Das massas, da Morte e dos fantasmas

Depois de décadas ou séculos de democracia, finalmente percebemos que a maioria das pessoas não está preocupada em ser livre. Na verdade, o que eles querem é exactamente o oposto.

Querem que alguém lhes diga o que fazer e como o fazer. E forcem todos a fazê-lo. Eles querem que alguém lhes seja apresentado como um “especialista” para que possam obedecer-lhe sentindo que estão a fazer “a coisa certa”. E instintivamente dirigem as suas frustrações e ansiedades contra quem não alinha, contra quem discorda ou questiona as ordens do “especialista” ao qual querem obedecer.

Não importa realmente se o especialista sabe ou não sabe mais do que eles acerca do assunto: vejo na televisão advogados, juízes, jornalistas, economistas que falam como se tivessem acabado de sair dum mestrado em virologia. E isso acontece porque a função deles não é aquela de ajudar a analisar, enfrentar ou até resolver o problema, mas apenas livrar a massa da responsabilidade da decisão. Para fornecer ao cidadão o álibi para obedecer e fazê-lo sentir tão, tão inteligente. E acima de tudo, sentir-se “livre”.

A razão? Simples: decidir é um desafio. Significa ter que informar-se, de forma séria; significa avaliar cuidadosamente as informações encontradas; significa assumir a responsabilidade pelas escolhas feitas; significa também aceitar a possibilidade de cometer erros. Demasiado esforço, demasiado risco. Pelo contrário, obedecer oferece vantagens: errámos? Não, estávamos só a fazer o que tinham dito os “especialistas”, a decisão não foi nossa.

Não há nenhuma novidade aqui: “Eu estava apenas a obedecer às ordens” foi a defesa padrão em Nuremberga.

É algo que Informação Incorrecta enfrentou mais do que uma vez nos seus artigos: a massa não está interessada em aprofundar, entender, duvidar. Quer coisas simples, pouco ou nada complicadas. É por isso que o mundo da informação alternativa nunca conseguirá mudar algo. Criem um slogan e o cidadão ficará feliz; façam a massa raciocinar e o cidadão irá adormecer. Obedecer sem raciocinar é infinitamente mais cómodo.

E esta necessidade de obedecer, esta básica covardia existencial, é o terreno sobre o qual o novo modelo de sociedade autoritária enraíza-se. Uma sociedade autoritária não mais centrada na imposição directa de uma ideologia e na repressão brutal da dissidência, como foi para os totalitarismos do século passado, mas num pacto implícito: entre aquele poucos que estão em posição de comandar e os muitos que desejam, para todos os efeitos e propósitos, obedecer. O pacto prevê que esta obediência não seja imposta pela força, mas “aconselhada”, apresentada de forma doce e apetitosa, como “a coisa certa a fazer para o bem de todos”. Manda-me fazer algo, mas sem gritar. Dá-me a impressão de que estou a obedecer por escolha, enquanto obedeço. E recompensa-me: louva a minha inteligência na obediência, dá-me a oportunidade de vangloriar-me repetindo infinitamente as tuas explicações, como se fossem os meus pensamentos. Faça-me sentir “do lado certo”, proporcionando-me rebeldes, dissidentes para odiar, desprezar, condenar publicamente para que eu me sinta melhor do que eles.

É assim que alguém hoje consegue de forma esquizofrénica ficar indignado com a visão duma bandeira com suástica e ao mesmo tempo aplaudir a suspensão indefinida dos seus Direitos Constitucionais.

Séculos de Democracia ensinaram às pessoas que a Democracia é uma verdadeira porcaria. Informar-se, decidir, votar? Julgar quem governa e depois até ter de admitir que estávamos errados em fazer as nossas avaliações? Minha nossa, demasiado esforço. Finalmente, as massas compreenderam o que realmente querem: não só poderem sentar-se no sofá e ver Netflix, mas serem forçadas a fazê-lo. E agradecer também, porque a nossa iluminada classe política limita-se a fechar todos em casa, nada de guerra como aconteceu com os avós. Os avós lutaram aquelas guerras para que as pessoas pudessem ser livres hoje? Outros tempos, épocas distantes, é estúpido fazer comparações, hoje já não se usa. Hoje há liberdade, baldes de liberdade para todos, estamos aparentemente rodeados de liberdades. Pena que a Liberdade não seja fazer isto ou aquilo, mas decidir o que fazer. Mas aqui já falamos de coisas…como dizer? Filosóficas. E a Filosofia não presta, obriga a pensar. Como não presta a História. Ou a Morte. A Morte?

