O relatório da Vodafone

Vodafone, um dos maiores grupos de telefonia móvel do mundo, revelou a existência de meios secretos que permitem que as agências governamentais possam ouvir todas
as conversas geridas pela rede, afirmando que este sistema é amplamente
utilizados em alguns dos 29 Países em da União Europeia e não só.

A empresa quebrou o silêncio e publicou o seu relatório na Sexta-feira. São 40.000 palavras que constituem o levantamento mais abrangente acerca das formas com as quais os governos monitorizam as conversas dos cidadãos.

A Vodafone fala mesmo de fios que foram conectados à rede sua como de outras operadores de telecomunicações, para permitir que agências de governo oiçam ou gravem as conversas ao vivo e, em certos casos, possam encontrar a morada dos cidadãos.

Um cenário de pesadelo, portanto, que confirma os piores temores sobre a extensão da espionagem feita contra os cidadãos..

Em alguns Países, como Hungria, Índia, Malta, Roménia, África do Sul e Turquia, as interceptações são ilegais, mas em outros (seis) a lei ou obriga os operadores de telecomunicações a instalar ligações de acesso directo, ou permite que sejam os governos a fazê-lo. A empresa, dona de redes de banda larga fixas e móveis, não nomeou os seis Países envolvidos porque determinados regimes poderiam retaliar, aprisionando o pessoal da Vodafone.

Gus Hosein, director executivo da Privacy International (que apoiou uma acção legal contra o governo britânico sobre a vigilância em massa):

Estes são os cenários de pesadelo que estávamos a imaginar. Nunca pensei que as empresas de telecomunicações fossem tão cúmplices. É um passo corajoso da Vodafone e espero que as outras empresas de telecomunicações se tornem mais corajosas com a divulgação, mas o que precisamos é que sejam corajosos na luta contra os pedidos ilegais e as próprias leis.

O director da privacidade do grupo Vodafone, Stephen Deadman:

Estas ligações existem, existe o modelo de acesso directo. Estamos a fazer um apelo para acabar com o acesso directo como meio das agências governamentais para obter os dados de comunicação das pessoas. Sem um mandado oficial, não há visibilidade externa. Se recebermos um pedido, podemos devolve-lo à agência. O facto de que um governo tenha que emitir um pedaço de papel é uma restrição importante sobre a forma como os poderes são usados.

Vodafone pede que todas as ligações de acesso directo sejam desligadas, e que as leis que as tornam legais sejam alterada. Afirma que os governos devem “desencorajar as agências e as autoridades em procurar acesso directo à infra-estrutura de comunicações de um operador sem um mandato legal”.

Em breve, os dados analisados.

Ipse dixit.

Fontes: The Guardian, Vodafone: Law Enforcement Disclosure Report

3 Replies to “O relatório da Vodafone”

  1. Olá Max: é uma divulgação importante desta empresa porque pode desencadear um movimento judicial e/ou civil no sentido de barrar/limitar essa absoluta ausência de privacidade de que somos todos alvo atualmente. Fundamentalmente me parece urgente desligar a conecção produzida pelos dispositivos de poder social entre controle e segurança. Isso não existe, mas é a assimilação desta ideia que faz as pessoas naturalizarem, justificarem, aceitarem e até pedirem mais controles. Abraços

  2. Ora, essas megas operadoras são o que são também por exercerem ações alinhadas com o status quo do poder global. Se houve algum interesse em divulgar tal realidade é porque há um interesse ainda maior.

  3. Há uma clara associação entre controlo e segurança. O nosso controlo permite a segurança dos concentrados de poder: empresas multinacionais e administrações estatais. Actualmente, a população doméstica é o maior inimigo das multinacionais e cada vez mais as administrações estatais são meros capatazes.

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