EUA: mais de 20 milhões de mortos desde a II Guerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) custou aproximadamente 16 milhões de vidas entre militares e civis. O preço da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) foi muito mais elevado: 68 milhões de vidas. Feitas as contas, em 31 anos foram mortas 84 milhões de pessoas. Algo que deixa sem palavras.

Para boa sorte, a guerra acabou: desde 1945 nunca mais houve conflitos tão abrangentes e a nossa sociedade está a viver décadas de paz. Claro, há combates em algumas regiões, mas nada comparável com os genocídios das duas guerras no princípio do XX século. No Ocidente, em particular, a presença dos Estados Unidos implicou a implementação de regimes democráticos e a resolução de eventuais atritos sem o recurso às armas. Pelo que é lícito pensar que desde o final da Segunda Guerra Mundial as perdas tenham sido muito menos significativas.

É mesmo assim? Depende dos pontos de vista. Sobretudo depende do significado da expressão “muito menos significativas”. Se algumas dezenas de milhões de vítimas forem consideradas “muito menos significativas”, então sim, desde 1945 vivemos numa espécie de paraíso. Se, pelo contrário, cada vida humana tem importância, então as coisas mudam um pouco. Se depois descobrirmos que desde o final da Segunda Guerra Mundial a maioria das vítimas fora dos regimes comunistas foram provocadas por aquele País que foi decisivo na implementação das democracias, que costuma apresentar-se como paladino da liberdade, da paz e que representa o modelo de referência de todo o mundo ocidental, então as coisas mudam mais um pouco.

Porque é disso que estamos a falar: desde o ano de 1945, os Estados Unidos foram responsáveis pela morte de mais de 20 milhões de pessoas nas várias guerras eclodidas entretanto. É possível pensar: “Podem ter sido guerras defensivas, o paladino da liberdade, da democracia e da paz pode ser o alvo preferencial dos regimes belicistas”. Poderia ter sido. Mas não foi: todas as guerras nas quais Washington ficou envolvida desde 1945 aconteceram em territórios exteriores aos Estados Unidos. Na verdade, desde o XIX século ninguém tentou invadir o território dos EUA.

O pesquisador James A. Lucas publicou em Global Research um estudo que documenta os mais de 20 milhões de vidas perdidas nas guerras lideradas pelos EUA, golpes militares e operações de inteligência realizadas durante aquele que é eufemisticamente chamada de “era do pós-guerra” (1945 – 2018).

EUA mataram mais de 20 milhões de pessoas em 37 “nações vítimas” desde a Segunda Guerra Mundial

Eis a lista em ordem alfabética.

Afeganistão

Os EUA são responsáveis por entre 1 e 1.8 milhões de mortes durante a guerra entre a União Soviética e o Afeganistão: Washington tentou implementar um regime amigo no País e a seguir armou as facções resistentes.

Os EUA foram directamente responsáveis por cerca de 12.000 mortes no Afeganistão, muitas das quais resultaram de bombardeios em retaliação pelos ataques de 11 de Setembro de 2001. Posteriormente, tropas dos EUA invadiram o País.

Angola

Intervenção durante a guerra civil do País africano. Em 1986, Washington aprovou a assistência material à UNITA, grupo que estava a tentar derrubar o governo. Ainda hoje a luta, que envolveu várias nações, continua.

Estimativas das mortes até a data: entre 300.000 a 750.000.

Argentina: ver América do Sul: Operação Condor

Bangladesh: ver Paquistão

Bolívia

Washington treinou e apoiou Hugo Banzer, líder do regime repressivo na Bolívia nos anos ’70. Banzer foi acusado de ser responsável por 400 mortes.

Camboja

Após anos de bombardeio no território da Camboja, o Presidente americano Nixon decide começar a preparação para um assalto terrestre contra o País. Não é conhecido o número dos mortos provocados por estas intervenções aéreas.

Como consequência directa das operações americanas, o Khmer Vermelho, um pequeno partido político liderado por Pol Pot, assumiu o poder explorando a situação de caos criada. Quando o Vietnam invadiu a Camboja em 1979, a CIA apoiou o Khmer Vermelho.

