Quando o Dono chamar, Noam corre

– E agora, senhoras e senhores, um grande aplauso para receber o nosso querido Noam, o pastor hebreu treinado que tudo sabe e tudo diz! Só verdades! Só grandes verdades!

[aplausos]

– Aqui Noam, aqui. Dá a patinha…Bravo!

[aplausos]

– Senta Noam, senta. Agora, gentil público, eis Noam no seu número favorito. Prestem atenção! Luzes!… Noam, diz-me: como é Donald Trump?

– Trump é o pior criminoso da história, sem dúvida. Nunca houve um personagem na história política que se tenha dedicado tão apaixonadamente à destruição de projectos organizados de vida humana na Terra num futuro próximo; isto não é exagero.

[risos, aplausos]

– Muito bem Noam, muito bem, toma um croquete. E porquê, porquê Trump é o pior?

– As pessoas estão agora concentradas nos protestos; a pandemia já é suficientemente grave para que possamos sair dela com custos terríveis. O custo é grandemente amplificado pelo gangster da Casa Branca, que matou dezenas de milhares de americanos, fazendo deste o pior lugar do mundo. Vamos sair mas não vamos sair de outro crime que Trump cometeu, o aquecimento global. O pior de tudo está para vir – não vamos sair disso.

[aplausos]

– Então diz-me: este Trump é assim tão mau, não é? O que fez Trump ao planeta, eh?

– Os lençóis de gelo estão a derreter; não vão recuperar. Isso leva a um aumento exponencial do aquecimento global. Os glaciares do Árctico, por exemplo, podem inundar o mundo. Estudos recentes indicam que no curso actual, dentro de cerca de cinquenta anos, grande parte da parte habitável do mundo será inacessível. Não será possível viver em partes da Ásia do Sul, em partes do Médio Oriente, em partes dos Estados Unidos. Estamos a chegar ao ponto de há 125 000 anos, quando o nível do mar era cerca de vinte e cinco pés mais alto do que é hoje. E é pior do que isso. O Instituto Oceanográfico Scripps acaba de sair com um estudo que estima que nos aproximamos sinistramente de um ponto semelhante a 3 milhões de anos atrás, quando o nível do mar era cinquenta a oitenta pés mais alto do que é hoje.

– Mas Noam, tudo isso é terrível! E o que fazemosagora?

– Em todo o mundo, os países estão a tentar fazer algo a esse respeito. Mas há um país que é liderado por um presidente que quer escalar a crise, correr para o abismo, maximizar a utilização de combustíveis fósseis, incluindo os mais perigosos, e desmantelar o aparelho regulador que limita o seu impacto. Não existe um crime como este na história da humanidade. Nada. Este é um indivíduo único. E não é como se ele não soubesse o que está a fazer. Claro que ele sabe. É como se ele não se importasse. Se amanhã ele pode derramar mais lucros nos seus bolsos e nos bolsos do seu rico círculo eleitoral, quem se importa se o mundo desaparece em algumas gerações?

[o público murmura preocupado]

– Mas Noam, será que este Trump é fascista?

– Não é fascismo. É um ditador de lata de um pequeno país onde há golpes de Estado de dois em dois anos. É essa a mentalidade.

[risos e aplausos]

– Então vírus e aquecimento global. Diz-me Noam, há mais, eh? Há mais?

– O Trump está a desmantelar todo o regime de controlo do armamento, aumentando consideravelmente o risco de destruição, convidando praticamente os inimigos a desenvolverem armas para nos destruírem, armas que nós não conseguiremos travar.

– Ohhhh, Noam, mas o mundo é governado por um louco?

– Trump está a tomar os piores aspectos do capitalismo, particularmente a versão neoliberal do capitalismo, e a amplificá-los. Isso vem bem antes de Trump, mas ele é um fenómeno único, mais uma vez o pior criminoso da história da humanidade, pelo que os seus crimes menores são destruir a democracia americana e amplificar uma pandemia que mata mais de cem mil pessoas. Mas esses são crimes menores, segundo os seus padrões.

