Coronavirus: análise final do “Caso Italia”

Enquanto o Coronavirus na Europa está a desaparecer, eis uma boa ocasião para fazer o resumo da situação tendo como base alguns dados oficiais. O País analisado é a Italia, importante não apenas porque terra de origem do vosso blogueiro, mas sobretudo porque a península foi definida como um verdadeiro “caso” na Europa e no Mundo, o primeiro atingido de forma pesada pela vaga de Covid-19 fora da China, com consequências alegadamente tão devastadoras que alguns observadores falaram duma variante do Coronavirus mais mortífera daquela chinesa.

A análise dos dados oficiais serve para fechar definitivamente este capítulo, para confirmar quanto Informação Incorrecta sustentou ao longo de meses e, ao mesmo tempo, para individuar o modus operandi das autoridades sanitárias e políticas de outros Países também na campanha de desinformação global.

Para que não haja dúvidas, apontamos desde já a síntese final: o Coronavirus não passa duma gripe sazonal de baixa transmissibilidade. Até é um pouco menos letal duma qualquer gripe. Esta não é uma mera hipótese, são os dados que o demonstram de forma clara. E, repetimos, são dados oficias, aqueles fornecidos pelo ISTAT (Instituto Nacional de Estatística) e pelo ISS (Instituto Superior da Saúde). Dados mais “oficiais” do que estes não há.

O relatório foi analisado pelo Dr. Marcello Teti, Chefe do Centro de Saúde de Ponte Felcino (Perugia) e responsável do Cpt – Comité Misto Territorial de Perugia (Umbria). Um texto comprido? Sem dúvida: mas se desejarmos ter uma ideia da realidade, então não podemos ficar satisfeitos com os boatos ou os títulos dos diários: temos que analisar com atenção todos os dados. Além de pôr o ponto final no assim chamado “Caso Italia”, este artigo é também útil para observar algumas das tácticas utilizadas pelos governos de vários Países para espalhar o pânico da “pandemia”. Boa leitura.

O relatório ISTAT-ISS

O relatório do ISTAT-ISS, no qual foram publicados os primeiros dados pós-Covid-19, analisa o período mais quente da “pandemia”, aquele que vai desde Fevereiro (primeiro caso de Covid-19 oficialmente registrado em Italia) até o final de Março, com a imposição do lockdown, o confinamento obrigatório (mas há uma segunda parte do relatório que vai até Maio, como veremos a seguir). Um estudo suficientemente asséptico que, no entanto, fornece (provavelmente para além das intenções daqueles que o compilaram) elementos muito interessantes para refutar a infeliz narração desta “pandemia”.

Lendo atentamente o relatório, verifica-se que a muito “mortífera” Covid-19 é, em vez disso, uma doença com uma mortalidade muito baixa. Se na região Lombardia houve uma letalidade moderada, não foi tanto devido à virulência do vírus (que não deve ser confundida com a contagiosidade, que é de facto acentuada para este Coronavirus) mas, na sua maioria, devido aos incríveis erros cometidos por aqueles que geriram a emergência: administradores locais, governo, tecnocratas do regime.

1.0 Epidemia fatal ou simples epidemia de gripe?

O relatório confirma o que era claro desde o início. A actual “pandemia” não é sustentada por um agente patogénico particularmente mortal, pelo menos não em maior grau do que os outros vírus da gripe com os quais temos vivido durante décadas. Como uma gripe trivial, das 100 pessoas que contraem o Coronavírus, 80 recuperam espontaneamente dos sintomas muito ligeiros da doença, ao ponto que a maioria nem se apercebe que teve a infecção; 15 têm problemas que podem ser completamente resolvidos; finalmente, de 2 a 5 (mas como veremos, analisando a proporção, a percentagem é muito mais baixa) têm sintomas graves e podem morrer: geralmente são idosos, com mais de 80 anos de idade.

Como acontece com outros vírus da gripe, também no caso da Covid-19, muitas vezes a causa de morte não é directamente o vírus, mas sim as doenças que o paciente já transportava. Assim, é incorrecto, ou mesmo enganador, atribuir sic simpliciter a causa de morte ao Coronavírus em pessoas que foram testadas durante a vida ou mesmo post-mortem e que deram positivo para Covid-9. Mas a contagem dos mortos foi feita mesmo assim desde a primeira hora.

É sabido que em pessoas com patologias crónicas, qualquer situação potencialmente prejudicial (como uma simples gripe) pode precipitar um equilíbrio já muito precário. Foi exactamente isso que aconteceu na quase totalidade dos casos “fatais” de Covid-19. Nestes casos, o Coronavírus pode, no máximo, ter agido como uma espécie de “precursor” da morte para um conjunto de sujeitos já particularmente fragilizados (mais de oitenta e noventa anos, com múltiplas patologias), fatalmente destinados ao óbito em tempos mais ou menos curtos, com ou sem Coronavírus.

Não havia, portanto, qualquer razão racional, ainda que apenas de um ponto de vista sanitário, que sugerisse a loucura de bloquear todo um País, agitando o espectro de um perigo que nunca foi realmente grave, muito menos no Centro e no Sul de Italia, incluindo as ilhas.

Como afirma o recente estudo Meleam, parece que “30% da população italiana já entrou em contacto com o vírus desde o final de 2019 e já foi infectada e imunizada”. Os casos das localidades de Ortisei (45% positivo) e Vò Euganeo (75%) apoiam esta tese: provavelmente o vírus já se tinha propagado antes (talvez desde Outubro) muito mais do que era suposto e as medidas restritivas postas em prática não eram de todo necessárias. Pelo contrário, foram decididamente desnecessárias.

O citado estudo Meleam refere ainda que “90% dos infectados não apresentaram quaisquer sintomas atribuíveis à Covid-9”. E assim desaparece também a letalidade aterradora com a qual a “ciência de regime” descreve a Covid-19. Quase 30% da população italiana, 18 milhões de indivíduos, já foram afectados pela Covid-19 e nem sequer repararam porque assintomáticos.

1.1 Os números do relatório ISTAT-ISS

Mas vejamos os detalhes do estudo publicado pelos ISTAT e ISS para avaliar os efeitos da propagação da Covid-19 e a relativa mortalidade.

Foi elaborado com base em dados de 86% da população italiana (como afirmam os autores) e abrange as mortes (por todas as causas) ocorridas a partir de 20 de Fevereiro, data da primeira morte Covid-19 comunicada pelo Sistema Integrado de Vigilância, até ao final de Março, em pleno lockdown.

Estas mortes foram comparadas com o número médio de mortes (novamente para todas as causas) no período de 2015-2019.

Resultado: o número de mortes era em média de 65.592 unidades no período 2015-2019, foi de 90.946 em 2020. Por conseguinte, parece houver mais 25.354 mortes que podem ser atribuídas à presença da Covid-19.

Na realidade, isto não é de todo verdade. Entretanto, o mesmo estudo especifica que, destas 25.354 mortes adicionais, apenas 13.710 foram testadas (zaragatoa), pelo que só para estas mortes é possível indicar alguma correlação com a Covid-19. Para as restantes 11.600 mortes sem teste, algumas causas possíveis podem ser levantadas como hipótese.

a) Uma mortalidade adicional associada à Covid-19 (mortes não testadas).

São estas as famosas “mortes não contadas” que os apoiantes da extrema perigosidade da Covid-19 utilizam para justificar o duro confinamento decretado pelo Governo. Mas mesmo que estas mortes todas tivessem tido como causa a Covid-19 (o que não pode ser determinado), os números continuariam a ser mínimos (estamos a falar dum País com 60 milhões de habitantes) e não mudariam por vírgula o carácter essencialmente benigno da gripe Covid-19.

b) Mortalidade indirecta relacionada com a Covid-19.

Por exemplo, pode ser o caso de uma insuficiência cardíaca grave no qual o paciente sucumbe perante uma simples febre induzida pelo Coronavírus.

Mas a mesma febre pode ser provocada por muitos agentes patogénicos diferentes. Neste caso, não haveria especificidade da Covid-19 no determinismo da morte. Estes pacientes morreram “de Coronavirus” simplesmente porque foi esta a doença em circulação, mas teriam morrido igualmente por qualquer outra doença, inclusive duma normal gripe sazonal.

Há ainda que acrescentar que o equilíbrio de uma descompensação grave é tão precário que mesmo um ligeiro aumento da pressão arterial, mesmo uma emoção intensa, poderia causar a morte. Falar aqui de “morte de Covid-19” não faz sentido: estes são partes daqueles 600.000 óbitos anuais “de gripe”.

c) Finalmente, a outra hipótese para justificar as 11.600 mortes é a de uma mortalidade indirecta não relacionada com o vírus mas causada pela crise do sistema hospitalar nas zonas mais afectadas.

A este respeito, há o recente grito de alarme lançado pela Associação Italiana de Cardiologistas, preocupada com o número crescente de mortes em doentes cardíacos. A causa? Falta de controlos hospitalares devido ao encerramento de enfermarias e cirurgias, provocado pelo alarme Covid-19 e ao maciço desvio de médicos e enfermeiros para as zonas afectadas pela Covid-19 do País.

