Palestina: o massacre continua

Bloody Sunday, um Domingo de sangue: assim alguns diários definiram o passado dia de Domingo
em Gaza.

A imaginação dos diários não pode ser ilimitada. E é verdade: ontem foi o dia mais sangrento desde o início do ataque israelita.

Mas não é que com ontem a coisa tenha acabado: por enquanto, o total atingiu as 500 vítimas, entre as quais é preciso contabilizar aquelas do hospital atingido hoje. Porque, como sabemos, os objectivos de Tel Avive são exclusivamente militares e os palestinianos utilizam civis como “escudos humanos”.

O governo israelita não tenciona parar o massacre: não há por aqui vozes que prontamente se levantam escandalizadas, não há condenações nem convites para que seja estabelecida uma investigação para apurar a verdade. O massacre continua e tudo está bem assim.

Os números

E que se trate dum autêntico massacre não há dúvida.

As mortes palestinianas em Gaza são 508 (477 aquelas identificadas), 3.150 os feridos. Entre as vítimas, muitas mulheres e crianças.

A partir do dia 08 de Julho, o começo da ofensiva, até o último Sábado foram cerca de 6.500 os ataques israelitas:

  • 3.121 ataques aéreos,
  • 1.545 ataques efectuados com navios
  • 1.923 ataques de artilharia.

Os deslocados são 135 mil, mais de 2 mil as casas destruídas. As perdas da agricultura alcançaram 24 milhões de Dólares.

Os objectivos

Uma escola-abrigo

Tendo em conta que a pressão internacional sobre israel para que ponha fim à agressão são ainda
mais fracas do que o habitual (meus senhores, há um avião abatido, quase 300 mortos, não é brincadeira…), a questão permanece saber quais os verdadeiros objectivos do governo Netanyahu.

É o clássico massacre de palestinianos, quase um desporto em israel, ou algo mais?

Oficialmente, o objectivo é a destruição dos túneis. Mas, claro, há mais: difícil acreditar que toda a Faixa de Gaza seja um enorme cruzamentos de galerias, os palestinianos não são o povo anão de Durin do Senhor dos Aneis. O objectivo político continua a ser a rendição da resistência palestiniana. Objectivo que, realisticamente falando, não será atingido.

Mas israel tenta. Como?
Uma hipótese é a aplicação do modelo da Cisjordânia na Faixa de Gaza. Neste caso, fragmentar o território palestino sem novas colónias, mas com uma presença permanente de tropas israelitas em diferentes pontos estratégicos da Faixa.

Se esta hipótese for verdadeira, as condições da população de Gaza irão sofrer um dramático agravamento. E aumentarão as ocasiões de choque entre as duas partes.

O lado egipcio

No Egipto, o novo presidente al-Sisi é activo na destruição dos túneis que ligam  Gaza com a
Península do Sinai.

Nos túneis passam as necessidades básicas para a população sitiada e pela fronteira de Rafah não podem sair os palestinianos nem entrar os comboios humanitários, invariavelmente bloqueados pelo exército egípcio.

Nestes dias, a área de Rafah é intensamente vigiada pelos militares de al-Sisi. Mas o uso maciço de drones e tanques não deve ser confundido com uma protecção normal contra a ofensiva israelita: estão aí  para tornar o isolamento de Gaza ainda mais impenetrável.

Doutro lado, al Sisi foi criado nas escolas do Reino Unido (Joint Command and Staff College) e dos Estados Unidos (US Army War College e Basic Infantry Course): aprendeu bem a lição.

A resistência

As formações da resistência palestiniana em Gaza (Hamas, Jihad Islâmica, Comités de Resistência
Popular, além de outros grupos jihadistas) não tem intenção de render-se. E, logicamente, recusaram a mediação do Egipto.

Claro, a desproporção das forças é evidente. No entanto, as perdas do exército israelita começam a assumir uma dimensão muito maior do que no passado.

Até agora, as fontes israelitas admitem a perda de 18 soldados (30 segundos do Hamas), enquanto um soldado de Tel Aviv teria sido capturado pela Resistência (na verdade foi “”raptado” segundo os diários ocidentais: são os israelitas que “capturam”).

Além destes números, o que importa é a força política da Resistência que conta. E, entre uma população desesperada, cada bala israelita é mais um tijolo para o muro da Resistência.

Ipse dixit.

Fontes: Wikipedia (versão inglesa), Il Corriere della Sera, Come Don Chisciotte, Campo Antimperialista

4 Replies to “Palestina: o massacre continua”

  1. "os palestinianos não são o povo anão de Durin do Senhor dos Aneis."

    não são e esta é uma história em que até o resto do mundo árabe se cala… aqui não há união… o que pensarão os palestinianos deste abandono por parte até daqueles com quem partilham a mesma fé… eles estão de facto sozinhos.

    o mundo verga-se enquanto eles morrem.
    realmente não é guerra é um massacre.

    não vejo como esta situação possa ter um desfecho feliz para a Palestina.
    estão a levá-los até ao limite.
    o desespero não costuma dar bons resultados…

    e por Senhor dos Anéis e o povo anão de Durin… quem é que olha pela Palestina?

    "Oh, misty eye of the mountain below
    Keep careful watch of my brothers' souls
    And should the sky be filled with fire and smoke
    Keep watching over Durin's sons
    (…)
    And if the night is burning
    I will cover my eyes
    For if the dark returns then
    My brothers will die
    And as the sky is falling down
    It crashed into this lonely town
    And with that shadow upon the ground
    I hear my people screaming out"

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