[preocupação, o público tem medo e raiva]

– Diz-me Noam: há esperança? Há alguém que possa salvar o mundo?

– Tomemos, digamos, a campanha de Bernie Sanders. Estou sempre a receber cartas ou vejo coisas afixadas a dizer: “Tentámos, perdemos, acabou, por isso vou-me embora”. Não foi isso que aconteceu. O que aconteceu foi um tremendo sucesso, um sucesso sem paralelo. Nada disto tinha acontecido na história política dos EUA.

– Mas Noam, Sanders perdeu, foi afastado pelos mesmos Democratas…

– Sanders tomou a decisão táctica, que alguns criticam mas penso que é correcta, de se juntar à campanha de Joe Biden e empurrá-la para a esquerda. Os seus associados estão a trabalhar nas comissões de planeamento e, de facto, se olharmos para o programa que emergiu, ele está mais à esquerda do que qualquer outra coisa. Oferece muitas oportunidades.

– Joe Biden, meus senhores, Joe Biden, o salvador com Bernie Sanders ao seu lado, juntos para um verdadeiro programa de esquerda! Um aplauso para Joe Biden!

[aplausos, o público está feliz]

– Noam, como é o Partido Republicano, eh? Como ele?

– É pior do que o antigo Partido Comunista. O líder dá uma ordem; nós caímos de joelhos.

[gargalhadas, aplausos]

– E Noam, Trump como é?

– Ele não age como um ser humano.

[gargalhadas]

– Eis Noam, senhoras e senhores, o pastor hebreu treinado que diz só verdades! E ao sair, não esqueçam de comprar a última obra prima de Noam: “Quando o Dono chamar, Noam corre”, hoje com 25 % de desconto!

Nota: todas as afirmações de Noam são contida nesta entrevista.

 

Ipse dixit.

13 Replies to “Quando o Dono chamar, Noam corre”

  1. O sr. Chomsky é uma das maiores fraudes do Século XX, tendo vindo a ser amplamente desmascarado desde a Década de 1960.

  2. Olha, enxergo exageros nas respostas do Chomsky, mas enxergo verdades também. Não acho que todas as respostas que estão aí são lixo.

    1. Olá PCPONS!

      Gostaria aqui de repetir quanto já afirmado várias vezes: Donald Trump é uma besta quadrada e ponto final. O facto de eu apoiar as acções deste Presidente (basicamente anti-globalista) não significa que não veja o nível ínfimo ao qual chegou a política americana. O problema é que se Trump me assusta, a alternativa assusta-me ainda mais. Trata-se aqui de escolher o mal menor, só isso e nada mais.

      Quanto ao Chomsky, não concordo. Chomsky está preocupado com o meio ambiente. É lícito. Mas então porque não lembrar que os Democratas têm óptimos relacionamentos (e profundo interesses comerciais) com aquele País que produz quase o dobro de CO2 dos Estados Unidos, País ao qual nem passa pela cabeça de reduzir as suas emissões? Chomsky evita o assunto apenas porque é algo que incomoda os Democratas. Péssimo.

      Trump matou dezenas de millhares de americanos? Não brinquemos. O que Trump fez foi tentar aplicar a mesma receita da Suécia, da Tanzânia e de todos os Países onde ninguém se atreve a dizer que os políticos locais mataram dezenas de milhares de pessoas ao não aplicar o lockdown, simplesmente porque não é verdade. Ainda hoje, na Italia, temos o mesmo número de mortos duma vaga sazonal de gripe (até um pouco menos), nada mais. E a Italia tem 574 mortos de Covid-19 por milhão de pessoas, com lockdown. Quanto têm os EUA sem lockdown (ou lockdown parcial)? 383 por milhão. A Suécia (sem lockdown)? 523. O Brasil, onde o terrível Bolsonaro quer matar todos os brasileiros? 259 por milhão. Estes são dados, não opiniões. E são dados que Chomsky nem se atreve a citar.

