Honra aos cidadãos gregos

Mantenho as críticas ao governo de Tripas, mas a verdade é que a estupidez de Angela Merkel (que
recusou continuar as negociações antes do referendo) & sócios transformaram o sentido desta consulta popular. E o resultado é que hoje Zona Euro, União Europeia e Banco Central Europeu levaram um estalo de todo o tamanho.

Nestes últimos dias foram exercitadas pressões inqualificáveis contra a Grécia: o BCE que corta os fundos de emergência deixando os bancos sem um tostão, as reportagens televisivas nos quais todos parecem preparados votar “Sim”, as sondagens que dão a vitória do “Sim”, embora  por uma curta margens.

Tudo isso valeu de nada. Os Gregos souberam avaliar a situação, entenderam quem os verdadeiros responsáveis e reagiram com firmeza. Este é um “Não” que pesa de forma brutal (também pela percentagem alcançada: nesta altura fala-se de mais de 61%), que atropela os ideais (mas quais?!?) da moeda única.

Parabéns ao Tripas: jogou muito bem as suas cartas e saiu politicamente ainda mais reforçado.
Agora é esperar para ver os novos episódios desta “tragédia grega”.

Continuo a desconfiar do Tripas, mas isso nada retira ao mérito dum povo que não se vende em troca dum prato de lentilhas, que está disposto a continuar a sofrer (porque a partir de amanhã as dificuldades permanecem na mesma) para demonstrar que nem todos são uma cambada de ovelhas sem espinha.

As Mentes Pensantes agora têm que sentar-se e reflectir porque este “Não”:

  • mostra o fracasso do Euro
  • mostra que há Países onde as pessoas já não se dobram perante ordens e chantagens
  • mostra, mais uma vez, que a cada consulta popular Bruxelas leva um estalo.

A “tragédia grega”, se mal gerida, pode ser o começo do fim da moeda única (no qual caso, irei comprar um garrafa de espumante e das mais caras também).

Bruxelas já não pode tratar Tripas como um “louco radical”, pois agora tem a força da grande maioria dum povo atrás dele. Vamos ver se consegue manter-se coerente (e fiel ao mandato popular) ou se irá ceder perante as novas ameaças que com certeza irão surgir.

Seja como for: meus senhores, hoje levaram um estalo daqueles… 🙂

Ipse dixit.

9 Replies to “Honra aos cidadãos gregos”

  1. Estalo de todo o tamanho?? hummmm….eu acho que correu exactamente como Merkel queria….

    Não quero com isto dizer que uma saída do euro é uma má noticia, espero que Portugal siga o mesmo caminho brevemente, para nosso bem ….

    1. Olá Anónimo!

      Duvido: a União empenhou-se e bem nesta semana em favor do "Sim". Sondagens inventadas, reportagens tendenciosas, declarações de chefes de Estado, cortes de dinheiro…não fizeram faltar nadinha.

      Um "Sim" teria significado a queda do Syriza, novas eleições e, de certeza, um governo mais "razoável". Apesar da cara de "dura", se há alguém interessado na permanência na Zona Euro da Grécia (e de todos os outros Países, como é claro), este alguém é a Alemanha. Pelo simples facto que o Euro é o Marco alemão.

      A vitória do "Não" arrisca trazer a tona o facto que quem hoje diz "Os Gregos devem respeitem os empenhos" por sua vez não respeita os empenhos: vejam-se as Dívidas Públicas de Alemanha ou França…

      Apesar da fuga de Atenas que os bancos da Alemanha efectuaram, a Berlim teria custos para pagar (e não só ela), custos pesados. Isso sem falar das consequências das quais até hoje nem se falou.

      Perder a Zona Euro seria um duro golpe na óptica de Berlim. E do ponto de vista da Merkel também, que investiu tudo na moeda única (e que por isso está a ser alvo de críticas em Pátria também). A saída da Grécia seria uma grave derrota política da Merkel, externa e interna; dificilmente conseguiria ficar como chancelera.

      A Merkel até levaria na cabeça por parte de Obama (que já fez-se ouvir, apesar de ninguém tê-lo chamado em causa), porque os EUA não querem uma Grécia na órbita da Rússia. Se Atenas sair do Euro, bem sabemos quem está pronto para ajudar…

      Abraçooooooo!!!!

    2. Sim, mas essa propaganda foi cá, e na Grécia para que lado esteve virada a propaganda? e essa propaganda não só foi feita essa semana, já a uns bons meses que a propaganda "não" à Europa anda a ser feita, aliás, a "saída" da Europa era uma das promessas de "Tripas". Existe um ódio enorme a Alemanha na Grecia, ódio esse que foi bem explorado (sabe-se lá por quem) usando o passado e o presente, fazendo assim os gregos votar pelo seu instinto.

