual plano com esta finalidade.

Doutro lado, não podemos ignorar que os “maus actores”, desta vez no interior do sistema financeiro, poderiam explorar estes cenários para pintar reacções verdadeiras como operações de “influência” perpetradas por alegados cibercriminosos ou por um Estado-nação. Não é de todo possível descartar um tal cenário, tendo também em conta quanto afirmado acerca da utilização da censura neste emaranhado bancos-finança-comunicação social.

A redução da fragmentação

Mas onde fica clara a finalidade última deste documento é nas soluções propostas. Vamos ignorar as parcerias público-privadas, a maior coordenação entre organizações regionais e internacionais, bem como a maior coordenação entre governos nacionais. Observemos a principal solução sugerida por este relatório (e, como faz notar a autora do artigo, solução também no centro dos outros esforços da iniciativa WEF-Carnegie): a fusão dos bancos privados, das autoridades financeiras que os supervisionam, das empresas tecnológicas e da segurança nacional. Um passo significativo no caminho que leva a uma nova ordem mundial.

Os autores do relatório argumentam que a principal vulnerabilidade do sistema financeiro global neste momento é “a actual fragmentação entre as partes interessadas e as iniciativas” e que a atenuação desta ameaça ao sistema global reside na redução desta “fragmentação”. Os autores argumentam que a forma de resolver esta questão requer uma reorganização maciça de todos os “intervenientes” através de uma maior coordenação global. O relatório assinala que a “desconexão entre as comunidades financeira, de segurança nacional e diplomática é particularmente pronunciada” e apela a uma interacção muito mais estreita entre as três.

E afirma que:

Isto exige que os países não só se organizem melhor internamente, mas também que reforcem a cooperação internacional para se defenderem, investigarem, processarem e, idealmente, prevenirem futuros ataques. Isto implica que o sector financeiro e as autoridades financeiras devem interagir regularmente com a aplicação da lei e com outras agências de segurança nacional de forma sem precedentes, tanto a nível nacional como internacional.

Alguns exemplos destas necessárias interacções “sem precedentes” entre os bancos e o Estado de segurança nacional estão incluídos nas recomendações do relatório. Por exemplo, o relatório afirma que:

Os governos devem utilizar as capacidades únicas das suas comunidades de segurança nacional para ajudar a proteger as infra-estruturas do mercado financeiro e os sistemas empresariais críticos.

Também apela para que as agências nacionais de segurança consultem os fornecedores de serviços críticos tais como Amazon Web Service (por sua vez um parceiro da iniciativa WEF-Carnegie) para determinar como a recolha de informações poderia ser utilizada para ajudar a identificar e monitorizar potenciais actores de ameaças e desenvolver um mecanismo para partilhar informações sobre ameaças iminentes com empresas tecnológicas.

O relatório afirma também que “a indústria financeira deve apoiar os esforços para combater mais eficazmente a cibercriminalidade, por exemplo, aumentando a sua participação nos esforços de aplicação da lei”.

Sobre este último ponto, realça ainda há indícios de que isto já começou:

Por exemplo, o Bank of America, o segundo maior banco dos EUA e parte da Iniciativa de Política Cibernética do WEF-Carnegie e da FS-ISAC, é reportado como estando “activamente mas secretamente envolvido” com as forças da lei dos EUA na caça aos “extremistas políticos” após os eventos de 6 de Janeiro no Capitólio. Ao fazê-lo, o Bank of America partilhou informações privadas com o governo federal sem o conhecimento ou consentimento dos seus clientes, levando os críticos a acusar o banco de “actuar efectivamente como uma agência de inteligência”.

Mas a parte mais preocupante do documento WEF-Carnegie é provavelmente o apelo à fusão do aparelho de segurança nacional com a indústria financeira e a utilização deste conjunto como modelo para fazer o mesmo com outros sectores da economia. Afirma-se que “proteger o sistema financeiro internacional pode ser um modelo para outros sectores”, acrescentando que “concentrar-se no sector financeiro proporciona um ponto de partida e pode abrir o caminho para uma melhor protecção de outros sectores no futuro”.

Estamos perante a criação dum autêntico monstro que, ao juntar economia, finança e agência de segurança, tornaria possível o ininterrupto controlo da vida humana. Tal interconexão e consequente controlo já existe mas até hoje é obrigado a operar às margens da lei: o documento Wef-Carnagie propõe a sua institucionalização, naquele que define como “tecno-fascismo à escala global”.

Resumindo, temos a confirmação do que já há alguns tempos está a ser afirmado: estamos num ponto de viragem, uma altura em que os enredos abandonam as páginas da informação mais ou menos alternativa para tomar uma forma concreta e claramente programada. O objectivo já não é oculto mas declarado: a criação duma oligarquia que possua os meios de controle sobre o resto da população, tudo numa escala nunca vista antes. Para isso é preciso criar inimigos, fomentar o pânico e depois invocar medidas de “protecção”.

Nesta óptica, são os mesmos “sócios” do WEF que têm interesse num colapso sistémico do actual sistema financeiro: este é o gatilho necessário para que o poder possa ser ainda mais invasivo e centralizado. O actual sistema ainda não atingiu os seus limites, mas é claro que estamos perante a programação da fase sucessiva, da qual fazem parte as identificações biométricas, o dinheiro digital ou os chamados passaportes vacinais. E, num futuro mais afastado, o sistema de crédito social e o rendimento de cidadania.

Teorias da conspiração? Já eram: esta é realidade, preto no branco. O documento WEF-Carnagie é muito explícito na apresentação dos novos passos e só não vê quem não quiser.

Para acabar, retomamos a pergunta dantes: funcionará? Existe a possibilidade que este cenário catastrófico seja travado e evitado? Resposta: não. Ou seja: em teoria sim porque o poder legislativo ainda cabe aos parlamentos nacionais. Na prática não porque a maioria das classes políticas locais estão dobradas perante o poder da oligarquia económica e financeira. Os recentes acontecimentos relacionados com a Covid representam mais uma demonstração neste sentido.

Única consolação: é um plano humano e como todos os planos humanos não é perfeito pois o imponderável sempre está à espera de ocupar o palco.

 

Ipse dixit.

2 Replies to “O próximo colapso sistémico global e as suas razões”

  1. E se não for um plano humano, pode existir não humanos, que vivem muito, para nós humanos seriam quase eternos, esses sim com uma visão mais “longa” da história e assim com capacidade de melhor planejamento a longo prazo?

  2. Socorro, pânico geral! Mais uma crise, agora com ferramentas da moda: ataque cibernético global. Tem de ser global porque está tudo globalizado, não é mesmo, reviravolta nos mercados, colapso financeiro…
    E que isso tem a ver com a vidinha sem graça do cidadão comum? Mais censura, mais políciamento, menos estado, menos dinheiro, menos liberdade, menos privacidade, mais controle…mais do que já tem?
    O cidadão comum vai continuar na mesmice de sempre. Menos dinheiro no seu bolso? É a crise, estúpido. Se o Estado não prover, deus preverá.

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