Mas não podemos esquecer também o receio dos doentes em serem infectados ao irem ao hospital para fazer os check-ups. Veremos, no futuro, se a hipótese apoiada pelos cardiologistas for verdadeira. Se assim for, o número destas mortes “negligenciadas” (11.600) seria quase igual ao número de mortes (13.710) positivas para a Covid-19. Uma situação irracional e paranóica na qual não se morre de doença mas de medo da doença.

1.2 O Relatório do Grupo de Vigilância Covid-19

Mas passemos à parte mais interessante do relatório ISTAT-ISS: o Relatório editado pelos membros do Grupo de Vigilância da Covid-19. Este relatório descreve as características dos doentes que morreram positivos à infecção por Sars-Cov-2 em Itália, com dados actualizados até o dia 7 de Maio: como consequência, o número de mortes é um pouco mais elevado do que o acima referido.

A análise baseia-se, de facto, numa amostra (os dados recebidos dizem respeito a 86% da população italiana) de 27.955 doentes que morreram positivos à infecção por Sars-Cov-2 em Itália.

a) Distribuição dos óbitos

Observando a distribuição das mortes, verifica-se que 73.5% ocorreram apenas em 3 regiões: Lombardia, Emilia Romagna (mais precisamente a parte norte desta região) e Piemonte.

Destes, só na Lombardia o número de mortes foi 52.3% do total das mortes em Itália. Isto diz muito sobre o facto de que nessa região foram cometidos erros muito graves; e não acaso a Procuradoria da República está agora a investigar as decisões tomadas na pior altura da emergência.

Os dados permitem-nos desmascarar a narração de um Norte completamente imerso na pandemia. Na realidade, em muitas regiões do Norte de Itália os números são pequenos:

  • Friuli Venezia Giulia: 1.1% de mortos
  • Valle d’Aosta 0.5%
  • Trentino Alto Adige: 2,6%
  • Liguria 3.8%

Na região do Veneto, da qual muito foi falado nos últimos meses, o número de mortes ascende na realidade a 5.7%.

No resto da Itália, no Centro e no Sul, os números são decididamente baixos. Em muitas regiões como Molise, Umbria, Basilicata, Calábria, Sicília e Sardenha, os mortos não ultrapassam 0.3 %.

Assim, o número de óbitos e a sua localização geográfica, meses após o início da epidemia, testemunham que não havia necessidade médica de proceder a um bloqueio total do País, com todas as dramáticas consequências económicas e sociais que isso implicou. Confirmam que no próprio Norte, e em particular na Lombardia, teria sido preciso um isolamento selectivo dos surtos de infecção e a identificação dos portadores assintomáticos, as medidas mais correctas a tomar quando existe a ameaça de uma epidemia, para evitar a sua propagação.

O lockdown do inteiro País não reflectiu uma exigência sanitária, reflectiu outros tipos de exigências que nada têm a ver com o domínio da saúde e que já foram analisadas nos respectivos artigos publicados nestas páginas.

b) Dados demográficos

Analisando os dados demográficos, verifica-se que a idade média dos doentes falecidos positivos ao SRA-CoV-2 é de 80 anos, enquanto nas mulheres chega a atingir os 85 anos.
A idade média dos doentes falecidos é cerca de 20 anos superior à idade média dos doentes infectados (idade média dos doentes falecidos: 81 anos, dos doentes infectados: 62 anos).

Estes dados também permitem tecer algumas considerações.

Entretanto, temos de desmascarar a ambiguidade básica dos “especialistas” que criam deliberadamente a confusão dos termos morbilidade (a taxa de portadores de doença) e mortalidade (número de mortos por doença, para simplificar) para difundir a ideia de que a “pandemia” não poupa ninguém e que todos indiscriminadamente (crianças, jovens, adultos, idosos) estão expostos ao risco de morrer se formos infectados, independentemente da idade.

O já citado estudo de Meleam demonstrou que “a Covid-19 não tem qualquer hipótese de matar um indivíduo em boa saúde e com menos de 55 anos de idade”. De facto, o mesmo relatório ISTAT-ISS diz-nos que, na faixa etária entre 0 (zero) e 39 anos, apenas 66 pessoas morreram dos que sucumbiram perante a “pandemia” (27.955 indivíduos) durante o mesmo período.

