Resultado primeira mão: 1 – 0

Liguei internet e comecei a rir-me sozinho. Podem chamar-me “sádico”, mas isso é demais. Diário Expresso:

John Chau, um jovem norte-americano de 26 anos, chegou à ilha Sentinela do Norte para levar a palavra de Deus a uma das tribos mais isoladas do mundo, os ‘sentineleses’. Não se conhece a sua língua, os seus costumes, o que comem exatamente, como se organizam. Mas sabe-se que eles não permitem a entrada a estranhos. Chau tentou na mesma. […]

Durante mais de dois dias, Chau tentou oferecer bolas de futebol, fio de pescar, tesouras mas na manhã de 17 de novembro, os pescadores viram o seu corpo inerte ser carregado para a praia. Na carta que deixou, o jovem católico explicava que a missão de ir ao sítio mais inóspito da terra lhe tinha sido atribuída por Deus.

Ok, então temos aqui algo interessante.

Em primeiro lugar, um povo incorrupto, que quer viver segundo as suas regras, sem ser perturbado. Legitimo.

Em segundo lugar, um jovem com fortes problemas, um fanático, incapaz de entender o simples conceito de “respeito”. Normal.

Mas a parte mais importante é esta: dois Deuses, o nosso e aquele dos Sentineleses, numa desforra inédita. Por enquanto o resultado é:

Deus Sentinelense  – Deus nosso: 1 – 0

É verdade que o Deus Sentinelense jogava em casa, todavia é uma derrota pesada do ponto de vista moral. Liderar o campeonato e perder com o último em classifica (50 adeptos no total), em plena zona despromoção, é sinal de crise.

Pessoalmente torço pela equipa do Deus Sentinelense porque demonstrou ser superior. De facto, a táctica do Deus nosso foi muito fraca: mandar em campo alguém com uma Bíblia e umas bolinhas coloridas funcionava em 1500, em 2018 é preciso mais. Já Allah nos últimos tempos abandonou o sabre para passar aos explosivos, agora é a vez do Deus Sentinelense, um Deus porreiro feito de pouca retórica e muita prática: “Aparece alguém? Matem-o”. Simples e directo, não é precisa táctica ou teologia aqui.

Agora será necessário esperar a segunda volta que, todavia, poderia já ter começado: o fanático John pode ter espalhado entre os Sentinelenses doenças contra as quais os locais não estão preparados. O Deus Sentinelense pagaria assim a falta de experiência nos torneios internacionais. Numa incrível reviravolta, o resultado final poderia ser:

Deus Sentinelenses – Deus nosso 1 – 50

Uma táctica que o Deus nosso já aplicou várias vezes com sucesso e que bem demonstraria o conhecimento acumulado ao longo de 2.000 anos de jogos.

 

Ipse dixit.

Fonte: Expresso

5 Replies to “Resultado primeira mão: 1 – 0”

  1. Foi assim que deus quis, não há nada a lamentar, a não ser o facto do indivíduo que morreu, pois é óbvio que sofria de problemas mentais, mas pior do que ele são os outros que o incentivaram a agir dessa forma.

  2. A parte positiva desta história, além do resultado obtido,é que a lei indiana protege esta ilha.
    Desejo aos Sentinelenses melhor sorte que aquela dos Maias e de tantos outros povos.

    Krowler

  3. Este jogo já acabou mesmo com descontos ou tempo extra porque uma das equipas já não joga. Sentinelas FC vence Fanáticos Unidos(e por não cumprir as regras do jogo segundo a federação).
    É o resultado que conta segundo as casas de apostas mais conhecidas de Bangucoque, Hong Kong e Londres.
    Ninguém avisava o fulano que é proibido ir a essa ilha, nem os Indianos ou os outros habitantes (e tribos) de Andaman e Nicobar lá vão.
    Jogou mal e sem ser com espírito desportivo de equipa e se ferrou, excusava era de levar cartão vermelho…mas é assim.

    N

  4. Esse jeitinho de ser fanático é bem típico dos jovens norte americanos ( o time “bom”). Eles nasceram para ser voluntários do bem, das boas regras,das boas crenças, dos bons valores, da boa sabedoria, do bom conhecimento. Então eles se espalham pelo mundo, praticando o bem e o certo porque o país em que nasceram é a meca do bem e do certo. E os não desenvolvidos, periféricos, selvagens e primitivos agradecem compungidos. Eles engrossam as organizações que irão recolher dados em campo, direcionar, controlar e produzir acontecimentos e situações úteis à pátria mãe. As boas intensões das quais o inferno está cheio são a sua marca registrada. O que aconteceu com o devoto abatido é que os ilhéus não sabiam disso.

  5. Ah, esqueci de comentar um exemplo bem significativo. Na década de 70, esses jovens prodígios levaram a bíblia dos pentecostais e suas formas de viver a crença em deus para os porto riquenhos. Foi uma epidemia maravilhosa, e lá eles sabiam que os voluntários eram “do bem”. Deu certo, tanto é que a ilha é o Estado associado ideal dos norte americanos. Em agradecimento os ilhéus de lá deixaram seu sangue no Vietname, Laos, Cambodja e onde fosse necessário purificar o lugar com o modus vivendis da pátria mãe. Dado o sucesso da empreitada, esta foi transferida para o Braziiiiill. Levou 50 anos de voluntariado, mas o sucesso tem sido estrondoso, nunca visto, e não vale a pena continuar, porque o mundo todo sabe. Resta saber onde vai ser derramado o sangue dos nativos daqui.

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