Mortes provocadas pelos bombardeiros e pela cumplicidade com o regime comunista do Khmer Vermelho: cerca de 2.5 milhões de pessoas.

Chade

Estima-se que 40.000 pessoas no Chade foram mortas e cerca de 200.000 torturadas pelo governo chefiado por Hissen Habre, levado ao poder em Junho de 1982 com a ajuda de dinheiro e armas da CIA. Permaneceu no poder por oito anos.

Em 2003 os EUA afirmaram que à Bélgica corria o risco de perder o seu status de sede da NATO se permitisse que o procedimento legal contra Habre ocorresse.

Chile

A CIA interveio nas eleições de 1958 e 1964 no Chile mas, em 1970, o candidato socialista Salvador Allende foi eleito Presidente. A CIA planeou a implementação duma guerra civil e em 1973 Allende foi assassinato. O poder foi assumido pelo general Augusto Pinochet que em 17 anos matou 3.000 chilenos.

Colômbia

A estimativa é que 67.000 pessoas morreram desde a década de 1960 até os últimos anos devido ao apoio dos EUA ao terrorismo de Estado colombiano. Segundo um relatório de Amnesty International de 1994, mais de 20 mil pessoas foram mortas por motivos políticos na Colômbia desde 1986, principalmente pelos militares e os seus aliados paramilitares. A Amnesty realçou “o equipamento militar fornecido pelos EUA, ostensivamente entregue para o uso contra narcotraficantes, usado pelos militares colombianos para cometer abusos em nome da contra-insurgência”. Em 2002,uma nova estimativa apontou para 3.500 pessoas mortas a cada ano na guerra civil financiada pelos EUA na Colômbia. Washington treina tanto os militares quanto os agentes disfarçados em actividades anti-subversivas.

Cuba

Na invasão da Baía dos Porcos em Cuba, em 18 de Abril de 1961, 114 soldados dos EUA foram mortos. Estima-se que o número de mortes entre as forças cubanas varie de 2.000 a 4.000. Há mais uma estimativa de 1.800 militares cubanos mortos numa estrada aberta com o napalm.

República Democrática do Congo (ex-Zaire)

Em 1960, o Congo tornou-se um Estado independente, com Patrice Lumumba seu Primeiro Ministro. Lumumba foi assassinado com o apoio da CIA. Antes do assassinato, a CIA enviou um dos seus cientistas, o Dr. Sidney Gottlieb, para o Congo com “material biológico letal” destinado ao assassinato de Lumumba. Este vírus teria sido capaz de produzir uma doença fatal entre os indígenas da região.

De 1977 é a notícia segundo a qual a CIA estava secretamente a apoiar os esforços para recrutar centenas de mercenários nos EUA e na Grã-Bretanha para servir ao lado do exército do Zaire. Naquele mesmo ano, os EUA forneceram 15 milhões de Dólares em suprimentos militares ao Presidente zairense Mobutu.

Em 1979, os EUA enviaram vários milhões de Dólares de ajuda a Mobutu que entretanto tinha sido condenado pelo Departamento de Estado dos EUA por violações de direitos humanos. Durante a Guerra Fria, os EUA canalizaram mais de 300 milhões de Dólares em armas para o Zaire e 100 milhões em treino militar.

República Dominicana

Em 1962, Juan Bosch tornou-se Presidente da República Dominicana. Em 1965, o Presidente Johnson disse: “Este Bosch não é bom”. O Secretário de Estado adjunto Thomas Mann respondeu: “Ele não é nada bom.” Dois dias depois, começou a invasão dos EUA e 22.000 soldados entraram na República Dominicana. Cerca de 3.000 dominicanos morreram durante os combates.

Timor Leste

Em Dezembro de 1975, a Indonésia invadiu Timor Leste. Esta incursão foi lançada um dia depois do Presidente dos Estados Unidos Gerald Ford e o Secretário de Estado Henry Kissinger terem deixado a Indonésia, onde deram permissão ao Presidente Suharto para usar armas americanas (de acordo com a lei americana, não poderiam ser usadas numa acção de agressão). A estimativa é de 200.000 mortos numa população de 700.000 pessoas.

Em 12 de Novembro de 1991, duzentos e dezassete manifestantes timorenses em Dili foram mortos a tiros pelas tropas Kopassus da Indonésia, chefiadas pelos comandantes Prabowo Subianto e Kiki Syahnakri, ambos treinados pelos EUA. Camiões atiraram os corpos das vítimas no mar.

El Salvador

A guerra civil de 1981 a 1992 em El Salvador foi financiada com 6 bilhões de Dólares em ajuda norte-americana para apoiar o governo. Durante esse período, os conselheiros militares americanos ensinaram métodos de tortura sobre prisioneiros, até adolescentes; parte do treino era efectuado em instalações norte-americanas no Panamá.

Cerca de 75.000 pessoas foram mortas durante a guerra civil. Em 1996 o Pentágono divulgou relatórios anteriormente classificados, indicando que os treinos incluíam assassinato, extorsão e abuso físico, prisão ilegal e outros métodos de controle.

Granada

A CIA começou a desestabilizar Granada em 1979, depois de Maurice Bishop ter-se tornado Presidente. A campanha resultou na invasão por parte dos EUA em 1983, com cerca de 277 pessoas mortas.

Guatemala

Em 1954, um golpe orquestrado pela CIA forçou o Presidente Jacobo Arbenz a deixar o País. Nos 40 anos seguintes, vários regimes mataram milhares de pessoas.

Em 1999, o Washington Post informou que mais de 200.000 pessoas tinham sido mortas durante a guerra civil e que houve 42.000 violações individuais dos direitos humanos, 29.000 delas fatais, 92% das quais cometidas pelo exército. A comissão relatou ainda que o governo dos EUA e a CIA tinham pressionado o governo guatemalteco para suprimir o movimento guerrilheiro com meios implacáveis.

Haiti

De 1957 a 1986, o Haiti foi governado por Papa Doc Duvalier e mais tarde por seu filho. Durante esse período, a sua força terrorista privada matou entre 30.000 e 100.000 pessoas. Milhões de Dólares da CIA fluíram para o Haiti durante esse período, principalmente para suprimir movimentos populares, enquanto a maior parte da ajuda militar americana ao País foi secretamente canalizada através de israel.

Alegadamente, os governos após o segundo reinado de Duvalier foram responsáveis ​​por um número ainda maior de mortes e a influência dos EUA no Haiti, em particular através da CIA, continuou. Mais tarde, os EUA expulsaram o Presidente Jean Bertrand Aristide, eleito com 67% dos votos no início dos anos ’90.

Honduras

Na década de 1980, em Honduras, a CIA apoiou o Batalhão 316 que sequestrou, torturou e matou centenas de cidadãos. Equipamentos de tortura e instruções foram fornecidos pelo pessoal argentino da CIA que trabalhou com agentes dos EUA na formação dos hondurenhos. Aproximadamente 400 pessoas perderam a vida.

Documentos desclassificados e outras fontes mostram que a CIA e a Embaixada dos EUA sabiam dos numerosos crimes, incluindo assassinatos e torturas, mas continuaram a apoiar o Batalhão 316.

A Honduras foi uma base, no início dos anos 1980, para os Contras que estavam a tentar derrubar o governo socialista sandinista da Nicarágua. John D. Negroponte, actualmente vice-secretário de Estado, era o embaixador de Washington quando a ajuda militar para a Honduras aumentou de 4 milhões para 77.4 milhões de Dólares por ano.

Indonésia

Em 1965, na Indonésia, um golpe substituiu o general Sukarno pelo general Suharto. Os EUA desempenharam um papel nessa mudança de governo: Robert Martens, um ex-oficial da embaixada dos EUA na Indonésia, descreveu como os diplomatas e os funcionários da CIA forneceram até 5.000 nomes para os esquadrões da morte do Exército indonésio, registrando também quando foram mortos ou capturados.

As estimativas do número de mortes provocados pelo golpe variam de 500.000 a 3 milhões.

