Áustria: um caso de excesso de Democracia

Olhem para o gráfico mais abaixo: mostra os dados da última consulta eleitoral na cidade austríaca de Linz, após o segundo turno de Domingo para as eleições presidenciais e a contagem dos votos enviados via correio.

Na terceira maior cidade do País, votaram 598% dos eleitores: 3.580 eleitores registados, 21.060 votos. E depois dizem que os cidadãos estão cada vez mais afastados da política: nada disso, até desdobram-se para estar mais presentes.

Sempre na Áustria, mesma consulta eleitoral, Waidhofen, pequena cidade de 11.500 habitantes: aí votaram 146% dos
eleitores. Fraude eleitoral? Não, simples entusiasmo.

O Director da Comissão Eleitoral austríaca disse na televisão (na noite de Domingo) que tinham sido entregues mais de 740 mil boletins eleitorais via correio, observando como normalmente apenas cerca de 700 mil destes são preenchidos corretamente e, portanto, considerados válidos. E o que acontece na Segunda-feira? Mais do que 760 mil votos via correspondência. Não apenas os austríacos aprenderam a preencher os boletins de forma correcta como até continuaram a votar como obsessos mesmo com as urnas fechadas. Poderia o Director ter recusado tais votos? Não, claro que não: a boa vontade deve ser premiada.

Há outros exemplos de entusiasmo nestas eleições austríacas. Mas o que interessa é o seguinte: ganhou o Bem. A escolha era entre Alexander Van der Bellen economista, político do partido dos Verdes (Die Grünen), mação regularmente inscrito na loja de Innsbruck, e Norbert Hofer do FPO (Freiheitliche Partei Österreichs). Hofer era o Mal, porque contrário às políticas da União Europeia, e tinha ganho o primeiro turno; Van der Bellen, europeista convencido, era o Bem, como é óbvio.

Só como curiosidade, vamos fazer duas contas tendo como base apenas os três episódios relatados acima.

Van der Bellen ultrapassou Hofer:

  • de 8.500 votos em Linz;
  • de 700 em Waidhofen;
  • de 20 mil com os votos via correio.

No total são 29.200 votos “entusiastas” só nestas três localidades. Van de Beller ganhou as eleições com uma margem sobre Hofer de 31 mil votos. Tudo claro, não é?

Segunda-feira, horas 16:40, o Ministro austríaco do Interior, Wolfgang Sobotka, comparece perante a imprensa para anunciar o resultado e lê uma declaração escrita, na qual era fixada a recontagem dos votos; fecha o discurso com um seco: “O resultado será anunciado na Quarta-feira”.  Nem passam cinco minutos e eis que Alexander Van der Bellen é declarado vencedor. Surpreendidos? Não é o caso: esta é a Democracia a funcionar, e no seu melhor.

Mas há sempre um desmancha-prazeres. Neste caso é a Procuradoria Federal
contra a corrupção (WKSTA) que abriu uma investigação acerca destas
últimas eleições: segundo eles há algo que não bate certo. O que podem
ter encontrado de errado é um mistério, vista de Bruxelas a situação
parece perfeitamente regular.

O que a Procuradoria não entende é que estamos perante um caso de excessus democratiae (“Excesso de Democracia”), uma situação bem conhecida pelos pesquisadores do Velho Continente: os cidadãos idolatram a União Europeia e fazem qualquer esforço para demonstrar todo o sentimento deles. Votar duas ou três vezes na mesma consulta eleitoral é isso: um simples acto de amor. Algo que no futuro será cada vez mais comum.

Ipse dixit.

Fontes:  Il Giornale, BundenMinisterium Fur Inneres, OTS, ORF News, Kurier 

19 Replies to “Áustria: um caso de excesso de Democracia”

  1. Pois então…o povo fica feliz e se acha em plena democracia. E lá vens tu querendo fazer contas "desnecessárias" e querendo duvidar das instituições democráticas na velha Europa, um verdadeiro oásis de respeito à ordem democrática.
    Isso pode até ser considerado um insulto aos teus concidadãos, certos estão de viverem em sociedades civilizadas, onde essas coisas não acontecem. E para finalizar lembra que o que interessa é o que parece ser, nunca o que é. A verdade se identifica com a representação e não com a realidade. Compreende que as tecnologias políticas "evoluem". Serás mais um membro feliz da sociedade de controle.

