Bíblia: o livro do qual nada se sabe

A Bíblia de Gutenberg, primeira edição

Título provocatório? Nem pensar.

O seguinte artigo é parte duma conferência de Mauro Biglino que, como sabemos, é um académico especializado na tradução do antigo hebraico. Sabemos também como o termo Elohim (que na Bíblia é utilizado para indicar “Deus”) seja na verdade um pronome substantivo singular ou plural, dependendo o sentido do verbo e/ou do adjectivo que seguem.

Mas vamos além disso.
É possível escrever um livro de receitas para fazer o pão, livro no qual não existem os termos “Farinha”, “Água” e “Amassar”? Complicado, não é? A resposta é “Não”, não podemos escrever um livro de receitas de pão sem utilizar aqueles termos. Mas isso é exactamente o que acontece no Antigo Testamento (de seguida: A.T.).

O idioma no qual foi escrito o A.T. não tem o termo “Deus”. Não tem o termo “Eternidade”. Não tem o verbo “Criar”. Este é o dado do qual partimos. E visto que não é possível escrever um livro nestas condições, a lógica consequência é que a Bíblia não fala de Deus. Pronto, seria possível acabar aqui porque no antigo hebraico não existem os termos Deus, Eternidade ou Criação: portanto é impossível que a Bíblia fale de Deus.

Mas vamos fazer um esforço: se os termos citados não existem, como é que a Bíblia sempre foi considerada qual livro sagrado, inspirado directamente por Deus? A resposta é: fantasia teológica. Com a Bíblia podemos só “fazer de conta que…”.

“Deus”
Na Bíblia original o termo “Deus” não existe. Não é uma afirmação feita por um possuído, é a afirmação da exegese hebraica (exegese, em âmbito filológico, é uma explicação ou interpretação crítica de um texto, particularmente de um texto religioso): no antigo hebraico não existe um único termo que signifique ou exprima o conceito de “Deus”. Se num idioma não existe o termo “Deus” é porque não existe o conceito de Deus: cada palavra é a elaboração dum conceito pré-existente. Nada de palavra “Deus”? = Nada de conceito de Deus. E vice-versa. Muito simples. Esta não é uma questão de interpretação, este é um facto, perguntem a qualquer linguista.

“Eternidade”
Peguem num qualquer dicionário de hebraico e aramaico bíblicos, como por exemplo aquele da Sociedade Bíblica Britânica (página 304) e procurem o termo olam, que na Bíblia é sempre traduzido como “Eternidade”: no referido dicionário, a primeira coisa escrita é “Não traduzir como eternidade”. Olam é um tempo “muito comprido” mas não eterno. Por qual razão a Bíblia traduz sempre olam com “eternidade”?

“Criação”
É possível encontrar em rede estudos conceituados no qual é afirmado que na Bíblia não existe nenhum Deus criador. A razão? Bara, termo do antigo hebraico que a Bíblia traduz como “criação”, indica mais simplesmente “intervir numa situação já existente para modifica-la”. Procurem o rabino Edward Greenstein, Professor Bíblico na Universidade de Tel Aviv, na Universidade Bar-Ilan e na Jewish Publications Society de New York (onde são admitidos só rabinos, sendo a instituição o topo mundial das publicações de estudos teológicos hebraicos): Greenstein escreve que “a história do primeiro capítulo da Génesis é na realidade uma sucessão de divisões”. A Génesis não fala de “criação” mas de “divisões” operadas pelos tais Elohim com o fim de tornar uma situação preexistente algo mais idóneo do ponto de vista das suas necessidades. Nenhum filólogo traduz bara com “criar”: essa é uma tradução sucessiva, introduzida por necessidades teológicas.

Resumindo: na Bíblia não há o conceito de Deus, falta o conceito de Eternidade e nunca se fala duma Criação. O A.T. não fala da origem do Universo, não fala dum Deus criador, nem fala dum Deus.
Este é um facto.

Quem escreveu a Bíblia?

O Profeta Isaías

A Bíblia é um livro (melhor: um conjunto de livros) do qual sabemos praticamente nada. Os autores?

Foram dezenas de indivíduos dos quais, outra vez, nada sabemos. Alguém, numa determinada altura, decidiu reunir uma série de escritos e tradições orais para criar o cânone bíblico, o conjunto de 46 livros considerados pela Igreja Católica como verdadeiros.

