História do Expurgo da Inteligência Estadunidense

O Inimigo Interno: História do Expurgo da Inteligência Estadunidense

de Cynthia Chung

 

Restam à Europa Ocidental apenas mais 20 ou 30 anos de democracia; depois disso ela deslizará, sem motor e sem leme, para sob o mar de ditadura que a circunda, e se o ditame vier de politburo ou de junta não fará muita diferença.

Willy Brandt (Chanceler Federal da Alemanha, pouco antes de deixar o cargo em 1974)

 

Acreditemos ou não, o ponto de vista distópico segundo o qual a democracia está morta não é, de modo algum, ideia nova. O que poderá ser preocupante é a resposta à indagação acerca de a partir de onde terá germinado esse conceito em sua forma contemporânea.

A ideia de que a democracia está em crise e precisa ser substituída por nova forma de “governança” não se originou dos clamores de povo oprimido a demandar seu direito a vida decente. O que vemos atualmente a desdobrar-se não é processo orgânico de base voltado para “aperfeiçoar” o governo, isto é, a democracia. Estamos sim, antes, assistindo a desintegração controlada exatamente daquilo que achamos estar tentando preservar, e esse processo de destruição está em andamento há já mais de 45 anos.

Não por acaso Samuel P. Huntington gosta muito da citação de Willy Brandt “profetizando” o fim da democracia (usada no início de ambos os livros dele ‘The Crisis of Democracy’ [A Crise da Democracia] e ‘Disaffected Democracies’ [Democracia Que Desagrada as Pessoas]), pois afinal o propósito dele na vida… é tomar providências para que a profecia se cumpra.

No presente artigo examinarei como a patota de Henry Kissinger expurgou, com sucesso, os últimos resíduos significativos de decência dentro da CIA e redelineou a estrutura do governo dando-lhe os contornos do Deep State(*) tal como o vemos latejando grotescamente em nossos dias. Nessa história, veremos como aquelas proeminentes figuras de proa que profetizam o “fim da democracia” vêm sendo precisamente as orquestradoras da destruição dela.

(*) deep state – Rede de pessoas e organizações dentro do governo que, acredita-se, persegue suas próprias políticas e planos de longo prazo independentemente de quem esteja no poder. Macmillan

O Primeiro Expurgo da Inteligência Estadunidense: O Desmonte do OSS

Em 4 de março de 1933 o Presidente Franklin D. Roosevelt – FDR foi eleito Presidente dos Estados Unidos – U.S., no que se tornaria presidência de doze anos, que terminou apenas por causa da morte dele. Roosevelt era anti-imperialista que ativa e bem-sucedidamente organizou-se para promover a extinção do imperialismo no mundo inteiro.

O Office of Strategic Services (OSS) [Escritório/Gabinete/Secretaria de Serviços Estratégicos] foi criado por Roosevelt em 13 de junho de 1942, sob a direção de William J. Donovan, como órgão/agência de inteligência de tempo de guerra. Seu objetivo era coletar e analisar informações estratégicas requeridas pelo Estado-Maior Conjunto e conduzir operações especiais não atribuídas a outros órgãos.

Diferentemente da ideia que nos formamos a respeito da inteligência estrangeira estadunidense de nossos dias, a raison d’être do OSS era, genuínamente, vencer a guerra (Segunda Guerra Mundial – WWII) rapidamente e com a menor quantidade de prejuízos/perdas.

Contudo, FDR faleceria em 12 de abril de 1945, e o OSS seria desmontado cinco meses apenas depois do falecimento dele e duas semanas depois do final oficial da WWII.

Em 20 de setembro de 1945 Truman, em ato de triste fama, determinou o fechamento do OSS, referindo-se a ele como Gestapo em potencial, mas sem intenção de acabar com todos os recursos/instrumentos de inteligência estrangeira. O OSS seria substituído pela nova bandeira da CIA em 18 de setembro de 1947 e, mais importante, como contingente do National Security Council [Conselho de Segurança Nacional] criado no mesmo dia. Meu paper a respeito pode ser consultado.

Com a dissolução do OSS muitos oficiais de inteligência respeitáveis e patriotas eminentes, que eram fiéis à visão de FDR, foram também excluídos da comunidade de inteligência.

Em agosto de 1949 a União Soviética testou sua primeira bomba atômica, diversos anos antes da data de 1953 prevista pela CIA. Em reação, a Joint Intelligence Committee [Comissão de Inteligência Conjunta] procedeu a estimativa da natureza da ameaça nuclear representada pelos soviéticos. O JIC-502 asseverava que, uma vez os soviéticos tivessem 200 bombas atômicas, poderiam lançar ataque de surpresa e derrotar os U.S.

Tais asseverações foram feitas sem análise dos recursos dos soviéticos que lhes permitissem de fato fabricar as armas, quanto mais produzi-las naquela velocidade. As estimativas sequer tentavam analisar as intenções estratégicas dos soviéticos.

O JIC-502, intitulado “Implications of Soviet Possession of Atomic Weapons” [Implicações da Posse de Armas Atômicas pelos Soviéticos] e redigido em 20 de janeiro de 1950, veio a revelar-se de modo algum relatório de inteligência, e sim antes conversa de vendedor, a afirmar que União Soviética com armas atômicas havia trazido para o cenário a noção de que “tremenda vantagem militar seria obtida pela potência que atacasse primeiro e fosse bem-sucedida em levar a efeito ataque de surpresa.”

O JIC-502 foi o primeiro documento a propor justificativa para o conceito de primeiro ataque de caráter preventivo, apoiado por maciço aumento de armamentos sob a pretexto de guerra preventiva. O NSC-68 seria redigido no mesmo ano, declarando que os U.S. encontravam-se moralmente em equivalência de guerra com a União Soviética e conclamando a maciço agigantamento de recursos militares, a ser completado até 1954, considerado o “ano de perigo máximo”, o ano em que, segundo o JIC-502, os soviéticos atingiriam superioridade militar e ganhariam condições de deflagrar guerra aos U.S. O proposto aumento de recursos militares demandaria aumento do orçamento de defesa de $10 biliões para $40 biliões no período 1950-53.

No mesmo período foi desenvolvida outra doutrina de segurança intitulada “NSC-75: A Report to the NSC by the Executive Secretary on British Military Commitments” [NSC-85: Relatório ao Conselho de Segurança Nacional – NSC elaborado pelo Secretário Executivo de Compromissos Militares Britânicos]. O relatório concluía que se o Império Britânico entrasse em colapso, e a Grã-Bretanha não mais tivesse como atender a seus compromissos militares na defesa do “mundo livre” contra os soviéticos, os U.S. não teriam como conduzir sua política externa da época, incluindo o NSC-68.

O relatório, em decorrência, concluía que seria mais custo-eficaz ajudar a Grã-Bretanha a salvar seu Império!

Se você tiver-se alguma vez perguntado por que a CIA sempre atuou de par com a Inteligência Britânica, desde seu começo, em série de golpes nos quais não fazia sentido a presença dela, agora você sabe.

Os U.S. assim passaram de missão explícita de acabar com o imperialismo no mundo inteiro, no governo Roosevelt, para apoio e defesa ativa das colônias e estados vassalos da Grã-Bretanha no governo Truman!

Foi tudo feito a pretexto de proteger o “mundo livre” dos perversos manjaléus soviéticos, tais como caracterizados no Discurso Acerca da Cortina de Ferro de Churchill. Assim os interesses do Império Britânico foram salvaguardados por fiel lacaio estadunidense, de modo duradouro, enquanto as pessoas acreditassem na conversa de que todos os russos eram canalhas.

