Insólito: o Jogo do Ganso ou da Glória

Versão espanhola do séc. XIX

Sexta-feira, dia em que tradicionalmente o blog trata de crochê ou de dicas para engomar. Mas hoje o assunto varia: falamos de jogos.

Ao longo dos séculos são transmitidas algumas tradições que, com o tempo, podem perder o significado original, porque simplesmente esquecido. Até simbolismos importantes são reduzidos a jogos de crianças: e é este o caso do Jogo do Ganso ou do Jogo da Macaca.

O Jogo do Ganso (ou Jogo da Glória) é um óptimo exemplo disso.
Informa Wikipedia:

É um jogo de tabuleiro, com 63 casas, em que cada jogador lança os dados e avança o número de casas correspondente.

Nada mais. Grande esforço.
Na verdade, o jogo tem muito mais para contar.

Ninguém sabe ao certo quando surgiu, mas as origens são muito remotas. Segundo a tradição, o inventor foi uma personagem da mitologia grega de nome Palamedes (“Palamedes” significa “palmípede”, como o ganso…), pelo que nada menos de que o neto de Minos e rei de Eubeia.
Moral: nada sabemos acerca da verdadeira origem.
Todavia, sabemos que, entre os antepassados, o ganso era a representação dos Hiperbóreos, uma terra mítica num lugar ao Norte, muito distante. Hiperbórea era perfeita, com o sol que brilhava 24 horas por dia, onde os Deus costumavam passar o Inverno, as pessoas atingiam idades de mil anos e gozavam de vidas permeadas de completa felicidade. Alguns identificam Hiperbórea com a mítica Thule, outros com a parte setentrional de Atlântida.

Portanto, ligações míticas que testemunham a importância do “jogo”. Que, de facto, era sagrado nos tempos antigos. A razão?

O jogo é composto por uma espiral com 63 casas. São 7 séries de 9 (7 vezes 9 = 63): estes números estão directamente ligados à teoria dos “anos do climatério”, tido em alta consideração pela astrologia clássica pois os ciclos de sete e nove anos marcam os anos fundamentais da vida humana e que, neste caso, acabam no sexagésimo terceiro ano, o assim chamado “grande climatério”. Estes dois dígitos são a chave para entender o “jogo”: 7 é também o número de portas a transpor antes de atingir a vida eterna, enquanto o 9 é o número da realização do espírito, associado a Vénus.

Nas versões mais antigas do jogo, encontram-se também figuras significativas: a hospedaria que acolhe o peregrino, a ponte símbolo de passagem, a prisão constituída pelos nossos desejos materiais, o labirinto. E nem falta o poço, que se encontra no meio do percurso porque simboliza a comunicação com o centro da Terra: dele pode brotar a verdade e conduzir ao conhecimento.

Versão do séc. XVII

Aquele jogador que cair na casa 58ª (5+8=13) deve regressar à partida e recomeçar de novo o seu percurso: é quem não soube nascer em espírito antes da sua morte, tem que reencarnar e recomeçar a nova vida. Mas quem conseguir ultrapassar por cima da morte (a 58ª casa, como dito) só fica separado da meta por 5 casas: e o algarismo 5 é o símbolo da realização e da plenitude humana (número caro aos pitagóricos e aos Cátaros).

Portanto: o ganso conduz até a morte, mas é uma morte vencida, uma ressurreição espiritual. Doutro lado, o ganso é um animal de água, de terra e de ar, permite a passagem entre os vários planos. Por isso podemos encontrar imagens de Buda com mãos e pés de palmípede. Mas o ganso era considerado sagrado pelos
Gaelicos também, no norte da Espanha, como guia enviado pelos deuses para ensinar
aos homens o caminho do conhecimento; pelos antigos Egípcios, pelos Romanos (eram os gansos os guardas do templo de Juno), pelos Celtas (segundo os quais eram um símbolo do Além e guia para os peregrinos).

Júlio Verne, que era maçónico, bem conhecia o simbolismo escondido no jogo e fez dele o protagonista do livro Le Testament d’un excentrique, no qual 7 concorrentes têm que percorrer o território dos Estados Unidos transformado na ocasião num enorme Jogo do Ganso (nas várias versões cinematográficas, como em Rat Race – no Brasil “Tá Todo Mundo Louco! Uma Corrida por Milhõe$”, em Portugal “Está Tudo Louco!” – o “pormenor” do Jogo do Ganso nem é citado ).

O “Jogo da Glória” não é um simples jogo de tabuleiro, mas um percurso esotérico, um mapa simbólico da viagem espiritual que deve ser seguida qual símbolo da existência do homem que cruza a sua vida com aventuras e desventuras até, após a morte, voltar ao peito da Magna Mater, com o último voo final do Grande Ganso.

Jogo para crianças? Nem pensar…

Ah: bom fim de semana para todos.

Ipse dixit.

Fonte: Michel Lamy – Os Templários, Ed. Notícias, págg. 213-214)

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