    1. Maria e desde quando é que isso mudou não eram os romanos que diziam não à que se-lo à que parecer.
      Ora se até o Reagan já foi presidente.
      E assim alegres vivemos entalados numa falácia e estupidez delirante e o triunfo da mentira e das aparências.
      A verdade, faz lembrar aquele filme:

      https://youtu.be/MMzd40i8TfA
      Nuno

  2. O "voto" é uma forma (aqui no Brasil é obrigatório) de coonestação do que de fato acontece à revelia do cidadão de acordo com os interesses das casas grandes no controle dos seus negócios planetários. A "culpa" será sempre do votante. Não vejo nenhum entusiasmo nesse jogo do faz de conta que somos livres para escolhermos nossos destinos. É o velho dito brasileiro do "para inglês ver". Uma forma ilusória de participação das massas na condução de seu pseudo livre arbítrio. Depois, com o "dever cumprido", correm para assistir a hipnótica TV. Muito juso?

    Sócrates, o filósofo, democrática e injustamente foi acusado e condenado de "heresia" e corrupção da juventude. No caso de Jesus, votaram em Barrabás, a casa grande lavou as mãos…

    Sinto muito, sou grato.

    1. Culto?!…teoricamente.
      Ninguém está imune hoje em dia.
      Se foi mais um embuste em nome do que se quer vender acho bem que se investigue WKSTA?, a seguir podem fazer novas eleições até os "pretendidos" serem eleitos.

      Nuno

  3. A desgraça agora virá a galope:

    http://www.auditoriacidada.org.br/blog/2016/05/30/banco-central-autonomia-e-independencia-para-os-banqueiros-em-detrimento-de-um-projeto-nacional/

    Desculpe Max por desvirtuar do assunto, mas dói assistir ao que estão fazendo com o Brasil. A ordem é cimentar o caminho que nos levará ao futuro no melhor estilo europeu. E teve gente por aqui ingenuamente acreditando que estes salafrários poderiam fazer algo "menos pior", que fosse, que o governo petista.

    A Prof. Maria Lúcia Fatorelli cansou de cantar a pedra sobre a cobiça da banca global em cima da nossa previdência. Na verdade ela vem cantando esta pedra há anos, muitos anos. Taí o que aqueles que serviram à esta palhaçada de troca do ruim pelo desgraçadamente pior almejavam.

    Esta mídia venal conseguiu seu intento. Um país inteiro parece anestesiado. Ninguém se manifesta, ninguém questiona, ninguém cobra absolutamente nada.

    Enquanto isso, mais um ente nocivo aos interesses nacionais ganha o epiteto de estadista. Primeiro foi FHC, agora andam pintando estas características nesta entidade que Peter Cushing, com seu Van Helsing, andou caçando pelas tumbas londrinas.

    Vão esculhambar de vez com este país. Um país que ainda tem baixo endividamento se comparado à outros países. Agora a coisa vai ganhar um impulso monstruoso. A manada que apoiou esta pantomima midiática irá se arrepender amargamente daqueles dias em que pastou a ração oferecida pelos vende/doam pátrias. E com toda sinceridade, era facílimo enxergar todo o desenho. Mas a coisa toda ganhou ares de Fla x Flu.

    Aqui por estas páginas muitos expressaram seus temores. Alguns em defesa da probidade de Dilma, outros, talvez, por enxergarem no PT ainda como um partido de cunho socialista e outros que sentiam que nada é tão ruim que não possa piorar.