Interessante que a CIA não estava de acordo com a estratégia de guerra preventiva tal como definida no JIC-502. Em fevereiro de 1950 a CIA respondeu no ORE 91-49, declarando:

“É sempre possível… que a URSS tome a iniciativa de guerra se avaliar seja iminente ataque pelo Ocidente. [Todavia], Não é ainda possível avaliar com qualquer grau de precisão os efeitos que posse da Bomba Atômica pelos soviéticos tenha sobre probabilidade de guerra. As implicações de guerra atômica não foram ainda plenamente avaliadas, militar ou psicologicamente.” (ênfase acrescentada)

Em outras palavras, a CIA estava dizendo que a abordagem freneticamente desvairada do JIC-502 a qual demandava acumulação militar e capacidade de primeiro ataque aos soviéticos era falta de fundamento. Não havia dados a apoiar tal asseveração, e portanto tal resposta seria irresponsável e perigosa.

Tornou-se evidente para aqueles favoráveis àquelas políticas de guerra permanente que a CIA estava a precisar de liderança “mais forte”.

Pelo menos essa foi a argumentação desenvolvida pelo Relatório Dulles-Jackson-Correa o qual preconizava Diretor da CIA forte na esteira da Guerra Fria. Embora Walter Bedell Smith, que se tornaria Diretor da CIA de 1950 a 1953, tivesse feito muito para reorganizar a CIA distanciando-a da instigação a guerra preventiva, no final quem acabou subindo ao trono da CIA foi Allen Dulles.

Não deve constituir surpresa Dulles ter tido a si próprio em mente o tempo todo em que falava a respeito das qualidades pessoais que Diretor “forte” da CIA deveria ostentar… todavia, ele não se estava referindo a mente forte, e sim a estômago forte.

Dulles seria Diretor da CIA de 1953 a 1961, quando foi demitido pelo Presidente Kennedy (juntamente com o Diretor Adjunto e o Diretor Adjunto de Planos), todos os três apanhados essencialmente cometendo traição durante o fiasco da Baía dos Porcos; meu paper a respeito pode ser consultado.

McCone substituiria Dulles como Diretor da CIA e tentaria expungir a CIA dos loyalists(*)/fiéis a Dulles no incidente da Baía dos Porcos; infelizmente, isso não seria suficiente.

(*) loyalists – Loyalist é alguém que apoia o governo, especialmente em época de revolução. Macmillan

Durante o período de Dulles como Diretor da CIA ele fez nada menos do que sedimentar o papel dos Estados Unidos como país que exigia permanente guerra, em todo o mundo, contra os “insurgentes comunistas”, com as infindáveis guerras da Indochina prolongando-se por mais de 35 anos.

Embora Bedell Smith fosse Diretor da CIA por apenas três anos, conseguiu, juntamente com Donovan (fundador do OSS), criar, dentro da CIA, o departamento mais importante estrategicamente: o Office of National Estimates (ONE) [Escritório de Estimativas Nacionais].

Smith procurou candidatos em potencial para aquela nova entidade dentre aqueles que haviam sido alijados da comunidade de inteligência quando Truman dissolveu o OSS. Muitos daqueles oficiais de inteligência “aposentados” haviam servido no antigo Departamento de Pesquisa e Análise do OSS; inclusive William Langer e Sherman Kent que, ambos, desempenharam papel crucial na administração do ONE. Tanto Langer quanto Kent eram historiadores respeitáveis.

Foi reconhecido haver crise na coleta e na análise competente de inteligência o que, por sua vez, redundava em políticas irresponsáveis de instigação de guerra tais como JIC-502, NSC-68 e NSC-75. Como expressaria Kent, havia aqueles, na CIA, que “procuravam poder mediante sacrifício da verdade.”

A criação do ONE representou forte resistência ao tipo de groupthink(*)/pensamento de manada dentro da comunidade de inteligência.

(*) groupthink – Tipo de decisões de grupo amiúde de má qualidade por falta de questionamento prévio. Ver Macmillan

Kent comentaria acerca da questão da triagem de segurança da agência (o mccarthyismo estava em andamento pleno na época) dizendo:

“Quando equipe de inteligência resulta de triagem [demasiado fina], seus membros ficam parecendo ladrilhos de piso de banheiro – mais ou menos tão capazes quanto tais ladrilhos de pensamento em profundidade e original.”

