Coronavirus: Quanto mata uma gripe “normal”?

Para julgar a severidade duma pandemia, a coisa melhor é comparar os números oficiais. Dado que, como vimos, é impossível por enquanto obter a Taxa de Letalidade do CODIV-19, podemos raciocinar tendo como base o número de óbitos ocorridos nas vagas anteriores, as gripes ditas “normais” às quais estamos acostumados, e efectuar assim uma comparação com a actual pandemia de COVID-19.

Começamos pelo dado global da Europa com um gráfico de Euronomo, organização que colabora com os Ministérios da Saúde dos seguintes Países europeus: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Italia, Letónia, Holanda, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido, Rep. Checa, Roménia, Suécia, Suíça. No gráfico são analisadas as épocas desde a terceira semana de 2016 até a 11ª do ano de 2020.

Uma versão ligeiramente mais ampliada pode ser observada na página de Euronomo (link).

Os dados mais interessantes são aqueles relativos à faixa etária dos indivíduos com mais de 65 anos e a All ages (“Todas as idades”). Entre a semana nº 51 de 2016 e a semana nº 11 de 2017 morreram acerca de 70.000 pessoas em toda a Europa por causa da gripe. Os restantes picos atestam-se sempre acima dos 60.000 mortos anuais.

Mas Euronomo fornece também outro gráfico; os excessos de mortalidade, isso é, de quanto o número de óbitos de afasta daquele que é considerado o “normal”:

Os anos piores (consideradas todas as idades) foram o de 2016 e de 2017, com excessos de óbitos que ultrapassaram as 10.000 unidades. Considerado que 2016 contou com cerca de 60.000 óbitos, isso significa que é considerado “normal” ter perto de 50.000 óbitos por cada ano provocados pela gripe.

Reino Unido

Vamos agora considerar um único País, o Reino Unido que disponibiliza uma óptima informação através do boletim publicado anualmente pela Public Health England, instituição pública do Department of Health and Social Care (“Departamento de Saúde e Assistência Social).

Eis número de óbitos relacionados com a gripe durante os últimos anos (dados de todo o Reino Unido; link):

  • Inverno 2015-2016: 11.875 óbitos
  • Inverno 2016-2017: 18.009 óbitos
  • Inverno 2017-2018: 26.408 óbitos

Lembramos que, até agora, os mortos no Reino Unido foram 144.

Italia

Espreitemos o País que até agora parece o mais fustigado pelo COVID-19. Um estudo acerca da mortalidade da gripe em Italia pode ser encontrado no International Journal of Infectious Diseases, focado nas épocas entre 2013/2014 e 2016/2017. Gráficos não faltam no estudo (link) mas vamos ler só o resumo:

Conclusões: Mais de 68.000 mortes foram atribuídas a epidemias de influenza no período do estudo. O excesso observado de mortes não é completamente inesperado, dado o alto número de indivíduos frágeis e muito idosos que vivem na Itália.

Pelo que: mais de 20.000 óbitos por Inverno provocados pela gripe. Lembramos que, até agora, os mortos em Italia foram 4.032.

Portugal

Um artigo do diário Público de 2017 (link):

Apesar de a última época de gripe ter sido uma das menos intensas desde a pandemia de 2009, no Inverno passado voltou a haver um excesso de mortalidade assinalável em Portugal. Foram 3714 óbitos acima do expectável para esta época do ano, revela o último relatório do programa de vigilância da gripe do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa).

No Inverno anterior, o número de óbitos acima do esperado até tinha sido superior  – 4467 –  mas a epidemia de gripe sazonal ficou então marcada pela predominância do subtipo do vírus da gripe A (H3) –  que normalmente afecta as pessoas mais idosas e provoca mais casos e mais graves, sendo por isso mais letal. Em anos em que isso acontece há sempre um pico de mortalidade – foi o que se verificou também no Inverno de 2014/2015, quando os peritos calcularam que houve 5591 mortes acima do esperado.

Atenção: fala-se aqui não de mortos totais mas apenas de mortos acima do esperado.

E no ano passado?

Mais de três mil pessoas terão morrido em Portugal devido à gripe na época passada […].

Os dados constam do relatório do Programa Nacional de Vigilância da Gripe na época 2018/2019, apresentado pelo Instituto Ricardo Jorge, que indica uma baixa dos números da mortalidade atribuída à gripe, para 3331, contra 3700 na época 2017/2018.

“Durante a época de gripe 2018/2019 o número de óbitos atribuíveis à gripe e às temperaturas baixas extremas foi estimado, respetivamente, em 3.331 e 397 óbitos”, refere o relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, a que a Lusa teve acesso e cujos principais resultados foram hoje discutidos em Lisboa.

Portanto, na época de 2018/2019 houve 3.331 óbitos +provocados pela gripe. Alguém ouviu falar em Estado de Emergência?

Lembramos que, até agora, os mortos em Portugal foram seis.

OMS

E a Organização Mundial da Saúde? Liderada por Tedros Adhanom, colaborador de Bill Gates como vimos no anterior artigo, antigo membro da Global Alliance for Vaccines and Immunization e do Aspen Institute, afirma o seguinte na página dedicada à gripe sazonal (link):

A gripe é uma infecção viral aguda que ocorre em todo o mundo. […] A gripe sazonal pode causar mortalidade substancial – um estudo de 2017 descobriu que até 650.000 pessoas em todo o mundo morrem de doenças respiratórias associadas à influenza a cada ano, e até 72.000 dessas mortes ocorrem na Região Europeia.

Pelo que, a OMS assume como normal mais de 70.000 mortos por ano devido à gripe. Por qual razão declarar “pandemia” algo que em quatro meses provocou a morte de “apenas” pessoas?

Lembramos que, até agora, os mortos no mundo foram 10.031. Pelo que, são números provisórios, sem dúvida destinados a subir: as contas terão que ser feitas no fim. O meu palpite é o total chegará perto dos números duma gripe sazonal, simplesmente porque esta é uma gripe sazonal.

 

Ipse dixit.

15 Replies to “Coronavirus: Quanto mata uma gripe “normal”?”

  1. Saúdo o teu regresso ao II e agradeço-te por poder ler alguém que não abarca em histerismos.
    Irei levar alguns destes teus artigos a um grupo de pessoas que bem precisa de uma injecção anti-burrice.
    Realço o péssimo jornalismo actualmente em Portugal. Têm tido um comportamento execrável e histérico nesta situação. Pela construção das frases nota-se que são jornalistas com pouca experiência e que para manterem o emprego devem seguir directrizes impostas pelos donos dos jornais. Além de Impressionante é mais uma prova que alguma coisa está a ser preparada e não é para o bem da manada. Força Max.

  2. Um entrevista do Professor Didier Raoult, director de l’IHU Méditerranée e conselheiro de Macron, que vai ao encontro do que está dito neste post.

  3. Parabéns Max, muito bom trabalho de campo, apesar de não estarmos de acordo com a origem do vírus ( e esta entrevista explica que a origem e o aproveitamento podem ser diferentes) Deixo-vos a opinião do Dr. Wolfgang Wodarg… muito perspicaz… imperdivel.( tem legendas em português) P.S. depois de accionarem as legendas lavem as mãos sff … e antes também.

  4. P. Lopes,

    Já lavei as mãos 3 vezes e só me aparecem legendas em inglês. Será do sabão?

    1. Duvido, os especialistas dizem que o sabão é suficiente desde que se lave as mão durante 20 segundos. Experimenta ir ao canto inferior do ecra do video , clicar em definições – legendas – traduzir automaticamente ( abre-se uma caixa com vários idiomas , correr para baixo até ao Português , Seleccionar o português .
      Se não conseguires é porque é serio … nesse caso liga para a linha saúde 24

      1. Vi o vídeo com legendas em inglês. As legendas em português era para passar ao pessoal menos letrado. Eles que se desenrasquem.

