Rússia e China: mais um passo

O sistema Swift engloba 780 instituições financeiras em mais de
200 Países, com um fluxo de caixa estimado em 6 biliões de Dólares por
dia (isso na década passada!).

Pergunta: mas que raio faz este Swift? Quem é? O que quer de nós?

Ora bem, explica-lo em duas palavras não é simples. Os mais curiosos podem ler o artigo dedicado: O Leviatã. Para os mais preguiçosos podemos simplificar (e muito) dizendo que Swift é um sistema de pagamentos e transferências internacionais utilizado pelos bancos de todo o mundo. Mas é bom ter presente que esta é uma definição incorrecta, pois Swift faz muito mais do que isso.

Qual o problema de Swift? Ora bem, Swift é um essencialmente um instrumento, utilizado por bancos, infra-estruturas de mercado, corretores, empresas, gestores; é um daqueles mecanismos que consolidam as bases do actual sistema financeiro. Pelo que, a criação duma alternativa ao Swift é vista como um perigo. E é exactamente isso que se está a passar.

Descarregar por cima da Rússia toneladas de sanções económicas pode ter algumas contra-indicações, entre as quais o surgimento duma anti-Swift. A resposta de Moscovo perante a guerra económica é também esta: o Banco Central da Rússia acaba de lançar a alternativa nacional ao Swift e afirma:

Os apelos para libertar os bancos russos do sistema inter-bancário mundial Swift ocorrem com a deterioração das relações entre a Rússia e o Ocidente e com a introdução das sanções económicas.

No entanto, Swift afirma que não tem intenção de excluir a Rússia do sistema, acrescentando que muitos Países estão a pressionar neste sentido e insistindo para não aderir às sanções anti-Rússia.

O que é uma situação bastante patética: o Ocidente atira sanções sobre a Rússia como se fossem rebuçados, mas ao mesmo tempo não quer que Moscovo abandone o sistema financeiro Made in USA (e Swift é uma criação, não oficial, da americana Federal Reserve).

A Rússia, portanto, está a preparar-se para uma guerra financeira da máxima importância. nuclear em resposta. Nestas semanas o anti-Swift está a ser testado em oito grandes bancos, incluindo VTB Bank (a segunda do País), SMP e Rossiya (sancionada pelo Ocidente). O objectivo é tornar o Swift russo operativo já este ano.

Entretanto, Moscovo trata com Pequim para que o anti-Swift seja adoptado por ambos os Países: seria a criação de um sistema de transacções inter-bancárias alternativo ao Swift e acompanhado por uma agência de notação independente (aquelas que dão os ratings), propostas concretas já discutidas no final de 2014.

Até a que ponto estas colaborações irão desenvolver? As implicações vão muito além da criação de um sistema financeiro alternativo.

Desde o passado 29 de Dezembro, China, Rússia, Malásia e Nova Zelândia utilizam moedas nacionais nas operações comerciais, excluindo assim o Dólar. Este é o desejo de Pequim: tornar o Yuan a alternativa ao Dólar no comércio mundial. A criação do anti-Swift é mais um passo na direcção de afastamento da moeda americana, pelo que é simples entender que o discurso aqui é bem muito maior do que o dilema “Swift ou não Swift?”.

A principal publicação da City de Londres, The Economist, conta uma história muito diferente. Segundo o diário:

O impacto na já frágil economia da Rússia seria enorme.[…] São grandes utilizadores não só do Swift mas também de outros sistemas de pagamento conectados como Fedwire dos Estados Unidos e Target2 do Banco Central Europeu.[…] As empresas estrangeiras que operam na Rússia sofreriam. Os países que negociam de forma significativa com a Rússia, como a Alemanha e a Itália, não estão muito entusiasmados. Nem o são muitos no sector financeiro.

Curioso: até poucas semanas atrás era o Reino Unido que desejava expulsar a Rússia do Swift. Agora que a Rússia parece ter intencionada a sair (e fica bem contente disso), é marcha atrás. É o Rublo que precisa do Swift ou é o Dólar que vê o seu domínio ruir?

Ipse dixit.

Relacionados:
O Leviatã
Clearstream

Fontes: Aurora, Zero Hedge.

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