Em suma, depois da morte de FDR ocorreu uma espécie de batalha assumida entre membros da comunidade de inteligência, que poderiam ser categorizados de loyalists de FDR e loyalists de Churchill (1). Embora tenha havido tentativa de expungir oficiais de inteligência que permanecessem anti-imperiais, Bedell Smith conseguiu trazê-los de volta, para o reorganizado departamento ONE, o que por sua vez representou forma de liderança sadia/sensata dentro da CIA.

Infelizmente o NSC não compartilhava daqueles pontos de vista e ocorreria segundo expurgo dos últimos remanescentes dos verdadeiros patriotas estadunidenses.

O Segundo Expurgo na Inteligência Estadunidense: Nasce o Deep State

A partir do momento em que Kissinger assumiu o posto de Assessor/Conselheiro de Segurança Nacional de Nixon ele tratou de centralizar todas as estimativas/avaliações de inteligência, iniciativas diplomáticas e operações secretas figurativa e por vezes literalmente sobre os cadáveres de membros da CIA, do Estado-Maior Conjunto, do Departamento de Estado e do Congresso.

De acordo com John Ranelagh, em seu livro The Agency: The Rise and Decline of the CIA [A Agência: Ascensão e Declínio da CIA]:

“Bem cedo na administração Nixon tornou-se claro que o Presidente desejava que Henry Kissinger administrasse a inteligência para ele e que a equipe do NSC na Casa Branca, sob a direção de Kissinger, controlasse a comunidade de inteligência. Foi o começo de deslocamento do poder da CIA para novo centro: a crescente equipe do NSC.”

Kissinger usaria o escândalo de Watergate, no qual a CIA foi apanhada pelo Congresso diretamente implicada em atividades de traição, como o impulso necessário para a formação de uma nova CIA, entidade secreta que escapava ao escrutínio do Congresso.

Em 1978 Kissinger promoveu a Intelligence Reorganization and Reform Act [Lei de Reorganização e Reforma da Inteligência], que essencialmente “clean house(*)” a comunidade de inteligência.

(*) clean house – O verbo intransitivo clean house significa fazer amplas reformas ou modificações. Merriam-Webster

Em 1982, sob a direção de Kissinger, o Presidente Reagan assinaria a Diretiva de Segurança Nacional 77 – NSDD 77 sob coação da Guerra Fria, o que deflagraria o Projeto Democracia, nome sardônico para Cavalo de Troia.

A NSDD 77 entregava ao Projeto Democracia o controle das “ações secretas em ampla escala”, bem como de ações públicas abertas/visíveis, mais tarde associadas à National Endowment for Democracy (NED) [Dotação Nacional para a Democracia]. A diretiva determinava que a CIA se mantivesse fora tanto da parte secreta quanto da visível do Projeto Democracia, dando assim carta branca à “aparelhagem do NSC” de Kissinger.

Quase um ano depois, em outubro de 1983, o desinformado e ingênuo Congresso aprovou a Lei National Endowment for Democracy – NED, na prática aprovando a aplicação de fita isolante em sua cabeça.

A estrutura da NED funciona, essencialmente, como filial privada de operações políticas da CIA, a serviço de governo invisível, secreto, além de qualquer possibilidade de responsabilização e além do alcance da lei.

Aqueles que ainda tinham algum nível de humanidade como membros da comunidade de inteligência e haviam sobrevivido ao expurgo de Kissinger foram simplesmente mantidos no escuro acerca das operações cloak-and-dagger(*) do ramo secreto do governo.

(*) cloak-and-dagger – O adjetivo cloak-and-dagger é usado para referência a algo que envolve ou é caracterizado por mistério, conspiração/maquinação/intriga ou espionagem. ‘Caso recente com fatos que lembram conto de ficção cloak-and-dagger suscita sérias perguntas a respeito da relação privilegiada entre psicoterapeuta e paciente.’ Lexico powered by Oxford

Quanto ao departamento ONE, seria dissolvido em 1973 (o ano em que Kissinger tornou-se Secretário de Estado) e substituído por “grupo de expertos” que posteriormente criaria o National Intelligence Council [Conselho Nacional de Inteligência] em 1979. Seria o último expurgo da liderança patriótica sã dentro da comunidade de inteligência, relegada desde então a ser administrada por hienas e chacais.

Em entrevista em 1991 o então Presidente da NED David Ignatius arrogantemente declarou que “muito do que fazemos hoje era feito secretamente pela CIA há 25 anos… A maior diferença é que quando essas atividades são exercidas abertamente, o potencial de indignação fica próximo de zero. A abertura/nitidez/visibilidade é sua própria proteção”.

A Real “Crise de Democracia”

A Comissão Trilateral foi fundada na esteira de Watergate e da crise do petróleo de 1973. Foi criada a pretexto de dar tratamento a “crise de democracia” e preconizava redelineamento dos sistemas políticos a fim de ser criada ordem internacional mais “estável” e estabelecidas relações “cooperativas” entre regiões.

Sua criação seria organizada pela mão/pelo braço da Grã-Bretanha nos Estados Unidos, o Council on Foreign Relations [Conselho de Relações Exteriores], (isto é: o rebento do Royal Institute for International Affairs [Instituto Real de Assuntos Exteriores], o principal think tank(*) da Coroa britânica).

(*) think tank – Grupo de pessoas que trabalham em conjunto para produzir novas ideias a respeito de determinado assunto/tópico. Macmillan

O Projeto Democracia originar-se-ia de reunião da Comissão Trilateral em 31 de maio de 1975 em Kyoto, Japão, onde as conclusões da “Força-Tarefa acerca de Governbilidade de Democracias” da Comissão Trilateral foram apresentadas. O projeto foi supervisado pelo Diretor da Comissão Trilateral Zbigniew Brzezinski e os membros James Schlesinger (ex-Diretor da CIA) e Samuel P. Huntington.

Marcaria o início do fim, inaugurando a política, ou melhor dizendo “ideologia” da necessidade de instigar “desintegração controlada da sociedade.”

A Comissão Trilateral é entidade não governamental, seus membros incluem funcionários eleitos e não eleitos dispersos no mundo, ironicamente reunindo-se para discutir como tratar a “crise de democracia” no processo menos democrático possível. É organização voltada para sustentar/defender os “interesses” de seus membros, independentemente de em quem o povo tenha votado.

Afinal de contas nos anos 1970 a democracia estava obviamente estropiada, e alguém precisaria pôr as coisas em ordem de novo, certo?

Aquele grupo de elite decidiu que aquela abordagem seria a melhor para todas as democracias e, sem mais nem menos, ela foi tornada política oficial de todo o hemisfério ocidental.

Em 9 de novembro de 1978 o membro da Comissão Trilateral Paul Volcker (Chairman(*) do Federal Reserve de 1979 a 1987) afirmaria em palestra proferida na Warwick University na Inglaterra: “Desintegração controlada da economia mundial é plano válido para os anos 1980.” Essa é também a ideologia que deu forma à “Terapia de Choque” de Milton Friedman.

(*) chairman – Dirigente de grande organização ou empresa. Macmillan

Na época da Administração Jimmy Carter a maior parte do governo era gerida pela Comissão Trilateral. Quem, porém, gere a Comissão Trilateral?

Ora bem, tendo em mente que toda essa operação é conduzida como “conspiração aberta”, em maio de 1981 Henry Kissinger, que substituiu Brzezinski na direção da Comissão Trilateral, proferiu palestra na Chatham House descrevendo seu período como Secretário de Estado:

“[Os britânicos] tornaram-se participantes das deliberações internas estadunidenses, em grau provavelmente nunca alcançado entre nações soberanas… Em meu período na Casa Branca, então, mantive o Foreign Office(*) britânico melhor informado e mais estreitamente envolvido do que o fiz no tocante ao Departamento Estadunidense… Foi sintomático.” (ênfase acrescentada).

