Voo MH17: a investigação da Reuters

Importante novidade acerca do abatimento do avião civil da Malásia na Ucrânia.

Em boa verdade, as novidades raramente faltam: na semana passada apareceu um alegada imagem satelitar que mostrava um caça militar após ter lançado misseis contra o avião. Só que era uma montagem, bem feita, mas sempre montagem que muitos.

Desta vez a novidade é importante porque a fonte está acima de qualquer suspeita: uma vídeo-investigação da agência inglesa Reuters que desmente a teorias de Kiev.

Mas vamos com ordem.
Eis a cronologia dos acontecimentos e a seguir as descobertas da Reuters.

Cronologia
  • 17 de Julho. O Boeing-777, Amsterdam-Kuala Lumpur, é abatido na província de Donestk. 298 mortos.
  • O governo ucraniano imediatamente dá a responsabilidade aos separatistas russos.
  • 18 de Julho. O Presidente Barack Obama afirma estar clara “a responsabilidade do abatimento por parte dos pró-russo com um míssil terra-ar”.
  • 21 de Julho. Em Moscovo o Ministro da Defesa e o comandante da aviação militar exibem fotos de satélites e mapas de voos que mostram a presença de um avião militar ucraniano nas imediações do Boeing.
  • Mesmo dia. O Presidente da Ucrânia Petro Poroshenko afirma ter “fortes evidências” do local de lançamento de mísseis dos rebeldes. Kiev está pronta a entregar as provas (fotografias).
  • Semanas sucessivas. As fotografias ucranianas são reconhecidas como manipuladas até pelos investigadores alemães. E são precisos 40 dias para receber as gravações rádio entre o avião civil e os centros de controle do tráfego aéreo da Ucrânia.
  • Os rebeldes do Donbass dão acesso ao local do desastre e entregam as caixas-pretas após a artilharia ucraniana ter parado de bombardear a área, onde não havia forças rebeldes.
  • 09 de Setembro: antecipação da Comissão Internacional de Inquérito. O abatimento do Boeing ocorreu como “resultado de danos estruturais causados por um grande número de objectos de alta energia que atingiram o avião”.
  • 19 de Outubro. O semanal alemão Der Spiegel afirma que numa audição parlamentar o BND (serviço de segurança alemão) afirma ter a certeza de que a responsabilidade do incidente pertence aos rebeldes pró-russos. Nem o semanal nem o BND produzem documentos comprovativos.
  • 27 de Outubro. O semanal alemão Der Spiegel entrevista o investigador-chefe alemão que revela como depois de três meses os Estados Unidos ainda não forneceram os dados dos seus satélites, aqueles do seu poderoso sistema de escuta global (NSA, Echelon) ou AWACS.

Considerações

E chegamos até hoje, com a investigação da Reuters.
Eis algumas antecipações:

  • As páginas do registo aeronáutico alemão sobre o avião abatido foram modificadas após o dia 17 de Julho. A altitude operacional do avião, que situava-se acima dos 10.000 metros, foi corrigida para 7.500 metros.
  • Entre as fotografias dos restos do avião é possível observar uma parte da fuselagem perfurada por “objectos de alta energia”, tal como descrita no relatório de investigação. A parte corresponde ao cockpit, isso é, a cabine de pilotagem. Os mísseis anti-aéreos não explodem directamente no alvo mas nas suas proximidades, atirando-lhe contra grande quantidade de projecteis (chamados schrapnel), o que assegura um dano mais difundido e a certeza de atingir o alvo.
  • O míssil terra-ar SA-11 (supostamente aquele utilizado pelos independentista pró-russos) é guiado por radar e explode cerca de 20 metros abaixo da zona de maior ressonância do radar. Isso significa que os SA-11 explodem 20 metros abaixo dos alvos, na parte central do avião, incluindo as asas. Mas, enquanto o cockpit é crivado, as fotografias dos destroços mostram partes inteiras das asas e entre as asas sem um único furo.
  • O míssil ar-ar M60 (ou M-73) montado no avião militar Su-25 é orientado pelo calor infravermelho dos motores, e explode perto daquela zona do avião. Das muitas fotografias não há nenhuma que mostre como intacta a parte de trás do avião civil. Somente grupos de peças explodidas e queimadas. Um hipótese possível é portanto tiros de metralhadora no cockpit e, a seguir, um míssil que fez explodir o avião entre os motores e os tanques de combustível (nas asas) e a parte atrás.
  • Por fim, a pesquisa da Reuters analisa o lançamento de um míssil SA-11. Alto 5,5 metros, pesa 650 kg. e tem uma ogiva de 70 kg. Movido por 350 kg de combustível e com uma velocidade Mach 3, o seu rasto branco após o lançamento é largo mais do que um metro e persiste no céu por 5-10 minutos, muito além de ter atingido o alvo. Mas nenhuma testemunha ocular relatou a presença dum rasto altos 10 km sobre o local do abate.