Além disso, destes 66 jovens pacientes que morreram, 40 tinham doenças graves pré-existentes (cardiovasculares, renais, psiquiátricas, diabetes, obesidade) deduzidas do exame dos registos médicos estudados pelo Grupo de Vigilância Covid-19. Não havia registos de saúde disponíveis para a análise correcta das causas de morte de 14 sujeitos e, finalmente, apenas 12 pacientes não apresentaram patologias pré-existentes dignas de nota. Isto poderia sugerir uma acção directa da SRA-CoV-2 para determinar a morte destes sujeitos: mas estamos a falar de 12 das 27.955 mortes positivas Covid-19, doze indivíduos no universo de 86% da população analisada, é um número realmente irrisório.

Depois temos que falar da taxa de mortalidade completamente ausente entre os grupos etários de 0-19 anos (que inclui os grupos etários desde o ensino básico até ao ensino secundário, bem como as crianças que frequentam os jardins de infância). O relatório não encontrou mortes nesta faixa etária. Pelo que, também neste caso não se compreende a escolha do Governo não apenas italiano de fechar tudo, escolas, universidades, fábricas, escritórios, restaurantes, bares, até igrejas.

Por um lado, as autoridades afirmaram hipocritamente querer salvaguardar a saúde, mesmo daqueles que teoricamente estariam no fim do seu ciclo natural de existência, como os que têm mais de 80 ou 90 anos.

Mas, nos factos, deixaram morrer milhares deles, não os protegendo no início da epidemia como deveriam e poderiam ter feito, reduzindo o contacto e o risco de infecção dos idosos, especialmente dos mais vulneráveis. Depois, irresponsavelmente, aumentando a oportunidade de contágio, colocando pacientes portadores de Covid em dezenas serviços de urgências (províncias de Bergamo e Brescia) ou lares, o que foi o equivalente de colocar um fósforo num barril de pólvora.

E as camadas mais jovens? Não só em Itália, mas também em todo o mundo, os casos de morte de crianças e jovens adultos são extremamente raros e é hoje um facto comprovado a paucisintomaticità (a ausência de sintomas) em crianças e jovens. Num estudo, o Prof. Gian Vincenzo Zuccotti, pediatra do Hospital Infantil V. Buzzi de Milano, entre outras coisas, relata o seguinte:

…no último trabalho de Wu Zunyou, Chefe do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças, de 72.314 casos comunicados, 965 casos são de infecção por Coronavírus entre os 10 e os 19 anos de idade, 416 casos entre os 0 e 9 anos de idade e reitera-se que não ocorreram mortes com menos de 9 anos de idade.

No mesmo estudo é realçado como na faixa etária entre 10 e 19 anos de idade houve apenas um caso de morte.

Em suma, as crianças e os jovens são afectados de forma irrisória pelo Coronavírus, à semelhança do que aconteceu na anterior epidemia da SARS.

Também em Itália, não se registaram casos fatais no grupo etário 0-19, tal como salientado no relatório ISTAT-ISS. Pelo contrário, presume-se que em Itália os jovens infectados, graças ao seu sistema imunitário (imunidade inata) intacto, foram rapidamente curados e imunizados com a mesma rapidez. Não é, portanto, arriscado acreditar que em Itália, nas faixas etárias mais jovens (devido à maior mobilidade dos jovens em comparação com os idosos) já tenha sido criada uma espécie de imunidade de rebanho.

A este respeito, o referido estudo Meleam considera o confinamento prejudicial porque “impede a criação de uma forma de imunidade do rebanho, especialmente num período em que o clima mais quente enfraqueceu o vírus”. Em suma, nada indicava a opção drástica de impedir o funcionamento do mundo escolar ou o confinamento.

Se fosse utilizada a mesma lógica miserável de encerramento de todas as escolas e das actividades, seria preciso fazer isso anualmente devido à gripe sazonal: de facto, esta doença provoca a cada ano milhares de mortos (mais de 70.000 em toda a Europa) e, só em, Italia, entre 4 e 7 milhões de doentes (com picos de 10 milhões).

E no futuro deveria ser ainda pior, pois teremos que lidar com os vírus da gripe mais o SRA-CoV-2 que por aqui ficará. Mas continuemos com a análise do relatório.

c) Condições pré-existentes

Os dados mais interessantes são os que resultam da análise de patologias pré-existentes de sujeitos falecidos Covid-positivos. Os dados foram obtidos de 2.682 pacientes mortos e dos quais foi possível examinar os registos médicos. Representam uma amostra bastante significativa (mais ou menos 10% do total dos óbitos) e os resultados podem ser transferidos com suficiente certeza ao número total de mortes: os 27.955 pacientes que morreram sendo Covid-positivos.