Irão

O Irão perdeu cerca de 262.000 pessoas na guerra contra o Iraque de 1980 a 1988. Ver Guerra Irão – Iraque.

Em 3 de Julho de 1988, o navio da Marinha dos Estados Unidos, o Vincennes, estava a operar nas águas iranianas em apoio militar ao Iraque e disparou dois mísseis contra um Airbus civil iraniano: todos as 290 pessoas a bordo morreram.

Iraque

A guerra Iraque – Irão durou de 1980 a 1988 e durante esse tempo houve cerca de 105.000 mortes no Iraque de acordo com o Washington Post. Os EUA concederam aos iraquianos bilhões de Dólares em créditos e equipamentos militares, incluindo agentes biológicos.

A guerra entre os EUA e o Iraque e as sanções contra o Iraque estenderam-se de 1990 a 2003. O Iraque invadiu o Kuwait em Agosto de 1990 e os EUA responderam exigindo que o Iraque se retirasse. O ataque aéreo dos EUA começou em 17 de Janeiro de 1991 e durou 42 dias. Em 23 de Fevereiro, o presidente H.W. Bush ordenou que o ataque terrestre dos EUA começasse. Apenas cerca de 150 militares americanos morreram, em comparação com cerca de 200 mil iraquianos. Mais difícil estimar as mortes sucessivas: em 1999, a UNICEF informou que 5.000 crianças morreram a cada mês como resultado das sanções da ONU e da guerra com os EUA.

Leslie Stahl no programa televisivo 60 Minutes, em 1996, disse perante Madeleine Albright, embaixadora dos EUA na ONU: “Ouvimos dizer que meio milhão de crianças morreram. Quer dizer, são mais das crianças que morreram em Hiroshima. O preço valeu a pena?” Albright respondeu:“ Acho que essa é uma escolha muito difícil, mas o preço valeu a pena”.

Em 2003 os EUA atacaram o Iraque na âmbito da Guerra ao Terror. O número total de mortes iraquianas nesta nova vaga de ataques é de 654 mil, das quais 600 mil são atribuídas a actos de violência.

Guerra israel – Palestina

Cerca de 100.000 a 200.000 israelitas e palestinianos (principalmente estes últimos) foram mortos na luta entre os dois Países. Os EUA têm sido o principal defensor de israel, fornecendo bilhões de Dólares em ajuda e apoiando a construção de armas nucleares.

Coreia do Norte e do Sul

A Guerra da Coreia começou em 1950, quando, de acordo com a reconstrução do governo Truman, a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul. Trata-se duma reconstrução parcial, pois  entretanto surgiram provas de que o ataque da Coreia do Norte ocorreu durante um período de muitas incursões de fronteira por ambos os lados.

Os EUA iniciaram os seus ataques ainda antes que uma resolução da ONU fosse aprovada e introduzindo o uso de napalm. Washington lançou cerca de 650.000 toneladas de bombas, incluindo 43.000 toneladas de bombas napalm

A contagem dos mortos variam de 1.8 a 4.5 milhões.

Laos

De 1965 a 1973, durante a Guerra do Vietnam, os EUA lançaram mais de dois milhões de toneladas de bombas no Laos (mais do que durante a Segunda Guerra Mundial). Mais de um quarto da população tornou-se refugiados. Também chamada de “guerra secreta”, pois ocorreu ao mesmo tempo que a Guerra do Vietnam mas recebeu pouca divulgação, contou com centenas de milhares foram mortos: pelo menos 200.000 pessoas morreram.

Todavia, a intervenção militar dos EUA no Laos tinha começado muito antes. Em 1950 os EUA recrutaram uma força de 40.000 habitantes do Laos para opor-se ao Pathet Lao, um partido político de esquerda que tomou o poder só em 1975.

Nepal

Entre 8.000 e 12.000 nepaleses morreram desde que a guerra civil eclodiu em 1996. A taxa de mortalidade aumentou drasticamente com a chegada de quase 8.400 metralhadoras americanas M-16. Em 2002, depois que outra guerra civil eclodir, o presidente George W. Bush aprovou uma lei no Congresso autorizando 20 milhões de Dólares em ajuda militar ao governo nepalês.

Nicarágua

Em 1981, os sandinistas derrubaram o governo de Somoza na Nicarágua e até 1990 cerca de 25.000 nicaraguenses foram mortos na luta entre o governo sandinista e os rebeldes Contra, formados pelos remanescentes do governo nacional de Somoza.

Os EUA apoiaram e forneceram ajuda militar aos Contras a partir de Novembro de 1981. Quando o Congresso descobriu que a CIA tinha supervisionado actos de sabotagem na Nicarágua sem notificar o Congresso, aprovou a Emenda Boland que proibiu o fornecimento de qualquer assistência militar. A proibição foi contornada através de fundos privados e estrangeiros para os Contras e com a venda de armas para o Irão e respectivos lucros desviados para os Contras.

Paquistão

Em 1971, o Paquistão Ocidental, um Estado autoritário apoiado pelos EUA, invadiu o Paquistão Oriental. A guerra terminou depois que a Índia invadiu o Paquistão Oriental (o actual Bangladesh) e derrotou as forças paquistanesas ocidentais.

Milhões de pessoas morreram durante essa luta, à vezes definido como um autêntico genocídio cometido pelo Paquistão Ocidental. Este há muito era um aliado dos EUA: 411 milhões de Dólares tinham sido fornecidos para implementar as forças armadas, outros 15 milhões em armas fluíram para o Paquistão durante a guerra.

As estimativas apontam como número de vítimas totais entre 1.5 e 3 milhões.

Panamá

Em dezembro de 1989, tropas dos EUA invadiram o Panamá, supostamente para prender o Presidente e antigo colaborador da CIA Manuel Noriega. Estima-se que entre 500 e 4.000 pessoas morreram.

Paraguai: ver América do Sul: Operação Condor

Filipinas

As Filipinas estavam sob o controle Washington há mais de cem anos e nos anos ’50 e ’60 os EUA financiaram e ajudaram vários governos filipinos na supressão dos grupos opositores. Em 1969, no Congresso dos EUA foi revelado como o material de guerra tinha sido enviado para uma campanha de contra-insurgência. As Forças Especiais e a Marinha dos EUA participaram em algumas operações de combate. O número estimado de pessoas que foram executadas ou desapareceram sob o Presidente Fernando Marcos é de mais de 100.000.

América do Sul: Operação Condor

Esta foi uma operação conjunta de 6 governos despóticos da América do Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai) para compartilhar informações sobre os seus oponentes políticos. Estima-se que 13.000 pessoas foram mortas ao abrigo deste plano.

Foi estabelecido em Novembro de 1975 no Chile como um acto da Reunião Interamericana sobre a Inteligência Militar. Segundo o diretor político da embaixada dos EUA, John Tipton, a CIA e a polícia secreta chilena trabalharam em conjunto nesta operação que alegadamente terminou em 1983.

Em Março de 2001, o New York Times relatou a existência de um documento recentemente desclassificado do Departamento de Estado, que revela como os Estados Unidos desenvolveram um papel mais amplo, facilitando a logística das comunicações da Operação Condor.

Sudão

Desde 1955, quando conquistou a sua independência, o Sudão esteve envolvido na maior parte do tempo em guerras civis. Até cerca de 2003, aproximadamente 2 milhões de pessoas foram mortas.

Grupos de direitos humanos acusam as políticas norte-americanas porque estas ajudaram a prolongar a guerra civil, ao apoiar os esforços para derrubar o governo central em Kartum. Em 1999, a Secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, reuniu-se com o líder do Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA) para dizer-lhe que lhe oferecida comida caso o um plano de paz patrocinado pelo Egipto e pela Líbia fosse recusado.

Em Agosto de 1998, os EUA bombardearam a capital Kartum com 75 mísseis. Washington afirmou que o alvo era uma fábrica de armas químicas de propriedade de Osama Bin Laden. Na verdade, Bin Laden não era mais o proprietário, e a fábrica era a única fornecedora de suprimentos farmacêuticos para aquela nação. É desconhecido o número dos mortos por causa da falta de medicamentos para tratar malária, tuberculose e outras doenças.

