O controlo da energia: quem mexe os fios do Great Reset e porque

Voltamos falar de energia, Great Reset e arredores partindo dum artigo publicado nas páginas de New Eastern Outlook (da Rússia) e assinado por F. William Engdahl. A ideia apresentada é que por trás do grupo de Davos, liderado por Klaus Schwab, exista um complexo económico-financeiro que junta os interesses das grandes empresas privadas: um ideia não particularmente original (o World Economic Forum – WEF – do qual Schwab é presidente afinal tem exactamente esta função) mas que permite aplicar o antigo lema follow the money (“seguir o dinheiro”) ao caso desta pseudo-revolução verde. Por esta razão vamos integrar o artigo de New Eastern Outlook com um olhar mais atento sobre os protagonistas desta cruzada só em aparência ambientalista.

Um artigo comprido, que traz à tona os nomes de quem está a dirigir esta mudança e que, talvez, consiga responder a uma pergunta: por qual razão a insitstẽncia em apostar nas energias alternativas se estas forem incapazes de satisfazer a procura energética mundial?

ESG Investing

Explica Engdahl:

A reorganização de cima para baixo da economia mundial por uma cabala de corporativistas tecnocráticos liderada pelo grupo ligado ao Fórum Económico Mundial de Davos, a chamada Great Reset ou Agenda 2030 da ONU, não é uma proposta para o futuro. Já está a ser implementado enquanto o mundo permanece num louco isolamento louco por causa dum vírus. A área de investimento mais quente desde o início dos bloqueios globais causados pelo coronavírus é uma entidade chamada “ESG Investing”. Este processo de reorganização subjectivo e supercontrolado está a deslocar dramaticamente os fluxos globais de capital para uma carteira seleccionada de acções e obrigações empresariais “aprovadas”. Em particular, isto favorece a agenda distópica da ONU 2030 e a agenda do WEF para a Grande Reposição. Este desenvolvimento é uma das mudanças mais perigosas e menos compreendidas do último século.

O ESG Investing é uma expressão que indica os três principais critérios utilizados para medir a sustentabilidade e o impacto ético de um investimento numa empresa ou num campo económico: critérios ambientais (por exemplo: emissões de CO2, consumo de electricidade, reciclagem de resíduos, impacto sobre a biodiversidade), critérios sociais (por exemplo: direitos humanos, normas internacionais do trabalho – segurança, protecção, representação, etc.) e critérios de governação (relações com os accionistas, o seu conselho de administração e gestão, a transparência da remuneração dos executivos, a luta contra a corrupção, etc.).

A agenda da “economia sustentável” da ONU está a ser discretamente avançada pelos mesmos bancos globais que criaram a crise financeira de 2008. Desta vez estão a preparar o Great Reset do a Grande Reposição do WEF de Klaus Schwab, desviando centenas de biliões (em breve triliões) em investimentos para as suas empresas woke (“acordadas”) cuidadosamente seleccionadas e para longe das no-woke (“não acordadas”), tais como empresas de petróleo, gás ou carvão.

O que banqueiros e gigantes de fundos de cobertura como a BlackRock fizeram foi criar uma nova infra-estrutura de investimento que escolhe os “vencedores” ou “perdedores” dos investimentos com base na seriedade com que a empresa encara a ESG, que representa o Ambiente, os Valores Sociais e a Governação. Por exemplo, uma empresa obterá uma classificação positiva se levar a sério a diversificação da gestão e do pessoal em função do género, ou se tomar medidas para eliminar a sua “pegada” de carbono através da exploração de fontes de energia verdes e sustentáveis, para utilizar o termo da ONU. Como as empresas podem contribuir para uma governação global sustentável é o mais vago dos termos do ESG e pode incluir desde doações de empresas a Black Lives Matter para apoiar certas agências das Nações Unidas, tais como a OMS.

O objectivo central dos estrategas do ESG é fazer-nos mudar para energias alternativas ineficientes e caras, com a utópica promessa das zero emissões de carbono. Este processo é impulsionado pelas maiores instituições financeiras e bancos centrais do mundo. Para avançar com a sua agenda de investimentos verdes, criaram uma incrível variedade de organizações.

Os três criteŕios utilizados para medir a sustentabilidade são muito abrangentes e investem diversas áreas: reduzir tudo à descarbonização não seria correcto. Todavia, o critério ambiental obriga nos factos a implementar uma política empresarial centrada unicamente nas fontes de enegia alternativas: ao falar de “pegada de carbono zero” não são possíveis outras soluções. Doutro lado, os ESG assume como facto cientificamente comprovado as alterações climáticas provocadas pelo Aquecimento Global.

