Caridade e dinheiro nos Estados Unidos

Desde a fundação dos Estados Unidos, a religião desempenhou sempre um papel ativo nas vidas da
maioria dos americanos. Embora a fé religiosa seja uma tendência descendente, em oposição ao secularismo que está a aumentando, em 2014 uma percentagem de 70.6% dos americanos ainda se identificou como “cristão”, enquanto outro 5.9% professa fés não Cristãs, como o judaísmo e o islamismo.

Muitas pesquisas foram feitas sobre o impacto que as religiões têm na comunidade. Às vezes são utilizadas como pretextos para coisas terríveis, como as guerras, às vezes a religião consegue catalisar aspectos positivos como o voluntariado por exemplo. Os autores do estudo reconhecem e entendem que “as más notícias fazem barulho, mas é importante olhar para os dois lados da questão para entender de forma clara”.

Numa estudo de 2016 intitulado “O contributo socioeconómico da religião na sociedade americana: uma análise empírica”, Melissa e Brian Grim da Universidade de Georgetown e do Instituto Newseum decidiram calcular o custo e a contribuição das religiões na economia dos Estados Unidos.

De acordo com estimativas conservadoras, as organizações religiosas gerem um volume de negócios de cerca de 378 bilhões de Dólares por ano. Ou seja, mais do que o facturado global da Apple e da Microsoft juntos.

Ao incluir também as empresas com raízes religiosas, o número sobe para cerca de 1.2 triliões Dólares; e se nas estimativas passamos a calcular os rendimentos dos agregados familiares “afiliados”, o total do dinheiro movido pelas organizações religiosas chega até 4.8 triliões de Dólares por ano, cerca de um terço do Produto Interno Bruto dos EUA.

Melissa e Brian Grim, autores do estudo, explicam:

Acreditamos que a nossa segunda estimativa, de 1.2 triliões de Dólares, é a mais razoável porque leva em conta tanto o valor dos serviços prestados por organizações religiosas quanto o impacto que a religião tem sobre uma série de grandes empresas americanos.

Depois de concluir a análise, os dois autores descobriram que as receitas combinadas das cinco maiores organizações de caridade religiosas no País chegavam a pouco menos de 38 bilhões de Dólares. Essas organizações são: Lutheran Services in America, Young Men’s Christian Association (YMCA), Catholic Charities, Salvation Army e Habitat for Humanity.

No entanto, a religião também está a tornar-se uma das maiores indústrias livres de impostos do País. O estudo estimou que os media cristãos geram um volume de negócios de aproximadamente 6.8 bilhões de Dólares por ano:

As estimativas indicam que o mercado das publicações religiosas e os produtos relacionados valiam 6.8 bilhões de Dólares em 2003, tendo crescido desde então a uma taxa de quase 5% ao ano. Este mercado é dividido em três categorias (dados de 2003):

  • livros (o maior segmento com de 3.5 bilhões e uma taxa de crescimento de 7%);
  • papelaria / presentes / mercadoria (1.4 bilhão e taxa de crescimento de 4.5%);
  • áudio / vídeo / software (1.4 bilhão, tendência constante).

Depois de reunir todos os dados, Melissa e Brian Grim concluíram que, de forma conservadora, o volume dos negócios anuais de 378 bilhões de Dólares pode ser dividido em seis categorias:

  • cuidados de saúde (161.000 milhões de Dólares);
  • atividades de congregação local (83.8 bilhões);
  • educação (como escolas católicas, 74 bilhões);
  • caridade (45.3 bilhões);
  • alimentos (14.4 bilhões);
  • média (0.9 bilhão).

Vale a pena lembrar mais uma vez que não estamos a falar de “despesas” mas de receitas isentas de impostos. Estas, por exemplo, são as receitas só dos maiores sistemas de cuidados de saúde:

A religião é claramente um segmento muito importante e influente na vida e na economia americanas. E sem dúvida um grande número de americanos faz coisas boas para os outros: não podemos esquecer que nos Estados Unidos existem mais de 40 milhões de pobres “oficiais” numa população de 325 milhões de habitantes (mais de 12%). Portanto, não é este o problema.

O problema fica em quem gere este mar de dinheiro e no perigo de que tudo isso se torne cada vez mais um modelo para negócios isentos de impostos em vez de ser um modelo de fé e de caridade.

Ipse dixit.

Fonte: Interdisciplinary Journal of Research on Religion – The Socio-economic Contribution of Religion to American Society: An Empirical Analysis (ficheiro Pdf, inglês), Waking Times

4 Replies to “Caridade e dinheiro nos Estados Unidos”

  1. Boa a matéria. O mega-negócio religião sempre foi e sempre será essencial em sociedades precárias que não vislumbram quase nada além do dinheiro, consumo e diversão (o velho e bom "pão e circo"). A isenção tributária é "justificada" pelo exercício da "filantropia" e do "altruísmo". O mesmo ocorre com as Fundações das elites judaicas, que justificam uma pesquisa similar.

  2. Toda dita filantropia prospera em meio a desilusão e a miséria. E é um excelente negócio. Os milionários são grandes filantropos, todos nós sabemos. Imagine-se a filantropia embasada na fé religiosa, tábua de salvação para milhões. Acredito que nos EUA algum proveito tais instituições acabem trazendo para as vítimas do assassinato financeiro, social e moral que sofre aquele povo. Mas aqui no Brazil, e não só, a coisa é bem séria. Essas mesmas instituições de origem estrangeira produzem grande estrago político pois são plantadas aqui justamente para isso em troca de um auxílio miserável para as camadas mais desprovidas de tudo da população. Observo algum retorno isento nas dioceses católicas de pequenas cidades que recebem um dízimo voluntário durante as missas e retornam para os membros classificados mais pobres em alimentos e agasalhos.

  3. Olá Maria! Desculpe te decepcionar mas as ditas dioceses católicas são filiais de grandes corporações religiosas cujos Sínodos superiores ditam suas ações e os patrocinam na "missão" de envolver seus fiéis. O dízimo é uma pequena parte da receita que recebem, e funciona para que mantenham a imagem de filantropos, (no caso do dízimo) com dinheiro dos outros.

    1. Eu sei Chaplin. Te falo de coisa muito localizada e diminuta, uma pequena ala eclesial meio rebelde no Brazil, "descendente" da moribunda teologia da libertação, que é contrária ao regime aqui instituído atualmente e que, inclusive, usa o púlpito para manifestar sua descontentamento político social e econômico. Claro que tens razão na maioria dos casos.

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