Fukushima: o presente e o futuro

Quando, em 11 de Março de 2011, o desastre encerrou o fornecimento de eletricidade externa e
interna na central nuclear de Fukushima, três dos sistemas de refrigeração das quatro unidades do reactor foram desativados. Isso causou o superaquecimento do combustível nuclear, resultando numa fusão e explosão de hidrogénio, com consequentes emissões de radiação. O órgão de administração da usina, a Tokyo Electric Power Co. (TEPCO), interveio esfriando os reactores com água, uma operação que continua ainda hoje. Enquanto isso, milhares de pessoas que viviam na área circundante foram evacuadas e as outras usinas de energia nuclear japonesas foram temporariamente desligadas.

Nos anos que passaram desde o desastre e a intervenção imediata para impedir a libertação de material radioativo, os funcionários trabalharam acerca de como descontaminar o local sem dispersar mais radiação para o meio ambiente. Mas será necessário um esforço complexo de engenharia para gerir as milhares de barras de combustível, juntamente com os detritos degradados e a água usada para esfriar. Apesar dos contratempos, agora o projecto está realmente em curso, dizem os funcionários da TEPCO. Naohiro Masuda, chefe do desmantelamento da TEPCO para Daiichi:

Ainda estamos a realizar estudos para localizar o combustível fundido, mas determinamos que as unidades são estáveis.

O interior fundido do reactor n. 2

Trabalhos hidráulicos

Limpar e desmontar completamente o sistema pode durar uma geração ou mais, e terá um preço muito alto. Em 2016, o governo aumentou a estimativa dos custos para cerca de 75.7 bilhões de Dólares, o que é apenas parte do custo total do desastre de Fukushima, calculado em 202.5 ​​bilhões. No entanto, o Japan Center for Economic Research, um grupo de pesquisa privado, afirma que os verdadeiros custos de recuperação poderiam ascender até os 660 bilhões de Dólares.

A TEPCO espera terminar o trabalho em 30 ou 40 anos. Mas vários especialistas dizem que esta pode ser uma subestimação. Rod Ewing, professor de segurança nuclear e ciências geológicas da Universidade de Stanford:

Em geral, as estimativas do trabalho que envolve descontaminação e eliminação de materiais nucleares são subestimadas em décadas. Acho que devemos esperar que o trabalho possa ir além dos tempos previstos.

O tempo e as despesas consideráveis devem-se ao facto de que a recuperação das terras é uma verdadeira hidra de cem cabeças, que envolve engenharia sem precedentes. A TEPCO e os seus muitos contratados concentram-se em várias frentes.

Todos os dias a água circula deliberadamente em cada reactor para esfriar o combustível no interior, mas a usina está num declive e a água da chuva continua a entrar nos edifícios. Os trabalhadores construíram um elaborado sistema de lavagem que remove césio, estrôncio e dezenas de outras partículas radioativas da água; parte desta é reciclada nos reactores e parte acaba nos enormes tanques. Cerca de um milhão de toneladas de água são armazenadas em mil tanques e o volume cresce em 100 toneladas por dia (em comparação com as 400 toneladas de há quatro anos).

Mais de 90 por cento do local foi pavimentado para evitar que outra água infiltre o solo: uma série de canais de drenagem e de barreiras subterrâneas foram construídas também, incluindo uma “parede” presumivelmente impermeável de terra congelada, para evitar que a água contaminada passe dos reactores para o oceano. Custo: 325 milhões de Dólares. No entanto, essas medidas não funcionaram tão bem quanto planeado, especialmente durante os tifões, quando as chuvas atingem o máximo e os aquíferos continuam a ser contaminados.

Embora a água contaminada tenha sido descarregada no mar após o desastre, estudos de laboratórios japoneses e estrangeiros mostraram que o césio radioativo presente nos peixes capturados na região diminuiu e está agora dentro dos limites de segurança alimentar do Japão. A TEPCO não vai dizer ainda o que fazer com toda a água armazenada, porque despeja-la no oceano atrairia numerosas (e justificadas) críticas em casa e no exterior: mas a preocupação é que outro terremoto possa fazer com que o líquido saia dos tanques e acabe na mesma no oceano.