PCAF e SBTi

E até aqui nada de novidade: Engdahl parece ter reparado no Great Reset com vários meses de atraso. Mas agora começam os nomes e a coisa torna-se mais interessante.

Em 2013, muito antes do coronavírus, o banco líder de Wall Street, Morgan Stanley, tinha inaugurado o seu Institute for Sustainable Investing [“Instituto para o Investimento Sustentável”, ndt]. Este foi então expandido em 2015, quando a Morgan Stanley aderiu ao comité da Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF). No seu sítio web declaram que,

“O PCAF baseia-se nas conclusões do Acordo Climático de Paris, segundo as quais a comunidade global deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para limitar o aquecimento global a 1.5°C acima dos níveis pré-industriais e descarbonizar para atingir emissões líquidas de zero até 2050”.

Em 2020, o PCAF já tinha mais de 100 bancos e instituições financeiras, incluindo ABN Amro, Nat West, Lloyds Bank, Barcylays, Bank of America, Citi Group, CIBC, Danske Bank e outros. Muitos dos bancos que fazem parte do PCAF têm estado envolvidos em casos de branqueamento de capitais. Investiram-se agora num novo papel, o de um modelo de virtude para a mudança na economia mundial, se quisermos acreditar na retórica. Nomeadamente, o ex-governador do Banco de Inglaterra Mark Carney é um “observador”, ou conselheiro, do PCAF.

Em Agosto de 2020, o PCAF tinha publicado um projecto sobre uma possível norma para quantificar o carbono global. Isto significa que os banqueiros estão a criar as suas próprias regras contabilísticas para avaliar a pegada de carbono ou o perfil verde de uma empresa.

A Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF) é um dos actores centrais do movimento “verde” de Davos. Fundado por ABN AMRO (grupo bancário holandês), Amalgamated Bank (EUA, entre cujos clientes há a DGA, a associação dos governadores democratas), ASN Bank (banco holandês agora gerido pela De Volksbank, nacionalizado desde 2017), Global Alliance for Banking on Values (grupo que reúne mais de 60 bancos de todo o mundo: trata-se de bancos “éticos”, de tipo cooperativo e interessados no desenvolvimento sustentável) e Triodos Bank (holandês, um dos bancos pioneiros no âmbito da ética e da sustentabilidade).

Aquela que no princípio poderia ter sido uma inócua organização “ética” de bancos secundários, mudou radicalmente mais tarde com a entrada de novos gestores e partners.

Entre os novos gestores lembramos o norte-americano Morgan Stanley, o nepalês NMB Bank Limited (“Banco do Ano” em 2017 e 2018 segundo o Financial Times, na verdade uma emanação do FMO, o maior accionista, que é o banco de desenvolvimento gerido directamente pelo banco central holandês), a AoA (grupo das Nações Unidas que reúne 33 investidores institucionais entre os quais: Allianz, PensionDanmark, Zurich,  AXA, David Rockefeller Fund, Generali e a Igreja de Inglaterra).

Entre as colaborações:

  • a CDP, uma organização internacional non-profit na qual podemos encontrar Apple,Cisco, Siemens, Dell, Hewlett Packard, L’Oréal, PepsiCo, Nestlé, Procter & Gamble, Tesco, Unilever,, Lloyds.
  • o RMI’s Center for Climate-Aligned Finance, organização “ambientalista” (em particular: automóveis eléctricos em colaboração com Google) no interior da qual encontramos os bancos Wells Fargo, Goldman Sachs, Bank of America e JPMorgan Chase.
  • a Organização para a Cooperação Islâmica, um grupo-fantoche que de islâmico tem pouco (desde 2011 apoia as iniciativas LGBT…)
  • o Green Climate Fund, grupo apoiado pelas Nações Unidas (e subvencionado com fundos públicos de dezenas de Países). Muitas as entidades acreditadas, sobretudo bancos e fundos de investimentos na maioria com participação estatal, mas não faltam entidades privadas: BNP Paribas, Deutsche Bank, HSBC, Crédit Agricole…
  • A NRDC, Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma do Partido Comunista Chinês.
  • A Science Based Targets initiative (SBTi) que reúne 1.249 empresas privadas.