Os Protestantes têm 39 livros “verdadeiros”. Os hebraicos têm também 39 livros. Os cristãos coptas têm 39 livros (que são os mesmos dos hebraicos) mais outros que não são considerados “verdadeiros” nem pelos hebraicos nem pelos outros cristãos. Os Samaritanos têm 6 livros “verdadeiros”, os outros são considerados como falsos.

Na prática, os livros “verdadeiros” dependem do lugar onde nascemos.

Mas voltemos aos autores. Os primeiros 5 livros que formam o Pentateuco, tradicionalmente atribuídos à Moisés, foram escritos depois do exílio babilonês, portanto no V século a.C.. Isso significa, no mínimo, 7 séculos depois de Moisés. 700 anos. Imaginem escrever hoje um livro acerca de vida e obras dum indivíduo que viveu na altura em que a América nem tinha sido descoberta pelos Europeus.

E mais: no tempo de Moisés o idioma hebraico não existia. A primeira prova da língua hebraica antiga é do X século a.C. e é composta por um alfabeto proto-hebraico encontrado no sitio de Tel Satia. Ou seja: pelo menos 300 anos depois de Moisés.

Mesmo assim, vamos tentar perceber algo acerca dos autores da Bíblia.
Pegamos no Livro de Isaías, o maior dos Profetas do A.T..

O livro de Isaias é composto por 66 capítulos dos quais os primeiros 39 são atribuídos a Isaías “porque não temos razões sérias para nega-lo” (ver estudos do Prof. Penna, consultor do Pontifício Conselho Bíblico do Vaticano). Ou seja: não sabemos se foram verdadeiramente escritos por Isaías, simplesmente não temos motivos suficientes para provar o contrário. O que é diferente. Mas estes são os primeiros 39 capítulos: e os outros?

Os capítulos desde o 40 até o 55 foram escritos por um indivíduo chamado Deutero-Isaías. Deutero em grego significa “segundo”, portanto o Segundo Isaías. Pormenor: o Segundo Isaías escreveu 200 anos após o primeiro. Os capítulos desde o 56 até o 66 foram escritos pelo Terceiro Isaías, que viveu algumas décadas após do Deutero-Isaías. Portanto, na melhor das hipóteses, o Livro de Isaías foi escrito num período de 250 anos.

Três pessoas escreveram o Livro de Isaías? Não. Os estudos do citado Prof. Penna, que reconhecem os primeiros 39 capítulos como de autoria do primeiro Isaías, admitem todavia que os entre o 10 e o 23 não foram escritos por ele.

É com se eu hoje decidisse acabar um livro iniciado em 1765,
afirmando ser obra dum tal Max 1º mais a participação de outro ou outros autores desconhecidos; continuado em 1965 por um alegado Max 2º; acabado hoje, em 2015, por mim, que declaro a obra “autêntica” e “inspirada por Deus” (mas não posso utilizar o termo “Deus” porque não tenho este conceito). Alguém poderia duvidar das minhas afirmações?

Qual Bíblia?

A Torah

Acabou? Nem por isso.

Porque o Livro de Isaías que temos hoje nas nossas Bíblias é a versão dos Massoretas (escribas hebraicos que se dedicaram a cuidar das Escrituras que actualmente constituem o Antigo Testamento, entre o VII e o XI século d.C.) e é diferente da versão presente nos Manuscritos do Mar Morto (II século a.C.): há pelos menos 300 variantes, das quais algumas são inteiras palavras presentes numa versão e não na outra.

Portanto, mesmo admitindo que um único Isaías tenha escrito o Livro dele (o que sabemos de certeza não ser verdadeiro), temos que perguntar: qual versão escreveu?

A única certeza que temos é que a Bíblia que nós temos não é a Bíblia original. E esta não é uma afirmação de ateus ou antisemitas, mas de docentes hebraicos que estudam o A.T., como o Prof. Alexander Rofé ( 40 anos passados na Universidade Hebraica de Jerusalém). Não é a mesma porque cada vez que a Bíblia era transcrita era também modificada. O que, já por si, é um processo bastante natural, que aconteceu também no caso de obras não religiosas (como os clássicos gregos).

A Bíblia era modificada também em função das ideias de quem a lia. Na Bíblia dos Saduceus, por exemplo, existia o versículo “O justo permanece firme na sua firmeza”, enquanto na Bíblia dos Fariseus o versículo era “O justo permanece firme na sua morte”: isso porque os Fariseus achavam existir vida além da morte, pelo que entendiam transmitir a ideia de que o justo permanece tal também no além; os Saduceus, pelo contrário, não achavam possível uma vida após a presente (como afirmado no A.T., inclusive) e tinham um versículo baseado exclusivamente no presente.

