O regresso da bonança

Ahhhh…o Baltic Dry Index!
Alguém se lembra disso?

Breve resumo. Há poucos anos (era o 2011 d.C.), os governos ocidentais repetiam: “A crise acabou, tranquilos, foram um par de anos complicados, mas olé, tudo ficou como novo agora!”.

O parvo aqui pensava e escrevia: “Pessoal, não oiçam, a crise não acabou”. E não tinha acabado.

O parvo tem dotes divinatórias? Nada disso. Simplesmente observa os dados, entre os quais um dos mais importantes é o Baltic Dry Index (BDI).

O (BDI) é um indicador dos custos de transporte dos navios cargo, aqueles que entram a mercadoria em todo o mundo. O nome diz “Baltic”, mas na verdade inclui os indicadores das maiores rotas comerciais do planeta. Diz “Dry” (que significa “seco”) porque é relativo aos material sólidos (nada de petróleo) como as matérias-primas ou as commodities agrícolas (carvão, ferro, trigo, etc.). 

Agora, sigam o raciocínio: se a economia global funciona, haverá uma grande procura de meios de transporte. Dado que os navios são um dos meios de transporte favorecidos no caso das mercadorias, é óbvio que os preços para alugar um navio de carga será elevado. É a lei da procura e da oferta. E se a economia estiver em baixo? Acontece o contrário: alugar um navio custará muito menos.

Mais: dado que entre o carregamento no navio e a entrega passa sempre alguns tempos, o BDI indica quais são as tendências da situação económica para os próximos tempos.
Tudo claro? Sim, tudo claro.

Agora, observem o seguinte gráfico. Representa o BDI da última semana:

E agora o gráfico dos últimos três meses:

Divertido, não é? Pois.
O Baltic Dry Index despenhou-se.

Percebem porque hoje os operadores que em Londres calculam o BDI ficaram sem fôlego, com os suores frios a correrem pelas costas? O índice fica poucos milímetros acima do nível mais baixo alcançado desde quando foi criado. É aí para
onde se dirige a economia da vida dos nossos filhos nos próximos 25 anos.

O parvo diz: lamento, o sistema já deu.
É preciso mudar e com uma certa pressa.

Ipse dixit.

Relacionados:
A bonança
Parados, no meio do mar, olhando as gaivotas

Fonte: Bloomberg

6 Replies to “O regresso da bonança”

  1. Se repararem bem no gráfico, em Jan/2015 depois de cair voltou a subir. Quem nos diz que este mês não acontece o mesmo. Não sejamos tão pessimistas!
    Pelo sim pelo não, já comprei o Manual de Sobrevivência e também uma lantena táctica. A seguir é a faca do Bear Grylls.

    Krowler

    1. Mas repara que depois dessa subida a descida foi bastante acentuada, e a continuar assim até pode voltar a subir, mas cair logo a pique a seguir. É esperar para ver.
      Ás vezes não é ser pessimista, é ser realista. Depois do que começamos a descobrir debaixo de algumas pedras, fica difícil acreditar em contos de fadas.

    2. HenryWallace, tens razão, a coisa está mesmo feia. Vou aproveitar e vender a máquina da Nespresso que me ofereceram e que não uso, para comprar uns bionoculos de visão nocturna.
      Brincadeiras à parte, o Baltic Dry Index espelha o estado da economia global, pelo que a evolução deste indice nos dá uma panorâmica geral do seu estado. É um indice muito importante. No gráfico abaixo está o andamento da curva desde 2003 até à actualidade. Temos um crescimento consistente do mesmo até 2008, com um crash no final desse mesmo ano. Daí para cá anda a balões de soro, sendo que, actualmente está em coma.
      É tambem notória a relação entre o custo dos transportes de mercadorias e a especulação financeira.

      http://goldsurvivalguide.co.nz/wp-content/uploads/2012/02/Baltic_Dry_Index_10_year_chart.jpg

      Krowler

  2. Talvez seja normal nessa época do ano. Os transportes tendem a diminuir na entressafra.

    Enquanto o Putin não colaborar para o início da 3ª Guerra Mundial, não vamos sair da crise financeira tão cedo, mas tenhamos fé.

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