      O Trump está a desmantelar todo o regime de controlo do armamento? Sim, e isso é mau. Mas observamos o que verdadeiramente preocupa Chomsky: “convidando praticamente os inimigos a desenvolverem armas para nos destruírem, armas que nós não conseguiremos travar”. Este é o ponto: russos e chineses são maus, querem destruir os EUA e por culpa de Trump desenvolvem armas que Washington não poderá travar! Lamento mas este não é de todo pacifismo, esta é a manutenção da supremacia bélica dos Estados Unidos.

      E a solução proposta por Chomsky qual é? Joe Biden, apoiado por Bernie Sanders, parta criar um programa “de Esquerda”. De Esquerda?!? Mas sabem quem é Joe Biden? Sabem o que está a fazer o filho de Biden na Ucrânia? Chomsky apela ao voto em favor do indivíduo que acabou de destruir o Iraque enquanto País. Como disse (literalmente) Obama: “Joe, tu tratas do Iraque” e o resultado está debaixo dos olhos de todos. É o Biden que apoiou a intervenção da NATO na Líbia e que deu os parabéns aquando do homicídio de Khaddafi. É o Biden que apoiou as armas para os “rebeldes moderados” da Síria.

      Habituado a frequentar os encontros da elite em Davos (no World Economic Forum), Joe Biden é bem descrito num artigo do The New York Times (https://www.nytimes.com/2019/05/03/opinion/joe-biden.html) como “um pilar do antigo regime”. O regime que quer só uma coisa: globalização. Como bem explicado, doutro lado, pelo Penn Biden Institute, o think tank de Joe Biden: “O populismo e o nacionalismo podem abrandar a maré do globalismo, mas não o podem deter” (https://global.upenn.edu/penn-biden-center/advancing-dialogue-globalism). E o “revolucionário” Chomsky está ao lado dele.

      E acerca de Bernie Sanders, assim reza o Gravel Institute: “Bernie não fez uma má campanha, ele foi f****** devido à súbita consolidação do establishment e aos ataques concentrados dos media”. A assim chamada “esquerda” dos Democratas foi sabotada a partir do interior, a elite não quer ouvir falar de Esquerda, quer o globalismo e não hesita em atropelar os obstáculos, mesmo aqueles interiores. E Chomsky está ao lado desta elite.

      As respostas de Chomsky não são lixo: são as respostas dum vendido. O que, na minha óptica, é até pior.

  3. Olá Max e todos: já fui fã de Chomsky, mas isso faz já bastante tempo.
    Acho que tem certo tipo de intelectual, que ao envelhecer, insiste em ficar sob os holofotes, e progressivamente vai aumentando a dose de besteiras que diz. Chomsky é um bom exemplo. Mas ao dizer o que consta na entrevista, se disse mesmo, ele se superou. Inclusive não faz o estilo da retórica dele.
    Quando criticava, era eloquente, mas moderado. Pessoalmente achava estranho ser considerado o maior intelectual militante “de esquerda” vivo em várias fontes de análise. Enfim, mais um judeu negociando a alma e passando por bonzinho.
    Por sinal, passei a marcar as pessoas numa escala de respeito e consideração ( falo de pessoas consideradas cultas ) pessoal, a partir de certos posicionamentos. É uma coisa meio involuntária, mas me persegue : corona vírus, vacinação, democracia…, as mais recentes.
    Admito toda estupidez do mundo num povo que sempre foi mantido dentro de uma profunda miséria cultural, como aquele ao qual pertenço. Mas não consigo admitir que uma pessoa com relativa cultura diga grandes asneiras, porque aí não se trata de ignorância ou ingenuidade, mas de quem está pagando mais.