No livro de Jeremias é presente uma conhecida profecia acerca da captura de Jerusalém por parte de Nabucodonosor II (634 a.C. – 562 a.C., mais ou menos): mas os académicos hebraicos reconhecem que esta profecia foi inserida só depois do evento, para que as pessoas acreditassem nas capacidades proféticas do Livro. Todas as profecias bíblicas, todas sem excepção, foram inseridas depois do evento que “preveem”.

O livro de Daniel, livro profético por excelência, no Cânone hebraico nem é considerado. O livro de Daniel serviu e ainda serve como base para teorias alucinadas ao longo dos séculos (por exemplo, foi utilizado para confirmar a “profecia dos Maias” em 2012): a “profecia dos 490 anos”, como explica o Rabino Maior do Sinai Temple de Los Angeles, é fruto duma mistificação. A profecia original era de “70 anos”, depois dos quais algo deveria ter acontecido. Dado que nada aconteceu, os 70 anos foram transformados em 70 semanas de anos.

O problema é que a Bíblia original já não existe. E nós hoje sabemos que era diversa: por causa dos processos de transcrição apenas citados, e por causa de omissões voluntárias. O A.T. original incluía 11 livros que, simplesmente, foram feitos desaparecer e acerca dos quais nada sabemos. Só sabemos que existiam porque são citados na mesma Bíblia que temos ainda hoje.

A Bíblia é apenas um dos muitos livros escritos pela Humanidade. O problema nasce na altura em que alguém decide utiliza-lo como base para o poder. Então torna este livro “palavra de Deus” e, como tal, impossível de ser discutida, conjunto de “verdades absolutas”. As contradições, os anacronismos, as mistificações, são presentes em todos os livros, neste aspecto a Bíblia não é pior de que outras obras. O problema, como afirmado, é que a Bíblia foi transformada em algo mais, então, como tal, merece mais atenção e procura.

A Bíblia sem vogais

A Bíblia não é um livro “mau”. É um “tijolo”, sem dúvida, mas consegue ser fascinante se encarado
por aquilo que é: não um livro religioso.

Mas a Bíblia foi elevada até o grau de “Livro dos livros”, o que implica uma enorme responsabilidade. Podemos considerar como “Livro dos livros” uma obra da qual nem sabemos como deve ser lida?

A Bíblia, como todos os textos semíticos, é escrita apenas com as consoantes. As vogais não existem, existem só os sons vocálicos que são introduzidos na altura da leitura. Quais eram os sons vocálicos que eram utilizados em origem na leitura do A.T.? Ninguém sabe disso e ninguém poderá alguma vez sabe-lo, porque este é um conhecimento que existia apenas na forma oral e que foi perdido com o tempo.

As nossas Bíblias derivam dos sons vocálicos que foram introduzidos pelos citados escribas Massoretas (em particular no trabalho desenvolvido entre o VI e o IX séculos d.C.): os Massoretas introduziram pontos e linhas no texto bíblico para estabelecer quais sons vocálicos deveriam ser utilizados.

Pegamos na palavra hebraica “Terra” (אֶרֶץ) que é lida tebel: existem dois pontinhos debaixo das duas primeiras consoantes (o hebraico é lido de direita para esquerda) que indicam quais vogais inserir, neste caso a vogal “e”. É suficiente acrescentar um outro pontinho a estas duas consoantes para que o sentido da palavra seja totalmente transformado: neste caso o termo já não significa “Terra” mas “mulher que tem um relacionamento sexual com um animal” ou “nora que tem um relacionamento sexual com o sogro”. Admitimos: é um pouco diferente da ideia de Terra.

É como se num livro encontrássemos as letras “pt”. Nós temos que introduzir as vogais e “pt” pode tornar-se “pata”, “pota”, “puto” ou aquele termo no qual todos os Leitores malandros estão a pensar. Apenas no século IX d.C. (portanto há 1200 anos) foi estabelecido quais vogais utilizar e, portanto, qual o sentido das palavras. Mas no IX d.C. os livros do A.T. já tinham pelo menos 1400 anos de vida (os fragmentos mais antigos são os de Ketef Hinnom, do VII século a.C.). Pelo que, os Massoretas pegaram num livro antigo de séculos, do qual não conheciam a forma original em como devia ser lido, e escolheram introduzir as vogais que ainda hoje utilizamos, dando assim um significado definitivo às palavras do A.T.. “Definitivo” mas incerto: era mesmo assim que a Bíblia era lida em origem? Outra vez: ninguém pode afirma-lo.

Não é um problema de tradução, mas de interpretação: os Massoretas, ao introduzir os sons vocálicos, deram um determinado sentido a todas as palavras da Bíblia, sem ter a certeza de que aquela interpretação fosse a correcta. Na prática, o que os Massoretas fizeram foi dizer “A partir de agora a Bíblia vai ser lida assim”. Ámen.

Stop, paremos outra vez. Porque, considerando tudo quanto escrito até agora,  isso significa que nós não sabemos:

  • quem escreveu a Bíblia;
  • quando foi escrita;
  • como era escrita;
  • como era lida.

Em compensação, temos a certeza de que a Bíblia actual é sem dúvida diversa do original.
Nada mal como livro sagrado.

E o panorama piora. Porque ao ler a Bíblia tal como ela é, sem uma interpretação teológica, o resultado é deprimente. A ninguém passaria pela cabeça de fundar uma religião baseando-se exclusivamente na Bíblia tal como ela é: é preciso que alguém explique que “não, não é assim, quando foi escrito isso na verdade era intenção dizer outra coisa”. Mas a verdade, como vimos, é que não sabemos quase nada daquele livro.

Então, pelo menos, tentamos ver o que realmente está lá escrito.

Ipse dixit.

21 Replies to “Bíblia: o livro do qual nada se sabe”

  1. Muitos segmentos cristãos veem o Antigo Testamento mais como um documento de raridade histórica. O Novo Testamento sim, é a base teológica de toda uma religião. Certamente,nele , encontramos mais incoerências e imprecisões, não é mesmo ? Caro amigo, engana-te se pensas que teu trabalho já acabou.

  2. Olá Sergio!

    Não, o trabalho está só no início e, dado que afinal este não é um blog religioso nem anti-religião, será necessariamente sintetizado ao máximo.

    De facto, como dizes, a base por uma religião pode ser encontrada apenas no Novo Testamento, o A.T. é um pesadelo neste sentido. Mas lembramos que o N.T. veio para confirmar o mesmo Deus do A.T., tal como as profecias nele contidas. É por isso que também o N.T. foi amplamente "revisitado" pelos Pais da Igreja, com tesoura e caneta.

    Abraçoooooo!!!!

    Ah, já agora aproveito: corrigi o artigo pois estava cheio de erros, lamento mas a pressa (e a minha ignorância: pensava que "consonantes" fosse a tradução correcta do italiano "consonante". Afinal era "consoante"…) hoje foi muita e o resultado foi negativo.

  3. Max:

    Escrevo estas linhas como comentário não só a este post sobre a Bíblia, mas ao outro que originou este.
    Como crente, não posso deixar de reconhecer que a Bíblia sofreu alterações, mas também não me esqueço que…

    …a própria Bíblia fala de espíritos do lado de Deus, e de outros que se revoltaram e quiseram eles próprios ser Deus, descendo à terra e gerando descendência. O próprio Antigo testamento parece relatar a forma como Deus se quis livrar da sua descendência através do puro massacre. Não me admiro que esses espíritos, também poderosos, embora inferiores, fossem referidos como "deuses". Há também referências a espíritos que regem nações e formas de ser inerentes a elas, mas esses são referidos como "reis" e "príncipes". Ex: Rei da Grécia, príncipe da Pérsia, rei de Babilónia, etc. (Aliás, um facto curioso: o jogo "Prince of Persia – The Two Thrones" acaba com o príncipe da Pérsia, o herói do jogo, protagonizado pelo próprio jogador, triunfante, no alto da torre de Babel, a olhar para Babilónia, sabendo que tem o povo, que o aclamara previamente como um herói, do seu lado. Sabendo o que sabemos sobre as verdadeiras intenções do entretenimento e da simbologia e das mensagens subliminais que usa, estamos perante uma pérfida inversão de sentido.)

    …a própria Bíblia fala sobre Salomão se ter voltado para "deuses estranhos".

    …as palavras de Cristo atestam o que está no Antigo Testamento. Também sei que há controvérsia sobre a proveniência do Novo Testamento, mas isso é outra história.

    …exatamente por haver alterações constantes da Bíblia, é que no livro do Apocalipse está escrito, no fim, que quem retirasse ou acrescentasse alguma coisa daquele mesmo livro, seria penalizado por isso da respetiva forma.