Uruguai: ver América do Sul: Operação Condor

Vietnam

No Vietnam, com base num num antigo acordo, deveria ter tido lugar uma eleição para reunificar o Vietnam do Norte e o Vietnam do Sul. Os EUA contrastaram o acordo e apoiaram o governo Diem no Vietnam do Sul. Em Agosto de 1964, a CIA e outros ajudaram a fabricar um falso ataque norte-vietnamita contra um navio dos EUA no Golfo de Tonkin e isso foi usado como pretexto para um maior envolvimento dos EUA na região.

De acordo com uma declaração do governo vietnamita em 1995, o número de mortes de civis e militares durante a Guerra do Vietnam foi de 5.1 milhões.

Como as mortes na Camboja e no Laos foram de cerca de 2.7 milhões, o total estimado para a Guerra do Vietnam é de 7.8 milhões.

Jugoslávia

A Jugoslávia era uma federação socialista de várias repúblicas. Quando a União Soviética se dissolveu, EUA e Alemanha trabalharam para converter a economia socialista jugoslava num sistema capitalista, principalmente com um processo de divisão e conquista. As diferenças étnicas e religiosas entre as várias regiões do País foram manipuladas para causar várias guerras que resultaram na dissolução da Jugoslávia.

Aqui estão as estimativas de algumas das guerras internas da Jugoslávia desde 1990: Bósnia e Krajina 250.000 mortos; Bósnia entre 20.000 e 30.000; Croácia 15.000; Kosovo entre 500 a 5.000.

Pós guerra? Aonde?

Até aqui o trabalho de investigação de James A. Lucas. As fontes que constituíram a base deste pormenorizado relato podem ser encontradas na parte final da página de Global Research dedicada ao trabalho de James A. Lucas. É uma bibliografia em idioma inglês e bastante cumprida.

Portanto, os Estados Unidos foram directa ou indirectamente responsáveis pela morte de mais de 20 milhões de pessoas desde 1945 até hoje. É lícito falar dum “pós-guerra”? Não, de todo. Porque além dos dados acerca da belicosidade americana é preciso acrescentar os dados da contraparte, aquela dos regimes comunistas.

Assim como não é simples quantificar os mortos provocados pelo regime norte-americano, da mesma forma é complicado ter dados absolutos no caso dos regimes comunistas. O número de pessoas mortas sob o regime de Stalin na União Soviética foi estimada em entre 3.5 e 8 milhões pelo historiador G. Ponton, 6.6 milhões por V. Tsaplin, 9.5 milhões por Alec Nove, 20 milhões pelo Livro Negro do Comunismo, 50 milhões por Norman Davies e em 61 milhões por R.J. Rummel. Mas estes totais não distinguem entre antes e depois da Segunda Guerra Mundial

O número de pessoas mortas durante o regime de Mao Zedong na República Popular chinesa foi estimado em 19.5 milhões por Wang Weizhi, 27 milhões por John Heidenrich, entre 38 e 67 milhões por Kurt Glaser, entre 32 e 59 milhões por Robert L. Walker, 65 milhões pelo Livro Negro do Comunismo e 77 milhões de R.J. Rummel. Mais uma vez: totais referidos aos períodos antes e depois da II Guerra Mundial.

Mais simples é a contagem referida aos regimes comunistas mais recentes, todos surgidos após 1945:

  • 2 milhões na Coreia do Norte
  • 2 milhões no Camboja
  • 1.7 milhões na África
  • 1.5 milhão no Afeganistão
  • 1 milhão no Vietnam
  • 1 milhão na Europa Oriental
  • 150.000 na América Latina.

O total perfaz 9.3 milhões. Portanto temos o seguinte panorama:

  • vítimas dos Estados Unidos e regimes apoiados por Washington: mais de 20 milhões
  • vítimas do regime comunista da URSS (1922 – 1952): entre 3.5 e 61 milhões
  • vítimas do regime comunista da China (1935 – 1976):  entre 19.5 e 77 milhões
  • vítimas de outros regimes comunistas: 9.3 milhões.

