Economia: esperando a mini-retoma

Ano calmo, como foi dito há alguns dias, com até uma possível leve retoma.
Por enquanto, todavia, os sinais não são nada simpáticos.

Comecemos com o Baltic Dry Index, índice muito importante para medir o pulso do comércio.

Lembramos: o Baltic Dry Index (BDI) é um indicador relativo aos navios de carga que transportam materiais tais como carvão, ferro, trigo, etc., e evidencia o dinamismo dos mercados mundiais e também a “força” da oferta e da procura. Resumindo, bem indica qual a tendência da economia. 

E como está o Baltic Dry Index? Não está nada bem.

Fonte: Bloomberg

É normal uma queda logo após a passagem do ano, mas o mínimo costuma apresentar-se em Fevereiro: agora estamos em Janeiro e já alcançamos o ponto mais baixo dos últimos 5 anos.

Fonte: Bloomberg

Gráfico feio, não é?
Bom, vamos esquecer o BDY e vamos espreitar outro indicador: a velocidade da moeda.

A velocidade da moeda (também chamada de velocidade de circulação da moeda) é a frequência média com a qual o dinheiro é gasto num período específico de tempo. A velocidade é importante porque tem relação com o nível de actividade económica. Resumindo: mais a velocidade é baixa, mais a economia real está a “dormir”. 

Eis a Velocity of M2 Money Stock, a velocidade do Dólar tanto para simplificar, relativa aos últimos 12 meses:

Fonte: FED de St. Louis

“Tá bom”, pode pensar o Leitor, “caiu um pouco no último ano, são coisas que acontecem…”.
E não, não é bem assim. Este é o gráfico dos últimos 40 anos:

Fonte: FED of St. Louis

Não é um bom sinal. A razão?
A razão é simples: não é a quantidade de dinheiro existente que importa mas a velocidade com a qual ele circula.

Imaginemos um País nos cujos cofres estão parados 100 Dólares.
E agora imaginemos outro País, onde nos cofres há apenas 10 Dólares enquanto os restantes 90 circulam entre cidadãos, empresas, lojas…
Qual dos dois Países é o mais rico? O segundo, como é óbvio. O dinheiro em circulação põe em movimento a economia, enquanto o dinheiro parado nada faz: é só papel.

O problema da economia nesta altura parece ser este: o dinheiro circula com uma velocidade que é a mais baixa dos últimos 40 anos.
Mau. 

Mas afinal: o que interessam BID e Velocidade do Dólar? O que faz mexer o mundo é o petróleo!
E aqui temos o Nymex (New York Mercantile Exchange), o maior mercado mundial não-virtual que negoceia os futures das commodities (como o petróleo). E como está o Nymex do petróleo?

Fonte: Market Watch

Está mal.
Todavia, dos três indicadores aqui apresentados, este é o menos relevante porque ligado aos acontecimentos do Oriente Médio e à política de preço baixo definida pela Arábia Saudita. Este gráfico tem apenas um dom: considerado o preço particularmente baixo do petróleo, produção, transporte e venda deveriam voar. Mas não, os dois gráficos anteriores mostram que assim não é.
Então algo não bate certo.

Pegamos no Baltic Dry Index. Sobretudo este preocupa: como afirmado, um valor tão baixo do petróleo torna a produção de bens e o seu transporte muito mais conveniente, com uma maior margem de lucro. Até os preços dos mesmos bens podem descer em alguns casos. Portanto: mais vendas e uma maior circulação do dinheiro.
Mas não.

Há quem veja em tudo isso o pressagio duma futura crise. Pessoalmente não concordo: já estamos em crise porque o sistema já deu o que tinha para dar. A crise de 2007 continua, não foi uma crise pontual mas sistémica, da qual ainda não conseguimos livrar-nos. O joguinho partiu-se.
Há remédio? Há. Porque o Capitalismo é um bicho de sete cabeças: duro a morrer.

Uma vez completada a transferência de poderes para os novos mercados (China em primeiro lugar), o Capitalismo encontrará novos mercados, novo oxigénio, e conseguirá sobreviver ainda ao longo duns tempinhos.

Quantos “tempinhos”? Difícil fazer previsões. Há quem diga uns 50 anos, há quem diga menos. Eu começo a pensar que será até um bocado mais do que isso, porque o Capitalismo tem uma formidável capacidade de adaptação e parece conseguir encontrar sempre uma maneira de sobreviver. Parece.

Mas as crises tenderão a ficar mais próximas umas das outras porque a velocidade do mecanismo que gere a estrutura toda se encontra em contínua aceleração e porque os limites (há limites!) estão cada vez mais perto. O Capitalismo será até um bicho de sete cabeças, mas tem no DNA as sementes da sua auto-destruição.

Única dúvida (mas é só um pormenor, nada que realmente interesse): o que virá a seguir?

Ipse dixit.