    Não sou petista, a Prof. Fatorelli também não é petista. Aliás, a prof. sempre foi uma crítica severa dos governos petistas, mas não é cega. Quem apostou que tirando o PT não havia como tudo piorar, ou foi por que se fechou para o mundo e os acontecimentos de nossos tempos, ou foi porque chafurdou no rancor e ódio ao PT perdendo o censo crítico e o raciocínio (muito daquele papo de comunistas/bolivarianistas/Foro de São Paulo). Não quero nem adentrar na questão se foi ou não golpe, por ser uma discussão infindável, mas penso que chegará o momento em que todo brasileiro se verá frente a frente com sua consciência e se perguntará de que torcida fazia parte naquele Fla x Flu degenerado acontecido no congresso nacional nos idos de Abril.

    Espero que me perdoe pelo desabafo Max, mas é por que tenho a nítida sensação de que somos todos bêbados empurrados ladeira a baixo.

    Nosotros.

  4. Olá Nosostros: como quero apertar ali naquela mãozinha do gosto, e não dá certo, respondo: é isso aí meu caro. É isso aí.

  5. Caros leitores e comentadores, eu sou um seguidor assíduo desse blog, mas sempre me abstenho de comentar, mas como a coisa degringolou de vez, sou obrigado a concordar com o nosso amigo aí de cima e com a Maria, porque sendo brasileiro, e viajando sempre, porque o meu trabalho depende disso eu vejo a coisa despencar a cada dia. Abraços a todods.

  6. Olá Maria. As coisas estão nítidas. Aliás, sempre foram.

    Para aqueles que teimam em rancores e ódios descabidos, apenas posso afirmar que o modo de operar a bancarrota global é tão claro e o seu desenlace me parece tremendamente trágico, que se torna difícil, quase impossível descartá-lo. Se não posso vaticinar, ao menos, posso falar de um sentimento extremamente angustiante.

    Para aqueles que catam comunistas/bolivarianistas/Foristas debaixo do colchão, atrás do sofá, na água espumante no banho de banheira da patroa… pra esses peço que assistam este "comuna":

    E se puderem apontem em que frame ele cometeu um milímetro de erro em sua análise. Ao assistir concluí que (parafrasenado Cazuza) "transformaram o planeta inteiro num puteiro".

    Nosotros.

    1. @Nosotros não se preocupe com o puteiro atual o que está para vir é bem pior.
      Já comecei a ver muitas cadeias de informação a preparar o caminho para algo ainda pior que aí vem e ninguém liga a obsolescência do trabalho humano ou aumemto de desemprego.
      Ví no France 24 em inglês e discutem o ttip, e sucedâneos.

      http://m.france24.com/en/20160531-debate-oecd-economy-world-employment-part-one

      http://m.france24.com/en/20160531-debate-oecd-economy-world-employment-part-two

  7. De um lado, multidões encavernadas na única ideologia mundial: a burguesa sionista republicana; de outro, pequenos grupos, estrategicamente instalados e municiados por aparatos de altíssima tecnologia de controle e coerção. Qual o resultado à esperar? Parem de se surpreender!

    1. Sim não à surpresa nenhuma. Os democraticamente eleitos não podem ganhar porque fogem dessa ideologia.
      É tudo normal e democrático desde que seja alguém alinhado com esse sistema que ganhe. Realmente não vejo surpresa.

      Nuno

  8. De um lado, multidões encavernadas na única ideologia mundial: a burguesa sionista republicana; de outro, pequenos grupos, estrategicamente instalados e municiados por aparatos de altíssima tecnologia de controle e coerção. Qual o resultado à esperar? Parem de se surpreender!

    1. Desculpe Chaplin, mas não vi ninguém surpreso por aqui. Nada mais surpreende à quem tem um mínimo qualquer de conhecimento. Pode até duvidar de tanta estupidez dos homens, mas ficar surpreso não.

    2. Olá! A estupidez dos falantes sempre foi visível e palpável, e ao que me refiro não tem esse caráter. Quanto ao "ter um mínimo de qualquer conhecimento", sinceramente? Não diz quase nada. Abraço.

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