(*) Foreign Office – O departamento do governo britânico que lida com relações da Grã-Bretanha com países estrangeiros. O nome completo é Foreign and Commonwealth Office. O departamento dos Estados Unidos – US com finalidade similar é o State Department [Departamento de Estado].

Eu seu discurso Kissinger debuxou as ideologias conflitantes de Churchill e Roosevelt e concluiu apoiando a visão de mundo britânica como a mais superior das duas.

Parece que os loyalists de Churchill venceram.

Desintegração Controlada: E Caímos Todos

Em 1975 o CFR(*) divulgou estudo público de política global intitulado Projeto dos anos 1980. O tema geral era “desintegração controlada” da economia mundial, e o relatório não tentava esconder a fome, o caos social e a morte que sua política traria por sobre a maior parte da população do mundo.

(*) Council of Foreign Relations? Conselho de Relações Exteriores?

O estudo explicava que o sistema financeiro e econômico do mundo precisava de remodelação completa, com setores decisivos tais como energia, alocação de crédito e alimentos colocados sob direção de uma única administração global. O objetivo de tal reorganização seria a substituição dos estados-nações.

Todavia, antes que isso possa ocorrer os estados-nações terão de claudicar/fraquejar, ou pelo menos dar a impressão de claudicar.

O colapso do estado-nação não é fenômeno natural e sim antes o desfecho de um golpe fascista; envolvendo ditadura de banqueirospilhagem econômica e guerra permanente (a Guerra Fria nunca acabou) para tolhimento do crescimento industrial nacional.

Entre as estratégias mais eficazes para tal objetivo contam-se as revoluções coloridas, que vêm de ser a prática especializada do NED e já abrangeram, para nomear apenas alguns casos, as nações de Iugoslávia, Geórgia, Iraque, Líbano, Burma, Irã, Egito, Iêmen, Ucrânia e os protestos em andamento em Hong Kong.

Onde quer que aplicada essa estratégia, o estado visado recebe da comunidade internacional o recado de que não tem o direito de intervir e deverá ficar olhando enquanto a nação é pilhada por locustas e o governo respectivo é ‘reorganizado’.

Com o expurgo final da inteligência estadunidense e a formação de governo secreto, tornando qualquer coisa que se assemelhe a processo democrático obsoleto, a menos que alguém consiga reengatar o motor rápido logo ver-nos-emos confrontados pela profecia de Willy Brandt de nos flagarmos sem leme no meio de mar circundante de ditadura.

Notas

(1) Falando a seu fiho durante a Segunda Guerra Mundial – WWII Franklin Delano Roosevelt – FDR disse: “Sabe, várias vezes homens do Departamento de Estado tentaram esconder de mim mensagens, adiá-las, segurá-las de alguma forma, só porque alguns daqueles diplomatas de carreira não estão de acordo com o que sabem que penso. Deveriam estar trabalhando para Winston. Na verdade, em grande parte do tempo eles estão [trabalhando para Churchill]. Pense só no seguinte: vários deles estão convencidos de que o modo de os Estados Unidos conduzirem sua política externa é descobrir o que os britânicos estão fazendo e copiá-los!” Disseram-me… há seis anos, para limpar aquele Departamento de Estado. Ele é como o Foreign Office britânico….”

 

Nota: Os pontos de vista de cada contribuinte não necessariamente representam os de Strategic Culture ou de Informação Incorrecta.

