Prós e contras da moeda hegemónica (o Dólar)

Quais são as vantagens em ter uma moeda hegemónica? O Dólar, por exemplo, é a moeda hegemónica: é a moeda com a qual são realizadas a maior parte das trocas comercias, especialmente as relativas ao petróleo, e financeiras; é utilizada como reserva pelos bancos centrais e nos tesouros dos grandes grupos empresariais; é considerada por alguns um bom “refugio”, isso é, um bom lugar onde investir o dinheiro. As coisas podem mudar nos próximos tempos, mas até agora o Dólar ainda é a moeda hegemónica.

Quais são as vantagens em desenvolver este papel? As vantagens que essa posição privilegiada dá aos Estados Unidos são múltiplas. A mais importante é permitir que o País mantenha um gigantesco deficit crónico na sua balança comercial, sem que isso precise a implementação duma rígida disciplina macroeconómica para corrigir a situação, como acontece com qualquer outro País. O que significa isso? Podemos considerar isso:

Balança Comercial = Exportações – Importações

Quando as exportações são maiores que as importações regista-se um superavit na balança (o que é positivo), no caso contrário regista-se um deficit (que é negativo). Ter uma balança comercial negativa (deficit) significa que há muitas importações: como as importações são pagas em dinheiro, ter um deficit significa que há muito capital (dinheiro) que sai do País para pagar as mercadorias. O País fica mais pobre porque o dinheiro sai: o activo (o tal superavit) ou passivo (deficit) da balança comercial é um indicador fundamental da sua força e da sua riqueza económica. É por isso que a balança comercial também determina a taxa de câmbio das moedas.

Nos Estados Unidos isso no acontece: sendo o Dólar a moeda utilizada na maioria das trocas comerciais e financeiras mundiais, é absolutamente normal que a maior parte dos Dólares fiquem fora do País. Simplificando: é um pouco como se os EUA exportassem Dólares não apenas para importar bens mas também para permitir as trocas no resto do mundo. Neste aspecto, os EUA são “obrigados” a ter um deficit cronico, portanto o valor do Dólar não pode ser estabelecido “contando” os capitais que saem do País (esta é uma explicação extremamente simplistas, mas dá para entender a ideia).

Nessa perspectiva, o consumidor americano desfruta de uma vantagem inigualável: os Estados Unidos conseguiram manter o crescimento económico impulsionado pelo consumidor durante décadas porque não têm que preocupar-se (excessivamente) com a questão do superavit ou do deficit: não precisam de introduzir medidas de austeridade (como diminuir as importações) para compensar uma balança comercial deficitária.

Há depois outro enorme vantagem: o emissor da moeda hegemónica recebe uma verdadeira prenda do resto do mundo, derivada do privilégio de senhoriagem. Isso porque para imprimir uma nota de 100 Dólares, a Federal Reserve tem um custo ridículo; mas para entrar na posse duma moeda de 100 Dólares, o resto do mundo deve entregar recursos por um valor de… 100 Dólares (no mínimo).

Até aqui as vantagens. Mas existem lados negativos? Sim, existem. Ao permitir que o consumidor americano obtenha bens de todos os tipos em troca de Dólares, o sistema enfraqueceu a indústria daquele País. A procura por Dólares no mundo provoca a valorização dessa moeda: e se o Dólar vale mais, significa que importar do estrangeiro custa menos. Isso mantém o consumidor activo nos Estados Unidos, que importa cada vez mais, ao ponto que importar sai mais barato de que produzir. Pelo que, cria-se um círculo vicioso: Dólar mais forte significa mais importações; mais importações significam menos produção; menos produção significa mais importações; etc.

Este processo “perverso” intensifica-se no meio de uma crise, enquanto governos e grandes empresas tentam obter Dólares para usá-los como moeda de reserva. Ao aumentar a sua procura, o Dólar ganha valor mas esta valorização reduz ainda mais a competitividade da indústria manufatureira dos EUA nos mercados mundiais.

