Fukushima: 4 anos, 10 pontos

Passados quatro anos, qual o ponto da situação em Fukushima?

No artigo Fukushima: 7.000% vimos um dos problemas que afligem as operações de bonificação, mas qual a situação no geral?

Para já: continua a ser muito difícil reduzir a contaminação. Será um processo que vai durar por muitos anos. As (ex) central nuclear não estará completamente acessível antes do ano 2020, mas isso segundo as estimativas mais optimistas. Na verdade o programa da TEPCO, a empresa privada dona da usina e encarregada das operações pós-tsunami, avança mas com dificuldades, algumas das quais ainda para resolver. Previsões mais realistas apontam para um completo desmantelamento em 40 anos.

Greenpeace fez uma lista em 10 pontos que transmitem as reais proporções do desastre.

1. Núcleos fundidos
A exacta localização dos vários núcleos permanece desconhecida para a TEPCO, mas é evidente que boa parte deles terá fundido, atravessando o vessel (o recipiente de protecção em aço) para alcançar a parte inferior da estrutura de contenção. A operação de arrefecimento do combustível fundido deverá continuar ao longo de muitos anos.

2. Água contaminada
A água utilizada para o resfriamento representa a maior parte da água mais contaminada armazenada em mil tanques de aço montados a partir de 2011. Em Dezembro de 2014, um total de 320.000 toneladas de água altamente contaminada estavam armazenadas desta forma. A TEPCO está a utilizar várias tecnologias para remover o material contaminante do líquido, mas não o trítio, isótopo radioactivo que ninguém sabe como tratar. A água já tratada, mas com ainda o isótopo trítio, totalizava até o passado dia 08 de Fevereiro as 297 mil toneladas.

3. O programa TEPCO
A TEPCO inicialmente tinha previsto de completar o tratamento de todas as águas altamente contaminadas até ao final de Março de 2015, mas este plano foi revisto em Janeiro, quando a empresa anunciou que tinha realizado “cerca de 50 por cento” da obra. Um novo programa será anunciado nos próximos dias e a TEPCO espera agora completar o tratamento no mês de Maio. Ao mesmo tempo, cerca de 300 toneladas de água são necessárias todos os dias para arrefecer o núcleo e o combustível derretido nos três reactores.

4. Águas subterrâneas
A estimativa oficial é que uma quantidade de cerca de 800 toneladas de água “passe” pela central todos os dias. De acordo com uma estimativa da TEPCO, 300/400 toneladas desta água estão contaminadas. A TEPCO afirma que a contaminação das águas subterrâneas no local é devida à radioactividade que permeia a superfície do terreno e que consegue atingir os aquíferos; teoricamente, portanto, as águas subterrâneas não estão em contacto directo com a água do interior do reactor. Mas esta é uma teoria ainda não comprovada.

5. Parede de metal
As tentativas para evitar esta contaminação focaram-se na construção dum tubo de aço com 770 metros de comprimento e uma parede de metal. A estrutura de aço está localizada a uma profundidade de 30 metros, isso é, de acordo com a TEPCO abaixo do nível do solo permeável. Esta hipótese, no entanto, é contestada por pesquisas geológicas no local, que mostram como as camadas permeáveis ​​compostas de arenito e pedra-pomes ficam a uma profundidade de cerca de 200 metros da superfície.

6. Parede de gelo
A TEPCO planeia reduzir o volume das águas subterrâneas que escorrem no local através da construção duma parede de gelo, com uma circunferência de 1,5 km em volta da usina de Fukushima Daiichi. Para implementar esta solução, é preciso perfurar o terreno para inserir 1.571 tubos de aço, sucessivamente arrefecido a -30C °. O objectivo é reduzir em dois terços a fuga de água para o oceano. A parede de gelo deverá permanecer em função ao longo de seis anos, até que sejam selados os núcleos dos reactores (sempre que estes estejam onde a TEPCO imagina…). As dúvidas sobre a eficácia desta solução e as suas consequências foram movidas também por um dos mesmos consultores internacionais da TEPCO e por um comissário da autoridade reguladora nuclear japonesa (NRA).

7. Combustível exausto
Depois do sucesso na remoção do combustível exausto a partir do reactor nº 4, a TEPCO quer agora transferir o combustível existente no reactor nº 3, provavelmente para a piscina do reactor nº 6, no decurso de 2015. Contudo, ao contrário do transferência feita a partir do reactor nº 4, a operação deverá ser feita à distância, devido ao alto nível de radiação no edifício que torna impossível para os seres humanos trabalhar num ambiente tão contaminado. Para complicar ainda mais, é preciso lembrar a presença de destroços no reactor nº 3.

8. Descontaminação
Segundo a monitorização da radioactividade efectuada por Greenpeace, 59% das amostras recolhidas nas áreas oficialmente “descontaminadas” ainda estava acima dos limites, com os mais altos níveis detectados longe das ruas. O trabalho de descontaminação essencialmente serviu apenas para “transferir” o problema, mas não para resolve-lo. Actualmente, 120 mil pessoas ainda não voltaram para as suas casas e o processo de descontaminação não tem fim à vista. As colinas, as montanhas e as florestas da província de Fukushima estão fortemente contaminadas. O resultado é que o material radioactivo é “lavado” através dos cursos de água e atinge áreas previamente descontaminadas. O que provoca uma re-contaminação.

9. Resíduos nucleares
O processo de descontaminação está a gerar grandes quantidades de resíduos radioactivos, armazenados em 54.000 locais temporários em toda a Prefeitura de Fukushima. As estimativas oficiais sobre a quantidade de resíduos que serão produzidos pela descontaminação falam de 15-28 milhões de metros cúbicos. A área contaminada acima 1mSv é de dois mil quilómetros quadrados: se fosse descontaminada geraria cerca de 100 milhões de toneladas de resíduos radioactivos. Na realidade, isso não é possível e no futuro teremos uma nova constante re-contaminação, devida à impossibilidade de descontaminar completamente as montanhas com florestas e os rios.

10. Custos
Os custos da descontaminação são estimados em 160 biliões de Euro. A pesquisa da instituição privada JCER (Centro Japonês de Pesquisas Económicas) estima os custos totais do desastre, compensação e desmantelamento dos seis reactores de Fukushima em 500/620 biliões de Euro.

Entre 500 ou 620 biliões de Euros…certeza de que o nuclear seja tão conveniente?

Ipse dixit.

Fonte: Greenpeace

One Reply to “Fukushima: 4 anos, 10 pontos”

  1. Este tema de Fukushima, lembra-me o Patrick Monteiro de Barros, que andou em pulgas para montar uma central nuclear em Portugal. Eram śo vantagens, dizia ele.
    Um acidente destes por cá, e tínhamos o artista Patrick, a dar corda nos sapatos e ir viver para um paraíso qualquer, e quem cá ficasse que fechasse a porta. De preferência sem fazer barulho, para não incomodar.

    Krowler

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