A análise dos registos médicos que destes 2.682 pacientes, 101 (3.9 %) apresentavam 0 (zero) patologias pré-existentes.

Também aqui, como no caso das mortes em doentes mais jovens (os 12 casos que já examinámos), pode ser feita a hipótese de uma acção directa da Covid-19 na determinação da morte. Mas reiteremos que representam apenas 3.9% do total.
Por outro lado, a maioria dos falecidos 1.569 (59.9%) tinha 3 ou mais patologias; 558 pacientes (21.3 %) tinham 2 patologias; finalmente, 393 pacientes mortos (15.0 %) tinham 1 patologia.

É suficiente transferir estas percentagens ao total de mortes Covid-positivas (27.955 à data do estudo em questão) para perceber que o óbito destes frágeis idosos foi causado por patologias pré-existentes e não pela acção directa do Coronavírus, que estes doentes com patologias graves morreram presumivelmente “com o Coronavírus” e não com “de Coronavírus”, como já muitas vezes afirmado.

O exacto contrário do que espalhado pela comunicação social: “Boom de mortes de Covid”, “Bergamo shock: mortos + 598%, Cremona + 391%, Lodi + 371%”, “O Norte paga um preço muito elevado em vias humanas”, estes alguns dos títulos utilizados. Em vez de uma análise séria e fundamentada dos dados contidos no relatório, apenas se deram ao trabalho de os extrapolar e de construir sobre eles o habitual boletim de guerra para continuar a aterrorizar a opinião pública. Para o efeito, utilizaram também quantidades de cálculo como o aumento percentual do número de mortes que, como veremos, é completamente enganador: um chamariz, bom para fazer manchetes nos jornais, mas que certamente não nos ajuda a compreender o que realmente se está a passar.

Não é por acaso que os dados mais correctamente utilizados em Epidemiologia são os da mortalidade, da letalidade, da morbilidade; e isto aplica-se a qualquer doença infecciosa ou não infecciosa.

No entanto, para compreender melhor, há que começar por fazer uma premissa necessária sobre os termos de mortalidade e letalidade. A distinção entre os dois termos não é semântica, mas substancial.

A taxa de mortalidade é o rácio entre o número de mortes no total da população média presente no mesmo período de observação (e não no número de pessoas doentes).
A taxa de letalidade é a relação entre as mortes por uma doença e o número total (sintomático e não sintomático) de indivíduos afectados pela mesma doença, dentro do período de observação especificado.

Assim, falar de mortalidade de 2 % ou 3% por causa da Covid-19 sem dizer o que é o 100 (o total examinado) é um erro macroscópico e só pode gerar desorientação, confusão, medo: é suficiente pensar que em Italia a mortalidade por todas as causas é geralmente pouco mais de 1%, o que corresponde às 647.000 mortes que, por exemplo, ocorreram em 2019.

1.3 Quanto mata a Covid-19

Primeiro revejamos os números, depois apliquemos as várias taxas.

Segundo o relatório ISTAT-ISS, vimos que o número de mortes que se pode presumivelmente atribuir directamente à Covid19 é de apenas 3.9% das 27.955 mortes positivas à Covid analisadas (aquelas com 0 patologias pré-existentes). Repetimos: mortes provocadas directamente pelo vírus, não mortes provocadas pelas consequências despoletada pelo vírus em indivíduos já doentes.

Uma percentagem de 3.9% significa um total de 1.090 mortes. Daqui resulta que a taxa de mortalidade (nº de mortos/população total) da Covid-19 é de 0.0018 (1090/60 milhões de italianos). É a mortalidade duma qualquer gripe sazonal, até um pouco mais baixa (uma gripe sazonal fica mediamente na casa de 0,1%).

Mas admitamos também, por absurdo, que as 27.955 mortes que se revelaram positivas para a Covid no período em análise, morreram todas por causa da Covid-19, o que não é de todo verdade, como vimos. Neste caso, a taxa de mortalidade seria de 0.046 (27.955/60 milhões). Por conseguinte, estamos longe da taxa de mortalidade de 2 – 5% que foi relatado para o Coronavírus. Até estamos ainda um pouco aquém da taxa de mortalidade da gripe sazonal.

Como foi possível, então, que as autoridades sanitárias anunciassem um aumento da mortalidade em 2020 quando comparada com as mortes no mesmo período (Janeiro-Abril) de 2019? Há por aqui uma pequena astúcia, rapidamente revelada.

