O que aconteceu ao Príncipe?

O mistério sobre o destino de Mohammad bin Salman, o Príncipe hereditário saudita “desaparecido” desde Abril, está a tornar-se cada vez mais agudo. Relatos não confirmados afirmam que o Príncipe estaria ferido ou até morto após uma tentativa de golpe perpetrada no passado dia 21 de Abril. A única certeza é que Bin Salman esteva ausente dos eventos oficiais, incluindo a reunião com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.

O MBS, como é frequentemente citado, é o autor do programa de reformas económicas e sociais do reino chamado Vision 2030, elogiado e exaltado pelos governos dos Estados Unidos e do Ocidente, apesar da Arábia ser o País que desencadeou a guerra do Yemen, com o massacre da população civil daquele País. E apesar da Arábia ser um dos Países mais atrasados no âmbito dos direitos civis.

O Príncipe implementou uma vasta campanha contra a corrupção endémica no reino, mas a impressão é que esta limpeza foi um pretexto para livrar-se do rivais políticos. O mesmo Príncipe, em acordo com Washington, tentou esconder o papel da Arábia Saudita no terrorismo wahabi, mas nos últimos tempose esse papel veio à luz após a confissão do ex-Primeiro Ministro do Qatar, rival do príncipe Bin Salman, que revelou o plano de criação e apoio americanos-saudita em favor do Isis na Síria e no Iraque. Uma autêntica “bomba” que os órgãos de comunicação ocidentais tentaram esconder.

E a propósito de mass media: aqueles sauditas rejeitaram os relatos que davam conta de tiroteios no palácio real, tal como de notícias acerca de golpes militares. A versão oficial é que tiros de armas de fogo ouvidos no palácio foram efectuados com armas semiautomáticas usadas para afastar um drone que apareceu perto do palácio. Sinais dos tempos: uma vez afastavam-se dragões, depois pombos, agora drones.

O príncipe hereditário era consistentemente visível na construção da sua reputação como “reformador”: o facto de ter desaparecido da cena saudita representa uma grande novidade.
Na semana passada, a família real publicou uma foto de Bin Salman empenhado numa reunião de gabinete, mas a fotografia não tem data. E a especulação continua, especialmente tendo em conta que o Príncipe apostou na visibilidade pública para aumentar o poder.

Por essa razão, a sua ausência durante a visita oficial do novo Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, não passou despercebida. Na semana passada, o jornal iraniano Kayhan relatou, citando informações secretas de inteligência de um País árabe não identificado, que o Príncipe foi baleado duas vezes durante o ataque e pode já estar morto. Mas a fonte não pode ser definida como “imparcial”, pelo que o mistério continua acerca do maior aliado de Washington e Tel Avive no Médio Oriente.

Rezamos para a saúde do simpático Príncipe.

A propósito: temos que rezar quem? Deus tem alguma influência no estado de saúde dos Príncipes muçulmanos ou este é apenas uma exclusiva de Allah? Como funciona a coisa? Existe um centro de triagem onde as orações são reencaminhadas consoante a fé do doente? Temos que enviar o pedido directamente ao Deus envolvido ou a oração dum infiel irrita Allah que, para vingar-se, atinge o Príncipe com o sarampo?

O risco existe. Melhor não rezar e esperar para novidades.

 

Ipse dixit.

Fontes: Asia News, Veterans Today, Kayhan

6 Replies to “O que aconteceu ao Príncipe?”

  1. “…apesar da Arábia ser o País que desencadeou a guerra do Yemen…”

    Convém realçar que a guerra na República do Iémen foi desencadeada pelo regime da Inglaterra, sendo o Reino da Arábia Saudita o seu proxy (ou seja, o executante da agressão).

  2. Qual é o País onde não é permitido qualquer tipo de dissidência, partidos políticos, parlamento ou eleições justas e livres?

    Qual é o País que tem cerca de 7000 membros da casa real a ocupar posições-chave do regime?

    Qual é o País onde o poder é passado de irmão para irmão, em lugar de pai para filho, dando assim origem a um sistema político extremamente envelhecido e antiquado, mesmo para os padrões de uma monarquia ultra-conservadora?

    Qual é o Pais que actualmente é não só um dos principais patrocinadores do Estado Islâmico, como também o maior mentor ideológico por detrás do mesmo?