Irmã Morte

Pensamos nisso: estamos aterrorizados por causa dum vírus que mata pessoas idosas e doentes. O que pode haver de mais normal? A história da Humanidade foi toda assim. E ainda bem: se não morresse ninguém, este planeta teria deixado de existir há muito. Anormal seria ver desaparecer as camadas mais jovens.

Tudo isso é cruel? Não, é natural. Não agradável mas natural. A Morte é parte integrante da Vida. Sem Morte não haveria Vida e vice-versa.

Mas a nossa sociedade abandonou o contacto com a realidade, ilude com cenários paradisíacos mas totalmente falsos. A Morte, que tentamos adiar com botox e silicone, está entre nós, sempre. Na nossa sociedade ninguém fala dela, é quase um tabu como se o facto de não falar dela fosse suficiente para afasta-la; ninguém explica que temos que aceita-la de forma serena pois é um processo absolutamente natural.

Isso significa que temos que deixar aqueles idosos morrer? Não, a pergunta certa é outra: por qual razão, todos os anos, deixamos que aqueles idosos morram sem que isso mereça uma linha num jornal e este ano não? Sabemos que uma gripe, uma qualquer gripe sazonal, mata dezenas de milhares de idosos na Europa, centenas de milhares em todo o mundo. Então por qual razão este ano é diferente?

Aplaudimos a selecção natural de darwiniana memória, celebramos a Ciência que explica como o mais fraco sucumba para permitir a sobrevivência do mais forte. Mas quando isso acontece debaixo dos nossos olhos, eis que deixamos de achar graça e falamos em “tragédia”. Porquê?

Seja qual for a resposta, as massas ficaram aterrorizadas. A Morte assusta, sempre. E não deveria. Tenho medo da morte? Honestamente: não. Aliás, posso dizer que estou muito curioso em relação à Ela. Não que tencione acelerar os tempos, irei morrer quando assim calhará, de certeza não será por minha vontade. Mas quando acontecerá, poderei finalmente desvendar um dos maiores mistérios da nossa existência: há algo além da Morte? Estou convencido que a resposta seja “sim” mas não perguntem a razão. E se não houvesse nada, se a Morte fosse o fim de tudo? Pouco mal: nunca terei noção disso, nem teria tempo para arrependimentos, onde fica o problema?

É claro que nunca pode ser um prazer perder um ente querido: tenho um pai idoso que não está nada bem, estou preocupado com ele, a minha sorte é que raciocina como eu (um mal de família, evidentemente), de forma pragmática, mas sei que na altura da sua despedida irei sofrer, como é óbvio. Todavia, tivesse que morrer por causa deste estúpida gripe (e não venham com histórias, esta é uma gripe!) não irei culpar o sistema de saúde, o fado, os deuses cruéis: seria algo perfeitamente natural, seria a vida a funcionar como sempre faz, em círculos. Seria algo doloroso, porque a vida é também dolorosa, mas sempre natural: a minha mãe morreu, o meu pai pode morrer, eu irei morrerei. Quem não aceitar isto tem sérios problemas mentais.

Fantasmas

Mas não é isso que observamos entre a massa totalmente estupidificada, chair à canon (“carne para canhão”) como dizia Chateaubriand. O Ocidente não consegue enfrentar o COVID-19 por aquilo que é porque a nossa sociedade é constituída por uma manada mimada de pessoas que querem viver sempre com zero riscos, zero problemas e, sobretudo, zero mortes (a não ser que sejam mortes longínquas e por isso desinteressantes). Este simulacro de Democracia que foi oferecido ao longo dos últimos séculos criou uma cultura totalmente desprevenida para reagir de forma correcta perante um bicho papão que agora a elite está a mostrar para os fins dela. Criou cérebros atrofiados, almas amolecidas, orgulhos enterrados, forças de vontade arrasadas, sombras de homens.

Escravos? Não, pior do que isso: porque o escravo pode sempre estar à espera duma ocasião para fugir, para rebelar-se. Nós nem isso, já ultrapassámos a fase do escravo e agora somos simulacros de seres humanos. Somos fantasmas. Lamento, mas é exactamente o que podemos observar nestes dias. Uma pena.

