Coronavirus: Trump corta os fundos da OMS

A primeira decisão verdadeiramente política contra o Coronavírus vem de Washington: o Presidente Donald Trump anuncia o corte dos fundos dos EUA à Organização Mundial de Saúde, a OMS. A acusação, formal: o OMS seria demasiado pró-Chinês. A retaliação estava no ar há algum tempo depois de se terem multiplicado as tensões entre a agência de saúde ligada à ONU e a Casa Branca. Trump acusa a OMS de gestão “desastrosa” da pandemia. Em particular, não perdoou à agência por tê-lo atacado quando proibiu a entrada de viajantes oriundos da China. Acusado por ter supostamente subestimado  pandemia e criticado por muitos Governadores de Estado dos EUA, Trump sempre afirmou ter agido mais cedo do que outros ao proibir as viagens entre a China e o território americano (por acaso, também a Itália foi entre os primeiros Países a lançar tais restrições, tendo sido criticada pela OMS).

Os meios de comunicação social americanos, mesmo os mais “progressistas” e críticos de Trump, não foram brandos com a OMS. Várias vezes foi salientado que a organização de saúde esperou um mês antes de declarar a pandemia; e o seu Director-geral, Tedros Adhanom, deslocou-se até Pequim para prestar homenagem a Xi Jinping, mantendo o silêncio sobre a censura inicial com que o Governo chinês escondeu a epidemia.

Por qual razão a OMS foi cúmplice de Pequim no silêncio? Por qual razão a OMS criticou quem decidiu interromper as ligações directas com a China? Trump observa também que a influência chinesa aumentou no seio da OMS (e de outras agências da ONU) embora os Estados Unidos continuassem a ser o País que mais financia a instituição. No entanto, muitos observadores americanos, por exemplo o “filantropo vacináro” Bill Gates, argumentam que uma das lições desta pandemia deveria ser o reforço da cooperação internacional. Correcto. Aliás: a cooperação internacional deveria ser regra básica sempre, não apenas em ocasião de “pandemias”. Mas quais são as condições desta cooperação?

O principal alvo de Trump é o Director da OMS, o etíope Tedros Adhanom, que passou do violento governo da Etiópia para a troca de favores com a China. Desde o surto da pandemia, Tedros tem repetidamente elogiado Pequim, de uma forma gritante, continuando o silêncio acerca a censura chinesa antes e das fortes dúvidas quanto ao número dos óbitos depois. O que fica por trás? Simples: Xi Jinping prometeu-lhe duplicar os financiamentos de Pequim. E não é tudo: a China e a OMS estão duplamente ligados por projectos económicos e de infra-estruturas, por um valor de vários milhões de Dólares. Na verdade, a Etiópia é considerada uma “porta” estratégica para a penetração chinesa no continente negro. Geopolítica, portanto: é por isso que Trump (que não esquece as eleições presidenciais de Novembro) ) está agora a tentar obstaculizar a OMS, vista como uma aliada das ambições “imperiais” da China em África, em concorrência aberta com o imperialismo financeiro e comercial dos EUA.

Mas há algo mais, evidentemente. Aquele de Trump é o primeiro acto político, fortemente simbólico, que marca uma clamorosa ruptura da unanimidade mundial imposta pela pandemia. Uma situação mais do que anómala, em que o OMS conseguiu retalhar-se um espaço anómalo, impondo a receita de Wuhan (quarentena e recolher obrigatório) a todos os governos. “Teremos de entrar nas vossas casas e levar os infectados”, chegou ao ponto de declarar Michael Ryan, Director Executivo da OMS. E Trump sabe quem é o maior financiador privado da OMS: tal Bill Gates…

A ruptura da pax sanitaria imposta por Trump ao colocar os tecnocratas OMS fora de serviço, reacende inevitavelmente os holofotes nos bastidores na origem da catástrofe, com a troca de acusações entre os EUA e a China. Por um lado, Pequim, que pinta os Estados como um possível vector do surto de Wuhan, graças à presença (nos “Jogos Olímpicos militares” do Outono passado) de soldados americanos que podem ter sido portadores do vírus. Ao mesmo tempo, a suspeita especular do laboratório chinês de Wuhan, do qual poderia ter saído (acidentalmente ou não) o Coronavírus Sars-Cov-2.