    E há mais, muito mais. Reconheço que uma máquina do tempo era o que permitiria comprovar quais os versículos que sofreram distorção, mas também não me esqueço das palavras de Cristo: "Porque me viste, acreditaste; bem-aventurados aqueles que não precisam de ver para acreditar.".

    Desejaria boas festas a todos, mas também sei que a quadra natalícia também não passa de uma distorção pagã aplicada ao cristianismo, que, quando bem compreendida, é mesmo para atirar para trás das costas.

    1. Olá Anónimo!

      Olha, boa ocasião esta para pôr os pontinhos nos "i".
      Eu não sou crente mas respeito quem crê. Mais: acho ser pessoas com sorte porque a Fé ajuda.

      Esta série sobre a Bíblia não é "contra" a Bíblia e nem contra o espírito cristão. É uma visita histórica-filológica sobre um texto considerado sagrado.

      O discurso sobre a Fé fica fora disso, é muito mais complexo e pouco tem a ver com a historicidade da Bíblia. Aqui fala-se da Bíblia como instrumento de poder, porque nisso foi transformado, e como livro que tem em si sementes de verdade. Mas uma verdade que ao longo do tempo foi alterada de forma pesada.

      Pode parecer um discurso esquisito: Bíblia como livro histórico quando acabei de escrever que nada sabemos dela? Bíblia como livro de Fé quando acabei de escrever que em boa parte foi alterada, adaptada, mutilada?

      Acerca da Fé não quero falar porque é algo íntimo de cada um de nós e não é este o lugar para debater de certos assuntos (e nem sou eu pessoa indicada para fazer isso). Digo só que, do meu ponto de vista, a Fé é algo que bem pode existir no espírito cristão sem Bíblia, transcende livros escritos dezenas de séculos atrás. Um bom cristão não deixa de ser tal só porque a Bíblia não é o que parece ser. Ponto final.

      Quanto à historicidade: haverá outros artigos e não faltarão surpresas 🙂

      Abraçooooooo!!!!!!

  4. Fantástico, magnífico…quando aquele discurso passa a ser utilizado como poder.
    Mas não é qualquer poder, não é mesmo? Este livro está no lugar de honra da casa de quantos mesmo no planeta? Bilhões? Em nome dela (a Bíblia) praguejam opressores e oprimidos para fazer valer seus desejos, não é mesmo? Eu pergunto: porque este conjunto de ditos que ninguém sabe o que é e de onde veio, e não outro? Será por isso mesmo? E porque se repete ad eternun as palavras ali contidas, sujeitas a infinitas interpretações sem um mínimo de historicidade? Como e porque essa coisa (a Bíblia) chegou a ser o que representa? São tantas as perguntas que me faço e não tenho como responder que, se a continuidade da tua investigação permitir, bem que gostaria de ter algumas respostas.

    1. Olá Maria!

      Porque em praticamente todas as comunidades humanas existe uma religião? Porque nós precisamos de acreditar em algo. É uma nossa necessidade, desde a mais remota antiguidade. Aceitar a ideia de que tudo não passa duma curta passagem terrena pode ser aterrador. Aceitar que há pessoas que cometem crimes sem uma intervenção demoníaca significa ter de admitir nossas fraquezas. Porque portar-se bem, respeitar o próximo, não roubar, não matar se depois o fim é igual para todos, uma campa e nada mais?

      É preciso que haja algo mais. Isso ajuda e não pouco. Por exemplo, numa altura como a primeira Idade Média, onde tudo na Europa era caos, a Bíblia era a única forma de ordem reconhecida em todo o continente. Claro, isso teve consequências práticas: o clero tornou-se o principal poder temporal e quando a América foi ré-descoberta os indígenas entenderam bem o que isso significava.

      Mas aqui já falamos duma Igreja corrupta, longe das origens e do significado originário. Anos-luz longe da mensagem do Cristo, por exemplo.

      Voltando atrás, as primeiras imagens dos homens primitivos foram imagens propiciatórias para que a caça tivesse sucesso: entre as primeiras escultpuras há aquelas da Deusa Mãe. Mais uma vez, há a necessidade de acreditar em algo superior.

      Neste aspecto, Marx estava errado: a religião não é o ópio dos povos, é uma necessidade de cada ser humano. E os ateus? Também eles têm a religião deles: a fé na não existência de Deus, a fé na força da lógica e da Ciência.

      Sempre fé é.

      Grande abraçooooooooo!!!!!!