Esta última, a SBTi, merece um discurso mais pormenorizado. A seguir uma lista que pode parecer aborrecida (e é aborrecida) mas que demonstra como este movimento “verde” abranja todos os sectores da económicos-financeiros: são as empresas que fazem parte da SBTi, são originárias de quase todos os Países e muitas delas são mundialmente reconhecidas: Philip Morris International, BMW, The Economist, McKinsey & Company, Inc., S&P Global (a antiga agência de rating Standard and Poor), General Motors, eBay, PepsiCo., DelMonte, a farmacéutica Johnson & Johnson, Campbell Soup Company, Ford, Facebook, Moody’s (outra agência de rating), Colgate Palmolive, Ralph Lauren, Whirlpool, VMware, Inc, Mastercard, Amazon, Microsoft, AT&T Inc., Starbucks Coffee Company, New York State Metropolitan Transportation Authority, Cargill, Inc., Coca-Cola, Nike, Verizon, Hewlett Packar, Los Angeles Department of Water and Power, PayPal, Xerox, Bloomberg, Cisco Systems, Inc., Ben & Jerry’s, The Kraft Heinz Company, Levi Strauss & Co., Hilton, Procter & Gamble Company, McDonald’s, Walmart Inc., Pfizer Inc., Kellogg Company, Dell Technologies… a lista completa pode ser encontrada neste link.

Em Portugal realçamos: Tintex Textiles, S.A, BA GLASS B.V., EDP – Energias de Portugal S.A., Caixa Geral de Depósitos, Altri SGPS S.A., NOS, SPGS, S.A., TMG Automotive, BIAL, Novo Banco, SA, Infraestruturas de Portugal, S.A., REN – Redes Energéticas Nacionais, Efacec Power Solutions, SGPS, S.A., EPAL – Empresa Portugesa das Aguas Livres, S.A., everis Portugal, Sonae Sierra.

No Brasil realçamos: Klabin S.A., Baluarte Cultura, Banco do Brasil S.A., MRV Engenharia e Participações S.A, EDP – Energias do Brasil S.A., Sabará Participações, Marfrig Global Foods S.A., GOL (GOL Linhas Aéreas S.A.), Unidas S/A, Companhia Brasileira de Aluminio, AES Brasil, Movida, Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr and Quiroga Advogados, Vale S.A., Lojas Renner S.A., Ambev S.A., Grupo Malwee, Natura & Co.

Todas estas empresas comprometeram-se a reduzir os gases de efeito estufa para prevenir o Aquecimento Global. O objectivo declarado é aquele de limitar o Aquecimento a 1.5°C.

Limitar as emissões é bom e saudável, disso não há dúvida. Afinal estamos sempre a falar de poluição. Reduzir os gastos energéticos, os impactos no ambiente, a exploração dos recursos… tudo isso não pode não deixar qualquer Leitor satisfeito. É justo que assim seja.

O problema nasce quando o foco fica apenas no Global Warming e a tentativa é aquela de justificar do ponto de vista “científico” a escolha. Afirma a SBTi:

Os objectivos baseados na ciência fornecem um caminho claramente definido para as empresas reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), ajudando a prevenir os piores impactos das alterações climáticas e o crescimento empresarial à prova de futuro.

O que não é verdade: a questão do Aquecimento está longe de ser consensual e se a ideia fosse apenas aquela de seguir a “ciência”, então o objectivo central ficaria na poluição (para a qual não podem existir dúvidas) e não apenas nos gases de efeito estufa e no Aquecimento Global (para os quais há dúvidas e nem poucas). Um exemplo entre todos os possíveis: um dos subprodutos do petróleo é o plástico, um material na maior parte dos casos não biodegradável, que está a recolher-se nos mares até formar verdadeiras ilhas, que causa mortes entre as espécies marinas. O plástico é uma ameaça particularmente grave, em continuo crescimento, mas o que podemos ler nos documentos destas organizações é sempre e só “descarbonização”, entendida basicamente como limitação das emissões de dióxido de carbono.

No documento SBTi Criteria and Recommendations (“SBTi Critérios e Recomendações”) pode-se ler (página 7):

No mínimo, os objectivos de âmbito 1 e âmbito 2 devem ser coerentes com o nível de descarbonização necessário para manter o aumento da temperatura global a 2°C bem abaixo das temperaturas pré-industriais, embora as empresas sejam encorajadas a prosseguir maiores esforços para uma trajectória de 1,5°C.

Mais uma vez: aqui de científico há nada. É assumida como “cientifica” a correlação entre descarbonização e contenção da temperatura.

Sempre a partir deste documento (pág. 9):

Os objectivos de fornecimento activo de electricidade renovável a um ritmo consistente com os cenários de 1,5°C são uma alternativa aceitável aos objectivos de redução de emissões do âmbito 2.  O SBTi identificou 80% de fornecimento de electricidade renovável até 2025 e 100% até 2030 como limiares (quota de electricidade renovável na utilização total de electricidade) para esta abordagem.

