Islão: a Paz da Jihad – Parte I

 … Quem mata um homem que já não matou ou que não espalhou a corrupção na terra,
será como se tivesse matado a humanidade toda. 
E quem salva um homem,
será como se tivesse salvou a humanidade toda.
(Sura al-Maaida, 5:32)

Ainda não sabemos se os acontecimentos de Paris estejam realmente ligados ao fundamentalismo islâmico.

Aparentemente é assim, mas convém não esquecer que quando o vosso Parlamento decide apoiar o reconhecimento da Palestina nas Nações Unidas, ver entrar em acção uns quantos “terroristas” é um risco bem real.

Seja como for, ao longo dos últimos anos a propaganda ocidental tem-se esforçado bastante para pintar a religião do Islão como algo inferior, primitivo e brutal. Pouco importam os apelos ao diálogo e as frases politicamente correctas quando a intenção dos factos é difundir a ideia de estarmos perante uma massa de terroristas sem coração.

Até aqui no blog têm aparecido Leitores que demonstram ter uma clara capacidade de raciocínio mas que, perante o assunto Islão, aceitam de forma inconsciente os lugares comuns da propaganda, defendendo o Cristianismo como sendo portador duma superioridade moral que não pode ser posta em discussão.

Lamento desiludir-vos: não apenas o Cristianismo não tem nenhuma superioridade como também manchou-se ao longo da História de crimes inenarráveis que fariam estremecer o mais pio dos fieis islâmicos. E se esta frase parece demasiado “forte”, quase um absurdo, aconselho ler o presente artigo para perceber o que é realmente o Islão.

Que fique claro desde já: o terrorismo existe e não é apenas uma questão de false flag. Existem e operam grupos terroristas que actuam em nome de Allah (ou pelo menos esta é a ideia deles), existem os bombistas suicidas, existem os que acreditam que morrer em combate abra a porta do Paraíso. Existem, não há dúvida, assim como existem pessoas com outras doenças mentais: esquizofrénicos, paranóicos, serial killer, etc.

Mas se não costumamos julgar o mundo Cristão tendo como base os que começam a disparar nas escolas dos Estados Unidos, da mesma forma para entender o que é o Islão não podemos partir das pessoas que corrompem as palavras de Maomé.

Seria interessante perceber também:

  • por qual razão há pessoas que interpretam de forma errada as palavras de Maomé
  • por qual razão estas têm a capacidade de difundir as suas ideias com tamanha facilidade
  • por qual razão estas pessoas conseguem ter seguidores entre as camadas mais desesperadas da sociedade islâmica
  • por qual razão a propaganda ocidental focaliza a sua atenção nestes aspectos, ignorando os outros.

Mas este é um discurso de diversa natureza que mais tem a ver com a actual situação geopolítica e económica que caracteriza a nossa sociedade. Por enquanto, ficamos com os aspectos ligados à religião com a tradução dum escrito de Islamshia, sito internet da Associação Islâmica Imam Mahdi que reúne os xiitas em Italia. Afinal, quem melhor dum islâmico pode explicar o que é o Islão?

O Islão, religião da Paz

O Islão é essencialmente uma religião de paz. O seu nome, Islaõ é derivada de silm, que tem dois significados: um é “submissão voluntária à vontade de Deus”, o segundo é “paz”. Ambos os significados estão interligados.

Onde quer que um muçulmano encontre um outro muçulmano, eles costumam usar a saudação da paz as-salamu ‘alaykum , “que a paz esteja contigo”, e a outra pessoa responde dizendo alaykumus salam, “a paz em você”

Cada oração diária começa lembrando que Deus é “Misericordioso, o Compassivo,” e termina com votos de paz para todos.

O conceito de Jihad

O conceito de jihad deve ser entendido claramente. Muitas pessoas nos meios de comunicação citam o texto do Alcorão fora de contexto. Vejamos então: qual é o significado de jihad?

O termo jihad não significa “guerra santa”. É uma distorção ocidental dum conceito muito mais amplo no ensino islâmico. Perguntem a qualquer especialista na língua árabe, e este dirá que jihad não significa “guerra santa”. O termo “guerra santa” vem do conceito cristão de “guerra justa”, e tem sido utilizado com extrema facilidade como fosse um termo islâmico desde os tempos das Cruzadas.

O que, então, significa Jihad?

Em árabe, o termo jihad significa, literalmente, “lutar e trabalhar duramente para alguma coisa”. Na terminologia islâmica preserva o significado literal em dois tamanhos diferentes, que são definidos como “grande (maior) jihad” e “pequena (menor) jihad”.

A grande jihad é conhecida como a batalha espiritual, uma luta entre dois poderes inerentes a nós mesmos: a alma e o corpo. A consciência está em conflito com os desejos da carne. Este conflito espiritual é uma jihad em andamento dentro de cada um de nós. O Islam espera que os seus seguidores dêem a preferência à alma e à consciência em vez de que corpo e desejos.

O jejum no Ramadão é um exemplo de treino anual que faz parte desta grande jihad.

A pequena jihad é a luta armada. Isso não significa o uso da violência injustificada. A pequena jihad pode ser dividida em dois: a agressão e a defesa. A agressão contra qualquer pessoa não é permitida no Islão; a defesa, no entanto, é um direito absoluto de cada pessoa e nação.

O Islão permite a pequena jihad apenas para defender os povos muçulmanos e as suas terras, e manter a paz nas sociedades muçulmanas.

A Jihad no Alcorão

Os versos de abertura

Vamos agora espreitar alguns versos do Corão.

A primeira batalha travada pelo Profeta e os seus seguidores foi uma guerra de defesa. É conhecida como a Batalha de Badr, nome de uma cidade perto de Medina (cidade do Profeta na Península Arábica).

Foi uma batalha em que o Profeta e os seus seguidores enfrentam as forças inimigas que vieram directamente de Meca, que ficava na altura sob o controle dos infiéis.

O primeiro verso da pequena jihad é revelada no Capítulo 22, Surata al-Hajj, do Corão, versículos 39-40. Explica claramente o objectivo da pequena jihad:

A aqueles que foram atacados é dada a permissão [para defender-se], porque eles certamente têm sido oprimidos(Sura al-Hajj, 22: 39-40)

Também referindo-se aos infiéis de Meca, que tinham travado uma guerra contra o Profeta e os seus seguidores, o Corão, no Capítulo 2, Surata al-Baqarah, versículo 190, diz:

Lutem pela causa de Deus contra aqueles que vos combatem, mas sem excessos, pois Deus não ama os que excedem (Sura al-Baqarah 2: 190)

Neste versículo, a discussão é sobre a resposta no caso duma guerra começada por outros; absolutamente nenhuma menção acerca de começar um assalto. Mesmo na guerra de defesa, Allah adverte os muçulmanos para não “exceder” além dos limites adequados.

O Islão ensina que os muçulmanos devem ser forte para ser capazes de defender-se, mas não para tornar-se agressivos e injustos. No Capítulo 8, Surata al-Anfal, versículos 60-61 do Corão, Deus estabeleceu este princípio geral de forma muito clara quando se dirige aos muçulmanos como se segue:

Preparem contra eles [os inimigos], todas as forças que podem e cavalos treinados, para aterrorizar o inimigo de Deus e as suas e outras pessoas que vocês não conhecem, mas Deus conhece. (Sura al-anfal 8: 60)

Depois de indicar o princípio de se manter firme e pronto para defender-se, o versículo continua:

Mas se eles [os inimigos] estarão inclinados para a paz, você também se inclinem para ela e coloquem a vossa confiança em Deus. (Sura al-Anfal, 8:61)

Em suma, o Islão quer que os Muçulmanos sejam fortes para não incentivar a arrogância dos outros; mas também devem estender a mão aos inimigos, se no inimigo houver uma inclinação para a paz.

Amanhã a segunda e ultima parte do artigo.

Ipse dixit.

Fontes: no final do artigo.

13 Replies to “Islão: a Paz da Jihad – Parte I”

  1. Parabens Max, por este teu artigo. Foste aos pontos chave da questão, os meus parabéns.

    Realmente um dos fundamentos das Religiões é precisamente “o domínio da natureza inferior e o despertar da superior”. Tal como explicado no teu excelente artigo:

    “A grande jihad é conhecida como a batalha espiritual, uma luta entre dois poderes inerentes a nós mesmos: a alma e o corpo. A consciência está em conflito com os desejos da carne. Este conflito espiritual é uma jihad em andamento dentro de cada um de nós. O Islam espera que os seus seguidores dêem a preferência à alma e à consciência em vez de que corpo e desejos.”

    Lamentavelmente as interpretações das mentes tresloucadas confundem-se. Umas vezes por limitação outras porque há quem intencionalmente as altere.

