China: a enorme dívida

Das páginas de Zero Hedge, Tyler Durden observa a Dívida chinesa e lança o alarme: é uma bomba e
ninguém sabe ao certo de quais dimensões.

As empresas de consultoria Mckinsey e Macquaire avaliam o total da Dívida respectivamente em 282% e 350% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a infame Goldman Sachs fala de 216% (ou 270% segundo as últimas estimativas). Mas ninguém consegue fornecer valores seguros: só sabemos que a Dívida chinesa existe e que não é nada pequena.

O problema nem seria a Dívida em si: é a sua composição que assusta. A Dívida Pública, aquela gerida directamente pelo Estado, representa apenas uma fracção do total: a maior fatia é constituída pela dívida das empresas, a seguir encontramos aquela das instituições financeiras. Se juntarmos empresas, finança e cidadãos, temos um resultado preocupante: uma Dívida com um rácio Dívida/PIL maior daqueles de Estados Unidos, Coreia do Norte, Alemanha…

Kyle Bass da Hayman Capital Management, L.P. estima que as perdas provocadas por uma crise da Dívida chinesa seriam cinco vezes as perdas provocadas pela crise dos subprimes de 2007/2008. A agência de rating Moody’s acha que as autoridades irão intervir antes que a bolha possa explodir: bem possível, aliás extremamente provável, mas pode não ser tão simples assim quando a maior parte da Dívida estiver nas mãos dos privados.

Os sinais de preocupação estão no ar e não poupam a mesma China.
Há um mês, o governador do Banco Popular Chinês, Zhou Xiaochuan, tinha afirmado: “Os empréstimos em relação ao PIL, em particular aqueles empresariais, são demasiado elevados”, acrescentando um nota acerca dos riscos macroeconómicos.

E, tal como aconteceu com os subprimes, o gatilho duma eventual crise pode chegar dos empréstimos “mal parados”, aqueles nos quais os devedores não efectuaram os pagamentos programados. Também aqui as estimativas variam: 1.7% segundo o dado oficial chinês, entre 15% e 21% segundo análises menos de fachada.

O problema da Dívida ocupa também as páginas do People’s Daily, o órgão de informação do Partido: “A Nação tem que adoptar uma atitude proactiva para tratar dos créditos em sofrimento e não esconder ou adiar o problema”.

A China tem que enfrentar algo cuja solução não é simples.
Dum lado há as boas notícias: a fase de abrandamento da economia acabou, há retoma. A venda de automóveis subiu 10% no primeiro trimestre deste ano, sinal de que a procura interna está em subida. E crescem também os investimentos, sobretudo no sector imobiliário e do aço.

Doutro lado a forte expansão dos empréstimos (que em boa medida estão na base da retoma) aumenta também a dívida, em particular aquela empresarial e privada. É um boom do crédito, fenómeno que raramente acaba bem.

Apertar o crédito (os empréstimos) nesta altura poderia significar matar a retoma no berço. Pelo que, nesta altura parece haver três soluções viáveis:

1. Emitir obrigações para recapitalizar os bancos.
Na prática, o Estado iria injectar dinheiro público nas instituições de crédito, tornando a dívida destas numa dívida pública. Não é uma grande coisa como solução, porque quem paga neste caso é o Estado, isso é, o cidadão. Lado positivo: a Dívida Pública pode ser gerida de forma bem mais simples (a China ainda tem a sua soberania monetária). Lado negativo: isso afectaria a confiança dos consumidores.

2. Financiar a dívida fornecendo crédito.
Aqui também há um problema: a China optou para manter uma taxa de câmbio estável e, como sabemos, imprimir dinheiro provoca inflação. Retirar valor ao Yuan significaria uma fuga de capitais estrangeiros (menos interesses) e, afinal, desestabilizar aqueles bancos que já têm que enfrentar a questão dos empréstimos.

