5.000 irmãos Kouachi

Estes são os “moderados”…

Os Estados Unidos e alguns aliados começarão a treinar 5.000 milicianos “moderados” a partir da
próxima Primavera.

Isto foi confirmado pelo porta-voz do Pentágono, o almirante John Kirby. Washington espera começar o treino em estreita coordenação com a Turquia, o Qatar e a Arábia Saudita.

Afirma Kirby, acrescentando que Doha e Riad fazem parte do grupo:

Continuamos a trabalhar com Ancara para planear esforços conjuntos a fim de treinar e equipar as forças moderadas da oposição síria.

A este respeito, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia anunciou que “o acordo final sobre o programa está muito próximo”.

A tarefa de seleccionar o pessoal para ser treinado foi entregue ao general Michael Nagata, à frente das forças especiais do Comando Central, que nos últimos meses contactou uma série líderes da oposição moderada da Síria.

Michael Nagata

Uma tarefa aparentemente delicada quando se considera que a maioria dos milicianos moderados
anti-Assad treinados e armados pelo Ocidente e os árabes confluíram nas formações do Estado Islâmico (o Califado ou Isis, nas cujas fileiras também lutaram os irmãos Kouachi, alegados responsável pelo massacre de Charlie Hebdo) e na formação de Al-Nusra.

Nesta altura o Leitor pode ter algumas dúvidas, nomeadamente as seguintes:

  1. qual a diferença entre um miliciano “moderado” e um “não moderado”?
  2. porque Washington combate a Síria que é, com o Iraque, o principal inimigo do Estados Islâmico?

A primeira resposta é simples. O miliciano “não moderado” é aquele que utiliza as armas fornecidas pelo Ocidente e alguns Países árabes para disparar contra o exército regular da Síria e todos aqueles que apoiam o Presidente Bassad. O miliciano “moderado” faz exactamente o mesmo, só que depois de ter disparado diz “Lamento”.

Mais complicado (mas só em aparência) responder à segunda pergunta.
Os objectivos de Washington continuam confusos, pois os novos milicianos treinados pelas forças especiais dos EUA deveriam ajudar a combater o Califado e, ao mesmo tempo, as forças regulares de Damasco que, como vimos, são o principal inimigo do mesmo Califado.

É uma confusão que a Administração Obama prefere ignorar e não explicar, pois simplesmente não pode. Para fazê-lo, deveria admitir que

  • o Isis nasceu com o objectivo de se tornar uma força de desestabilização da região, tendo em vista uma intervenção directa do Ocidente no teatro de guerra nos territórios do Iraque, da Síria e perto das fronteiras do Irão.
  • por esta razão, o Isis foi desde logo fornecido economicamente e militarmente com os meios ocidentais e de alguns Países árabes ligados ao Ocidente e a israel.

Obviamente Washington não pode admitir um tal panorama, pelo que o paradoxo procede alegremente sem que ninguém avance com perguntas incómodas.

Entretanto, na área da cidade de Mosul já deve haver entre 30 mil e 50 mil milicianos do Isis
(daqueles “maus”, portanto), enquanto no Junho passado o total mal chegava às 3.000 unidades.

Duas as razões do aumento exponencial.

A primeira é que os líderes jihadistas têm encontrado facilidade em espalhar a mensagem jihadista entre habitantes pobres da região enquanto, ao mesmo tempo, não tem parado o afluxo de estrangeiros.

A segunda está relacionada com a ofensiva de terra realizadas por parte das forças de segurança iraquianas, apoiadas por conselheiros militares internacionais liderados pelos Estados Unidos. Mosul é vista como a “capital” do Califado no Iraque, o mesmo papel da cidade de Raqqa na Síria.

Perder Mosul provocaria prejuízos de enormes proporções, não só do ponto de vista geoestratégico mas também, e acima de tudo, psicológico.

No futuro, portanto, teremos a batalha de Mosul, com milicianos que dum lado estão equipados e financiados pelos ocidentais e do outro lado soldados que…também.
Vais ser engraçado.

Ipse dixit.

Fontes: Analisi Difesa,  

2 Replies to “5.000 irmãos Kouachi”

  1. Após o atentado, não iria me assustar se os EUA invadissem a Síria e o Norte do Iraque, com o pretexto de acabar com o Estado Islâmico.

  2. Financiar ambos os lados e acirrar a lógica do "todos contra todos" remonta aos tempos do século XVIII…

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: