O microchip NFC

Como sabemos, a Samsung admitiu candidamente que os televisores com tecnologia de reconhecimento vocal recolhem tudo o que se passa no ambiente no qual o aparelho se encontra, ao ponto que, como explica o Prof. Michael Price do Concelho de Liberdade e do Programa Nacional de Segurança do Centro Brennan (New York University School of Law), a Política de Privacy da empresa avisa (em síntese):

É favor lembrar que se as palavras pronunciadas incluírem informações pessoais sensíveis, estas ficarão entre os dados adquiridos e transmitidos para terceiros através do utilizo do reconhecimento vocal.

Na verdade, o reconhecimento vocal é apenas uma das maneiras que o televisor emprega para controlar o utente: o aparelho memoriza também as visitas efectuadas em internet, tem uma foto-câmara com tecnologia para o reconhecimento facial e utiliza cookies para controlar também o nosso correio electrónico.

Tudo bem, afinal a privacidade serve para quê? Come-se? Não? Então não presta.
Pelo menos isso é o que devem ter pensado na Samsung, empresa onde boa parte do tempo parece ser empregue para pensar quais as melhores formas de entrar na posse dos nossos dados.

Pegamos no smartphone Galaxy, por exemplo. Abrimos a tampa e retiramos a bateria. Notamos algo? Não? Claro que não, há um autocolante por cima. Mas debaixo dele há um localizador integrado com microchip que pode capturar os comandos vocais e os textos associados para “melhorar as características” do sistema.

Pois não esqueçam: tudo é feito sempre e só para o nosso bem.

Na verdade, o facto do smartphone (e não só, mas qualquer telemóvel) poder traçar os nossos movimentos não é uma novidade nenhuma, mesmo que o aparelho esteja desligado (se o desejo for evitar de ser “seguido” é preciso desligar o telemóvel e retirar a bateria). Mas este novo dispositivo não tem esta função: é, de facto, uma versão avançada do conhecido microchip RFID e tem o nome de NFC (Near Field Communication).

Como explica a sábia Wikipedia, o microchip NFC permite vários tipos de transmissão entre o nosso smartphone e outros itens:

  • Passiva: apenas um dos dispositivos gera o sinal de conexão, o segundo apenas recebe. Assim é possível colocar etiquetas NFC em itens que não recebem alimentação elétrica direta, como cartões, embalagens e cartazes.
  • Ativo: ambos os dispositivos geram o sinal, por exemplo, um smartphone e um receptor no caixa de uma loja.
  • Leitura e gravação: leitura ou alteração de dados em um dispositivo NFC, como um receptor que desconta créditos registados em um cartão de viagens.
  • Peer-to-peer: cada dispositivo pode tanto receber quanto enviar dados para o outro, por exemplo, para a troca de arquivos entre dois celulares.

Mais: o NFC permite uma comunicação de tipo bidirecional, com um raio de acção bastante limitado. Por exemplo: ao encostar dois aparelhos NFC num raio de 4 centímetros, é criada uma rede peer to peer e ambos podem receber e enviar informações com uma velocidade de transmissão de 424 kbit/s.

O NFC pode ser entendido como uma espécie de Bluetooth, apesar de existirem algumas diversidades em termos de prestações, gastos de energia e usabilidade (por exemplo, o Bluetooth é mais rápido mas requer mais “preparação” manual por parte do utilizador). Insisto num ponto: o NFC não segue os nossos movimentos, o seu raio máximo de acção é de 20 centímetros.

Mas há uma dúvida: quem controla os dados que são trocados com o tal microchip? Como podemos saber com absoluta certeza o que é enviado ou recebido? O NFC, por exemplo, pode integrar-se com o sistema PayPal ou com o nosso cartão de crédito, conhecendo assim dados sensíveis acerca dos métodos de pagamento. Como posso saber o que realmente o NFC lê no meu cartão SIM ou na memória do aparelho?

Pensará o Leitor: “Não faz mal, eu digo ao smartphone quais dados pode transmitir e quais não: desactivo os dados sensíveis”.
Com certeza. Então desactive também a possibilidade de ser monitorizado quando o aparelho for desligado…

Como explicado no seguinte vídeo, é possível retirar o autocolante, extrair este espécie de microchip e o smartphone continuará a funcionar correctamente.

Mas atenção: o smartphone ficará desprovido de algumas funções.

De facto, o NFC permite a utilização de funções em vários âmbitos:   

  • Compra de Passagens: no Japão, graças ao uso do NFC, é possível comprar passagens de metro apenas com a aproximação do dispositivo que tenha o sistema NFC integrado nas portagens.
  • Carros: como um diferencial, a Hyundai traz essa tecnologia integrada em seus produtos, visando a acompanhar a tecnologia envolvendo NFC, no protótipo de suas chaves, com as quais é possível realizar várias tarefas, como abrir a porta e ligar o motor.
  • Cinema: uma forte tendência de divulgação de filmes é o uso de NFC em cartazes que carregam um código, por meio do qual é possível assistir ao trailer do filme em questão.
  • Pagamentos: recentemente, o site Pagseguro lançou uma página com informações do sistema de pagamento via NFC. Surgindo da parceria com a Nokia, representa a primeira solução de pagamento entre celulares NFC do Brasil.
  • Estacionamentos: outra forma de automação por NFC muito utilizada nos Estados Unidos é o pagamento de bilhetes de estacionamento via celular com NFC. Recentemente a empresa Kameda Corp lançou o sistema no Brasil, com um funcionamento simples: o motorista pode pagar o bilhete na saída do estacionamento com seu próprio smartphone, desde que este tenha o aplicativo integrado ao PayPal.

Se a intenção for utilizar uma ou mais destas funções (agora ou no futuro), então melhor deixar o microchip onde está. Paciência. Doutro lado, como vimos, a privacidade não se come, por isso presta bem pouco.

Nota: o vídeo é gravado num idioma desconhecido, mas o que conta neste caso são as imagens.



Pergunta: mas a Samsung é a única empresa a utilizar o NFC?

Sim, e eu sou Pai Natal.

Na verdade, o NFC é uma tecnologia desenvolvida em conjunto por Philips, LG, Sony, Samsung e Nokia (isso é: Microsoft) e no futuro é previsto que seja adoptada por parte da maioria dos fabricantes, também em modelos de baixa gama.

Mas a comodidade custa. E não se fala aqui só de dinheiro: fala-se de privacidade e também de segurança. Desejamos pagar o bilhete do metro com o smartphone? Tudo bem, é cómodo e disso não há dúvida.

Agora, como disse Napoleão: “Tirem das vossas cabeças que haja almoços de borla”.
Ou foi ele o foi a minha avó.

Ipse dixit.

Fontes: Terra Real Time

9 Replies to “O microchip NFC”

  1. Cada vez mais nota-se que já não existem excepção neste assunto, e sabendo que, de uma forma ou de outra muitas empresas têm alguma ligação entre si, seja em componentes, acções, etc, fica aqui a pergunta de um milhão e um euros: Qual o objectivo de tanta vigilância e controlo ao cidadão comum? E não me venham com a desculpas dos terroristas, que a coisa parece mais sinistra.

    1. Olá. A servidão/escravidão moderna tem algumas características que muitas vezes fogem da nossa percepção. Cito três das principais: desapropriação do tempo, distração durante a réstia de tempo e… adivinha? ele mesmo, controle sob o indivíduo…sendo assim tornamo-nos presas muito fáceis…agora, é preciso acreditar na existência das relações de poder e dominância e para tanto é preciso investigar a própria história.

  2. Grandes empresas já utilizam há algum tempo esta tecnologia para monitorar colaboradores (eufemismo criado pelas organizações), funcionários, principalmente relacionados com setores essencialmente comerciais.

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