Por enquanto a investigação ainda não está disponível, não resta que esperar para confirmar.

E se estas antecipações fossem confirmadas, talvez pudessem indicar uma mudança de rumo do Ocidente perante a tragédia: a posição de Kiev fica cada vez mais insustentável, desde o primeiro dia acusou os independentistas mas a única cosia que conseguiu foram algumas imagens falsificadas e não poucas contradições.

Nesta altura, mais lógico admitir o erro: os tiros de metralhadora parecem indicar um “aviso” ao avião civil antes do abatimento, como se um avião militar tivesse sido lançado para interceptar uma “intrusão” no espaço aéreo que a Ucrânia continua a considerar como seu.

O porque do lançamento do míssil é mais complicado: falhas na comunicação, informações erradas fornecidas ao piloto militar só apenas algumas hipóteses.

Não esquecemos que afinal tudo passou-se entre um avião da Malásia e forças militares de Kiev: os Estados Unidos e a Nato ficam ilibados e um bode expiatório encontra-se sempre Aliás: uma óptima ocasião para realçar o clima de tensão “criado” por Moscovo e atirar a última culpa para o outro lado…

Nota final. Apesar do vídeo não estar ainda disponível, decidi arriscar e publicar
as antecipações dado que a fonte é “conceituada”. Trata-se de Outolook News,
que participa no mais importante semanal político publicado em Italia
(Panorama) e opera em estreita colaboração com G-Risk, agência
especializada na análise dos riscos internacionais. Obviamente, ficamos à
espera de poder assistir ao vídeo, que será publicado logo no blog.

Em qualquer caso, a investigação apresentaria apenas duas novidades dignas de nota: o facto de ser desenvolvida por uma agência ligada ao establishment ocidental (o que seria muito esquisito a não ser, como vimos, que represente uma mudança de atitude ocidental) e a correcção eventualmente efectuada aos registos aeronáuticos da Alemanha (facto extremamente grave, como é possível intuir).

As considerações técnicas acerca dos mísseis eventualmente utilizados (o SA-11, o M60/M73), os furos no cockpit e a questão do rasto, pelo contrário, estão já amplamente difundidas e constituem algumas das muitas incongruências para as quais Kiev não tem resposta. 

Ipse dixit.

Fonte: Outolook News

2 Replies to “Voo MH17: a investigação da Reuters”

  1. O que me deixa intrigado : 1 – EUA tem um sistema de monitoração de escuta global (E ninguém fica pasmado) – E não apresentaram nenhuma prova – 2 – A Russia tem fotos de um aviao ucraniano próximo e ainda não vi (São aquelas fake que sairam? Ou essa é a distração? )

  2. Olá!

    As únicas fotos que vi do avião são aquelas que surgiram de forma anónima num fórum, imagens supostamente satelitares a preto e branco.

    A fonte afirmava ter tido acesso a uma série de ficheiros reservados, mas um blog francês demonstrou ser claramente um falso: bem feito, mas sem dúvida um falso (até encontraram o a foto original do avião utilizada para recriar a cena). Não entendo como é que os Russos fizeram até uma conferência de imprensa apresentando aquelas imagens.

    E os EUA? Mesmo discurso: não entendo como é que os americanos não divulguem os dados que com certeza têm. E isso sem esquecer que também os Russo têm satélites que andam por aí e sem dúvida não descuidam a zona da Ucrânia.

    Há por aqui algo de estranho: é como se a verdade não fosse conveniente para ninguém.
    Nem falamos depois do outro avião da Malásia, aquele que desapareceu no oceano. Aquele é um caso fechado: desapareceu e ponto final…

    Abraço!

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