E aqui a “ciência” entra em coma. Passar para 100% de electricidade “verde” utilizando as actuais fontes de energia alternativa (eólica, solar, etc.) significa não apenas não alcançar as tão desejadas “emissões zero” como também criar enormes problemas nas infraestruturas de fornecimento eléctrico dos Países. Os recentes acontecimentos do Texas ou os constantes apagões da Califórnia deveriam sugerir algo. Mesmo o objectivo menos ousado, aquele 80% de electricidade renovável até 2025, implicaria um esforço (e uns investimentos tanto privados quanto públicos) durante os próximos quatro anos provavelmente além das reais capacidades actualmente disponíveis.

O papel de Mark Carney

Continua o artigo de F. William Engdahl:

Mark Carney está no centro da reorganização das finanças globais para promover a Agenda Verde da ONU para 2030, que, por sua vez, está por detrás da Great Reset do WEF de Davos, do qual Carney é membro da direcção. Carney é também conselheiro do Secretário-Geral da ONU na qualidade de Enviado Especial da ONU para a Acção Climática. Ele descreveu o plano PCAF da seguinte forma:

“Para atingir o zero líquido [“zero emissões de CO2″] precisamos de uma transição de toda a economia; cada empresa, cada banco, cada seguradora e cada investidor precisarão de adaptar os seus modelos de negócio, desenvolver planos credíveis para a transição e implementá-los. Para as empresas financeiras, isto significará rever mais do que apenas as emissões geradas pelas suas próprias operações comerciais. Terão de medir e relatar as emissões geradas pelas empresas em que investem e às quais emprestam. O trabalho do PCAF para uniformizar a abordagem à medição das emissões [que] financiam será um passo importante para assegurar que cada decisão financeira tenha em conta as alterações climáticas”.

Como governador do Banco de Inglaterra, Carney desempenhou um papel fundamental no envolvimento dos bancos centrais mundiais no Projecto das Nações Unidas para a Agenda Verde 2030. Os principais bancos centrais do mundo, através do seu guarda-chuva, o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS) de Basileia, desempenharam um papel fundamental na criação da infra-estrutura global que está a dirigir os fluxos de investimento para “empresas sustentáveis”, em detrimento daquelas consideradas “insustentáveis”, tais como a indústria do petróleo e do gás. Em 2015, quando era chefe do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) do BIS, o então Governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, fundou uma organização chamada Task-force on Climate-related Financial Disclosure (TCFD).

Nota: aqui F. William Engdahl faz confusão. A TCFD (Task-force on Climate-related Financial Disclosure) é de Michael Bloomberg enquanto Mark Carney fundou a TSVCM (Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets). Na verdade não há muitas diferenças: não apenas os objectivos das duas taskforces são os mesmos como até os membros provêm das mesmas empresas privadas… No texto, Engdahl fala de TCFD mas está a referir-se à TSVCM:

No topo do TCFD, os banqueiros centrais do FSB nomearam 31 pessoas. Além do presidente, o bilionário Michael Bloomberg, encontramos representantes da BlackRock, JP MorganChase, Barclays Bank, HSBC, Swiss Re (a segunda maior companhia resseguradora do mundo), o banco chinês ICBC, a indiana Tata Steel, a companhia petrolífera ENI, a Dow Chemical, o gigante mineiro BHP e David Blood of Al Gore’s Generation Investment LLC.

Anne Finucane, vice-presidente do Bank of America e membro tanto do PCAF como do TCFD, notou:

“Estamos empenhados em assegurar que os riscos e as oportunidades relacionados com o clima sejam geridos de forma apropriada dentro do nosso negócio e em trabalhar com governos e mercados para acelerar as mudanças necessárias […] As alterações climáticas apresentam riscos para a comunidade industrial e é importante que as empresas deixem as pessoas saberem como estes riscos estão a ser geridos”.

O vice-presidente do Bank of America descreve então os critérios de avaliação utilizados na carteira de empréstimos imobiliários: “Esta é uma análise do risco físico real referenciado a uma amostra da carteira de hipotecas residenciais do Bank of America para todos os Estados Unidos. Cada propriedade recebe uma pontuação baseada no nível de risco associado a 12 perigos potenciais: tornado, terramoto, ciclone tropical, granizo, fogo, inundação de rios, inundação repentina, inundação costeira, relâmpagos, tsunami, erupção vulcânica e tempestade de Inverno”. Além disso, o “risco” dos bancos que investem em petróleo e gás, bem como noutras indústrias, é analisado utilizando os critérios do TCFD de Carney. Todos os riscos são definidos como relacionados com o CO2, apesar de não haver provas científicas conclusivas de que a emissão humana de CO2 vá destruir o nosso planeta através do aquecimento global. Pelo contrário, é a evidência da actividade solar que sugere que estamos a entrar num período instável de arrefecimento, o Grande Mínimo Solar. Isto pouco preocupa os interesses financeiros, que irão arrecadar triliões de dólares durante a próxima década.

Vale a pena gastar duas palavras acerca de Mark Carney porque ainda é relativamente jovem, é ambicioso e no futuro teremos mais oportunidades de encontra-lo. Carney é um típico “tubarão” e não admira que tenha um papel em destaque na “cruzada verde” económico-financeira. Após 13 anos na Goldman Sachs (co-director de risco soberano, director executivo, director-geral) trabalhou no empreendimento pós-apartheid da África do Sul e esteve envolvido no trabalho da empresa com a crise financeira russa de 1998.

Em 2003 deixou o Goldman Sachs para se juntar ao Banco do Canadá como Vice-Governador, e de Novembro de 2004 a Outubro de 2007 Carney foi Vice-Ministro Associado Sénior e Deputado do G7 no Departamento de Finanças canadiano. Foi Ministro das Finanças e com este papel liderou a venda pelo Governo canadiano da lucrativa participação de 19% na Petro-Canada. Em Novembro de 2007, foi anunciado que Carney seria nomeado Governador do Banco do Canada e neste papel desempenhou um válido trabalho para proteger e recuperar a saúde do sistema bancário canadiano, impulsionando o crédito interno e a confiança do mercado. De facto, o Canada foi a primeira nação do G7 a ter tanto o PIB como o emprego a recuperar para os níveis anteriores à crise.

Em 2011 Carney foi nomeado Presidente do Conselho de Estabilidade Financeira com sede em Basileia e em 2012 assumiu o cargo de Governador do Banco da Inglaterra.

E em 2020 eis a viragem: Carney sai do banco central inglês para entrar no mundo das “emissões zero” com a organização Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets (“Taskforce sobre Escalonamento Voluntário dos Mercados de Carbono”, TSVCM), fundada em colaboração com Bank of America, BlackRock, Bloomberg’s New Energy Finance, BNP Paribas, BP, Boeing, Goldman Sachs, Tata Steel, Total, IHS Markit. Uma boa companhia, sem dúvida.

Na organização, obviamente, encontramos outros nomes bem conhecidos, o do costume: AEX Holdings, AXA Investment, BBVA, easyJet, Itaú Unibanco, Mærsk, Mahindra, Nestlé, S&P, Shell, Siemens, UBS, Unilever… todos como “membros”. Como “consultores”: Abu Dhabi Global Market, Abu Dhabi National Oil Company, Barclays, Beijing Qianyuhui International Environmental Investment Co., Coca-Cola Company, Commerzbank, Dubai Carbon Centre of Excellence, Emirates Nature, Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, The Independent, Industrial & Commercial Bank of China, Microsoft, Mitsubishi Corporation, Morgan Stanley, PIMCO, Santander S.A., Banco Mundial, Zurich Insurance e o WWF. Todos bons rapazes.

Entre os “observadores”, não podia faltar o World Economic Forum.

Objectivos do TSVCM?

A Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets publicou o seu projecto sobre a criação de um mercado de comércio de créditos de carbono transparente e em grande escala. Para limitar o aquecimento atmosférico a 1,5°C, o mundo deve reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa existentes até 2030 e atingir emissões líquidas nulas até 2050. Todas as empresas precisam de ajustar o seu modelo de negócio e desenvolver planos de transição credíveis.

Ops… um deja-vu? Não: são os mesmos objectivos do SBTi. Única diferença: as “emissões zero” são só para 2050. Em qualquer caso: Carney entendeu logo qual a direcção da maré e hoje é uma figura promininete do movimento.

A propósito: Carney é membro do Grupo dos Trinta, está na Direcção da Fundação do Fórum Económico Mundial e participou duas vezes nas reuniões do Grupo Bilderberg (em 2011 e 2012).

O SABS

Voltemos ao artigo de New Eastern Outlook:

Outro organismo-chave na preparação financeira para a Great Reset, a transição de uma economia intensiva em energia para uma economia de baixa intensidade e economicamente ineficiente, é o Conselho de Normas Contabilísticas de Sustentabilidade (SASB). O SASB afirma “fornecer um conjunto claro de normas para relatar informação sobre sustentabilidade relativamente a uma vasta gama de questões…”. Isto soa reconfortante, pelo menos até que se verifique quem são estes membros da SASB que irão conceder o imprimatur climático. A lista inclui não só o maior gestor de fundos do mundo, BlackRock (mais de 7 triliões de Dólares sob gestão), mas também Vanguard Funds, Fidelity Investments, Goldman Sachs, State Street Global, Carlyle Group, Rockefeller Capital Management, e vários grandes bancos, tais como o Bank of America e UBS. Muitos destes bancos são responsáveis pelo colapso financeiro global de 2008.