    2. "Se Deus não existe, então tudo é permitido" (Os Irmãos Karamazov de Dostoiévski).

      Ainda assim, a humanidade praticou absurdas brutalidades em Seu nome.

      O poder que as sagradas escrituras proporcionam àqueles que manipulam multidões por meio de suas palavras sempre me causam um incomodo quando relembro o "O Livro de Eli" com Denzel Washington. O vilão da história tinha conhecimento do poder exercido por quem tivesse tal livro sob seu domínio. Livro que já não existia mais nenhum exemplar. O herói o tinha totalmente memorizado. A pergunta é: será que valeria a pena nosso herói colocá-lo novamente no papel, ou melhor seria se este partisse desta para uma definitivamente melhor sem ter a chance de fazê-lo? Por tudo que assisto nesses nossos dias, penso ser correta a segunda opção.

      Expedito.

  5. Digha Nikaya 1

    Brahmajala Sutta

    A Rede Suprema

    http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN1.php

    Digha Nikaya 27

    Agañña Sutta

    O Conhecimento da Gênese

    http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN27.php

    Majjhima Nikaya 49

    Brahmanimantanika Sutta

    O Convite de um Brahma

    http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN49.php

    http://en.wikipedia.org/wiki/Buddhist_cosmology_of_the_Theravada_school

    só alguns links para contribuir com seu humilde grande trabalho.

    Caso goste? http://sumedharama.pt/

    Obrigado!

  6. Como já dizia Maomé: "Porém, se estás em dúvida sobre o que te temos revelado, consulta aqueles que leram o Livro antes de ti." (Yunis 94)

    Consulte os Rabinos, Max!

  7. E por que nao acreditar que tambem os massoretas possam ter feito uma investigacao historica para colocar as vogais…ainda mais que religiao naquela epoca para mais rigida, mais religiosa, pois nao tinhamos os avancos tecnologicos que nos fazem esquecer de Deus …
    Acredito tambem que nao se poderia deixar de escrever uma receita de pao num lugar onde nao se tem palavras "Farinha", "Água" e "Amassar" … entao, colocaria-se as palavras mais proximas do contexto.. ou se as inventassemos na epoca, quem saberia o que estaria lendo ????
    Conforme relatado, questao de interpretacao das futuras geracoes …. que foram desmoralizadas neste artigo, pois pelo relatado, as teriam feitas de qualquer forma, nao partindo do principio que teriam estudado e investigado…

    Alias, sera que foi trabalho voluntario ou assalariado dos massoretas ???? Mudaria muito a forma como foi passada deles…

  8. Tenho inúmeras dúvidas e apenas uma certeza sobre a Bíblia "original": Seu propósito. Definir uma hierarquia entre a espécie humana, e de que forma? Dividindo-a entre "escolhidos" e "seguidores".

  9. Quanta besteira eu acho que quem vai tão longe pra tentar ridicularizar o evangelho deve ter algum trauma causado por algum pastor que também vai prestar conta por isso kkkk

  10. A internet serve para se escrever muitas estórias delirantes, com objectivos escusos.
    Por isso o que escreveu, merece a mesma credibilidade, que quer dar com este texto à bíblia.

  11. Ô, Max. Uma coisa de que sinto falta nesses posts são dos links aos textos usados na pesquisa.Eu sei,as referências estão dentro do mesmo,mas os links nos fornecem a mesma oportunidade de consulta que tivestes.

  12. Compêndios que sistematizaram crenças e que denominaram-se Bíblias são "idéias" de poder voltadas exclusivamente para criar sentido de unidade aos povos e através dessa condição, dominá-los. Escrituras, constantes ou não nesses compêndios, foram elaboradas com vários fins, alguns eminentemente teológicos, com múltiplas versões/interpretações/traduções, em nada "sagradas"… Chegam a ser atentados ao entendimento histórico.

  13. Agora, imagine o estrago que está fazendo aqui no Brasil a Bíblia na mão de pastores extremamente ignorantes , desonestos e manipuladores. É com a Bíblia nas mãos que eles entram nas penitenciárias e convertem os pobres infelizes que lá estão.

  14. Olá Maria do Carmo!

    Infelizmente nunca fui ao Brasil (tenciono ir em breve!), mas compenso um pouco ao ver os dois canais da Record Tv que estão nas mãos da IURD. Terrificantes. E esta é a face “apresentável”, nem posso imaginar como deve ser de verdade…

Obrigado por participar na discussão!

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