Al Baghdadi está vivo. Bin Laden pensa no regresso?

Bem alimentado, descansado e relaxado, de modo algum afectado por uma guerra que perdeu ruinosamente: até algumas semanas atrás era dado na última trincheira do Isis em Baghouz, para morrer heroicamente entre os últimos fieis enquanto os curdos competiam com o exército para capturá-lo. Dizia-se. Agora, Al Baghdadi reaparece. Dizem. E a derrota parece ter-lhe feito bem: novo look, novas carpetes, um AK-47 limpinho contra a parede tanto para enfeitar, até mudou-lhe um pouco a voz. Milagres da fé islâmica.

Onde reaparece o líder do Isis? No SITE de Rita Katz. O lugar mais lógico: quem mais do inimigo mortal poderia ter interesse em espalhar a voz do Estado Islâmico? Imaginem se as declarações de Donald Trump fossem difundidas unicamente pelo Kremlin: surgiria uma levíssima dúvida? Nós, pelo contrário, acreditamos nisso, como acreditamos em tudo. Uma criança poderia ter algumas dúvidas, nós não.

Al Baghdadi em 2004, no campo de detenção americano de Camp Bucca (esq.); em 2014, no território do Isis (centro); em 2019, numa localidade desconhecida (dir.).

Obviamente, os Leitores do blog já intuíram a verdade: este não é Al Baghdadi, personagem que em origem tinha sido escolhida pelos americanos em Abu Ghraib, encarregado de conduzir um exército guerrilheiro para a ocupação da Síria, pago pelo reino wahabita, treinado pela CIA, pela Nato e pelo Mossad como parte da operação Timber Sycamore (por sua vez parte dum objectivo mais amplo chamado Plano Kivunim), hoje provavelmente falecido, como afirmado em 2017 pela mesma Isis. Doutro lado, a especialidade da casa do SITE é mesmo esta: a ressurreição dos mortos, como no caso de Bin Laden.

Al Baghdadi não passava dum dos muitos úteis idiotas, sempre dispensáveis: era apenas uma minuta engrenagem num jogo bem maior. Como escreve Thierry Meyssan: “Al Qaeda é uma força paramilitar suplementar da Nato, o Daesh é o exército de terra aliado, financiado e armado directamente pelos Estados Unidos [e aliados regionais, podemos acrescentar, ndt], nascido para administrar um território, o Sunnistão ou o Califado, que deveria separar o Iraque da Síria”, em uma função anti-xiita para quebrar a continuidade territorial e, portanto, logística entre xiitas iraquianos e sírios, de acordo com a vontade de Tel Avive.

Agora este “califa”, que perdeu pelo menos 80.000 homens, jihadistas reunidos e alistados em todo o mundo, todos treinados e pagos pelos ocidentais, aparece como se nada fosse, engordado, sob o logótipo do SITE da simpática Rita Katz: e anuncia uma guerra de atrito contra “Os Cruzados”; recebe o juramento de lealdade de supostos fiéis do Isis de Mali, Burkina, Afeganistão e Sri Lanka, que aparecem no vídeo encapuçados (finalmente no SITE entenderam que é mais simples assim); diz que a tragédia do Sri Lanka foi a represália para vingar Baghouz, a última trincheira do Isis na Síria. Tudo num vídeo fortemente editado, com muitos cortes e, aparentemente, gravado em várias ocasiões. A frase que glorifica o massacre no Sri Lanka, por exemplo, parece ter sido adicionada mais tarde.

Em suma, tudo é falso: o califa é falso, o vídeo é falso, o que diz é falso… o perigo é real. Este sim que é verdadeiro. Porque significa que quem mexe os fios, o Deep State americano, israel, as monarquias do Golfo, não desistiram de realizar massacres “islâmicos” assinados pelo Isis e publicitado via SITE de Rita Katz pelo mundo fora.

Sem uma base estável, os sobreviventes do Daesh podem apenas cumprir uma função comparável àquela de Al Qaeda: agir como uma milícia terrorista sob directivas externas.

Basta pensar se isso parece possível: apesar de ser hoje uma organização desfeita, com centenas de milhares de combatentes perdidos, material e armamentos vaporizados, o Isis reaparece e lança simultaneamente dois ataques em duas áreas do mundo muito distantes: Congo e Sri Lanka.

No Congo, nos dias 16 a 17 de Abril, a agência Amaq (ou seja: o SITE de Rita Katz) anuncia que os combatentes do Estado Islâmico participaram no assalto de um quartel em Kivu, “anexando” o País ao território do Califado da África.

