Italia fora do Euro?

Italia fora do Euro?

O que parecia impossível até pouco tempo atrás está a tornar-se uma possibilidade cada vez mais real. Os britânicos nunca viram de bom olho o circo do Euro, mas desta vez não é apenas prejuízo, é mais do que isso. Até que o diário The Guardian é muito explícito: a Itália está a dirigir-se rumo à saída.

Seria um golpe não indiferente para a moeda única: a Italia é não apenas um dos Países fundadores da União, mas é também a terceira economia em ordem de importância. O maior perigo é que isso possa desencadear um efeito domino, de modo que outros Países sigam o exemplo. Bruxelas tem consciência do problema: até quando a Zona Euro mantiver uma aparência compacta, há a esperança de que o projecto possa continuar, mas uma vez começado a perder “peças” tudo ficaria extremamente difícil  

O problema é a insatisfação dos Italianos. O Produto Interno Bruto é quase 10% inferior quando comparado com os dados de antes a crise financeira e todos os esforços para reanimar a economia falharam, sobretudo porque acompanhados pela receita de austeridade imposta pela Alemanha.

Houve um tempo em que a classe média italiana recusava até a ideia duma saída do Euro. Mas agora as coisas têm mudado: o Movimento Cinco Estrelas (segundo partido nas últimas eleições) quer a saída e o mesmo acontece com a Lega Nord (6.15% nas eleições) e Alleanza Nazionale (3.67%).

O que virou os sentimentos foram sobretudo as promessas de crescimento quebradas, a atitude de
Bruxelas e aquela do Banco Central Europeu.

Os italianos têm esperado três anos que o chefe do BCE, Mario Draghi (que é italiano) imitasse os homólogos do Banco da Inglaterra e da Federal Reserve, imprimindo dinheiro. Draghi fala sem parar de fundos bombeados nas economias para sair da crise, mas logo a seguir faz marcha atrás, tal como aconteceu na semana passada.

Todavia, nesta altura é improvável que uma eventual injecção de dinheiro possa ser eficaz. Teria tido significado até um ou dois anos atrás, agora já é tarde. A Italia, tal como outros Países europeus, precisa de desvalorizar a moeda, assim como têm feito recentemente os japoneses.

Voltar à Lira vai ser doloroso. No entanto, parece algo que os eleitores estão dispostos a enfrentar para impedir que a economia possa deslizar ainda mais para trás.

Mas, além do que afirma o Guardian, até a que ponto pode tornar-se realidade esta hipótese?

Internet neste sentido pode ajudar a entender. Há uma ampla discussão na rede italiana, e é preciso salientar que não envolve apenas cidadãos comuns mas muitos entre especialistas do sector também, como economistas (nacionais e não), jornalistas, operadores de Bolsa. Sinal significativo: o debate começa a ocupar os ecrãs televisivos. Nos últimos meses as discussões abandonaram o “se” para concentrar-se no “como”, sinal de que a confiança nas instituições europeias atingiu níveis particularmente baixos.

A actuação do Primeiro Ministro, Matteo Renzi, que supostamente é homem de Esquerda (Partito Democratico, antigo Partito Comunista Italiano), piorou a situação neste sentido: uma vez experimentados governos de Centro (Monti e Letta) e de Direita (Berlusconi), é possível agora constatar que não é uma questão de medidas baseadas nas ideologias partidárias, mas que o problema reside no pano de fundo, sempre o mesmo, cujo nome é Euro.

É impossível nesta altura afirmar com absoluta certeza se e quando a Italia sairá do regime da moeda única. Todavia é bem realçar como do ponto de vista italiano o que está em jogo é mais do que a simples economia: a crise está a reforçar as tendências separatistas do Norte, nunca totalmente desaparecidas, com aquelas da Lega Nord que nas últimas sondagens alcança quase 11% das preferências. E a Lega reflecte os sentimentos das áreas mais produtivas do País, como a Lombardia e o Veneto.

É também evidente que parte da elite política italiana e as instituições europeias não estão dispostas a largar o sonho do Euro tão facilmente (nem existe um mecanismo oficial que permita a saída da Zona Euro), pelo que é inevitável prever algumas concessões no curto e médio prazo (como um Quantitative Easing à europeia, por exemplo).

Todavia, a situação atingiu níveis que requerem uma mudança de rumo ou, no mínimo, fortes correcções por parte das instituições centrais europeias. Caso contrário, a maré anti-Euro não apenas não poderá baixar mas, pelo contrário, irá recolher cada vez mais adeptos entre um eleitorado amplamente cansado das promessas.

Update: Die Welt

Tinha escapado mas aqui está: o alemão Die Welt está na mesma senda do The Guardian.

O diário alemão fala dum abandono do Euro como de “facto necessário” e de “prova secular”, comparando o actual momento histórico aos vividos no início do Estado italiano (1861) e ao final da segudna Guerra Mundial (coma queda do monarquia e do Fascismo).

O tom não é simpático, como é normal que seja dada a origem do diário. Que, todavia, é obrigado a admitir: o problema não é apenas a Italia.

Em França Marine Le Pen, da Frente Nacional, tem hipótese de ganhar a próxima eleição presidencial e o seu primeiro acto será anunciar a saída da união monetária do Euro. Juntamos o mal estar da Escócia, da Catalunha… no horizonte da Zona Euro as nuvens negras não faltam e em Bruxelas ninguém parece entender onde fica o sol.

Ipse dixit.

Fontes: The Guardian, Die Welt

8 Replies to “Italia fora do Euro?”

  1. A UE não existe para o bem das populações que a constituem.

    A UE existe para favorecer os Mega Financeiros Hebreus que pretendem impor uma “Globalização” onde tenham total Hegemonia e controlo.

  2. Era interessante saber a opinião dos leitores do blog sobre a continuidade ou não do euro.
    Por mim, venha o escudo de novo.

    Krowler

    1. EXP001

      Krowler sinceramente não sei. Enquanto não escorraçar-mos a máfia que temos cá instalada no nosso pais isto não vai lá nem com euro nem com escudo.

    2. e para despachar a corrupção é preciso que as pessoas mudem literalmente a sua filosofia de vida.
      é uma cultura de cunhas para sobreviver que mantém tudo como está.
      cunhas para empregos, cuidados de saúde… falamos de sobrevivência.
      talvez com novos partidos políticos a começar pelas autarquias.
      e não falo de dissidentes de outros partidos políticos como se viu por cá nas últimas autárquicas.
      ainda assim, para já, não vejo o país a votar em novos partidos sem "colunáveis". falta muita cultura e cidadania e este governo estupidificou ainda mais o país.
      mesmo que apareça um projecto válido para tentar alterar algo até ao nível local será complicado as pessoas simplesmente aderirem e irem lá votar para tirar da cadeira os mesmos de sempre e simplesmente arriscarem uma coisa tão simples como essa.

  3. Legalmente, se saíssemos do euro, a nova moeda não se poderia chamar novamente escudo, não sei com que justificação. Mas esta problemática levanta uma outra questão: quem iria fabricar as novas moedas? Se fossem supostos bancos centrais de cada país que emitissem moeda mediante juros, ficava tudo ainda pior… Dinheiro emitido pelas próprias instituições nacionais livre de juros, isso é que convinha, caso contrário tínhamos o mesmo sistema – ou melhor, esquema – armadilhado de raiz para nos endividar do berço à cova…

  4. Penso que o imbroglio vai além de sair ou não do euro, do fim ou não do euro. Sem mudança radical e profunda na ordem financeira mundial não há horizonte azul-bebê para a humanidade, restando apenas o cenário púmbleo da escamoteada servidão humana agrilhoada no consumismo e na obsolescência dos bens. Não é pintando papel e dando-lhe valor de troca ou, mais modernamente, criando bit-dinheiro sem lastro que a humanidade ira se salvar.

  5. Escudo claro. Mas vamos esperar que o baralho de cartas comece a cair…
    Senão cai-nos o resto da ue, ou seja bancos em cima. Depois é ver as prateleiras vazias, farmácias e hospitais sem stocks etc…
    Mas quem manda são as agências de rating o mercado.
    Sugestão um tópico sobre agências de rating e como possuem o poder que possuem.
    Abraço
    Nuno

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