Mas seria limitativo pensar apenas nos soldados americanos e no laboratório chinês. Com o tempo emergiu um estudo produzido com bastante antecedência pela Universidade Californiana de Berkeley, um estudo financiado pela Darpa, a agência do Pentágono que desenvolve armas experimentais, incluindo armas biológicas e bacteriológicas. Apesar das muitas incertezas, a comunidade científica parece partilhar uma convicção: se este vírus foi deliberadamente “criado” num laboratório, modificando geneticamente o RNA, é praticamente impossível prová-lo. Em outras palavras: se fosse um crime, seria um crime perfeito. Mas eis a questão: para além dos sectores chineses e ocidentais envolvidos no caso, por detrás do véu ritual dos diplomatas, parece emergir um possível papel da OMS em volta da obscura origem do vírus.

Este parece ser o verdadeiro objectivo de Trump: denunciar possíveis enredos sombrios, não apenas chineses, por detrás da poderosa organização de saúde das Nações Unidas. De facto, o laboratório de Wuhan funcionava sob a supervisão do OMS, que pouco depois quase tomou o poder de decisão em quase todo o lado, instalando os seus homens nos governos e pilotando a gestão da emergência de uma forma muito rigorosa, a ponto de pôr em perigo a sobrevivência de inteiras economias inteiras, com o risco de um colapso social também. Até agora, os grandes Países dominados pela pandemia sofreram o modelo Wuhan, limitando-se a um jogo de remessas para limitar os prejuízos económicos. Espectacular, neste caso, a hipocrisia da União Europeia: incapaz, graças à elite financeira alemã, de sair realmente da psicopatologia do rigor.

Neste quadro eis que Trump baralha as cartas: a decisão de cortar os financiamentos parece o prólogo do dia em que serão feitas as contas com a OMS. E naquele dia, a OMS terá de explicar no que se tornou realmente e quais forças investiram nela para torna-la no novo e potencial governo sombra do planeta. Um quase-regime, pronto a confiscar a liberdade e a democracia sob a liderança de uma “polícia de saúde” não transparente e nada tranquilizadora, capaz de impor a sua agenda.

Mas não para todos: não para os EUA. E sim, pessoal, estamos reduzidos a torcer por Trump. Chama-se “o mal menor”.

 

Ipse dixit.

17 Replies to “Coronavirus: Trump corta os fundos da OMS”

  1. O Presidente Trump está a destruir passo a passo os tentáculos do «Estado Profundo» no seu país que se estendem para lá da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo a união europeia (ue) um exemplo disso.

    Arrisco a dizer com algumas ressalvas, que o Presidente Trump colocará um fim ao corrupto sistema económico mundial criado e dominado pelo regime da Inglaterra; neste momento estamos a assistir à derrocada do neoliberalismo e das instituições e governos que sustentam e fomentam esta nefasta ideologia que semeia a miséria, desemprego, e o caos financeiro e social, por onde passa.

    Quanto ao papel da República Popular da China (RPC), vamos aguardar para ver. Na minha opinião considero que a nação chinesa irá surpreender o Mundo, mas só mais para frente é que podemos tirar uma conclusão.

    1. Estamos de acordo meu caro JF ( apenas espero que o tio Donald não tenha nenhum acidente de percurso como J.F. Kennedy, o que neste momento começa a ser equacionavel) apenas não compreendo como é que este comentário é conciliável com a visão de C.J. Hopkins do Admirável Mundo Normal.

      1. «…apenas espero que o tio Donald não tenha nenhum acidente de percurso como J.F. Kennedy, o que neste momento começa a ser equacionavel…»

        Bob Dylan na sua mais recente canção, «Murder Most Foul», refere-se ao assassinato do ex-presidente John Kennedy pelo «Estado Profundo», tantas vezes denunciado por Donald Trump.

        Em mais uma notável canção de Dylan com uma letra magistral, direi mesmo um hino à História dos Estados Unidos da América do Norte e toda a sua cultura, o cidadão comum pode voltar a reflectir e começar a entender o que se está a passar… é um incentivo aos norte-americanos à redescoberta das suas raízes e dos valores e objectivos que deram origem aos EUA.

        Em relação à sua dúvida, lembre-se que isto é uma guerra onde aquilo que parece não é, e este artigo é sobre o corte de financiamento por parte de Trump à OMS não tendo nada a ver com o conteúdo do artigo «Admirável Mundo Normal».

        1. Estamos de acordo que é uma guerra em que Trump tenta dominar o estado profundo e C.J. Hopkins no seu ensaio “Admirável Mundo Normal” parece dar essa mesma guerra como perdida . Não me parece que C.J. Hopkins jogue na mesma equipa … Se vê o contrario explique-me porque eu não consigo ver .