Na Páscoa, o ataque às igrejas católicas do Sri Lanka: um massacre operacional que demonstra a disponibilidade de dúzias de homens-bomba, quintais de explosivos militares, oficiais de ligação e coordenação fora da área, ampla cobertura e, aspecto não insignificante, disponibilidade de milhões de Dólares, porque estas coisas custam. Agora, alguém consegue acreditar que o defunto Al Baghdadi e o seu desfeito Isis possam fazer isso sem uma ajuda vinda do exterior?

Não só: o simpático defunto Al Baghdadi tem também a maneira de lançar sinais para quem é capaz de lê-los. No vídeo aparece com nas mãos um dossier com na capa as palavras Wilayat Turquia: ideia nada má, considerada a “traição” de Erdogan perante a Estados Unidos, Nato e povo curdo. Se assim for, teríamos um paradoxo pelo qual uma força islâmica pune um membro da Nato por este ter-se afastado das ordens de Washington e não ter respeitado os acordos com o curdos, grandes inimigos do Isis. Um jogo do absurdo que, todavia, será vendido com a máxima naturalidade pelos órgãos de comunicação, conscientes de que por aqui a “boa gente” acredita em tudo.

Não sabemos onde o Isis decidirá atacar da próxima vez. Os horizontes estão a ampliar-se: Europa, Médio Oriente, Ásia, África. E, com os apoios de EUA, Nato e Monarquias do Golfo, transferências, armas e dinheiro não são um problema. Sabemos, todavia, que o mundo muçulmano têm actualmente pelo menos dois graves problemas.

O primeiro é que não reconhece que o que está em vigor e domina hoje a religião deles é o wahabismo: uma vertente secundária da religião, tornada forte pelos bilhões sauditas. Um desvio que poderia ser tranquilamente chamado de heresia fanática: mas, infelizmente, no Islão não há uma autoridade suprema que possa pronunciar-se sobre o tema da ortodoxia, não há um Papa.

O segundo grande problema é que esta jihad da Isis & companhia funciona ao contrário: em vez que dizimar os “Cruzados”, mata os muçulmanos. Os dez Países mais atingidos pelo radicalismo islâmico são os seguintes:

  1. Iraq : 65.519 mortos
  2. Afghanistan : 31.965
  3. Nigeria : 20.375
  4. Pakistan : 16.773
  5. Síria : 9.574
  6. India : 8.123
  7. Somalia : 5.956
  8. Yemen : 4.633
  9. Egipto : 2.215
  10. Filipinas : 2.869

O total apenas destes  primeiros 10 Países é de 168.011 mortos. Um número nem comparável com aquele das vítimas ocidentais. Ou o Isis tem fortes problemas de pontaria ou, evidentemente, dispara por conta de alguém que não é Allah.

 

Ipse dixit.

4 Replies to “Al Baghdadi está vivo. Bin Laden pensa no regresso?”

  1. «…é o wahabismo: uma vertente secundária da religião, tornada forte pelos bilhões sauditas…»

    Correcto, mas o wahabismo só se desenvolve graças ao regime da Inglaterra que o promoveu, criando para o efeito o Reino da Arábia Saudita.

  2. Olha Max, tu afirmas que o SITE e congêneres poderia influenciar crianças tolas…mas se todos nós fomos transformados em crianças tolas (as exceções são mínimas), e se cada vez mais novos instrumentos de enganação são enfiados guela abaixo das pessoas, se torna muito difícil distinguir realidade de fantasia, especialmente para uma maioria que teve seu tempo desperdiçado. a maioria procurando trabalho e patrão ou preparando-se para consumir a própria vida, porque foram ensinados que essa escravidão é liberdade e dignidade. Falta-lhes tempo, meios, incentivo, curiosidade. Lhes sobra rotina, cansaço, indiferença, medo. E esse beco aparentemente sem saída perpetua-se no tempo e nas mentalidades.
    Só para me deprimir um pouquinho, estou assistindo uma série chamada Os 100, com espantoso público assistente.
    Ambientada em 2052, pós guerra nuclear que supostamente acabou com a humanidade,tem gente que subsiste no espaço e em terra mesmo de diversas formas. É nítido o objetivo de marcar os laços familiares da civilização cristã ocidental como pressuposto da resistência individual, a supremacia da tecnologia estadunidense pós apocalipse, e outras lorotas. Mas com uma coisa ali mostrada eu concordo inteiramente: basta sobrar um único casalzinho humano no planeta, e tudo recomeça no mesmo estilo…
    Depois de alguns séculos o planeta teria a mesma humanidade, com os mesmos anseios de liberdade justiça e paz, fazendo de tudo para não alcança-los, e uns poucos incentivando tudo isso para explorá-los e manter privilégios inaceitáveis em um mundo livre, justo e em paz.

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