Artigo original: Strategic Culture Foundation

Tradução by zqxjkv0

4 Replies to “História do Expurgo da Inteligência Estadunidense”

  1. Olá Max: gostei muito do artigo.
    Ocorre que a cada expurgo, os integrantes da CIA chamados a participar são mais “hienas e chacais”. É algo esperado porque cada dia mais a instituição está onde houver mudança de regime forçada, mais institutos governamentais de países concorrentes praticam a ciber espionagem, cada vez mais os donos do mundo dependem do envolvimento da CIA e dos governos com o tráfico ilegal de armas, diamantes, drogas e gente cuja vida absolutamente não importa Os lucros destes negócios fazem novos bilionários apátridas e apolíticos e forram os bancos de dinheiro, os donos das off shores de poder de decisão independente de qualquer caricatura de democracia ou estado de direito que é preciso com todas as letras não mais existe.
    Há coisas já totalmente globalizadas como a fome, a miséria cultural, a capacidade de pensamento. infantil.. Mas não conheço instituição tão globalizada quanto a CIA.
    No Brazil a CIA sempre teve honrosa participação, sem fazer sacrifícios. O país tornou-se totalmente americanizado, não produziu nas últimas décadas nenhuma liderança que fizesse mudanças definitivas em função do bem comum na Nação, tem um imenso território a mercê dos interesses de rapinagem nacionais e estrangeiros, nas chamadas instituições democráticas, políticas, jurídicas, fiscais e econômicas, os integrantes agem exclusivamente em favor de seus interesses financeiros e de relações. inclua-se militares e polícias de alto posto.
    Neste contexto a CIA pode grampear chamadas telefônicas de governantes, pode espionar segredos da Petrobras e roubá-los, pode inclusive treinar um cidadão com escassos recursos mentais e intelectuais ( que nem é advogado, e por extensão nem juiz ), transformá-lo em herói nacional, com o apoio decisivo dos mídia, e alça – lo futuramente a presidente lacaio dos grandes poderes.
    E o povo? Ah, o povo… continua fazendo o que sempre fez: tenta sobreviver do jeito que der, ou que não der ,porque “deus dará”.
    E para o povo, essas novas normalidades que se sucedem sequer são percebidas. O pouco tempo livre e o tempo de jovens é para curtir o boteco e a cachacinha, informar-se com a televisão aberta de uma realidade restrita e que não existe, o baile funk, curtir o face book, o vídeo game e a Netflix. Pequenos furtos ou desvios de dinheiro de outros ajudam a arranjar tais divertimentos essenciais. Inclusive o relacionamento com o chefe da droga no bairro. A meninada pode ter a disposição um revolver ou fuzil para tentar garantir a pele, e ascender um pouco em serviços de desmanche de veículos roubados, ganhar a confiança do patrão, comprar a corrente de ouro e o crucifixo dependurados no pescoço e usar com orgulho um Tênis da Nike, moderno e novinho, viver com um som ” manero” no ouvido e fazer sexo a vontade porque assim e com uma moto, mesmo usada, não tem menina que resista.

  2. O artigo tem riqueza de detalhes, mas carece de mostrar quem comanda todo este espetáculo de poder e dominação.
    A guerra fria foi criada e mantida como forma de manter uma espada acima da cabeça do mundo, tendo a ONU como sua madrinha. Kissinger, Churchill eram extremamente poderosos, mas no âmbito político/diplomático, como agentes de um poder superior garantidor. Um poder de longa data, que sempre instigou guerras e que esteve presente entre os beligerantes, um poder supranacional, que domina o comércio do dinheiro, e que forma com este mesmo dinheiro, elites nacionais suas fantoches; um poder que tem no topo de sua propaganda, uma “missão” divina para com o mundo…

    1. «…Kissinger, Churchill eram extremamente poderosos, mas no âmbito político/diplomático, como agentes de um poder superior garantidor…»

      O poder financeiro e clerical representado pelo regime da Inglaterra, o Vaticano, e os seus mercenários.

      1. Acontece que o regime nunca foi ditado pelos ingleses, mas pelo poder financeiro/econômico de elites de judeus sefarditas e asquenazes que controlam a Inglaterra desde qdo foram autorizados a voltarem para aquele país. Quanto ao poder clerical, este está nas mãos dos judeus prosélitos, desde que o capital judaico implodiu o catolicismo qdo da reforma protestante, e até hoje usam e abusam do que sobrou dessa instituição decadente como mais uma de suas “fachadas”…

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