O que é que este colectivo de trabalho está a fazer? De acordo com o seu website, “Desde 2011, temos vindo a trabalhar para o ambicioso objectivo de desenvolver e manter normas contabilísticas de sustentabilidade para 77 empresas”.

O objectivo disto é criar uma rede de entidades financeiras a nível mundial, incluindo companhias de seguros e fundos de pensões, que possam controlar uma riqueza total até 100 triliões de Dólares. Estão a estabelecer as regras e darão notas às empresas, e mesmo a países inteiros, com base noo grau de emissão de carbono. Se estiver limpo e verde, poderá obter investimento. Se for considerado um poluidor de carbono […], os fluxos globais de capital irão desinvestir ou evitar o financiamento. O alvo imediato desta cabala financeira é a espinha dorsal da economia mundial, a indústria do petróleo e do gás, juntamente com o carvão.

A página dos membros do SABS é praticamente idêntica à da SBTi, partilhando até alguns nomes de empresas. Também aqui as palavras-chave são as mesmas: “sustentabilidade”, “gas efeitos estufa”, “descarbonização”… O SABS trabalha em cooperação com os estandards do ESG Investing, do Global Reporting Initiative (GRI), do International Integrated Reporting Council (IIRC), com o Climate Disclosure Standards Board (CDBS). Este aspecto é importante porque confirma quanto afirmado no artigo de Engdahl: estão a ser criados padrões aos quais as empresas terão que adequar-se.

E atrás destas siglas (SABS, ESG, GRI, etc.) há grupos em conexão. O CDBS, que colabora com o SABS, participa no TCFD (a Task Force on Climate-related Financial Disclosures de Bloomberg) e no CDP (o Carbon Disclosure Project); este último participa no SBTi; o mesmo SABS coopera com o GRI e todos comaprtilham os estandards do ESG.

Portanto, não estamos perante dalgumas organizações que, de forma independente, estabeleceram padrões de “sustentibilidade” mas dum mecanismo abrangente que segue as mesmas directivas; e estas são implementadas pelas maiores empresas privadas do planeta (e apoiada por várias organizações de governação global ou local) ao uníssono.

O ataque aos hidrocarbonetos

Conclui o autor do artigo, F. William Engdahl:

O alvo imediato deste cartel financeiro é a espinha dorsal da economia mundial, o sector do petróleo, carvão e gás natural. Os analistas da indústria petrolífera prevêem que nos próximos cinco anos ou menos, os fluxos de investimento para o maior sector energético do mundo irão diminuir drasticamente. “Dada a importância da transição energética para as perspectivas de crescimento de cada empresa, pedimos às empresas que revelem como planeiam tornar o seu modelo empresarial compatível com uma economia net-zero”, escreveu o Presidente e CEO da BlackRock, Larry Fink, na sua carta de 2021 a vários CEOs. Blackrock é o maior grupo de investimento do mundo, com mais de 7 triliões de dólares para investir. Outro funcionário da BlackRock numa recente conferência sobre energia disse: “onde a BlackRock for, outros se seguirão”.

“Para continuar a atrair capital, as carteiras terão de ser construídas em torno de activos favorecidos – barris de baixo custo, de longa duração e baixo teor de carbono [não petróleo mas recursos]”, disse Andrew Latham, vice-presidente da Exploração Global na Wood Mackenzie, um consultor energético.

A administração Biden já está a cumprir a sua promessa de eliminar gradualmente o gás e o petróleo, proibindo novas explorações em terra federal e offshore e parando a construção do oleoduto Keystone XL. Os sectores do petróleo, gás e derivados, petroquímicos, estão no centro da economia mundial. As 50 maiores empresas mundiais de petróleo e gás, incluindo empresas estatais e empresas de capital aberto, tinham registado receitas de cerca de 5,4 triliões de dólares em 2015.

À medida que a nova administração Biden continuar com a sua oposição ideológica aos chamados combustíveis fósseis, o mundo assistirá a um declínio precipitado no investimento em petróleo e gás. Os globalistas de Davos e os actores financeiros da ESG estão prontos a garanti-lo. E os perdedores seremos nós. Os preços da energia dispararão, tal como depois das recentes tempestades de neve no Texas. O custo da electricidade nos países industriais tornar-se-á proibitivo para o fabrico. Fique descansado, no entanto. Tudo isto faz parte da Grande Reposição actualmente em curso e da nova doutrina de investimento do ESG.

Em 2010, o chefe do Grupo de Trabalho 3 do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas, Dr. Otmar Edenhofer, disse a um entrevistador: “…deve ficar claro que estamos de facto a redistribuir a riqueza do mundo através da política climática. Temos de nos livrar da ilusão de que a política climática internacional é política ambiental. Já não tem quase nada a ver com política ambiental”… A Grande Reposição do WEF não é simplesmente uma grande ideia de Klaus Schwab nascido da devastação económica do coronavírus. Há muito que tinha sido planeado pelos senhores do dinheiro.

Como vimos, este é um movimento complexo que vê em campo o “creme” economico e financeiro do planeta: há neste projecto a participação das maiores empresas privadas de todos os sectores. Não sabemos se o cenário apresentado pelo autor do artigo será o nosso futuro: de certeza é verosímil.

Paremos e pensamos: faz sentido que estes enormes poderes privados, de repente, tenham descoberto a importância do ambiente? Foram estas mesmas multinacionais que durante décadas exploraram ao máximo qualquer recurso, atirando para o ar todos os posśiveis tipo de gáses, poluindo sem parar e apoiando (quando não pedindo) guerras para a posse das fontes energéticas. Um arrependimento global? Foi suficiente um discurso (cientificamente obsceno) de Al Gore ou os e-mails com dados manipulados do IPCC (o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) para que entendessem que o petróleo é mau e que os paneis solares são bons? Deçadas de combate por parte dos movimentos ambientalistas, deçadas de resistência e indiferença por parte destas empresas: depois, de repente, todas entendem e abraçam a “revoluçaõ verde”.

Talvez seja um pensamento cínico, mas estes poderes sempre foram conduzidos tendo em mente um único objectivo: o lucro. Pelo menos até hoje, pois agora algo parece ter mudado. O lucro pode ser trocado por algo ainda mais valioso: um poder desconfinado.

O “ataque aos hidrocarbonetos”, para utilizar as palavras de Engdahl, pode esconder um projecto afinal bastante claro e que responde a uma pergunta que ficou sem resposta: onde encontrar a energia para o futuro? Talvez a energia do futuro esteja já aqui, entre nós: paneis solares, geradores eólicos… Sabemos que estas fontes não serão suficientes para proporcionar toda a energia que estamos acostumados a utilizar. E talvez seja mesmo este o objectivo.

Ao reduzir a energia disponível, a pouca que sobra torna-se preciosa e cara: quem detém os sistemas de produção fica com nas mãos um poder enorme, provavelmente duma magnitudo nunca vista antes. E, sobretudo, um poder baseado em algo bem melhor do actual sistema de escravidão: as correntes da dívida pública dependem de variáveis flutuantes como aquelas que podemos encontrar num mercado financeiro. E sabemos também que a questão da dívida implica a criação de “bolhas” destinadas a rebentar com regularidade. É verdade que estas explosões são controladas e exploradas, mas tudo isso acareta riscos.

E ao falar de energia? Todos precisam de energia e o petróleo nos ensinou que não há limites para o que estamos dispostos a fazer na tentativa de entrar na posse das melhores fontes energéticas. Falamos de guerras que vêem também a cumplicidade silenciosa dos cidadãos dos Páises mais ricos. Quem controla a energia controla os governos, ainda mais numa sociedade que depende cada vez mais dos recursos energético (o que sobra do digital sem electricidade?). As maiores empresas privadas mundiais sabem disso e têm uma ideia precisa sobre quem irá controlar a energia do futuro. Em caso de dúvida, voltem a espreitar os nomes envolvidos: são multinacionais, algumas das quais têm facturados superiores ao Produto Interno Bruto de inteiros Países. Qual o limite para empresas como estas?

É claro: isso subentende uma mudança radical no estilo de vida da sociedade. Doutro lado, o lema deste último ano tem sido “nada voltará a ser como antes”. E as “previsões” publicadas pelo WEF apontam exactamente neste sentido num projecto que vai muito além da Covid. Se o fim declarado for a implementação duma governance global, a posse das fontes energéticas é uma passagem obrigatória para dobrar qualquer resistẽncia.

Fala-se de reedistribuição da riqueza. E de facto, neste cenário, haveria grandes mudanças. Ao rescrever as regras será criado um novo mercado, onde nem todos poderão participar: uma “filtragem” no final da qual apenas as empresas woke (na prática: alinhadas) teriam as credenciais para participar. Não se trata apenas de eliminar a concorrência, já hoje minimizada: seria mais um reforçar um movimento que vai além do mercado para determinar, de forma já agora declarada, as políticas da sociedade futura.

Em suma: o cenário proposto por Engdahl poderia não ficar tão longe da próxima realidade.

 

Ipse dixit.

5 Replies to “O controlo da energia: quem mexe os fios do Great Reset e porque”

  1. Ótimo artigo, ótima análise do Max.
    No fundo, qualquer um de nós que tenha perdido a ingenuidade, que tente ir além dos ditos e escritos, já imagina a composição real das vigas mestras de uma grande mudança em favor da tirania das grandes corporações, bancárias a frente.
    É difícil não aceitar que “pandemia” e agenda 2030 sejam as vigas mestras cujas estratégias já vivemos faz 2 anos, e andamos a caminho da miséria social, intelectual, financeira.
    Quem não sabe que a “ciência” é encomendada e regiamente paga para afirmar e fazer crer o absurdo?! Claro que há dissidentes, mas suas vozes ecoam num universo de pobreza intelectual e mental nunca vistos.
    O tendão de Aquiles do nosso mundo é a utilização farta e barata da energia. Diminuindo drasticamente suas fontes, seu acesso fica limitado à tirania dos que mandam. E o mundo dos de baixo simplesmente apaga.

  2. Sei não, mas acho que isso tudo é só uma fachada para esconder algo muito maior, em principio já está bem claro que vai faltar energia elétrica para todos, a menos que surja uma nova fonte, ou comecem a transformar água em eletricidade.

  3. Insisto, não faltam fontes de energia, falta a opção pela colaboração, cooperação e partilha dessas fontes.
    Sobra, a vontade de controlo e domínio absolutos sobre essas fontes.
    Nordstream2 avança, porque crítico para o futuro da Alemanha, centro e pivot da economia europeia.
    Nordstream2 poderá ser adaptado para o transporte de hidrogénio, a produzir via hidrocarbonetos (Rússia).
    Em Portugal, fecharam Sines, sem termos substituto ou plano de contingência e em breve… os apagões.
    É falta de? Claro que não. É planeado, é propositado com objetivo determinado.
    Por cá, nesta república das bananas, que de república pouco já tem, o que temos de sobra são traidores.
    Olhai para trás, pois Viriato (Alma Lusa) foi traído pelos seus, aos romanos… dejá-vu ó Lusitânia… uma vez mais.

  4. Olá Alffber!

    Gostaria de acrescentar o negócio das seis barragens do rio Douro que foram para a francesa Engie. Seis unidades de produção hidroeléctricas que passaram das mãos chinesas (mas o Estado tinha ainda umas acções) para a empresa gerida pelo Estado francês, um par de bancos, BlackRock, Vanguard e Capital Management. E nem vamos falar da forma com a qual a EDP concluiu o negócio para evadir o fisco…

    Numa altura como esta, na qual todos estão virados para as fontes renováveis, como é possível pensar em vender seis barragens?

    Miranda: 1.360 GWh
    Picote: 1.030 GWh
    Bemposta: 1.860 GWh
    Foz do Tua: 275 GWh
    Baixo Sabor: 444 GWh
    Feiticeiro: 660 GWh

    Três delas novinhas em folha: Foz do Tua (2015), Baixo Sabor (2016) e Feiticeiro (2017). Um total de 5 629 GWh anuais agora definitivamente em mãos estrangeiras.

    1. Oi Max, acrescento a seguinte nota…
      No sector da energia em particular, mas também nas restantes áreas de serviços de base, telecomunicações e água por exemplo, os grandes estados centrais da europa (França, Itália, Alemanha) não abdicaram de ter no mínimo uma participação nas empresas mãe, participação essa que lhes permitisse impôr quando e se necessário as medidas que julgassem apropriadas aos interesses da suas nações/sociedades… e teem-no feito, soberanamente, mesmo que em cooperação com as imposicões legais e interesses corporativos da UE.
      Os eleitos por estas bandas, à 2 décadas que fazem precisamente o contrário, ininterruptamente. Já são muitas as medalhas do “bom aluno” (servo exemplar).
      Talvez possamos em perspectiva aludir á “arte do negócio”, uns têm, outros não. Uns sentam-se à mesa grande, outros satisfazem-se com as migalhas que sobram. Uns têm uma preocupação genuína para com a sua sociedade e cultura, outros é só “ar” e “umbigo”.
      Talvez haja uma estratégia por detrás da constante eleitoral das gentes desta terra, que olhando para si mesmos ao espelho, constatam que mais vale que fique tudo nas mãos dos “romanos” e acabem governados por eles uma vez mais.
      Foram 48 anos sob a ditadura e como alguém o afirmou, não foi por acaso que foram tantos. Agora, aproxima-se idêntico número, sempre sob uma mesma batuta (PS+PSD).
      O que estará a ser planeado para as comemorações?

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