Se considerarmos como válidas apenas as estimativas mais baixas (por exemplo: no caso da URSS 3.5 milhões), o total é de mais de 50 milhões de mortos depois de 1945. Cinquenta milhões de mortos são um “pós guerra”?

Se depois tomamos em considerações estimativas mais realistas (e 3.5 milhões de mortos na URSS, por exemplo, são uma estimativa ridiculamente baixa) e as vítimas das guerras não citadas até agora porque não envolventes os Estados Unidos ou os regimes comunistas, temos que admitir que definitivamente não há maneira de falar dum pós guerra.

 

Ipse dixit.

Fontes: artigo de James A. Lucas com relativas fontes em US Has Killed More Than 20 Million People in 37 “Victim Nations” Since World War II.

Imagem: I. Palacio em Unsplash

2 Replies to “EUA: mais de 20 milhões de mortos desde a II Guerra Mundial”

  1. Excelente artigo, um verdadeiro índice explicado e comparado da carnificina americana no sec. XX , os números serão sempre imprecisos e discutíveis mas o trabalho é de excelência.

  2. Realmente P.Lopes: as estimativas são variáveis, mas não desmerecem o esforço das investigações.
    Mas, para quem viveu como eu, em um espaço territorial dominado pela operação condor, e neste tempo e no tempo posterior, não dormiu muito, é fácil constatar que no Uruguai, este pequenino país com 3 milhões de habitantes humanos e 10 milhões de vacas, que era considerado um paraíso sul americana, inclusive pelo desenvolvimento cultural e boa vida da gauchada de lá, perdeu metade da sua população por ação da operação condor (mortos, desaparecidos, migrantes, mudança abrupta e radical das condições de vida). Sei, por razões particulares e pela vizinhança com o RS/Brasil, onde nasci e porque lá estive antes, durante e depois. Valia dizer-se na ocasião que toda gente virou Tupamaro (organização guerrilheira em oposição à dominação ditatorial e yanque), o que é um exagero…mas nem tanto.
    No Brazil, nunca se computou o significativo número de combatentes pertencentes às Ligas Camponesas comandadas por Francisco Julião, os índígenas e os quilambolas que participaram da resistência, foram torturados, desaparecidos ou mortos. Aparecem às vezes números pífios…até nisso muitos estudiosos e investigadores daqui parecem considerar gente, até para contar opositores ao regime imposto pela operação condor, os brancos urbanos.
    Ainda assim, vale muito estas estatísticas para afirmar que sempre e sempre para todas as governanças norte americanas, quem não se ajusta aos seus interesses, está contra a sua democracia e seu modo de vida, e quem está contra deve morrer.
    Problema maior vislumbro agora que tal império declina, e mais do que nunca precisa de guerras para sobreviver, e as guerras estão sendo conduzidas de formas mais camufladas, as chamadas guerras híbridas e outras estratégias que o Brazil ora parece um profícuo campo de experimentação, a exemplo do Chile quando a operação condor era a última palavra em matéria de ocupação e dominação político-social-econômica.
    Lembro que o período pouquinho antes das “grandes Guerras” não deixou nada a desejar em mortes por defesa. Só um exemplinho entre tantos: Leopoldo II matou 10 milhões com seu regime colonial no Congo. E vejam só, monarca daquele paizinho ínfimo, onde cabem hoje 7 ou 8 milhões.
    Eu se pertencesse a civilizações galácticas, só aterrizava aqui neste planetinha, se quisesse experimentar férias naquele inferno descrito pelos cristãos.E começava, conhecendo um matadouro de animais em escala industrial para ir me acostumando com o espírito da coisa. Depois eu via uma propaganda de carne suína e de aves e perus para entender como os humanos adoram fazer de conta. Finalmente eu lia o Bestiário do Bolsonaro, publicado no II. Estava então preparada para dar um “role” pelo planetinha.Quando voltasse, não contava nada, não lembrava nada, para não morrer vomitando.

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