      O euro é um autentico falhanço, não viável e que mais tarde ou mais cedo irá chegar ao fim, mesmo a Grécia continue ou não no euro, e a Alemanha sabe muito bem disso. Aliás, eu acho que até uma saída do euro por parte da Grécia, pode ser bom para fortalecer o euro, se isto não for realmente obra do acaso e sim um "plano" bem estudado.

      Em termos geopolíticos, um pais na desgraça e a precisar de rios de dinheiro como a Grécia, não me parece que seja de grande interesse para a Europa, pouco de bom iam retirar dali e mesmo para a Rússia não servirá de muito, mas sempre dá mais jeito do que dá para a Europa.

      Nós não sabemos nem metade do que se esta a aprontar.

  2. Concordo, mas se assim é então era uma boa altura para começar a tratar o homem pelo nome proprio.

    P. lopes

  3. Este referendo, que à priori não fazia muito sentido, é uma jogada brilhante do governo grego.
    Apostou na vitoria do Não, e ganhou bem a aposta reforçando e muito a sua legitimidade.
    Não esperava que fosse por uma margem tão grande.
    Mobilizou toda a Europa num desenvergonhado processo de chantagem contra a Grécia, e os gregos responderam de forma inequívoca.

    Se no melhor cenário a Grécia sair do euro e as coisas correrem bem, como na Islândia, o projecto euro vai pelo cano, daí o pânico desta gente, que no inicio desvalorizaram o referendo, mas de seguida lançaram-se numa corrida desenfreada a propagandear o Sim.

    Resta agora ver quais vão ser as próximas movimentações do governo grego e que vão começar a acontecer já a partir de amanhã.

    A coisa promete.

    Max, se comprares o Champagne, mas daquele bom, o eu levo os copos, lol.

    Krowler

  4. Sinceramente, é apenas um capítulo novo em uma novela antiga. Claro que quem pensa pela esquerda prefere este gol da Grécia, mas quem comanda o jogo ganha de qualquer jeito. Se o sim vencesse, ganha pela aceitação passiva da escravidão, na melhor forma de fazer aceitar sem questionamentos 'o que tem que ser feito'. Se o não vencesse, construiria a grande história do fracasso do Euro, com o mesmo objetivo geral, a derrocada da Europa, pela própria desunião que agora pode iniciar, já planejada desde a criação do Euro. Um continente impossível de se unir por muito tempo, onde irmãos se digladiam pelo poder e o chefe oculto nunca muda. A esquerda serve ao chefe com seu pensamento igualitário ou caótico, dependendo do caso, que sempre retiram do poder qualquer um que queira dominar o poder. A direita exarceba as superstições colocando lados uns contra os outros, ou seja, sempre uma bagunça que nunca permite que os povos se organizem sozinhos por si mesmos, o que seria um desastre aos chefes ocultos.É bonito ver um povo se auto afirmando, mas é triste que o resultado será o mesmo: manter o chefe oculto. A Europa não luta por si, cenário que o Euro seria vantajoso, mas como o dinheiro pode ser vantagem em um mundo de dominação e escravização fraternal?

  5. Podermos até comemorar, mas não esqueçamos de que o medo coletivo só não venceu pelo fato do próprio Tripas enfatizar que o "não" representaria nada muito além do aumento do poder de barganha em futuras negociações.

  6. O referendo foi um evento muito feliz pois demonstrou a inutilidade de um ultimato e provou que o povo grego tem espinha dorsal. Hoje tenho mais orgulho nos gregos que em qualquer outra nação da Europa! Não se trata de honra mas de valores e para dois terços dos votantes a independência do país é uma ideia que vale a pena defender.

    Em relação a Tsipras em não partilho da opinião de Max. Na minha opinião o governo grego sempre quis uma saída do euro e tudo tem feito para tornar essa saída possível vencendo de uma forma maquiavélica os adversários externos e internos. Claro que eu podeiria estar enganado e Tsipras vir a cumprir afinal a vontade da Europa mas nesse caso para quê tantas diatribes??

    Já em relação a Merkel a minha interpretação é particularmente divertida… Ora vamos ver alguns factos:
    – Merkel é excepcionalmente inteligente.
    – O eurogrupo é uma personagem de uma história para crianças; mas alguém acredita que a opinião da Estónia ou Portugal seja ouvida? É mais do que claro que quem manda é a Alemanha que tem de ter atenção os interesses de França, Itália e Espanha. A história de que os países de economia pequena dificultam as negociações é a mais pura fantasia.
    – As negociações estão bloqueadas há meses.
    – É altamente lesiva para a Alemanha a saída da Grécia do euro.
    Logo, na minha opinião a conclusão é clara: Merkel é uma traidora da Alemanha, age em prol de interesses mais altos que pretendem o redimensionamento da Europa, pois o poder tem que ir sendo transferido para o Oriente…

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