Uma pena porque a vida é bonita e merece ser vivida sem medos. Vivemos uma existência sobre a qual não temos pleno controle: hoje estamos aqui, amanhã não sabemos. Mais uma razão para desfrutar o tempo à nossa disposição, para aproveitar quanto de bom este mundo tem para oferecer (e não é pouco!): não ficando fechados em casa por causa dum vírus que faz o que os vírus devem fazer, mas olhando, cheirando, ouvindo, sentindo, experimentando, transmitindo, conectando, partilhando, pensando, amando. Este é o objectivo das nossas vidas: viver. É exactamente o que estão a nos retirar.

Psssst! Acho que já postei este vídeo mas continuo a gostar desta canção! Não é um epitáfio: é um grito de rebelião.

As crianças são inocentes
Os adolescente têm a cabeça fodida
Os adultos estão ainda estão mais fodidos
E os idosos são como crianças

Haverá outra raça
para vir e nos dominar?
Talvez os marcianos poderiam fazer isso
melhor do que nós temos feito
Seríamos óptimos animais de estimação
Seríamos óptimos animais de estimação
Seríamos óptimos animais de estimação
Seríamos óptimos animais de estimação

O meu amigo diz que somos como dinossauros
estamos apenas a acabar-nos
muito mais rápidos do que eles
já fizeram
Seríamos óptimos animais de estimação
Seríamos óptimos animais de estimação
Seríamos óptimos animais de estimação
Seríamos óptimos animais de estimação

 

Ipse dixit.

12 Replies to “Das massas, da Morte e dos fantasmas”

  1. «…Não importa realmente se o especialista sabe ou não sabe mais do que eles acerca do assunto: vejo na televisão advogados, juízes, jornalistas, economistas que falam como se tivessem acabado de sair dum mestrado em virologia…»

    Deixo aqui esta ligação do jornal «Globes» com uma entrevista ao antigo chefe do Ministério da Saúde de Israel, Prof. Yoram Lass, que pode e deve ser divulgada:

    – Lockdown lunacy
    https://en.globes.co.il/en/article-lockdown-lunacy-1001322696

    «…E agradecer também, porque a nossa iluminada classe política limita-se a fechar todos em casa, nada de guerra como aconteceu com os avós…»

    Esta ted talk também é importante, e tirem as vossas conclusões:

    – Bill Gates: A próxima epidemia? Não estamos preparados

  2. Bem, quanto a isso da morte, há um cenário que muitos contemplam: o de o que existe após a morte poder não ser propriamente agradável.

    E quanto a todas as mortes que têm surgido graças ao COVID-19, não são propriamente causadas por fatores naturais, dado que este virus não surgiu de forma natural; isto são “manobras” (como você tem vindo a expor ao longo de vários posts).

    “…we’ll make great pets…” – já nem me lembrava disto, ao tempo a que já não ouvia…obrigado por lembrar, com letra e tradução.

  3. Parabéns Max, constatações que podem ser observadas na realidade de qualquer lugar. É doloroso, é terrível mas é isso mesmo,não dá para ter esperanças.
    Aqui a situação é crítica, e todos, realmente todos reclamam um líder no espectro político, jurídico ou econômico, ou ainda religioso um líder que os tire do buraco. Claro que há lideranças em guetos. 37% da população brasileira está de acordo com Bolsonaro, especialmente no sul, dando origem a carriatas defendendo a volta ao trabalho. dos outros, diga-se de passagem. Os capitalistas querem a volta dos escravos para não prejudicar seus lucros.
    Pessoalmente, mesmo varrendo a opinião de especialistas e nem tanto, não tenho ideia definida sobre quarentena ou não. Não acredito nas vantagens da quarentena total, a não ser em focos muito severos da ocorrência da gripe. Todo resto é artificial, coisa criada para socorrer derrocadas econômicas. Vige a demagogia por comentaristas mil, predomina um suposto humanitarismo irreal e nojento, que nunca apareceu n\as tragédias humanitárias que ocorrem diariamente.
    Bem, vamos até as favelas brasileiras, a grande maioria no Rio de Janeiro. No total contam mais de 13 milhões de seres humanos, vivendo sem água potável, sem saneamento básico, dominados pelo tráfico, pela milícia, por suas seitas religiosas e pela pobreza. Quase todos contanto com serviços informais legais ou ilegais. Entenda-se que o tráfico é associado ao ministério da justiça, e portanto ao governo e suas determinações. Que se passa? 70% não aguenta alguma coisa na geladeira por mais mais de um mês e, uma boa parte deles só se segura uma semana. Resultado: está por estourar a violência morro abaixo porque pode faltar tudo, mas quando falta a comida se dá um jeito, e ninguém está disposto a esperar que as migalhas que os políticos se consideram heróis por conseguir, tipo 600 reais por mês, durante três meses, sendo que um máximo de 1200 por família e mãe com filhos, isso por 3 meses. Aqui a tragédia é econômica. Naturalmente a tragédia diminui no sul onde as favelas são poucas. Ha cidades, como aquela que eu moro, na zona rural, que não tem favelas por motivos que a maioria da população vive da terra, os agricultores, da água, o turismo radical e seus hotéis, com águas termais sulfurosas do, ar, a falta absoluta de poluição, daí a busca pelas casas de repouso, não há nenhuma indústria poluidora. Esta descrição conferiria com o paraíso na terra, só não é porque as determinações governamentais são mantidas a risca: polícia ostensiva, detenções, etc. Na verdade o governador do estado é um bombeiro , apoiador de Bolsonaro. Só para constar não houve até agora um único caso de gripe, ou seja procura-se desesperadamente uma vítima do Corona virus. Vai ser difícil encontrar por que o povo aqui é bem alimentado e ingere montões de laranjas por dia, vitamina C direto. Mas Sto. Amaro não é Brazil sob certos, aspectos nem mesmo SC.
    Mas no Brazil real, a tragédia não é sanitária, é econômica.