    Por outro lado, todo o procedimento deste comando terrorista indica uma operação altamente preparada, cirúrgica, muito provavelmente de falsa bandeira,… a mossad não faria melhor … Se é que me faço entender…

    “mas convém não esquecer que quando o vosso Parlamento decide apoiar o reconhecimento da Palestina nas Nações Unidas, ver entrar em acção uns quantos "terroristas" um risco bem real.”

    Pois é…

  2. Caro Max,

    Excenete artigo de quem tem pleno conhecimento de vários conceitos do islão, apesra de ser crítico em relação ao Islão como o sou em relação às religiões em geral.

    Não deixo de ler os teus artigos, sempre, apesar de não concordar com muito deles 🙂

    Um abraço, bom trabalho!

  3. Um assunto que ainda não foi desenvolvido pelo blog é a evolução histórica do poder judeu no ocidente, não enquanto religião, mas como uma sistematização de poder, cuja presença constante junto a reis e governantes desencadeou desdobramentos fundamentais da própria civilização, é praticamente ocultada pelo historicismo oficial. Sempre estiveram presentes nos acontecimentos marcantes, como o fim do feudalismo e ascensão da burguesia, colonização do mundo, revolução comercial/industrial, reforma cristã, movimentos como o iluminismo/positivismo, revoluções burguesas, mas propositalmente desprezados por sua própria propaganda moderna, que os divulga como eternas vítimas, cujo mundo consta como seu devedor. Agem sob bandeiras nacionais ou instituições internacionais organizadas por eles próprios cujo propósito sempre é o mesmo. Poder e dominação. Está feito o desafio!!

  4. Chaplin, bom desafio. Recordo que este blog a alguém deve incomodar pois à uns meses houve um artigo que ia nesse caminho. Curiosamente o blog "foi abaixo".
    Acho que o Max deve ter reparado nisso, eu não vi nada de especial. Mas…começou a tocar em coisas que vão essencialmente onde queres que haja um desenvolvimento. Sinceramente também apoio esse desafio.

    Quem ganha em andar a matar pessoas, só porque pensam de uma maneira diferente? Os assassinos (pobres dementes)? Quem os financia? (demência pura).
    False Flag? Curiosamente são os que têm mais a ganhar com isso, como foi explicado e bem acima e no artigo anterior, isto é uma deturpação do Corão. Assim como as deturpações da Bíblia (que por séculos e mais séculos foram a justificação para fazer o mesmo numa escala infinitamente maior).

    Sou agnóstico ou ateu, tenho é pricipios que vêm desses livros e da Grécia Antiga, chama-se ética. Respeita para seres respeitado ou não faças aos outros o que não queres que te façam a ti … etc… ou seja aquilo de positivo que nos permite viver em sociedade.

    Quem perde com isto é facil, os muçulmanos. Estes extremistas se é que foram eles, cavam um fosso mais profundo na nossa já "doente" sociedade. Quem paga as favas acabam por ser os moderados, os 99% que habitam a França e a Europa.

    Quem ganha? (Além daqueles que estupidamente perderam a vida), falta de liberdade de expressão, o politicamente correcto) e se for false flag…a quem interessa isto? Este conflito civilizacional 9/11…etc). Acho que é uma boa pergunta não é???
    Ps: uma das imagens é com o profeta com um clister, imaginar isso no bible belt dos eua, com uma figura de Jesus cristo na mesma pose, … pois…
    Nuno

  5. Olá e muito obrigado a todos pelos comentários!

    Lembro mais uma vez: o blog não se reconhece em nenhuma religião (tal como eu, olhem o acaso!), portanto não há aqui pontos de vistas defendidos e outros condenados. Este artigo não mira a "defender" o Islamismo (que sempre religião é, com todos os problemas que isso implica), simplesmente é uma tentativa de esclarecer um assunto que os medias ocidentais apresentam duma forma errada e tendencioso.

    Quanto ao resto. "A evolução histórica do poder judeu no ocidente" tem um nome: bancos. Sigam a história dos bancos e terão a tal evolução. Empréstimos, juros, usura: tudo passa por aí. As grandes famílias judaicas estão intimamente ligadas aos bancos, é assim que acumularam as fortunas. O "ódio" ocidental (e não só) em relação ao hebraicos não tem nada a ver com o racismo ou com a religião: é o fruto da exploração, da usura utilizadas ao longo de séculos para enriquecer.

    Pelo que: proximamente a história dos bancos (com anexos judeus).

    Grande abraço para todos!!!!!