3. Esperar.
Esta é a versão chinesa do português “nada acontece”: trata-se de aconselhar os bancos para que estes renovem os empréstimos e rezar para que tudo possa resolver-se por si só. Problema: haveria uma situação em que bancos-zombie (cheios de crédito mal parado) iriam financiar com empréstimos empresas-zombie (tecnicamente já falidas porque incapazes de reembolsar as dívidas), com óbvias recaídas negativas sobre as empresas em saúde (que nesta altura deveriam para por todos). 

Seja como for, em Pequim têm uma escolha nada simples pela frente.
E se Pequim tem problemas não é só a China a estar preocupada.
Dúvidas? Espreitam nas prateleiras das vossas lojas…

Ipse dixit.

Fontes: Zero Hedge, People’s Daily, Project Syndicate

8 Replies to “China: a enorme dívida”

  1. A lógica do "grande demais" para enfrentar e da promiscuidade peculiar do capitalismo de Estado, onde grandes corporações e governantes geram um sistema viciado em sua origem…

  2. As empresas de consultoria e a China(é para rir?) O que é que verificam? Nada de nada porque não sabem logo especulam e exageram e metem os valores que bem lhe apetecerem.
    Enquanto os "maus" os chineses receberem de mão beijada as fabricas o know how da deslocalização ocidental continuam e cada vez mais a ser a fábrica do mundo.
    Querem brincar(especular) com a fábrica onde deslocalizaram quase tudo, eles não pediram foi uma opção ocidental, optimo nao existe produção, porque o ocidente já não vive sem a china e no entanto o mercado interno chines com 1,3 biliões de pessoas funciona.
    Não estive lá, mas amigos e familiares sim e recentemente.

    Max esqueceu-se deste artigo do zero hedge:

    http://www.zerohedge.com/news/2016-05-19/china-furious-after-us-launches-trade-war-nuke-522-duty

    abrço
    Nuno

  3. O desaparecimento do Ouro Alemão e

    Pirâmide do Poder:

    A farsa da Reserva "Federal" norte-americana

    O segredo das sete irmãs

    O Negócio da Revolução

    O Governo Invisível ( O poder invisível )

    Nuno

  4. Faz alguns anos escrevia aqui que na China havia mais dólares do que nos EUA, fiquei sem entender a situação agora. Gostaria de ler algum estudo desse sobre o brasileiro, + de 40 % de nós está inadimplente.

  5. Boa tarde Max,

    E esta experiência no Brasil, a Federal Reserve que se cuide:
    ————————————————————–
    Após criar a própria moeda, cidade brasileira não tem roubo e assassinato há 1 ano!

    A tranquilidade é o orgulho dos moradores de São João do Arraial, município de pouco mais de 7 mil habitantes, a 250 km de Teresina, no Piauí.Há um ano a cidade não registra homicídio nem assaltos, isso tudo com apenas 3 policiais trabalhando no município.

    O motivo da calmaria é a criação da própria moeda, o “cocal”, que movimenta a economia de São João do Arraial.Com o cocal as pessoas pagam contas, recebem salário, bolsa família e até fazem empréstimos.

    Antes da moeda própria, São João do Arraial não tinha agência bancária. Os moradores tinham que ir para municípios vizinhos pagar contas e isso prejudicava a circulação de dinheiro na cidade.

    Hoje existe o Banco dos Cocais e o cocal representa 30% do dinheiro que circula em São João do Arraial.

    Descontos

    A moeda tem o mesmo valor do real, mas com maior poder de compra graças aos descontos oferecidos em todos os estabelecimentos comerciais do município.

    Se um produto custa R$ 10, pagando com a moeda social, custará C$ 9.O desconto é possível porque, para cada cocal emitido, há um lastro de um real garantido pela organização financeira comunitária.

    As cédulas são estampadas com ícones da cultura e economia local, além possuir um selo que dificulta a sua falsificação.

    ——————————————————————-
    Abraço

    Zarco

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: