Covid: R0, Portugal e o efeito Fátima

…e assim Portugal começa a quarta fase do desconfinamento. Ainda há restrições, mas muitas delas caíram: o Parlamento não renovou o estado de emergência e passou para um mais leve estado de camelidade. Ou calamidade, pontos de vista. Os especialistas advertem: “Ainda não acabou!” e já pensam com uma certa saudade a todos os trocos que conseguiram juntar neste ano de “pandemia” com livros, artigos, opiniões, entrevistas.

Por aqui assumimos o “quase” fim da nova Peste Negra. Sobram uns focos em duas freguesias que ninguém até ontem conhecia, São Teotónio e Longueira-Almograve no concelho de Odemira; sobram um punhado de excepções no resto do País; mas no geral este parece um sinal verde para recuperar um mínimo de normalidade.

E aqui que tem que surgir a dúvida: o que mudou?

Na verdade, Portugal está a abrandar as regras já há algumas semanas. Teria sido lícito observar uma importante subida do número de casos de Covid: afinal máscara e distanciamento social eram a normalidade em Janeiro também, mas isso não impediu um segundo recolher obrigatório porque, foi explicado, a situação era grave. Era?

Vamos ver um dado: o R0, ou seja o número básico de reprodução, o indicador de quão contagiosa é uma doença infecciosa.

O recolher obrigatório foi imposto a partir do dia 15 de Janeiro. Na verdade, o R0 já se encontrava em fase de descida após o pico do dia 7 de mesmo mês. Seja como for, segundo os dados, o confinamento parece funcionar e no dia 17 de Fevereiro é alcançado o valor mais baixo: R0=0.47.

Mas aí algo acontece: R0 volta a subir. Por qual razão? Não estavamos todos confinados? R0 sobe até o final de Fevereiro e durante todo o mês de Março, em pleno recolher obrigatório: a medida já não funciona? Assim parece.

A subida continua até o dia 6 de Abril. Curioso porque é mesmo nas primeiras semanas de Abril que Portugal começa a aligeirar as medidas de confinamento. E R0 começa a descer, fenómeno que continua até hoje: R0 = 0.94. Um valor muito próximo daquele do dia 30 de Janeiro (R0=0.93), em pleno recolher obrigatório. Na altura as medidas foram mantidas porque a situação era grave, agora já não é: 0.94 é saudável.

Mas há outro dado que deve ser considerado: a hospitalização.

Aqui encontramos a verdadeira razão do último confinamento: no dia 1 de Fevereiro havia 6.869 pacientes internados “por Covid” (assim reza a lenda) nos hospitais portugueses. Evidentemente o governo quis tentar aligeirar a pressão sobre as estruturas sanitárias implementando uma nova vaga de restrições.

Todavia é importante voltar a espreitar o gráfico anterior: é verdade que até o dia 17 de Fevereiro o índice de transmissibilidade caiu, só que depois, como vimos, voltou a crescer apesar do confinamento. E cresceu até o dia 6 de Abril. Como é que durante o mesmo período o número de hospitalizações continuou a baixar até o valor de 342 internados (dia 24 de Abril)?

Não reporto aqui os gráficos do número de casos e de mortes (podem ser encontrados nas páginas de Our World In Data) mas o andamento é idêntico ao das hospitalizações: uma subida até finais de Janeiro/começo de Fevereiro, depois uma queda abrupta apesar do R0 ter voltado a subir desde meados de Fevereiro até começo de Abril.

Lembramos o que diz Wikipédia acerca do valor R0:

O valor indica o número de outras pessoas que uma pessoa infetada irá contagiar, assumindo que as outras pessoas não estão ainda infetadas e que não foram vacinadas. Por exemplo, um número básico de reprodução de 5 significa que cada pessoa infetada irá contagiar outras cinco.

Portanto, quanto maior for R0, tanto maior será o número de pessoas infectadas. Isso num País normal, pois em Portugal parece valer o contrário: ao aumentar o valor de R0 durante 48 dias consecutivos (17 de Fevereiro – 06 de Abril), o número de infectados, mortes e hospitalizações desce.

Podemos pensar: é o efeito das vacinas?

Resposta: não. Até hoje só 22.95% dos portugueses receberam pelo menos uma dose e apenas 8.47% encontram-se totalmente vacinados. E no dia 17 de Fevereiro, quando R0 voltou a subir, apenas 3.55% tinha recebido um dose da vacina. Pensar numa espécie de “imunidade de rebanho” com estas percentagens é ridículo.

Outra possível explicação? Só uma: Fátima. Alguém protege este País, uma Entidade superior que, todavia, odeia as freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve. Mistérios da Fé.

 

Ipse dixit.

3 Replies to “Covid: R0, Portugal e o efeito Fátima”

  1. Mas é claro que no futuro próximo, o “beneficio” alcançado é culpa da vacinação, pretexto para a próxima leva, e Dona Fátima nem vai reclamar.

  2. Com respeito a vacinação temos aqui dois grupos: um majoritário que quer se vacinar e, se tem oportunidade, se vacina. Um segundo minoritário que duvida e parece estar esperando o que acontece com os vacinados. Um grupo insignificante não se vacina por convicção, e pronto.
    Até meu médico, convencido faz um ano que o Covid era a nova peste negra, agora faz poucos dias me perguntou se eu havia me vacinado. Respondi que não e ele simplesmente anotou no meu histórico.
    Perguntei o que a vacinação tinha a ver com meu estado de saúde.
    Disse que o grupo dele estava averiguando os efeitos das vacinas. Curiosa perguntei porque o interesse, enquanto ele murmurou entre dentes que já havia muitos eventos não esperados e desagradáveis. Simplesmente comentei: ah é!? Não me digas. Tua mãe foi vacinada? Ele fingiu não ouvir.
    E o diálogo ficou por aí.

  3. Vou apresentar aqui uma teoria, que pode ser um tanto rebuscada, mas cá vai ela.
    Em minha opinião, a hipótese de Fátima bem pode ser outra mais sinistra:
    A análise cuidada da evolução dos números desde o inicio, mostra que existe uma clara manipulação destes dados pois, quando são necessário mais casos para impor o que quer que seja, aliviam-se as medidas e de seguida aumenta-se a testagem. Ou seja, quando eles abrandam o laço é de esperar que a seguir venha a cobrança.
    Aqui temos de analisar dois tabuleiro diferentes:
    O primeiro tem a ver com a permissão de algum relaxamento social para de seguida virem impor a vacinação, pois já sabemos que após uma fase de relaxamento virá possivelmente uma nova subida na curva.
    O segundo é sobre as freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve, no concelho de Odemira e que eu conheço relativamente bem: temos aqui uma novidade no ‘combate’ à pandemia, e que novidade: O governo fez uma requisição civil ao empreendimento ZMar para alojamento de ‘doentes’, isto é, temos o primeiro campo Covid português, ver link abaixo.
    https://observador.pt/2021/04/30/odemira-sem-acordo-governo-avanca-com-requisicao-civil-da-unidade-hoteleira-zmar/

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