Relacionados: O Baltic Dry Index

10 Replies to “Economia: esperando a mini-retoma”

  1. Crise Financeira Mundial = Guerra Mundial.

    Quando o sistema está prestes a quebrar, surge uma guerra em larga escala para dar o 'reset'.

  2. Decididamente, economia não é o meu forte. Mas depois de 5 anos de II e outras leituras,conversas, experiências e tra-lá-lás, alguma coisinha tenho de ter aprendido. Como por exemplo:
    1. o capitalismo (em todas suas atualizações até o financeiro de hoje) vai bem porque cada vez mais concentra renda e beneficia os rentistas enquanto estrangula economias não totalmente privatizadas.
    2. as economias solidárias, presentes na história mundial, tendem a esvaziar-se em função da propaganda generalizada e eficaz da competição e consumismo desenfreados como valores sociais preponderantes.
    3. as sucessivas crises das economias por país e na economia mundial são cíclicas e desejáveis, na medida que têm revigorado e aperfeiçoado formas cada vez mais truculentas e eficientes do sistema capitalista no mundo inteiro.
    4. o mundo islâmico, que por tradição não se utiliza de estratégias fundamentais da acumulação financeira, como a prática da usura (juros), é sistematicamente demonizado e excluído do que se considera no ocidente práticas civilizatórias.
    Bom, salvo melhor interpretação ( e peço por favor que me ajudem, porque eu gostaria muito de ter esperanças), me parece que as coisas tendem a melhorar para o sistema de poder vigente, com bolhas, sem bolhas, com gráficos de estagnação, até que, se tal estagnação prejudicar os poderosos, logo ela se atualizará em novos procedimentos de manutenção do sistema.
    Infelizmente concluo que, a continuar a letargia de servidão voluntária da massa de manobra do sistema, e nada me aponta que este estado de coisas vai melhorar de forma generalizada, o planeta se vê livre da humanidade antes de uma real melhora para a maioria.
    Aí, vocês poderiam me perguntar: se pensas assim, então para que continuar buscando os desvãos do mundo? E eu adianto a resposta, dizendo que a única revolução que me sobrou jogar alguma expectativa é aquela silenciosa que pode se processar dentro de qualquer humano (a), em qualquer tempo, lugar ou situação.

  3. Enquanto a obdiência for a única lei e o dinheiro o único deus este sistema durará tanto que os tempos em que vivemos hoje serão vistos pelos poucos não-alinhados como um época maravilhosa em que ainda era possível uma vivência decente e, quem sabe, ainda teria sido possível mudar o futuro.

  4. O capitalismo não nada além de um acelerador para acúmulo de capital para pequenas minorias. A lógica que irá substituí-lo será com a mesma vertente, sob novas roupagens. A primitividade continua imperando nas relações entre dominantes e dominados, despistada pelas seduções tecnológicas. O escravo pós-moderno está cada vez mais distanciando de uma capacidade mínima de perceber sua condição,e portanto, sem qualquer possibilidade para alterar ou influenciar a realidade imposta. O homem deveria ser avaliado, em primeiríssimo lugar, por um conceito, hoje totalmente desprezado: SUA CAPACIDADE DE SE ILUDIR E DE SE MANTER ILUDIDO.

  5. Caro Max,

    Feliz 2016 e que seu II continue com essa energia de "mostrar" a sutileza com a ironia…rsssss…

    O capitalismo é, para mim, como escreveu Chaplin, um conceito de mostrar sua capacidade de se iludir e de se manter iludido.

    E na versão de Boaventura é um consenso entre a grande maioria dos dominados e poucos dominadores, vejamos o seu pensamento:

    "Hegemonia é o conjunto de ideias sobre a sociedade e interpretações do mundo e da vida que, por serem altamente partilhadas, inclusivamente pelos grupos sociais que são prejudicados por elas, permitem que as elites políticas, ao apelarem para tais ideias e interpretações, governem mais por consenso do que por coerção, mesmo quando governam contra os interesses objetivos de grupos sociais maioritários. A ideia de que os pobres são pobres por culpa própria é hegemônica quando é defendida, não apenas pelos ricos, mas também pelos pobres e pelas classes populares em geral."

    Fonte: http://outraspalavras.net/capa/boaventura-a-crise-da-politica-e-o-futuro-da-esquerda/

    Penso que estamos apenas a mexer no programa que não está a mais a funcionar dentro de algumas cabeças (ou computadores/cérebros).

    Assim, o capitalismos já está "morto" para alguns e apenas mostrando sua respiração mortífera para a grande maioria, inclusive o capitalista. Mas estes nunca poderá respirá-la, pois são os mortos da sua própria criação.

    Tem dúvida? Pergunte ao psicopata como ele age e faz?

    O psicopata é o pai do capitalista.

  6. Não é necessária meia inteligência para concluir que o planeta não dispõe de mais 50 anos de toda esta podridão para dar início ao expurgo daquelas criaturas que causam sua devastação. E as bestas pensantes colocam todas as demais criaturas em perigo.

Obrigado por participar na discussão!

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