    1. Olá Maria não é com a idade que tem que se vendeu. Se nunca o tinha feito antes não é agora com noventa e tal anos.
      Max não batas mais no velhinho, acontece a todos…e nisso estou de acordo com PCPONS

      abraços

      Nuno

  4. Este é um exemplo típico da dita elite intelectual que opera sob uma agenda bem estabelecida. Para leitores iniciantes ou que imaginam que estão a desbravar uma visão intelectual genuinamente crítica de esquerda (no sentido de oposição ao status capitalista) é um sucesso. Mas para alguém um pouco mais atilado, as contradições do bravo Noam logo começam a se mostrarem…Chegam até o ponto de coçar a ferida…nada além…
    Mas é o que temos, num mundo onde as esquerdas são representadas por George Soros e cia…

  5. Há pouco tempo vi uma entrevista do Chomsky, por sugestão do Pepe Escobar, figura que sigo relativamente de perto e que neste momento me causa menos entusiasmo que a minha máquina de lavar roupa.
    Mas voltando ao Chomsky, essa entrevista cuja fasquia o Pepe colocou bem alta, foi muito dentro daquilo que está neste post, uma cassete globalista, sempre em volta do mesmo.
    É dar um osso ao Noam, que com esta idade já merece, pode ser que fique entretido com o osso por muito tempo.

  6. Este é um excelente exemplo para leccionar uma cadeira de : ” Como não escrever um artigo” A entrevista de Chomsky é muitíssimo maior que os excertos que ali apresenta e apesar de também eu não partilhar a visão de Chomsky sobre o aquecimento global , nunca me passaria pela cabeça descer a este nível, reduzir a descrição de um intelectual de 91 anos considerado o pai da linguística moderna a um misero excerto de uma entrevista tratado-o literalmente como um cão é como um palhaço é uma vergonha e uma humilhação para quem o faz , o pseudo artigo é literalmente inqualificável de tão medíocre que é . A principal razão pela qual este artigo me choca é pelo facto de ter assistido a dezenas de entrevistas com Chomsky e nunca por nunca o vi insultar nenhum dos seus interlocutores apesar de alguns serem bastante fraquinhos e por vezes até o merecerem.
    Mas Chomsky sempre foi um cavalheiro, e admiro isso, mesmo nas pessoas com as quais não concordo.
    Não concorde com Chomsky, é um direito que lhe assiste, mas respeite, se quiser ser respeitado também.
    Alguém me fez notar em tempos que quando falamos intencionalmente mal de alguém acabamos por revelar muito mais sobre nós e sobre o nosso caracter do que sobre o caracter do visado.

  7. Num mundo da canalhice, supervalorizar cavalheirismos e brilhantismos chega às raias do supérfluo… Esse foi um dos responsáveis pela morte da filologia em favor da linguística, outro arcabouço à serviço das manipulações das elites científicas.

  8. E eu poderia considerar supérfluo justificar tudo com base na teoria judaica a um nível inatingível e sem utilidade pratica, mas não o faço porque sei que outras formas de percecionar o mundo que hoje não considero importantes amanhã poderei entender e valorizar.
    É minha convicção que um homem deve ser julgado pelas suas próprias leis , quem trata com respeito deve ser tratado com respeito, independentemente de concordar com ele ou não, este é um dos princípios em que reside o “humanismo” do homo sapiens.
    E não deixa de ser curioso como, não só se insulta publicamente ao nível de cão e palhaço um intelectual de 91 anos como quando alguém surge para contestar esses insultos é ainda acusado de usar argumentos supérfluos, mas curiosamente as alusões a cão e palhaço não só não são denunciadas pelo mesmo como supérfluas como até tacitamente defendidas a coberto do alegado ” assassinato ” da filologia .
    Ninguém matou a filologia , do mesmo modo que ninguém matou o latim, muito antes pelo contrario o latim manteve-se , é estudado e diversificou-se em varias línguas românicas e abriu espaço para a aplicação da filologia, considero até que a filologia pode até ser aplicada em áreas como a investigação criminal ou a psicologia basta para isso ter a mente aberta e saber do que se está a falar.

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