O café de Neil Young

Neil Young fartou-se.

Fartou-se por causa do acordo entre a cadeia de cafetarias Starbucks e a Monsanto. E da batalha legal que a Starbucks iniciou para não declarar nas embalagens a presença de produtos geneticamente modificados.

Numa mensagem no seu site, o cantor canadense anunciou o boicote e pediu aos seus fãs para juntar-se ao protesto:

Starbucks não acredita que os seus clientes tenham o direito de saber o que está no seu café

Na passada Primavera, estado do Vermont aprovou uma lei segundo a qual os rótulos devem declarar a eventual presença de produtos OGM a partir do ano 2016. Imediatamente algumas empresas de alimentos iniciaram a batalha legal para boicotar a lei: entre elas, a Grocery Manufacturers Association, nas cujas fileiras encontram-se Starbucks e Monsanto.
Afirma Young:

Starbucks esconde-se por trás da GMA. […]. Se à Monsanto pode não interessar o que pensamos, Starbucks, como empresa pública, está interessada.

. E se podemos atrair a atenção, isso poderia empurrar Starbucks a retirar-se das empresas que entraram na acção contra o Vermont.

A GMA apoia as biotecnologias e no seu site é clara:

Identificar e utilizar genes específicos – biotecnologia – na produção de alimentos proporciona benefícios significativos para os consumidores. Por exemplo, milho, soja, frutos e outras culturas crescem mais rapidamente, são mais resistentes a insectos prejudiciais, melhoraram as qualidades nutricionais e são mais resistentes aos herbicidas comuns que podem danificar as culturas antes da colheita.

Esses avanços biotecnológicos permitem que os agricultores da América e as empresas de alimentos e bebidas continuem a fornecer mais de 300 milhões de consumidores com uma oferta abundante de alimentos seguros, de alta qualidade, nutritivos e de baixo custo dos quais precisam para manter e melhorar as suas vidas em uma base diária.

Mas afinal, quem são os associados da Grocery Manufacturers Association? Este é o problema: são muitos e são importantes. Alguns nomes:

  • 3M Company
  • Abbott
  • Bayer
  • Bimbo
  • Campbell
  • Cargill
  • Chiquita/Fresh Express
  • Coca-Cola
  • Colgate-Palmolive
  • Del Monte
  • Heinz
  • Hewlett-Packard
  • Johnson
  • Kellogg
  • Kraft
  • Mars
  • McDonald’s
  • Microsoft
  • Nestlé
  • PepsiCo
  • Pfizer
  • Pinterest
  • Procter & Gamble
  • Siemens
  • Syngenta
  • Tetra Pak
  • Texas Department of Criminal Justice
  • U.S. Bank Food Industries Division
  • Unilever

Nada mal como nomes: em práticas todos os principais produtores mais empresas envolvidas no
tratamento e distribuição dos alimentos, aliados (é o caso de Microsoft, Pinterest, etc.).

Neil Young tomou esta posição depois de ter louvado publicamente a mesma empresa porque  considerada progressista, em matéria de condições de trabalho por exemplo. Mas agora, como afirma o cantor, cometeu o erro de aliar-se com “os piores criminosos, a Monsanto.

Nos últimos anos, Young tem intensificado os esforços para proteger o meio ambiente: em 2009 lançou o álbum Fork on the Road, inteiramente dedicado a um projecto para construir um carro eléctrico.

Mais recentemente, tem denunciado a “insustentável situação ambiental no Canadá” e a ameaça representada pelo projecto de expansão dos depósitos de areias de alcatrão dos quais o petróleo é extraído.

O músico também assumiu uma posição contra o algodão não cultivado organicamente e ambientalmente amigável. Aos seus fãs dirigiu uma mensagem, lembrando de não comprar roupas de algodão se não for algodão orgânico. De facto, nos seus espectáculos são vendidas exclusivamente camisetas feitas com métodos e materiais orgânicos.

Não sei se raparam na diferença entre esta atitude e aquela de outros alegados paladinos do ambiente que tomam o pequeno almoço com Bill Gates e investem na Costa Azul…

O seguinte vídeo não é dos melhores do ponto de vista do áudio, o que é uma pena pois é uma grande canção. Mas já vem com legendas embutidas, pelo que…

Do álbum Zuma, de 1975:



Versão Youtube com imagem estática mas bom áudio: link
Merece ser ouvida: o trabalho de guitarra ocupa o posição nº 39 na classifica dos 100 melhores de sempre segundo a revista Guitar World’s.

Curiosidades: a canção deveria ter durado mais (falta um verso) mas ao minuto 7.30 um dos circuitos eléctricos pifou causando um involuntário efeito fade out. E a canção foi banida em Espanha durante a ditadura de Francisco Franco.

Seja como for: evitem Starbucks.

Ipse dixit.

Fontes: The Guardian, Neil Young, RollingStone, Occupy Monsanto, Grocery Manufacturers Association

3 Replies to “O café de Neil Young”

  1. é sempre bom saber.
    nunca fui grande frequentador do starbucks por nenhuma razão em especial, mais porque não tenho dinheiro, agora menos serei.
    há coisas que fazem menos falta do que achamos.

Obrigado por participar na discussão!

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