Haiti após o terremoto – Parte II

Hoje a polícia de Haiti é treinada pela empresa militar de segurança privada DynCorp, obviamente
dos Estados Unidos.

Em Abril de 2013, a DynCorp “ganhou” um contracto de 48.6 milhões de Dólares do US State Department’s Bureau of International Narcotics and Law Enforcement Affairs para um período de um ano com três opções de um ano casa uma para a inclusão dos seus alunos na força de polícia das Nações Unidas que operam em Haiti.

Mas o MINUSTAH parece cada vez mais uma força de ocupação e não um peacekeeping (“manutenror de paz”). Desde o início da suas operações, a missão das Nações Unidas tem actuado para reprimir os partidários do Fanmi Lavalas (de Esquerda) e recentemente atirou com munições verdadeiras (não de borracha) contra os manifestantes.

Durante estes dez anos, a MINUSTAH atingiu um recorde de violações dos direitos humanos, que incluem execuções extra-judiciarias, violência sexual contra homens, mulheres e crianças e repressão de manifestações políticas pacíficas.

Entretanto, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), em Dezembro de 2014 80.000 pessoas ainda estavam a viver nos acampamentos: um decréscimo de 92% desde o início da crise, quando 1,5 milhões de pessoas foram desabrigadas. Mas a organização não diz para onde foram aqueles que deixaram os acampamentos.

Um ano atrás, Haiti Grass Roots Watch escreveu que 200.000 vítimas do terremoto tinham deixado os acampamentos provisórios ​​para três novas favelas conhecidas como Canaã, Onaville e Jerusalém.

E os projectos de habitação pagos pelas generosas doações? Quem vive naquelas casas? Quem controla os projectos? São as verdadeiras vítimas do terremoto?

Um acampamento (Esq.) e exemplos de T-Shelter (Dir.)

No total, os projectos permitiram construir 3.588 casas ou apartamentos para um custo total de aproximadamente 88 milhões de Dólares, segundo dados do governo. Note-se, no entanto, que as agências de ajuda privadas gastaram mais de cinco vezes esse valor (500 milhões) para “abrigos temporários”, chamados T-Shelters. Como é possível gastar mais para abrigos temporários do que para casas?

Em 21 de Julho de 2011, o presidente Martelly, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton e o primeiro-ministro Jean Max Bellerive inauguravam a Expo Habitat, uma exposição de cerca de 60 modelos de casas em Zoranje. Todos concordam que a Expo foi um fracasso. Poucos foram so visitantes e ainda menos as pessoas que escolheram um modelo para o seu projecto de reconstrução. Muitos dos modelos apresentados eram caros em comparação com o padrão de Haiti.

Portanto: 88 milhões para as casas e 26.5 milhões para…um hotel.
O novo hotel Marriott recebeu o substancial apoio financeiro da International Financial Corporation (IFC). E a IFC faz parte do Grupo do Banco Mundial.

Mas não é o único caso de dinheiro investido de forma “curiosa”. Como parte da “reconstrução” de Haiti, o Fundo Clinton-Bush recentemente investiu 2 milhões de Dólares no Royal Oasis Hotel, um resort de luxo construído numa área metropolitana gravemente atingida pela pobreza e com campos de deslocados ainda à espera duma casa.

E os Haitianos?
Dificilmente poderão desfrutar das comodidades do Marriott ou do Royal Oasis Hotel:hoje ganham menos do que durante a ditadura de Duvalier (1971-1986). Os Haitianos que trabalham no grande Caracol Industrial Park, que abriu em Março de 2013, no final do dia de trabalho acabam com uns magros 1,36 Dólares.

Como se isso não fosse suficiente, para a construção do Caracol Industrial Park foram expulsos os agricultores que operavam na zona e os campos deles foram confiscados. Antes, Caracol era o celeiro do Departamento do Norte, actualmente há escassez de alguns produtos nos mercados locais.

Mas quem fica atrás do Caracol Industrial Park? O principal inquilino é o fabricante de vestuário sul-coreano Sae-A, que fornece os líder mundiais da distribuição do sector como Wal-Mart, Ralph Lauren, Donna Karen New York, Gap, Zara, Old Navy, H&M e outros.

São os mesmos nomes que podemos encontrar nos nossos centros comerciais. Após um dia de trabalho, ou nos fins de semana, sabe bem passear entre as montras para admirar as novas colecções Primavera-Verão sem pensar na miséria que fica atrás de cada etiqueta. E os Haitianos agradecem enquanto ficam à espera dos biliões de Dólares em ajuda humanitária que foram prometidos em 2010.

Ipse dixit.

Relacionado: Haiti após o terremoto – Parte I

Fontes: Global Research Haiti: Time for Clinton and Co to Pack and Go, Haiti: Aid or Trade? The Nefarious Effects of U.S. Policies, On October 15, the United Nations Will Fail Haiti Once Again, Haiti “Reconstruction”: Luxury Hotels, Sweat Shops and Deregulation for the Foreign Corporate Elite, Haiti: US to Re-Write Haiti Constitution to Better Service the One Percent, Haiti’s Promised Rebuilding is Unfulfilled as Haitians Challenge Authoritarian Rule; Haiti Grass Roots WatchQuestionnements sur les projets de logements de la reconstruction, The Caracol Industrial Park: Worth the risk?; Haiti CheryBill Clinton’s Dictatorship in Haiti, U.N. Uses Private Military and Security Contractors, Clinton’s CIRH Commission Declared a Fraud,
Reconstitution of Haiti’s Tontons Macoutes and Their Fusion With MINUSTAH; MondialisationHaiti: Les dons aux victimes du séisme investis dans un hôtel cinq étoiles; USA Spending.gov; Tlaxcala

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