    Qual é o País onde se cortam mãos e executam pessoas apenas por serem homossexuais ou por terem sido condenadas por “crimes” tão ridículos como a bruxaria?

    Qual é o País onde as mulheres são torturadas para se poder obter uma simples confissão de adultério?

    Qual é o País onde os juízes são nomeados pessoalmente pelo próprio Rei?

    Qual é o País onde as mulheres não podem conduzir e são condenadas a serem chicoteadas se forem apanhadas a fazê-lo?

    Qual é o País onde as mulheres precisam da autorização de um “guardião” para poderem fazer coisas tão simples como sair de casa, comprar algo ou assinar qualquer tipo de documento legal?

    Qual é o País onde o testemunho de uma mulher em tribunal, vale apenas metade do de um homem?

    Qual é o País que, apesar de tudo o que acima foi dito, continua a ser um dos principais amigos por interesse das ditas “democracias” ocidentais?

    Provavelmente, se os leitores chegaram até aqui, já terão advinhado que este País de que falo é a Arábia Saudita, um Reino que é governado por aquilo que podemos designar como sendo a monarquia mais asquerosa do Mundo e um verdadeiro covil de tarados do deserto. Ninguém pode hoje negar que a Arábia Saudita anda há décadas a exportar o seu modelo islâmico – o Wahhabismo – para o exterior do Reino, patrocinando activamente grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico. Paradoxalmente, a Arábia Saudita é também um dos melhores aliados do Ocidente no Médio Oriente. Ninguém vê nada de estranho nisto?…

    Porque será que os ditos “democratas” do Ocidente têm tanto medo de nacionalistas, aos quais gostam de chamar “faxistas” (alguns até chegam ao ponto de proibir o “pavoroso faxismo” na sua Constituição…), mas ao mesmo tempo não vêem quaisquer problemas em manter e fomentar relações diplomáticas e comerciais com uma Nação que é em tudo uma verdadeira antítese daquilo que o Ocidente representa?

    As “democracias” ocidentais são isto e nunca passaram disto mesmo: hipocrisia pura ao serviço de agendas ocultas e interesses privados, normalmente contrários ao interesse geral. Costumo dizer que um “democrata”, por norma, só é “democrata” enquanto concordarmos com ele, quando discordamos, acaba-se a “democracia” na hora. Falo por experiência própria e muitos anos a aturar caprichos de “democratas” que não se importam de meter no carro combustível saudita, enquanto mantêm sempre na ponta da língua a palavra “faxista” pronta a disparar.

    Mas o povo verá, daqui por mais uns anos, quem são os verdadeiros “faxistas”, deixem só a crise económica – estruturalmente irresolúvel e inultrapassável sem recorrer ao belicismo – apertar mais um pouco e verão todos quem são os verdadeiros assassinos e instigadores do terror, da morte e da guerra.

    Mais aqui:

    http://historiamaximus.blogspot.com/2016/01/os-democratas-e-monarquia-mais.html

  3. Contra factos não há argumentos.
    Essa da democracia é boa, só se for a que impomos(poder) o resto ou é fascimo ou fantasma do comunismo e outros ismos…
    É democracia ou no nome disso por desenho, para beneficiar os do costume, hipócritas UK/ US/ e outros e as elites intemporais.
    e outros amigos momentaneos, que a seguir levam facada nas costas. Pregam algo e fazem o oposto, ou guerras preventivas ou em nome da paz.
    A Arabia é isso tudo…mas não sem ajuda das “democracias” hipócritas manobradas pelos representantes de corporações, lobies, financa tóxica, agronegocio, armas. E água privatizada não vai demorar muito.
    E dá para um lado ou outro.
    João você sim é um democrata e patriota e não um boneco que tudo aceita, que é o pretendido.
    Ainda existe com quem dê para falar, mesmo não tendo a mesma visão, aprende-se sempre basta ter respeito pelo semelhante.

    Abraço

  4. O engraçado é a defesa intransigente dos “nacionalistas”. Seus defensores parecem esquecer a origem dos “nacionalistas”, terras-tenentes que se transfomariam, associados a alta burguesia ascendente, em novas elites. Ou seja, elites x elites. Exemplo? Guerra da Independência dos EUA. No fim eles se locupletam e a população paga a conta…

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