As temperaturas do Sistema Solar

Aquecimento Global? Talvez não apenas global: pode ser que não seja apenas a Terra que tem que lidar com o aumento da temperatura. Várias pesquisas mostram que outros planetas e outras luas do sistema solar estão a enfrentar o mesmo fenómeno. É possível encontrar uma correlação ou estamos perante acontecimentos independentes?

Marte, por exemplo, atravessa uma mudança climática muito mais profunda do que a da Terra. A pesquisadora da Nasa Lori Fenton relatou num artigo publicado na revista Nature que a temperatura subiu 0.6 graus Celsius em apenas 20 anos (em comparação com os 0.7 em cerca de 150 anos na Terra). Fenton explica:

A causa é atribuível a uma variação na radiação que provem da superfície de Marte, que desencadeia ventos muito fortes e tempestades de areia que retêm o calor e, portanto, elevam a temperatura da atmosfera.

De opinião diferente Habibullo Abdussamatov, director do Observatório Astronómico de São Petersburgo, segundo o qual “a causa se encontra nas variações da radiação solar que aquecem mais a Terra e Marte”. Uma objecção interessante, porque se a principal causa do aquecimento global fosse o Sol, deveria haver vestígios de aumento de temperatura mesmo em outros planetas.

De facto, até Júpiter está a passar por uma mudança climática de não pouca importância. Em 1939, a atmosfera do planeta era caracterizada, entre outras coisas, por três grandes ciclones de milhares de quilómetros de diâmetro, ciclones que em 2000 desapareceram após um episódio de resfriamento. Nos últimos anos, no entanto, outros ciclones foram formados como resultado dum novo aquecimento atmosférico.

Por outro lado, Philip Marcus, da Universidade da Califórnia, criou um modelo da atmosfera do planeta que prevê variações climáticas em ciclos de 70 anos, durante os quais a temperatura no equador subirá 10 graus Celsius. No entanto Marcus, embora não seja capaz de fornecer uma explicação real do fenómeno observado, não afirma que a culpa de tudo isso seja o Sol.

Vamos até as fronteiras do Sistema Solar onde encontramos Tritão, uma lua de Neptuno, que, aos olhos do telescópio espacial Hubble, mostrou um aumento na temperatura da superfície de 2 graus centígrados ao longo de 15 anos. Nesse caso os cientistas concordaram: desta vez o sol é a causa do fenómeno. James Elliot, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), explica:

A Lua aquece porque o Sol evapora o nitrogénio que compõe a maior parte da superfície. O gás cria uma atmosfera muito fraca que aquece a Lua.

Deve-se lembrar, no entanto, que neste período Triton está a aproximar-se do Sol, portanto é bastante difícil entender realmente se o fenómeno for devido à menor distância da estrela ou ao facto de o Sol ser mais activo.

Para reforçar a hipótese de que o Sol está a pôr mão no aquecimento do Sistema Solar, eis outra pesquisa do MIT segundo a qual a temperatura da superfície de Plutão, localizado nas bordas do Sistema Solar, aqueceu nos últimos 14 anos de 1.9 graus centígrados. E, neste caso, Plutão está a afastar-se do Sol. Explica Jay Pasachoff, astrónomo do Williams College nos Estados Unidos:

Essa situação pode ser facilmente explicada por um aumento da radiação solar, mesmo que no momento não tenhamos evidências documentadas desse efeito.

Olhando para estes dados, a conclusão poderia parecer óbvia: planetas e satélites do Sistema Solar aquecem por causa da radiação emitida pelo Sol. Mas há um problema: a nossa estrela encontra-se numa fase de mínimo, algo que em teoria deveria ter uma acção contrária ao aquecimento. E isso fecha o assunto: Sol mais frio significa nada de aquecimento planetário.

Todavia as coisas não são tão simples assim. As dinâmicas do Sistema Solar não estão ainda totalmente esclarecidas e podem reservar algumas surpresas. Vice-versa, o comportamento da Terra na sua viagem em volta do Sol é claro, mas, como será possível ver a seguir, as consequências das variações na órbita do nosso planeta ainda estão a criar dúvidas.

O Sol?

Vamos com ordem e começamos com o aquecimento provocado pelo Sol. A lógica afirma que uma estrela mais quente deveria elevar a temperatura de todos os planetas, ou pelo menos da maioria deles. É isso que acontece? A Terra, Marte, Júpiter, Neptuno e Plutão, de facto, estão mais quentes. Mas no caso de Marte a explicação pode (o condicional é obrigatório) ser encontrada na questão das poeiras; Júpiter é um caso anómalo (o planeta emite mais calor daquilo que recebe); Neptuno e a sua lua Tritão estão a entrar na fase de Verão. O caso ainda sem explicação é aquele de Plutão: não conhecemos nenhuma razão pela qual este planeta anão deveria aquecer.

Pelo que temos Terra e Plutão que aquecem,Marte, Júpiter, Saturno e a sua lua Tritão que aquecem também mas para os quais é possível encontrar explicações alternativas.

Doutro lado, Saturno está a resfriar e o mesmo acontece com as camadas mais externas da atmosfera de Vénus, planeta que fica bastante próximo do Sol e que em teoria deveria ser mais sensível a um aumento de radiação térmica. E não podemos esquecer Úrano, cuja temperatura parece ser estável. Acabamos com Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol em absoluto, acerca do qual não temos um historial de dados que possa fornecer um quadro plausível.

Resumindo, não parece que o Sol esteja a desempenhar um papel fundamental no aquecimento dos planetas. O que não admira: como afirmado, a nossa estrela encontra-se numa fase de mínimo, como já afirmado, desde os anos ’50.

Além do Sol

Mas o Sol não é a única fonte dum possível aquecimento: o que pode ter uma influência sobre os planetas é algo chamado de efeito planeto-magnético, ou seja, as interacções relativas ao interior dos planetas, que idealmente tendem a ser enormemente mais quentes que as superfícies devido às grandes pressões.

Um bom exemplo disso pode ser o aquecimento observado nas águas profundas do Oceano Atlântico, mesmo na zona onde nasce a Corrente do Golfo. Dado que é muito difícil afirmar que tal aquecimento possa ser provocado pela circulação de veículos diesel a 1.000 metros de profundidade (onde a Corrente é formada), é evidente que deve existir uma outra razão na base deste fenómeno, algo não relacionado com a actividade humana. E o aquecimento do núcleo da Terra é um bom candidato. O aquecimento do núcleo também deixa a porta aberta para novas hipóteses: se o núcleo está a aquecer, também as camadas superiores do planeta Terra fazem o mesmo, incluindo a crosta (é esta parte que aquece a Corrente do Golfo).

O aquecimento do núcleo num planeta ou numa lua pode ter efeitos enormes. Em Encélado, por exemplo, a proximidade de Saturno consegue aquecer o núcleo do satélite e manter líquido um oceano de mar salgado abaixo da superfície gelada.

É o mesmo que está a acontecer na Terra e, talvez, em Plutão? Há algo na órbita destes dois planetas que, ao variar, provoca um aumento da temperatura?

Deixamos de lado o planeta-anão, do qual afinal sabemos bem pouco, e falamos da Terra. As variações orbitais estão debaixo da lupa há bastante tempo: já nos anos ’20 do século passado, Milutin Milanković tinha publicado um estudo que relacionava as mudanças na órbita terrestre como factor decisivo para o aparecimento das glaciações. Isso é: algo com um enorme impacto sobre o clima do nosso planeta, tudo provocado pelas variações cíclicas da excentricidade orbital, da inclinação axial e da precessão da órbita.

A teoria de Milanković é válida? Parece que sim, mas ainda há alguns pontos que devem ser aperfeiçoados. Assim como está, esta teoria sozinha não consegue explicar o fenómeno das glaciações (que, de facto, permanecem por enquanto sem uma motivação oficial). A sensação é que Milanković tenha indicado uma estrada muito promissora, mas que falte ainda algo.

Estas variações cíclicas da excentricidade orbital, da inclinação axial e da precessão da órbita poderiam ser a causa do aquecimento do núcleo terrestre? Poderia haver um real efeito planeto-magnético? Mesmo com o Sol numa fase de actividade reduzida, como é o caso, uma natural variação de poucos graus no plano orbital (entre 22.5° e 24.5°), juntamente com as alterações cíclicas citadas antes, justificam um aquecimento do interior da Terra?

Não sabemos. E este “não sabemos ” pode significar tudo: que de facto o espaço ao nosso redor determina importantes variações climáticas ou que nada disso consiga alterar um mecanismo tão complexo como o clima terrestre. O site da Nasa ignora por completo o assunto, limitando o discurso à radiação emitida pelo Sol. E também o site da ESA vai na mesma senda. Distracções? Nem por isso, pois na verdade há cientistas que estudam os efeitos do espaço sobre o nosso clima. O lema é: “morte ao dióxido de carbono”, tudo o resto é secundário e ignorado.

Por exemplo, eis o que diz Masayuki Hyodo, professor do Centro de Pesquisa da Universidade para Mares Internos, Japão:

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas [o ICC, ndt] discutiu o impacto da cobertura de nuvens no clima nas suas avaliações, mas esse fenómeno nunca foi considerado nas previsões climáticas devido ao insuficiente entendimento físico disso. Este estudo oferece uma oportunidade para repensar o impacto das nuvens no clima. Quando os raios cósmicos galácticos aumentam, o mesmo acontece com as nuvens baixas, e quando os raios cósmicos diminuem, as nuvens fazem o mesmo. O aquecimento climático pode ser causado por um efeito oposto ao do guarda-chuva. O efeito guarda-chuva causado pelos raios cósmicos galácticos é importante quando se pensa no aquecimento global actual, bem como no período quente da era medieval.

Interessante o professor Hyodo, mas azarado: não é altura para declarações “politicamente incorrectas”…

 

Ipse dixit.

6 Replies to “As temperaturas do Sistema Solar”

  1. Actualmente estamos a caminhar para um mínimo solar que significa que o sol terá uma menor actividade e em consequência um campo magnético mais fraco.
    O campo magnético solar protege a terra e os restantes planetas da radiação cosmico-galática. É muito interessante um artigo que saiu há poucos dias sobre a ultima comunicação do Voyager II, e que refere precisamente um acréscimo enorme na radiação cosmico-galática para lá da Heliopausa, no espaço inter-estrelar.
    Sabe-se, há não muito tempo, que esta radiação cósmica-galática é responsável pela criação de núcleos de condensação na nossa atmosfera, necessários para a formação de nuvens.
    Assim, uma maior actividade solar corresponde a uma maior proteção magnética da Terra resultando numa menor cobertura de nuvens. Por outro lado, quando o Sol está em mínimos de actividade existirá uma maior cobertura de nuvens por força de uma maior radiação cósmica a atingir a Terra como refere o professor Hyodo.
    A cobertura de nuvens está directamente relacionada com a incidência de radiação solar na Terra, pelo que menos nuvens corresponde a maior radiação incidente ou seja mais calor, e mais nuvens menor radiação e menos calor.

    A climatologia é provavelmente a ciência mais complexa que existe porque abrange áreas como Termodinâmica, Física, Oceanografia, Cosmologia, Mecânica Quântica, Vulcanologia etc., etc., existindo aspectos cujo conhecimento é ainda muito pouco ou mesmo nenhum, por isso, quando alguém aparece a prever que os oceanos vão subir 98 cm no ano 2100, é uma piada e de muito mau gosto.

  2. Há cada vez mais evidências de que o universo é conectado por estruturas gigantescas

    Cientistas estão descobrindo que galáxias podem se mover junto com outras a enormes distâncias, e contra as previsões de modelos cosmológicos básicos. A razão pra isso pode mudar tudo que achamos que sabemos sobre o universo.

    https://www.vice.com/pt_br/article/zmj7pw/ha-cada-vez-mais-evidencias-de-que-o-universo-e-conectado-por-estruturas-gigantescas

  3. As variáveis neste campo são complicadas demais. O bicho homem também interfere na superfície do planeta para prejudicar a sua própria sobrevivência, No entanto, a humanidade se sente a dona do conhecimento, sem se dar conta que somos limitados demais para entender sequer onde vivemos. E, para piorar,o pouco conhecimento existente é desvirtuado e usado para interesses menores.

    1. Quando a ciência sair do interior dos seus laboratórios,largar os microscopios e começar a relacionar e a ampliar, talvez os cientistas modernos compreendam que tudo na natureza está relacionado, desde o micro organismo á estrela mais longe do nosso sistema solar,sistema, cíclico sem “preocupação” com o ser humano e suas acções.
      O promenor das nuvens…a sua relaçao com a subida ou descida das temperaturas no nosso Planeta, parece que “ouvi” Haarp, 5G lançamento de satelites…
      Isso sim factores que condicionam a atmosfera do nosso Planeta e que futuramente vão certamente alterar o ser humano e de uma forma maligna…

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