  5. Aceleração total: estamos no pico do desespero via internet, cada vez mais infestada entre nós de previsões apocalípticas; número de mortos no Brazil que logo chegarão aos milhões. Por enquanto não chegaram aos 100, pelos dados divulgados. Diagnóstico precoce nem se fala, o que se obriga é ficar em casa, e ai de quem não cumprir seu “dever de responsabilidade”. Em nome disso a presidência da república acabou e, para manter viva a chama do pecado, todos os dias mais um representante próximo ao governo federal cai vítima da pandemia. Eram 22 ontem, hoje deve ser 23. O culpado do inferno de Dante por aqui é o tal Bolsonaro que ousou desdenhar da praga mortal de 2020.
    Estou recebendo mensagens desesperadas de pessoas e grupos por whatzap que têm passado os dias alimentando seus delírios em prisão a céu aberto. “La folie, la folie”, esta sim, altamente contagiosa, dei-me conta.
    Uma grande amiga, pessoa generosa e estudada me liga para dizer-me que os filhos não a deixam sair de casa faz uma semana, filhos estes educados, viajados, inteligentes, jovens com mais de 18 anos. Ela, meio desconfiada, mas já quase convencida da opinião geral, e preocupada por mim. Digo-lhe que estou majoritariamente em casa simplesmente porque essa tem sido minha rotina nos últimos tempos e não mudei em nada. Não fosse a estupidez grassante, não fosse a tristeza de ver meu país e meu povo afundar-se cada vez mais, estaria muito bem. Faço um tremendo discurso, tentando apertar os parafusos já frouxos da minha amiga, e peço-lhe que aproveite a reclusão forçada para demonstrar aos seus filhos e namorados (as) a cerca do mundo onde vivem. Aponto algumas vozes de racionalidade ainda ecoando para dar-lhes suporto…mas infelizmente duvido dos efeitos.
    Enquanto isso os pastores das igrejas pentecostais surfam na estupidez acentuada, vendendo álcool gel ungido e martelinho para quebrar o Corona a mil reais a unidade. É hora de fazer a obra render mais um pouco, e os pastores mais poderosos política e financeiramente se negam a fechar os templos porque lá estão todos protegidos. ” La folie…la folie”

  6. Max e restantes leitores do II,

    Será que o tema das Alterações Climáticas, na minha modesta opinião uma fraude descarada, foi introduzido na agenda publica mundial, a fim de se avaliar o tipo e taxa de resposta dos cidadãos, para aquilo que estamos a viver actualmente?

    um abraço
    Krowler

  7. Sou enfermeira e trabalhei muitos anos no Serviço de Urgência onde eram recorrentes dois períodos críticos: O Inverno com as gripes e pneumonias que mataram de forma similar pessoas que estariam incluídas nos grupos de risco actuais e o Verão, com os problemas cardíacos, os acidentes, as insolações… Estes períodos obrigavam-nos, pessoal de saúde, a andar no limite e não surpreendia termos em média, 2 a 4 óbitos por turno. Estou a falar de turnos de 8 – 10 horas entre finais de Novembro até Fevereiro/Março, num hospital que serve aproximadamente 400 000 habitantes.
    Esta realidade nunca foi alvo desta exposição mediática nem suscitou os píncaros da eventual histeria actual, mas penso que a questão do coronavirus tem que ser analisada por outro prisma. Esta gripe provoca com maior frequência agudizações do estado clínico (por vezes dramáticas e em poucas horas) a uma maior percentagem de doentes suscitando necessidade de ventilação mecânica. E o problema coloca-se aqui! Os nossos recursos físicos, materiais e humanos são limitados e, concentração de procura de cuidados, leva à ruptura e perda de vidas. Morrer porque é um fim inadiável corolário de uma vida onde tudo foi feito, é uma questão, morrer por falta de recursos da comunidade, é outra! Penso que é aqui que se coloca o cerne da questão.

    Teresa

  8. Nada como deixar passar o tempo, o tempo pergunta ao tempo e o tempo responde ao tempo, etc, etc.
    Vamos lá a ver, mortos, usando os dados do autor em 20 Março, versus 30 Maio.
    2 Meses Depois.
    Portugal. 3K de gripe em 2018. Eram 6 de covid ? Agora são 1.3K. .
    Responder-me-á, como viu, é uma gripe sazonal. Pois…..mas estivemos quase todos EM CASINHA.
    UK ? 26K no pior caso de gripe . Eram 144 de covid ? Agora são 38K.
    talia ? 20K no pior caso de gripe . Eram 4K de covid ? Agora são 33K.
    OMS data worldwide ? 70K de gripe. Eram 10K de covid ? Agora são 366K.
    Afinal, o palpite do autor está certo ou errado ? Pela OMS já vamos com 5 x mais mortos do que uma gripe sazonal.
    O Covid bateu desfasado da gripe, está a apanhar a Primavera no HN, em vez de Outono-Inverno como a gripe.
    Fez bem em escrever “números provisórios, sem dúvida destinados a subir: as contas terão que ser feitas no fim”.
    É que o fim ainda vem longe.
    Cá voltarei 😉

    1. Antes de cá voltar, passe primeiro no ministerio da saude https://evm.min-saude.pt/ analise os dados e pense.
      Pode ver que tivemos uma gripe tardia (incluindo coronas), menor que outros anos. E se tivesse tomado atenção às informações oficiais teria ouvido que muitas mortes aconteceram nos Lares, uma foi morte natural com corona, ou as pessoas são deixadas morrer nos Lares quando precisam de assistência?

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