          1. https://www.unz.com/chopkins/trumpenstein-must-be-destroyed/

            Excerto do mesmo CJ Hopkins em 04 de Outubro de 2019

            “… Não que Donald Trump seja um herói populista. Longe disso. Trump é um palhaço narcisista. Ele sempre foi um palhaço narcisista. Tudo o que ele realmente se importa é ver seu rosto na televisão e colocar seu nome em tudo o que está à vista, de preferência em enormes letras douradas. Ele foi eleito presidente por ser astuto o suficiente para reconhecer e enfrentar o tsunami de raiva populista que estava se formando em 2016, e que continuou a crescer ao longo de sua presidência. Não está indo embora, essa raiva. As massas ocidentais não estão mais empolgadas com o futuro capitalista global hoje do que quando votaram no Brexit e Trump, e em várias outras figuras “populistas” e reacionárias. É exactamente por isso que “Trumpenstein” deve ser destruído…”

            Portanto o homem advogava destruir o “Trumpstein” e na sua teoria que opunha globalismo a populismo achava que Trump fora eleito para destruir o populismo e agora neste contexto de “pandemia” em que “Trumpstein” pare ser o mais eficaz opositor ao Globalismo… nem uma palavra sobre o Trumpstein ???

            Volto a transcrever do mesmo texto:

            ” ..De um jeito ou de outro, é isso. Esta é a parte em que as classes dominantes capitalistas globais nos ensinam uma lição. A lição que eles pretendem nos ensinar é a mesma velha lição que os mestres ensinam escravos desde o início da escravidão. A lição é: “abandone a esperança”. A lição é: “a resistência é inútil”.

            E aqui volto ter a mesma sensação que tive no texto “O Admiravel Mundo Normal” CJ Hopkins esta a combater o Globalismo ou a moldar o nosso pensamento para aceitar as “lições” supra dos capitalistas globais ?

            Volto a transcrever:

            A lição é: “abandone a esperança”. A lição é: “a resistência é inútil”

            Consciente ou não… existe um preocupante e repetitivo pensamento latente no discurso de CJ Hopkins …

  2. Imaginar que um neoliberal ultraconservador se oponha ao sistema capitalista é piada de muito mau gosto. Comentarios bananas proliferam…Está na cara que tudo acabará sendo mais do mesmo, apenas mudando o endereço. E o novo será Moscou.

    1. Olá Anónimo!

      O problema não é saber se Trump irá opor-se ao sistema Capitalista: isso está totalmente fora da questão. O problema é: qual a alternativa ao sistema Capitalista actualmente em jogo? Porque se o Anónimo acha que o Capitalismo é o mal pior, então está redondamente enganado. Há coisas bem piores.

      1. O mundo é capitalista a 400 anos, e não me venha com comparativos esdrúxulos como o comunismo fake imposto e financiado pelo próprio capitalismo ocidental como forma de chegarmos as conclusões como a sua…capitalismo ou o caos…Afinal, é tão difícil constatar que uma civilização que tem como principal valor o capital está falida, sustentada por uma riqueza artificial usada, patologicamente, como substituta da riqueza natural em exaustão? Para que servem tantos artigos aparentemente difundidos para que minimamente possamos avançar em nossas percepções?

    2. Sabe que a política e a geopolítica não são dados adquiridos; como escrevi acima por vezes o que parece não é e o que está aqui em causa é efectivamente o confronto entre duas facções do capitalismo.

      Entre viver numa sociedade desumanizada e escravizada, anti-natural, onde um punhado de banqueiros internacionais e corporações enriquece e domina ainda mais todos os aspectos da economia, do pensamento, e da cultura, retirando a liberdade individual ao cidadão, destruindo o Estado e as leis do Estado de Direito Democrático, digo-lhe desde já que é preferível o capitalismo do que aquilo que neste momento nos estão a tentar impor, uma ditadura neoliberal de lunáticos onde os mesmos de sempre tentam submeter uma vez mais a Humanidade ao seu domínio.

      O sr. Trump, assim como o sr. Putin, ou o sr. Xi Jinping, não são um problema para os cidadãos Europeus ou de outros Continentes, o principal problema da Humanidade neste momento é o poder financeiro e clerical do qual o regime da Inglaterra é o seu representante bem como o falido e corrupto sistema económico/financeiro neoliberal criado e controlado pelo ingleses.

      No meio disto tudo, o louco e imprevisível Trump, atacado e vilipendiado por todos os seus opositores internos e externos, pelos média, e sabe-se lá mais o quê, cumpriu um dos seus objectivos colocando o departamento do Tesouro do Estado (Treasury of State, pela sua sigla em inglês) no controle da Reserva Federal ou seja os bancos privados após décadas e décadas a explorar os cidadãos norte-americanos, neste momento não possuem praticamente domínio sobre as questões públicas no país, estando partes da economia a serem nacionalizadas por ordem do governo liderado pelo sr. Trump.

      «…E o novo será Moscou…»

      Como Europeu, digo que é preferível a Federação da Rússia (FR) e o sr. Putin, do que o regime da união europeia (eu).

      1. Uma professora primaria perguntava as suas crianças qual era o pior dos males ; A fome diziam uns…as doenças respondiam outros… Um rapaz com uma cara muito assustada abanava a cabeça negativamente e disse :
        Nada disso Senhora professora o pior de tudo é o Malamén !!!
        Quem ? O que é isso ? ( Perguntou a professora intrigada)
        O rapaz aterrorizado disse quase a segredar :
        – Não sei Senhora professora mas a minha mãe sempre que reza pede no fim :
        ” Livrai-nos Senhor de todo o Malamén ! ”

        Resumindo… o pior de todos os males é a ignorância que nos faz temer o que não existe e levar a escolher algo de mau com a ilusão de que poderá hipoteticamente ser menos mau que outro e em vez de pensarmos por nós acabamos por depositar confiança excessiva em lideres em sistemas e em quimeras …

        JF podes discordar de tudo o que eu digo e respeito esse direito mas como estou convicto do que digo resumo tudo em uma frase ” NINGUÉM NOS VIRA SALVAR” a única salvação está em nós e nunca fora!

      2. A “entrega” dos trilhões disponibilizados pelo Tesouro do Estado e pela Reserva Federal, passará por um intermediário, a Blackrock… está tudo dito, digo eu.

  3. Olá Max e todos: desde os discursos que Trump fazia buscando a eleição, prometia e está a cumprir. Achei nada mal naquele momento, e acho muito bom a prática deles. Claro que há umas loucuras no meio e sempre houve (muro com o México, por exemplo), mas comparando com o doce Obama, com a assassina hilária, Trump é quase um santo. No entanto, nem pisou na Casa Branca e mágicos poderes disseminavam mundo inteiro ser ele um sujeito desprezível. Estava, desde início clara a guerra dos de cima, facções poderosas se degladiando pela porção maior do butim. Continuo pensando a mesma coisa.
    O problema comum a todos os mandantes é que o mundo vinha sendo presentiado com algumas revoluções no pensamento ação dos de baixo ( coletes amarelos, resistentes do Chile, por exemplo). Todas as facções dos de cima ficaram aborrecidas, as cordas que apertavam certos grupos de escravos começavam a puir. Teria essa gentalha aprendido a roer as cordas? Era necessário um choque de pavor e ódio mundial, tirando a gentalha da rua. A tal “pandemia” natural ou artificial, originada no lugar que fosse cumpriria o papel de imediato, e esse acontecimento gripal comum foi transformado num monstro. A gentalha assustada correu a refugiar-se e fazer o que mandassem. Mas como todo susto passa necessário se faz reciclar as cordas, talvez trocá-las para garantir que essa desregulagem mundial não se esfumasse, pois mentes lúcidas a comprometeriam.
    É aí do meu ponto de vista que entra o texto que continuamos a debater. Ele não me parece pessimista, apenas expõe com muita clareza as estratégias de poder a seguir. E nisto estão de acordo todas as facções, e todas as aparentes contradições entre os poderosos é cortina de fumaça. O certo é que o dramalhão da “pandemia” está a causar alguns problemas também para os de cima, e ajustes acontecem, tipo Trump cancelar a manutenção da OMS. Aí os de baixo podem conferir que Trump e Bill Gates podem estar em facções opostas, neste momento. O último continua a manter a OMS.
    Todos estão de acordo com o funcionamento da sociedade de controle 2.0, até a gentalha; unanimidade global, como o desejável para manutenção do neocapitalismo. Mas daqui a pouco surgem os dissidentes, trava-se mais ima batalha contra os podres poderes. Continuo achando muito bom o texto porque se muitos soubessem dos próximos passos do inimigo, poderiam melhor armar-se. A realidade é esta: não se encontra soluções se não se conhece a exaustão o problema. Longe de darmos a guerra por perdida, ele nos prepara para as batalhas que virão.

Obrigado por participar na discussão!

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