  6. Creio que exista Deus verdadeiro que não se encaixa com religiosidade e nem algum tipo de "nova consciencia" que é uma alternativa hoje em dia para religiosidade, e sendo assim meu pensamento me leva à conclusão, citando o conjunto de livros, felizmente para uns e infelizmente para outros:>Não é do homem o caminhar dos seus passos! O desgraçado (sem graça) do ser dito humano porem desumano esta condenado ao fracasso e ao colapso, pois quer queira ou não, a maioria é a tal voz do povo (que é a de algum deus) pelo o que eu ouvi dizer por ai. A maioria é cega de barriga cheia de vento e de mente cheia de mentiras televisivas. Aqui é um lugar de minorias de barriga cheia de informações e mente cheia de estrategias que não vão levar à lugar nenhum quando o fim chegar, pois sempre a maioria ganha da minoria!

    Paulo (revoltado, mais não muito/comformado, mais não muito)

    1. Olá Paulo!

      Concordo com a ideia dum Deus que não se encaixa nas religiosidades ou nas várias New Age que por aí andam.

      Mas não estou de acordo com o homem destinado ao fracasso. Acho que há pela frente um longo caminho antes que possa ser alcançada a maturidade necessária para viver em harmonia (com os outros, com o ambiente, etc.). Só não sei se há tempo para este caminho todo, esta é a dúvida.

      "Aqui é um lugar de minorias de barriga cheia de informações e mente cheia de estrategias que não vão levar à lugar nenhum quando o fim chegar, pois sempre a maioria ganha da minoria!"

      Esta e a dúvida quem me acompanha desde quando abri o blog. Mas continuo, porque aqui:
      1. aprendo
      2. posso partilhar e confrontar as minhas ideias com os outros.

      A maioria ganha sempre? Se falemos dum mundo de 7 biliões de pessoas sim, ganha. Mas quanto pode durar assim? Desconfio que no futuro a maioria será muito mais pequena, limitadas a realidades locais. E não será por causa de eventuais planos de redução das população de Illuminati e companhia, será uma (r)evolução natural da sociedade.

      Em qualquer caso, o fim não vai chegar tão cedo e nenhum entre nós terá o tempo para ver esta nova sociedade. Tanto Paulo quanto eu e os outros Leitores continuaremos a estar revoltados por muito, muito tempo ainda.

      Abraço!

  7. [video]http://youtu.be/emcvlnNcluM[/video]

    Killing Joke s/t 2003 album
    letra:
    As far as trying to go up against the government, well,
    Unless the whole country did it, I guess…

    Now you listen to me…
    Just enough water
    For one third of the world
    Oil baron running the government
    So I'll start a war

    All votes invalid
    Use any old lie
    Gonna carve up your wealth
    Like pumpkin pie

    Only fools won't realize it
    Won't be told that empires run on the old black gold

    It's a global abrasion
    It's conflagration
    United nations
    It's a total invasion

    Terrify them
    Complete submission
    This our goal
    This our mission
    Destroy your customs
    You'll have no say
    We'll clothe your women
    The western way

    It's a Fucking Crusade
    A Lesson In Trade
    So all you intellectuals
    Were gonna invade

    It's a global abrasion
    It's conflagration
    United nations
    It's a total invasion

    Mexico city
    24 million people
    Half a liter a day
    Is their ration

    The final push
    The last battle
    Eden restored
    Man is cattle
    We want your oil
    We want your land
    We'll take your wealth
    You'll have much less
    Well change your god
    To the bitch goddess.

    It's a global abrasion
    It's conflagration
    United nations
    It's a total invasion

    It's a global abrasion
    It's conflagration
    United nations
    It's a total invasion

  8. Max, o desafio é bem maior…sei que é muito complicado. Bancos representam o principal viés do poder dominante, correto, mas quando menciono a SISTEMATIZAÇÃO do poder, é para mostrar o quanto a civilização está envolvida e absorvida. Apesar de reconhecer que o blog avança muito além do vulgar, ainda não se atreveu elaborar uma matéria com maior amplitude e que caracterize as relações inter-dependentes do poder, seus caminhos e suas trajetórias históricas.

  9. Absolutamente falso! O conceito de jihad como luta interior é herético. Surgiu somente no século XI, com al-Katib al-Baghdadi e passou ase r conhecida como Jihad Maior. No entanto, antes deste século existia somente a Jihad Menor que evocava a luta sangrenta de Maomé. É deste conceito que o fundamentalismo islâmico se vale. Vale lembrar de que o termo "fundamentalismo" se refere ao retorno dos fundamentos de qualquer crença.

Obrigado por participar na discussão!

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