Vamos dar um exemplo para entender melhor.

Digamos que numa aldeia pequena, em 2019, morreu uma pessoa no período Janeiro-Abril, enquanto no mesmo período em 2020 morreram duas pessoas. Poderíamos pensar que a taxa de mortalidade aumentou 100%. Mas com este raciocínio, se na nossa aldeia imaginária tivessem morrido 3 pessoas, o aumento da mortalidade seria de 200%, com 4 mortes seria 300% e assim por diante.

Isso não faz sentido, mesmo uma criança de 3 anos de idade com alguma familiaridade com o ábaco sabe que não se pode raciocinar de tal forma. Onde está o truque? O truque está em não dizer em relação a que é feita aquela percentagem.

No caso da pequena aldeia, efectivamente o número de mortes em 2020 aumentou 100%, mas aquele 100% é em relação ao numero de mortos do ano anterior, em 2019 (um morto), não em relação à população da aldeia.

Voltando à realidade: se em analisarmos correctamente os dados da mortalidade, (mortos/habitantes X 100), veremos que o aumento da mortalidade por exemplo em Bergamo (um dos centros mais afectados) é de 0.5%; em Brescia 0.27%; em Génova 0.1%; em Milão 0.07; em Codogno e Alzano Lombardo, que são as aldeias símbolos desta epidemia, o aumento foi de 0.64% e 0.78%, respectivamente.

E no resto da Itália? Não se verificou qualquer aumento, de facto o número de mortes no mesmo período até diminuiu.

Uma coisa é certa: nas zonas mais afectadas, a mortalidade aumentou de algumas casas decimais. E isso causa menos impressão, mesmo que esteja correcto. Bem diferente é assustar deliberadamente as pessoas, falando de aumentos da mortalidade de 400-500% e assim por diante. Aqui reside a alma da propaganda.

Ninguém que nas zonas mais afectadas do Norte se registaram mortes, tanto pela contagiosidade da Covid-19 como pela insipiência com que a epidemia foi enfrentada em algumas Regiões (sobretudo numa, a Lombardia). Mas isto não diminui o facto de que a imagem dramática que queriam dar, tanto do Norte como de todo o País, era clamorosamente falsa. Assim como falsa é a ideia (como já foi demonstrado) de que é possível relacionar à Covid-19 todas as mortes que ocorreram em Itália e, em maior medida, no Norte naquele período.

Em suma, nada aconteceu que possa justificar o duro bloqueio imposto primeiro a todo o Norte e depois também ao resto do País. E ainda menos admissível é o facto das medidas de contenção continuarem a existir.

1.4 A letalidade da Covid-19: uma construção ainda pior

Se tomarmos como bons números, a letalidade da Covid-19 calculada em 7 de Maio de 2020 (ou seja na data do relatório ISTAT-ISS) atingiria quase 13.9% em Itália. Na Lombardia seria 18.4%. Uma letalidade muito elevada e preocupante: basta dizer que a temível SARS tinha 10% de letalidade.

Esta percentagem é obtida tendo como numerador as 29.958 mortes oficiais (o dado mais actualizado e completo do relatório) e como denominador o número total de casos de Covid-19 no País todo: 215.858, número fornecido pelo Ministério da Saúde, sempre na mesma data.

De facto, se numerador e denominador fossem verdadeiros teríamos certamente a percentagem de 13.9%. Mas mesmo aqui há o engano.

Em primeiro lugar, o numerador (29.958 mortes ) deve ser fortemente corrigido. O mesmo estudo ISTAT-ISS admite que é preciso subtrair um total de 11.600 mortes que não foram testadas e que, por conseguinte, não podem ser correctamente definidas como mortes por Covid-19. Isto reduz o total para 18.358.

Mas mesmo aqui temos de nos colocar a pergunta habitual: estes sujeitos (geralmente idosos, doentes crónicos) morreram “de Covid”? Ou as verdadeiras causas de morte se encontram nas multi-patologias pré-existentes que determinaram o óbito? Ou seja, morreram “com Covid”, mas não necessariamente “de Covid”.

Vimos no Relatório do Grupo de Vigilância da Covid19 que apenas 3.9 % dos sujeitos não tinham patologias pré-existentes e só para esses sujeitos se podia afirmar com segurança o papel fundamental do vírus na determinação da morte. Assim, se compararmos esta percentagem às 18.358 mortes positivas para a Covid-19, deduzimos que apenas 716 mortes podem ser classificadas como mortes “de Covid” e podem ser seguramente colocadas no numerador para calcular a letalidade do vírus.

Mas também o denominador é um artefacto. Na verdade, os 215.858 doentes são apenas os doentes contados nos hospitais ou isolados em casa após a zaragatoa. Este total não tem em conta todos os outros pacientes: os que tiveram sintomas muito ligeiros ou os assintomáticos.

Agora todas estas pessoas (o estudo de Meleam fala de 30% da população italiana) devem ser incluídas no denominador, a fim de determinar com exactidão a verdadeira letalidade da Covid-19.

É certamente difícil dizer com certeza quantos sujeitos com sintomas ligeiros ou até assintomáticos existem, mas é provável que existam milhões de indivíduos. Para ter uma ideia, é possível considerar que na última vaga de gripe sazonal (2019 – 2020) foram infectadas mais de 5 milhões e meio de pessoas. Não é um arriscado acreditar que, mesmo no caso da Covid-19, possa haver o mesmo número de pessoas infectadas (sem esquecer que o estudo Meleam, ao calcular uma percentagem de 30% entre a população italiana, aumenta o total até 18 milhões de contagiados).

Agora, se colocarmos totais mais realísticos tanto o numerador como no denominador, a letalidade da Covid-19 à escala nacional é reduzida a percentagens muito baixas (ínfimas se considerarmos os valores do estudo Meleam). Em suma, reiteramos o facto de tanto a mortalidade como a letalidade da Covid-19 à escala nacional serem realmente baixas, quase insignificantes. Com boa paz do terrorismo sanitário.

1.5 O caso da Lombardia: uma Região fora de controlo

É evidente que, na Lombardia, a situação ficou descontrolada.

É a Região com o epicentro do contágio, onde se concentra mais de um terço dos casos confirmados (mais de 80.000, em 7 de Maio de 2020) e quase metade das vítimas italianas (14.745 de um total de 29.958 na mesma data). Os dados são os fornecidos pelo Ministério da Saúde. Uma situação desastrosa.

Tão desastrosa em comparação com as realidades regionais vizinhas que não pode ser explicada apenas pela epidemia do Coronavírus, quanto mais pela combinação de circunstâncias infelizes, mas apenas pela inadmissível inépcia da classe política local (administradores, conselheiros, presidente regional, gestores de saúde), do governo central e do seu vasto comité de conselheiros sanitários.

Com os seus incríveis erros, conseguiram provocar uma tal onda de mortes, doentes, infectados, que o vírus por si só não teria conseguido. Uma verdadeira obra-prima de escolhas erradas, de decisões súbitas tomadas com base em dados falsos, de total confusão sobre o que fazer e o que não fazer.

Mas vejamos em pormenor estes erros, que, de facto, na Lombardia causaram um número substancial de mortes, tendo em conta a brevidade do tempo em que ocorreram.

a) O atraso, nas fases iniciais da epidemia, no encerramento das áreas mais afectadas, que impediu que os surtos fossem circunscritos.

Isto tem tido consequências trágicas. De tal forma que o incêndio rapidamente deflagrou nessas zonas. Nessa altura, a selagem da Lombardia e de outras 14 províncias do Norte de Itália por decreto, impondo restrições a cerca de 16 milhões de pessoas, foi inútil, era demasiado tarde. Era como querer fechar o estábulo quando os bois já fugiram. No Veneto (Região contígua), por exemplo, a reacção mais rápida na contenção dos primeiros surtos (baseada no encerramento selectivo e imediato das áreas infectadas e num maior número de testes para rastrear a cadeia de contágio (testes realizados também em assintomáticos, ao contrário das indicações dadas pelos “especialistas” do governo central) permitiu manter a epidemia sob controlo.

b) A ausência quase total de actividades de higiene pública (isolamento de contactos, zaragatoas no território para doentes e contactos, identificação de surtos de infecção) determinada a montante pela ausência de uma verdadeira medicina local na Lombardia.

O corte nas despesas de saúde e a acentuada privatização dos cuidados de saúde na Lombardia empobreceram, de facto, particularmente este sector fundamental da saúde pública. Esta falta de estratégias na gestão do território contribuiu grandemente para as graves disfunções que ocorreram nesta Região. Pois: austeridade e privatização, eis os resultados.

O envolvimento dos médicos de clínica geral; a aplicação limitada de zaragatoas, feitas, na prática, apenas àqueles que chegavam ao hospital (e só aos que presentavam sintomas); a não disponibilização de locais para isolar as pessoas que apresentavam resultados positivos, o que rapidamente levou à saturação das camas hospitalares com a necessidade de manter os doentes, incluindo os que se encontravam gravemente afectados por outras doenças, em áreas mal equipadas do ponto de vista da saúde.

Tudo isto conduziu a uma pressão quase insuportável sobre toda a estrutura hospitalar lombarda e contribuiu para a tragédia vivida em muitos hospitais da Região, onde os profissionais de saúde foram obrigados a operar sem protecção adequada, os doentes mais idosos morreram sozinhos sem sequer receberem cuidados paliativos e o conforto das suas famílias. Já para não falar das muitas pessoas que não puderam ser hospitalizadas devido à falta de camas.

c) Outro erro verdadeiramente inconcebível, para não dizer criminoso, foi a transferência para as RSA (as RSA, Residenze Sanitárie Assistenziali, são estruturas não hospitalares que acolhem, durante um período que varia de algumas semanas a tempo indefinido, pessoas que não são auto-suficientes, que não podem ser assistidas no domicílio e que necessitam de cuidados médicos específicos e de uma assistência médica articulada) e centros de dia para idosos de doentes certificados Covid dos hospitais da Região, o que viabilizou o contagio de hóspedes particularmente frágeis destas estruturas e produziram o triste balanço em termos de vidas humanas que todos conhecemos e sobre o qual a Justiça está agora a investigar.

São números enormes que o governo pensou espectacularizar confiando o transporte dos cadáveres a camiões militares para alarmar ainda mais os cidadãos.

Outro erro trágico foi o de não ter separado imediatamente os percursos dos Covid-positivos dos outros residentes idosos e, no caso dos hospitais, dos doentes comuns.
Como foi feito, por exemplo, nos hospitais do Veneto, desde as fases iniciais da epidemia

d) A incapacidade de encontrar equipamentos de protecção individual (EPI), especialmente para médicos e pessoal de saúde nos hospitais, mas também para médicos locais (médicos de clínica geral, pediatras, nos cuidados e médicos das RSA, etc.).

Isto levou à morte de médicos, mas favoreceu sobretudo a propagação do contágio, especialmente nas fases iniciais da epidemia, uma vez que os próprios profissionais de saúde agiram como verdadeiros “difusores” do contágio.

A inexplicável incapacidade de realizar testes aos próprios profissionais de saúde estimulou então cada vez mais a propagação do contágio, uma vez que não foi possível identificar com segurança estes “difusores” inconscientes e colocá-los em quarentena. Tanto que continuaram a operar em hospitais (públicos, privados, lares, RSA) num contexto de promiscuidade absoluta entre os doentes saudáveis, infectados assintomáticos e tudo o mais. Pelo que, os próprios hospitais tornaram-se um notável foco de contágio.

e) A falta de dados sobre a propagação exacta da epidemia que, na melhor das hipóteses, podemos definir como imperfeitos e enganadores, dados que, realisticamente, não foram capazes de descrever a realidade epidemiológica na Região. Com a consequência de que nenhuma intervenção foi correctamente orientada e eficaz.

Tudo isso aconteceu numa das 20 Regiões italianas, por acaso na mais populosa (10 milhões de habitantes): foi suficiente para criar o “caso Italia”. País que, na realidade, sofreu a vaga infecciosa dum vírus que, como vimos, foi menos letal do que uma normal gripe sazonal.

 

Ipse dixit.

2 Replies to “Coronavirus: análise final do “Caso Italia””

  1. Enfim algum relatório oficial pormenorizado, contando a verdade, e não tendo receio de denunciar as mentiras. Será que outros países farão coisa semelhante? Seria necessária ampla divulgação para acabar de vez com esta farsa.
    Mas, por aqui, as coisas andam com passos muito pesados. Embora os hospitais de campanha em campos de futebol já tenham sido desmontados, embora o comércio e os negócios em geral tenham sido parcialmente retomados (por pressão dos empresários), embora nas grandes cidades metade do povo já tenha deixado as máscaras, em Sto. Amaro o pessoal é por demais disciplinado. O prefeito não pode mandar abrir covas para enterrar os mortos porque durante este tempo todo só 7 casos confirmados de Covid – 19 (deve ter ficado devastado).
    No entanto quem não usa máscara (conta-se nos dedos) é multado, inclusive se estiver dentro do próprio carro. Parece que o povo gostou das “aulas on line” porque tudo igual em escolas e universidades. E o relatório oficial é só para dizer que mais mortes não houve porque os cidadâos “deram uma lição de cidadania”. Até hoje só põem o pé para a rua em casos de muita necessidade.
    Aqui neste país jamais haverá um relatório como esse do artigo.

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