As lágrimas de Obama



O Presidente dos Estados Unidos que chora faz um certo efeito. É o lado humano do homem mais poderoso do planeta, o lado que reivindica o seu próprio espaço num discurso oficial. Porque as emoções são assim: incontroláveis.

Mas os media foram injustos com Obama: aquela publicada era apenas a primeira parte dum discurso bem mais comprido e comovente.
Vamos lê-la:

…e, por sinal acontece, nas rua de Chicago todos os dias.

E que dizer da Síria? Queremos falar da Síria, onde todos os dias morrem dezenas de civis? Há crianças no meio deles, crianças que nem chegam à primeira série. Nem uma linha num diário merecem aquelas crianças. Fico furioso todas as vezes que penso nisso. Ligo para os directores dos diários e pergunto “Mas como, há crianças que morrem lá, pior do que Chicago, e vocês nada dizem?”. E eles respondem “Mas Presidente, as balas que matam são as nossas, somos nós que fornecemos os rebeldes”.

Então queremos falar do Yemen? Há esta coligação de Árabes que lança bombas de fragmentação contra os civis. As bombas de fragmentação não são inteligentes, explodem e matam tudo e todos. Também aí há crianças, em Aden, Taiz, Sanaa… pior do que Chicago e San Francisco juntas até. E foram 400 as crianças mortas até hoje por causa das armas no Yemen. Onde estão as câmaras quando eu choro por causa das crianças do Yemen? Ligo para os directores da Fox, da CNN, da CBS e pergunto “Mas como, eu choro por causa da crianças do Yemen e vocês nem uma câmara enviam?”. E eles respondem “Mas Presidente, a coligação é formada pelos nossos aliados, têm todo o nosso apoio além das nossas armas”.

Afeganistão, Líbia, Iraque, Palestina… está cheio de famílias que nunca teriam imaginado que uma pessoa querida fosse tirada das suas vidas por uma bala ou uma bomba. As nossas balas, as nossas bombas. Quantas lágrimas terei ainda que versar por aquelas crianças inocentes mortas por causa das armas?

Mas quero falar aqui dos drones. Quantos erros foram cometidos com aquelas armas infernais? Quantas crianças morreram por causa de erros? Fico furioso cada vez que penso nos drones e nas famílias que dizimam. Convoco o Ministro da Defesa e digo “Ministro, esta coisa dos drones tem que acabar”. E ele responde “Mas Presidente, é o senhor que dá a autorização para a utilização dos drones”. Então choro.


Admitimos: na versão cortada o discurso soava um pouco falso, enquanto na versão integral começa a fazer todo o sentido. Estas foram as exactas palavras que Obama disse. Ou que queria dizer. Ou que deveria ter dito. Ou que nem lhe passaram pela cabeça, caso contrário teria começado a rir, não a chorar…

Ipse dixit.

7 Replies to “As lágrimas de Obama”

  1. Tu,terias escrito um discurso assim, Max. Também eu, o Chaplin, o Expedito, o Kroler, o Maquiavel, o Fonseca, o Gilson, praticamente qualquer um de nós que por aqui passamos. E faríamos isso hoje, mas também ontem e por certo, amanhã.
    Esse indivíduo a quem se atribui a autoria do discurso também o faria, sim, em véspera de eleição, para novamente enganar a multidão afro descendente dos EUA por duas razões: continuar usufruindo das bendições do poder e porque o papel aceita tudo e qualquer coisa, além do que artistas todos nós somos…bem verdade canastrões alguns (as).
    Ah, Max um adendo sem importância: pelo segundo ano consecutivo não é mais o presidente dos "unaisteites" o cidadão mais poderoso do mundo. Tá na moda a Forbes conceder esse galardão a gente com discurso ameno e práticas mais eficientes. Putin é o grande ganhador e "mama" Merkel, a representante do sexo feminino.Vai ver que a assessoria deste herói decadente (Obama) houve por bem atualizar o discurso do digno signatário da nação estadunidense

  2. A vantagem da VIDA é que o "homem mais poderoso do mundo" é um grande desconhecedor da natureza humana: a velhice e a morte.

    Chora, Obama, pela tua própria morte e sua velhice sem o poder do afeto e da humanidade que não mais lembra que "um dia" FOI o "homem mais poderoso do mundo", mas nunca de SI.

    Chore muito, Obama, pois é apenas um "trabalhador" descartável dessa coisa que chamamos e qualificamos como o tal "sistema".

    Vejo suas lágrimas como uma confissão de que o tal sistema é muito … mais muito doente, caso sejam humanos, de afeto, carinho, justiça, colaboração, cooperação e espírito comunitário.

    Que sua morte possa te dar o teu choro em dobro, prêmio nobel da PAZ.

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