  4. Max, não quero entrar em especulações deste tipo, mas sugerir uma pequena pesquisa da sua parte: você já ouviu falar dum indivíduo chamado Daniel Mastral? Ele afirma ser um ex-satanista de alto nível que, hoje cristão, expõe agora o que viu e passou. E diz que ele próprio chegou a entrar em laboratórios em que estavam a fabricar doenças, para serem usadas como armas biológicas. Diz também que, há uns anos atrás, os EUA ressuscitaram a gripe espanhola que mata em horas com sangramento e tudo, e que este COVID-19 que temos agora não passa dum teste a vários níveis: ao comportamento das pessoas (como, até aqui já tínhamos entendido), à economia global, ao tempo de espalhamento global, ao nº. de pessoas mortas, etc….para, por fim, se espalhar a gripe espanhola através do ar. Ele diz que, por aquilo que ele soube quando esteve envolvido em sociedades satânicas, tudo se está a passar como uma engrenagem, e que a gripe espanhola seria espalhada em 2023. Ele tem vários vídeos no youtube e já publicou livros baseados naquilo por que passou pessoalmente.

    1. Daniel Mastral, mais do que satanista, é judeu fanático à espera do 3º Templo…deu né?

  5. Atenção Max: estou assistindo uma entrevista pela TV 247 onde Leonardo Attuch entrevista o biólogo Leonardo Dumontet., italiano que apresenta uma versão distinta da mídia majoritária oficial e alternativa. Os cretinos que comentam vieram de pau acusando o biólogo de terraplanista para baixo, furiosos por alguém sair do lugar comum que eles aprenderam a valorizar. Dá uma olhada, te sentirás um pouco melhor. Abraço.

  6. O modelo mental da grande maioria ensinado pela sociedade judaico-cristã é voltado a criar e manter um indivíduo PRECARIZADO em termos de valores existenciais. A dificuldade de tomar decisões e a incapacidade de falar sobre a morte são apenas exemplos de como a boiada ocidental toca a vida. Um dos riscos neste momento é o de que muitos homens, incapazes de se manter um tempo maior em suas casas, aumentarem a violência doméstica…

  7. Obrigado Max pela visão do Mundo que nos apresentas tão generosamente e à tanto tempo… Muito do que sei hoje o devo a ti… mesmo se não concordo exactamente com tudo… seguramente concordo com o essencial… tenho a sensação (uma convicção que precisa de mais informação) que não existem culpados “individuais”, mas sim sociedades mal reguladas… Quem tem mais poder tem mais capacidade de defender interesses que lhes parecem mais “certos”… Desejo que recuperemos desta “tragédia” e reste algum bom senso da “Sociedade Civil” para corrigir mesmo que lentamente o que está mal…
    Felicidades a todos… aqui no Blog… e no mundo inteiro… (com excepção do Partido Comunista Chinês, da industria Farmaceutica, da Organização Mundial de Saude, e de outras organizações semelhantes )
    Manuel Santos

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