É verdade que os Estados Unidos podem relativamente ignorar a balança comercial, mas existem limites: não é possível que a economia dum País funcione apenas com as importações. O papel da moeda hegemónica, ao longo dos anos, tem promovido a desindustrialização dos Estados Unidos. Não tem sido o único factor, mas tem sido uma força tenaz que minou a base competitiva do sistema industrial americano. Isso ajuda a compreender as recentes decisões da Administração Trump: impor taxas sobre as mercadorias oriundas do estrangeiro não é apenas a enésima “loucura” do Presidente americano; é uma tentativa para contrariar o excesso de importações e dar fôlego à industria nacional.

Portanto, ao longo dos anos, os privilégios de manter a moeda hegemónica começam a ser dominados pelos efeitos negativos. No entanto, os benefícios são percebidos como superiores aos custos. Não é por acaso que os Países que desfrutaram desse privilégio ao longo da história do Capitalismo lutaram com unhas e dentes para preservar a hegemonia das suas moedas. É por isso que a história do pós-guerra pode ser resumida como a longa série de esforços de Washington para consolidar o papel do Dólar neste sentido.

No final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos emergiram como a potência económica número um do planeta. Mas a consolidação do Dólar americano como moeda hegemónica precisava mais do que poder económico e militar: durante os primeiros anos de vida do novo sistema, os Estados Unidos tentaram controlar e marginalizar o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI), promovendo a substituição da Esterlina britânica pelo Dólar para cobrir as necessidades de liquidez da economia mundial.

A crise do Canal de Suez, em 1956, constituiu uma grande oportunidade para usar o FMI na óptica desta estratégia geopolítica e financeira. A Inglaterra continuou como potência colonial dominante no Médio Oriente e Washington estava ansiosa para introduzir mudanças na região: para evitar que a Esterlina britânica fosse alvo de ataques especulativos, a City de Londres precisava do apoio do FMI; Washington ofereceu as garantias necessárias, mas com a condição de retirar as tropas britânicas do canal e cancelar a invasão. Londres não teve escolha a não ser submeter-se aos desenhos de Washington. O Dólar consolidou-se mas, como vimos, no longo prazo a falta de equilíbrio deste sistema acabou por minar os fundamentos da competitividade internacional da economia americana.

 

Ipse dixit.

Fonte: um excelente artigo muito claro do economista mexicano Alejandro Nadal em La Jornada

One Reply to “Prós e contras da moeda hegemónica (o Dólar)”

  1. Os países que estão verdadeiramente interessados em libertar-se da “ZioMatrix”, esses, fazem o que a Rússia e a China estão a fazer e aumentam as suas reservas de metais preciosos. Portugal, pelo contrário, desfaz-se das suas reservas de ouro para agrado da alta finança internacionalista. Mas lá está, o que seria de esperar de um País que desde 1974 é governado por traidores e fantoches ao serviço do Sionismo Rothschild? (se quiserem saber mais sobre isto, leiam a obra 25 de Abril: Episódio do Projecto Global de Fernando Pacheco de Amorim).

    O cartel globalista e em última análise, a própria Nova Ordem Mundial, estão a ser empurrados para um beco sem saída. O sistema financeiro baseado no dólar, no fundo, não passa de um tremendo esquema Ponzi que pode e deve ser destruído antes que o mesmo possa trazer mais males ao Mundo. O problema (há sempre um problema…) é que os tiranos sionistas que capturaram as estruturas de poder no Ocidente, não vão desistir assim tão facilmente do seu poder e eu pessoalmente acredito que os mesmos são, não apenas capazes de tudo, como estão dispostos a tudo para manter o seu poder. No limite e se confrontados com a derrota total estes psicopatas com mentalidade messiânica, poderão mesmo até despoletar propositadamente um Apocalipse nuclear à escala global.

    Mais aqui:

    https://historiamaximus.blogspot.com/2018/06/o-fim-do-petrodolar-uma-necessidade.html

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