O combustível

Outro enorme problema em Fukushima é como lidar com o combustível, ou seja, com os núcleos de urânio fundido e as barras de combustível usadas e não, ainda armazenadas nos reactores. Com as sondas robóticas e as técnicas de imagem 3-D de muões (um tipo de partícula subatómica), os trabalhadores descobriram detritos e outras “peças” que permanecem em várias áreas dos vasos de contenção primários nas três unidades do reactor: pensa-se que esses resíduos altamente radioativos sejam constituídos por combustível fundido e estruturas de suporte. A TEPCO ainda não descobriu como remover os detritos, mas quer começar a trabalhar nisso em 2021.

Há poucos precedentes para uma operação deste tipo. Lake Barrett, diretor da central nuclear de Three Mile Island em Middletown, Pensilvânia (EUA), que está a ser desmantelada após o colapso parcial de 1979, diz que a TEPCO usará robôs para cavar o combustível derretido e armazená-lo em contentores no local antes de enviá-lo para o destino final:

É semelhante ao que fizemos em Three Mile Island, apenas bem maior e com engenharia muito mais sofisticada, porque os danos são mais graves do que os nossos. Embora o trabalho seja tecnicamente muito mais desafiador do que o nosso, o Japão tem excelentes capacidades tecnológicas e a tecnologia robótica mundial cresceu tremendamente nos últimos 30 anos.

Shaun Burnie, especialista sénior em questões nucleares da Greenpeace Germany, duvida do ambicioso trabalho de recuperação possa ser completado dentro do tempo acordado e pergunta sobre a possibilidade de conter completamente a radioatividade. Enquanto a TEPCO não for capaz de verificar as condições do combustível fundido, Burnie afirma que “não pode haver confirmação de quais impactos e quais danos foram causados ​​pelo material” nos vários componentes dos reactores e, portanto, de quanta radiação pode ainda sair no futuro.

Embora a empresa conseguiu remover em segurança todas as 1.533 barras de combustível do reactor da unidade 4 até Dezembro de 2014, ainda não fez o mesmo com as centenas de barras armazenadas nas outras três unidades. Isso envolve a remoção de detritos, a instalação de protecções, a desmontagem de telhados e de pavimentos e a instalação de equipamentos especiais para a remoção das barras. No mês passado, um telhado em cúpula de 55 toneladas foi instalado na unidade n. 3 para facilitar a remoção de 533 barras de combustível; mas a remoção na unidade número 3 não deve começar antes de Abril de 2019, enquanto o combustível das unidades 1 e 2 não estará pronto para a transferência antes de 2023, sempre de acordo com a TEPCO. E ainda não foi decidido onde exatamente o combustível e outros resíduos radioativos sólidos serão armazenados ou depositados no longo prazo.

Quanto ao aspecto do local no prazo de algumas décadas, a TEPCO recusa falar. Mas a empresa está determinada a diferenciá-lo duma contenção estilo “sarcófago” como aconteceu após a catástrofe de Chernobyl de 1986. Enquanto a central de Chernobyl é selada e a área circundante permanece off-limits, excepto para curtas visitas curtas, os funcionários do governo japonês querem áreas habitáveis ​​em torno de Daiichi. Satoru Toyomoto, diretor de assuntos internacionais do Escritório de
Resposta aos acidentes nucleares do Ministério da Economia do Comércio e
da Indústria:

Para
acelerar a reconstrução da região de Fukushima e a vida dos habitantes
da região, a chave é reduzir o risco a médio e longo prazo. Neste
sentido, manter os detritos no local sem aprovação não é uma opção.

Ipse dixit.

Fonte: Scientific American – Clearing the Radioactive Rubble Heap That Was Fukushima Daiichi, 7 Years On
ard

4 Replies to “Fukushima: o presente e o futuro”

  1. Se conhece algum relatório detalhado sobre os custos humanos e animais imediatos e a longo prazo causados pelo sinistro FuKushima?

  2. Chernobil ainda hoje e recordada todos os anos.
    Fukushima é mais …. esquece , esquece… nao aconteceu nada.

    EXP001

  3. Será que as torres eólicas ( offshore e em terra ) e os diferentes tipos de paineis fotovoltaicos têm este tipo de problemas?

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: